Nos últimos dois anos, com a pandemia, empresas e instituições viveram a aceleração da transformação digital e do desenvolvimento e adoção de novas tecnologias. As mudanças de mercado que acompanharam esse cenário levaram a uma crescente necessidade de inovação. Potencializado pelo digital e pelo trabalho remoto – que ampliou a capilaridade e o acesso a startups –, o mercado se tornou terreno fértil para novas estruturas, ferramentas, processos e parcerias de inovação aberta.
“Nesse momento, não há parceiro melhor do que as startups. Há claramente um aumento de chamadas, da estruturação de fundos diversos e de investimentos por parte das corporações em startups que apresentam soluções inovadoras para seus negócios. Estamos dando um salto qualitativo em inovação, como um todo, mas especialmente em inovação aberta”, diz Miguel Gaia, gerente de projetos do CESAR.
Ancorado no Porto Digital e inserido no ecossistema de inovação brasileiro, o CESAR vem construindo uma história de desenvolvimento e aceleração de soluções para o mercado, em parceria com startups e corporações. Negócios consolidados no mercado da tecnologia como Tempest, Neurotech, Fusion e Tallos nasceram deste contexto, a partir da aceleração no CESAR.
Emílio Saad Neto, CEO da Fusion, conta que, depois de um mês de aceleração no CESAR, a startup mudou completamente a solução e tudo começou a dar mais certo. Em 2016, a Fusion conseguiu crescer 431% em termos de faturamento. Já a Tallos foi acelerada pelo CESAR em 2019, em conjunto com outros investidores, e, este ano, foi comprada pela RD Station, da Totvs (TOTS3), pelo montante de R$ 6,7 milhões.
O formato de aceleração do CESAR disponibiliza recursos como tempo, infraestrutura e conhecimento. Times do centro executam o planejamento e o diagnóstico dos desafios da startup e a apoiam na solução dos seus gargalos, preparando-a para entrar no mercado. Em 2021, o centro impulsionou 48 startups e, até julho de 2022, esse número já chegou a 35. A inovação aberta não só faz parte da história e da atuação presente do CESAR, mas é chave para o seu futuro.
Antes do termo ser cunhado e ganhar o mercado, a partir do início dos anos 2000, o CESAR já trabalhava com o que hoje se entende por inovação aberta. Historicamente, um dos objetivos do centro era aproximar academia e mercado e, nesse movimento, se conectou ao Porto Digital, em Recife.
“O CESAR já nasceu nesse ambiente de colaboração. A nossa missão é transformar a vida das pessoas e das organizações e a nossa vocação é resolver problemas – e, para isso, a gente aciona diferentes grupos e trabalha em rede”, diz Augusto Galvão, diretor executivo do CESAR Labs.
Práticas de inovação aberta começaram em núcleos de pesquisa internos que buscavam resolver demandas de mercado, relatadas por clientes do centro, e o faziam em esquema de cocriação com outros atores. Dores compartilhadas por diferentes instituições levaram ao desenvolvimento de unidades de negócio que se tornaram cerne para novas startups – na época, chamadas de empresas de base tecnológica.
Hoje, cresce e ganha ainda mais relevância na atuação do CESAR o trabalho em rede.
“Com inovação aberta, a gente se propõe a ter acesso a uma rede de conhecimentos além dos nossos muros, e que agrega ao nosso trabalho e gera mais valor ao cliente final”, diz Juliana Queiroga, head de empreendedorismo do CESAR.
Os times do CESAR buscam entender o novo cenário da inovação aberta e, cada vez mais, amadurecer o trabalho colaborativo, conectado a atores importantes para os diferentes contextos em que o centro atua. Pesquisadores, consultores, startups e instituições podem ser acionados para cocriar junto ao CESAR, em jornadas que usam abordagens de design, de empreendedorismo ou de agilidade, entre processos diversos que se adequem aos diferentes desafios que as empresas possam apresentar.
De forma geral, muitas empresas estabelecem desafios e os abrem para o mercado – que podem ser muito amplos, desde a busca de um processo operacional na indústria à identificação de um novo negócio para uma empresa de outro segmento. Qualquer ator que tenha alguma expertise e vontade pode se engajar nesse processo. O CESAR ajuda empresas a lapidar como esses desafios serão lançados e depois a identificar as startups que as ajudarão. Além de fazer a conexão, o centro faz também a pré-aceleração e aceleração dessas startups, para que cheguem ao nível mínimo do que a corporação precisa.
Um desses trabalhos foi finalizado em 2022, com a BRK Ambiental, empresa de saneamento, e a organização não-governamental Waterlution. Juntos, CESAR, BRK e Waterlution codesenvolveram um programa voltado para identificar startups nacionais que resolvessem desafios relacionados aos problemas do setor de água e saneamento.
Além de entender como distribuir água pelo país e fazer isso com excelência operacional, a parceria entre CESAR, BRK e Waterlution teve como objetivo incentivar a inovação aberta, articulando demandas do mercado relacionadas ao consumo e tratamento da água e esgoto, enquanto se observavam os critérios ESG. Cada ator trabalhou dentro da sua especialidade: a Waterlution com conhecimentos de água e saneamento; o CESAR com a expertise em modelos de negócio, empreendedorismo e inovação; e a BRK com os desafios práticos e a vivência do negócio.
Na primeira fase do projeto, desenhado a várias mãos, determinaram-se os objetivos mais estratégicos para a BRK. Nasceu assim o Waterlution BRK Acelera, que teve chamada para seleção de sete soluções empreendedoras apresentadas por startups. Depois de uma análise de maturidade das startups selecionadas, CESAR e Waterlution se dividiram para acompanhar a evolução do trabalho, até o demoday e a apresentação final – a premiação foi o desenvolvimento de uma PoC (Prova de Conceito).
“Foi um projeto que reuniu vários agentes cooperando em prol de um objetivo maior. As coisas estão mudando de forma muito acelerada, e ninguém consegue mais ser expert em tudo. Por isso, nada melhor que desenvolver soluções de forma aberta para agregar o que cada um tem de melhor. Trabalhar em parceria faz você aprender sobre diferentes perspectivas. E a gente teve a possibilidade de ter BRK, Waterlution, CESAR e mais sete startups juntos, com uma multiplicidade de pontos de vista e de culturas que foi muito importante”, conta Renata Freire Sellaro, gerente de projetos no CESAR.
ESCALABILIDADE E ESTRUTURAÇÃO A PARTIR DE DADOS
Com braços fora de Recife, em outros estados, e parceiros em todo o país (também fora dele), o CESAR ganhou capilaridade no ecossistema de inovação nacional. Hoje, os times do centro buscam estruturar melhor essas conexões, para que elas aconteçam para além do orgânico, a partir de dados, e sejam mais inteligentes no futuro.
“Somos muito bons, transversalmente, com o primeiro momento de vida das startups: com estruturar e validar conceitos. Mas é preciso olhar para o encaixe do produto no mercado, com qualidade e mais assertividade. O CESAR tem hoje produtos e expertise para fazer isso, para estar mais próximo do empreendedor e para ampliar a escala desse trabalho”, diz Juliana.
A head de empreendedorismo do CESAR explica que muitos ecossistemas têm dificuldades com chamadas, que recebem poucas respostas, ou com a falta de assertividade na conexão entre startups e corporações – o que leva ao abandono de projetos. São desafios que podem ser trabalhados com uma melhor estruturação do setor, por meio de dados, do conhecimento efetivo sobre os setores, sobre o conhecimento das startups e do tratamento individualizado das demandas das corporações.
Escalabilidade é palavra-chave para o futuro do trabalho construído com inovação aberta, formatando ambientes mais colaborativos, inclusivos e diversos.
“A gente ainda tem muitos negócios verticalizados, em que um único ator provê todos os elos da cadeia. A partir do momento que você abre e compartilha mais, a régua sobe para todo mundo. A minha expectativa é que cada vez mais haja consciência e estratégias compartilhadas com desenvolvimento e sustentabilidade”, diz Augusto.