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Com leilões de experiências e de objetos que fazem balançar o coração dos fãs, a Play For a Cause já destinou mais de R$ 1 milhão a ONGs

Italo Rufino - 31 out 2022
André Georges (de camiseta branca) na entrega do cheque para a ONG Basquete Cruzada.
Italo Rufino - 31 out 2022
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No dia 9 de outubro, os jogadores do Atlético Mineiro entraram em campo no Mineirão, para enfrentar o Ceará, pela 31ª rodada do Campeonato Brasileiro, com um uniforme diferente. Em vez da camisa alvinegra, naquela noite o branco deu lugar ao rosa.

Aquele jogo não saiu do zero a zero. Mesmo assim, o Galo fez um golaço: a troca de cor era parte de uma campanha do Outubro Rosa, o mês de conscientização sobre a prevenção e o combate ao câncer de mama. Autografadas por jogadores, cinco camisas utilizadas na partida foram leiloadas, atingido um valor de venda de quase 13 mil reais. O montante foi doado para o Instituto Galo, associação beneficente vinculada ao clube mineiro.

Por trás dessa ação de empatia e solidariedade está a Play For a Cause, plataforma de leilões de experiências e itens usados por atletas e artistas. Via parcerias com marcas, clubes, atletas e torneios, o negócio social se vale do esporte e do entretenimento como ferramentas de transformação social.

O carioca André Georges, 29, é o fundador da Play For a Cause. Ele explica que o dinheiro arrecadado nos leilões é destinado a 86 ONGs, de 18 estados brasileiros, que juntas atendem mais de 20 mil pessoas:

“Sou fascinado pela paixão que o esporte desperta nas pessoas. A Play For a Cause nasceu para usar sentimentos tão potentes e genuínos para causar impacto social positivo”

O modelo de negócio funciona da seguinte forma: o parceiro doa o item, que vai para leilão na plataforma. A campanha fica no ar por pelo menos sete dias. Após a venda, 70% do valor é destinado para uma instituição, escolhida pelo parceiro. Os 30% restantes vão para a Play For a Cause, como taxa administrativa. 

Entrega do cheque ao Instituto Galo.

São parceiros da empresa alguns dos maiores clubes do futebol brasileiro — além do Galo, Flamengo, Fluminense, Corinthians, Fortaleza, Grêmio e Vasco –, marcas de artigos esportivos (Nike e Penalty), a CBF, o Maracanã, a liga de basquete NBB e o torneio de tênis Rio Open. 

Do outro lado, são exemplos de ONGs beneficiadas o Grupo Cultural AfroReggae, o GRAACC, o Bompar e a Fraternidade Sem Fronteiras. Desde 2020, os parceiros e a Play For a Cause distribuíram mais de 1 milhão de reais para as entidades. 

COM A PANDEMIA, O NEGÓCIO SOCIAL DIVERSIFICOU SUAS PARCERIAS E MUDOU DE NOME

Da fundação em 2018 até 2020, o negócio social chamava Football for a Cause (em janeiro de 2019, chegou a sair aqui no Draft, na seção “Acelerados”). Naquela época, o foco era vender artigos usados por jogadores de futebol em prol de projetos educacionais. 

A mudança de nome se deu nos primeiros meses da pandemia. Com os campeonatos paralisados, vídeos de jogadores fazendo embaixadinhas com papel higiênico viralizaram nas redes sociais. Para aproveitar o alcance digital dos atletas, a empresa fez uma ação em que Richarlison, atacante da seleção brasileira, oferecia uma camisa para um leilão e convidava mais três jogadores a fazer o mesmo.

A corrente deu certo (até Neymar participou). Acontece que os boleiros convidaram amigos do vôlei, do basquete e do pagode, entre outros “parças”. 

“No auge da pandemia, arrecadamos mais de 300 mil reais. Acontece que chegou um momento que estávamos leiloando até violão do cantor Daniel. Foi uma oportunidade para abraçar outros esportes e o entretenimento – e mudar de nome”

Nos últimos meses, a Play For a Cause investiu em leilões de experiências, principalmente com a Stock Car. Conhecer o carro, conversar com Felipe Massa e assistir uma corrida preparatória dentro do boxe foi arrematado por 4 100 reais. Um pacote que inclui uma carona no carro madrinha durante a largada foi vendido por 2 500 reais.

Os valores foram destinados ao Instituto Ingo Hoffmann, que apoia famílias e crianças em tratamento de câncer, fundado pelo piloto homônimo vencedor de 12 títulos da Stock Car. 

RETRIBUIR AS CONQUISTAS E PRIVILÉGIOS QUE O MUNDO DEU É A MOTIVAÇÃO PARA OS SÓCIOS

A relação de André com causas sociais é antiga. Por mais de 10 anos, ele foi voluntário da Cruz Vermelha e das ONGs Sonhar Acordado, que atende crianças e jovens em situação de risco, e TETO, que constrói e reforma moradias em regiões vulneráveis.

No trabalho com a TETO, era comum ele passar dias dentro de comunidades, dormindo e comendo na casa de moradores. Ele conta que no primeiro dia de uma construção, viu pessoas armadas nos arredores – e estranhou bastante. No segundo dia, achou menos estranho. No terceiro, se acostumou com a cena. 

“Se eu tivesse nascido e vivido em territórios de vulnerabilidade social, não sei como seria a minha vida hoje. Acredito, de fato, que as pessoas têm bom caráter. Mas a precariedade e as suas consequências, como a violência, moldam as suas vidas, para o bem ou para o mal”

Durante a infância e adolescência, André estudou em escola municipal. Conforme portas foram se abrindo e a condição financeira da família melhorando, ele pôde acessar novos espaços.

Graduado em Engenharia Naval pela Universidade Federal do Rio de Janeiro, André se especializou em Hidrodinâmica Avançada na ENSTA Bretagne, na França. Posteriormente, trabalhou nas Ilhas Maurício e na Espanha, onde teve a ideia de criar a Play For a Cause.

André Georges e Manuella Carvalho, fundadores da Play For a Cause.

Em 2018, ele participou do PróLider, programa que desenvolve jovens líderes que atuam na resolução de grandes problemas do Brasil. Dois anos depois, André entrou na lista “20 pessoas inspiradoras na casa dos 20 anos”, da Mckinsey & Company. 

Inclusive, foi durante o PróLider que André conheceu Manuella Carvalho, 23, cofundadora da Play For a Cause. Também carioca, Manuella é estudante de Business Analytics e Economia, com especialização em Tecnologia Digitais e Estudo do Desenvolvimento Internacional, na University of Notre Dame, nos Estados Unidos. 

Aos 15 anos, durante o curso de técnico em mecânica na Faetec, ela criou um método de apoio educacional, baseado em jogos digitais, que reforçava as lições aplicadas em salas de aula para alunos de escolas públicas. O projeto garantiu o reconhecimento de Carioca Nota 10, pela Veja Rio.

Nos anos seguintes, Manuella conquistou o prêmio internacional Prudential Spirit of Community Awards e foi uma das representantes do Brasil na Assembleia da Juventude das Nações, na Jornada Warren Buffett e na World Youth Conference no Egito.

MARKETING DE CAUSA E BOA OPERAÇÃO PARA CONQUISTAR PARCEIROS

André acredita que se a Play For a Cause tivesse surgido há dez anos, não daria certo. Na época, a conscientização sobre pautas progressistas era bem mais incipiente dentro das empresas. Hoje, em tempos de ESG, isso mudou. Até porque o próprio consumidor demanda boas práticas socioambientais.

O recente estudo Edelman Trust Barometer 2022 apontou que os brasileiros acreditam que as empresas precisam fazer mais em relação à desigualdade econômica (61%), mudanças climáticas (60%), acesso à saúde (56%), requalificação profissional (57%), informação de credibilidade (51%) e injustiças sistêmicas (50%). Inclusive, eles se valem de suas crenças e valores na hora de comprar (63%), investir (60%) e escolher um lugar para trabalhar (58%).

O empreendedor conta o que o mercado, clientes e parceiros valorizam numa empresa de impacto social:

“Apenas construir boas ações não basta. É necessário demonstrar, via números, o impacto das campanhas e o marketing de causa. Associamos as marcas a uma boa notícia e materializamos projetos que elas não conseguem rodar somente com o time próprio” 

Além de André e Manuella, a Play For a Cause tem mais três sócios: Alfredo Correia, gerente comercial da empresa; Isaac Carvalho, gerente financeiro; e Diego Quintanilha, gerente administrativo e de relacionamento com os parceiros. Ao todo, são 18 funcionários, com idade média de 25 anos, que se reúnem num escritório na Barra da Tijuca três vezes por semana, às segundas, quartas e sextas.

Prestes a atingir 1 milhão de reais em receitas, a empresa traçou suas metas para 2023: consolidar a oferta de experiências e ser suporte e solução completa para parceiros que querem juntar a paixão e impacto social. 

“Há pessoas que escolhem empreender por não querer ter chefe ou pela fantasia do glamour. Eu, não”, diz André. “Se houvesse uma empresa igual a Play, eu teria mandado currículo. Como não tinha, fui lá e criei.”

DRAFT CARD

Draft Card Logo
  • Projeto: Play For a Cause
  • O que faz: Leilões de experiências e itens usados de atletas e artistas em prol de instituições sociais
  • Sócio(s): André Georges, Manuella Carvalho, Alfredo Correia, Isaac Carvalho e Diego Quintanilha
  • Funcionários: 18
  • Sede: Rio de Janeiro
  • Início das atividades: 2018
  • Faturamento: R$ 800 mil
  • Contato: [email protected]
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