Já contamos no Draft algumas histórias de negócios inovadores que, com o passar do tempo, precisam se reinventar para seguir adiante. Esta trajetória acontece também na Questto|Nó, que nasceu há mais de 20 anos como um escritório design e, ao longo do caminho, se descobriu muito mais do que isso. Hoje, além de desenhar produtos, a empresa evoluiu para uma consultoria que desenvolve soluções usando pensamento de design, com um núcleo especializado em pesquisa e uma área de estratégia. O negócio integra o pequeno grupo de empreendimentos criativos brasileiros muito bem-sucedidos e que por isso expandiram as fronteiras do país.
O reconhecimento da Questto|Nó se reflete em pelo menos 130 prêmios (muitos deles internacionais), mais de 900 projetos desenvolvidos e uma carteira de clientes que inclui Natura (fizeram o Natura SOU) e Ambev. Ainda assim, os sócios não dão sinal de que queiram se acomodar.
Levi Girardi, 46, fundou a Questto Design logo que saiu do curso de design da Faap, nos idos de 1992. Anos depois da fundação, Levi ganhou a companhia de engenheiro Carlos Eduardo Scheliga, 49, que hoje cuida do planejamento estratégico. Mais tarde, em 2011, já grande e reconhecida no mercado, a Questto juntou-se à NóDesign, empresa fundada em 2002 por Leonardo Massareli, 36, e Barão Di Sarno, 38. No fim de 2014 chegou Gustavo Rosa para se integrar à sociedade com a abertura da área de pesquisa Questto|Nó Research. A empresa até criou uma cerveja para comemorar 22 anos de estrada.
No fim de 2015 entrou para a sociedade Silas Warren, 36, responsável pela operação da empresa em Nova York que nascia naquele momento. Somente em janeiro deste ano, no entanto, a estrutura ganharia a configuração atual com a chegada de Jaakko Tammela, 39, um designer inquieto com MBA em Liderança Criativa e Berlim. Jaakko já deu aulas na Academia Draft, e conversou mais uma vez conosco.
Carioca, ele já está há seis anos em São Paulo. “Começamos a conversar em 2015 sobre como somar, encaixar no negócio sem canibalizar e decidimos nos unir”, conta. Assim, Jaakko toca a área de Creative Empowerment, focada em trazer novos modelos organizacionais.
Em 2016, a Questto|Nó abriu operação em Nova York, conduzida de lá por Silas. O grupo de sócios integra e lidera um time de 30 pessoas: 26 no Brasil e quatro nos Estados Unidos. Eles contam que o processo, com tantas movimentações acontecendo juntas, pode não ser simples, mas não precisa ser pesado. Leonardo fala:
“Entramos em sintonia, com um vontade grande de fazer as coisas. É preciso, antes de tudo, empatia entre nós. Nos entender bem como pessoas ajuda muito a ter sucesso”
Ele brinca que cada uma das fusões e incorporações de novos sócios foi resolvida no bar, não na mesa do escritório. “Pensamos em pessoas antes do negócio”, complementa Levi. Isso vale especialmente agora, pois nesse processo de internacionalização a empresa defende com unhas e dentes o que chama de “brazilian soul”, o tal talento tão local de fazer muito com pouco e combinar criatividade e solução como em poucas culturas do mundo.
A SABEDORIA DE VER A CRISE COMO OPORTUNIDADE
A amizade dos sócios parece realmente funcionar para os negócios. Eles não revelam o faturamento, mas contam que já alcançaram a meta de crescimento para este ano, que era de ambiciosos 25% em relação a 2015. Segundo eles, muito do resultado se deve ao aumento do escopo da empresa mesmo, que deixou de ser focada só em design para ganhar área de pesquisa, de estratégia, branding, além do escritório nos Estados Unidos e no Rio de Janeiro, onde uma profissional faz a ponte com os clientes.
Enquanto a economia brasileira desacelera, a Questto|Nó se alimenta da boa onda do design no Brasil. “É visível a mudança na forma como nossos clientes percebem design e planejamento. Há desafios de inovação que envolvem uma série de questões e agora ganham este olhar”, diz. Ele conta que a grande propaganda do trabalho deles é, na verdade, os bons resultados que conseguem. A empresa atua – e ganha – por projeto. Em alguns casos o contrato prevê ainda participação da Questto|Nó nos resultados.
“Isso é muito bom porque temos liberdade total. Temos atuado em fase muito anterior a do design de um produto, por exemplo. Nossa função é entender micro tendências globais e a estratégia da empresa e juntar isso. Não empurramos serviço. Conseguimos chegar a respostas muitos verdadeiras”, conta Leo.
NOVOS PROBLEMAS, NOVAS SOLUÇÕES
“O mundo está em transformação e precisamos mudar mindsets. Os problemas não estão nos mesmos lugares. Há um novo mercado, com um novo consumidor”, diz Jaakko. Ele conta que, para atender empresas neste cenário de transformação, a Questto|Nó oferece serviços cada vez mais parecidos com os de uma consultoria, com a diferença de olhar mais para o futuro e ter um tanto a mais de ousadia do que o tradicional. Gustavo fala sobre isso: “Não sabemos mais para onde ir. O pensamento de design é o mais apto a lidar com a complexidade atual”.
Ele lembra que um dos grandes focos do trabalho deles é a atenção do tempo. Ao olhar de perto processos, serviços ou produtos, muitas vezes dá para identificar pequenas tensões – às vezes quase imperceptíveis – que as pessoas enfrentam e que podem ser eliminadas para não desperdiçar tempo ou simplesmente para que ele seja aproveitado de forma mais prazerosa.
A ideia é sempre melhorar o processo ou a experiência. O Q|N Lab é um exemplo dessa busca: consiste em um espaço na sede da empresa para encontros mais soltos e eventos, criando situações de abertura para experimentação e reflexão. Uma das edições recentes, chamada Fome de quê?, tratou de tendências de consumo na alimentação e contou, entre os convidados, com Priscila Sabará, do Foodpass.
“O poder criativo aumenta se você olhar tudo isoladamente. É a consumer journey. Uma xícara tem a função de levar o café até a boca de alguém. Como funciona esse processo? O que posso melhorar para que a pessoa não se queime ou não derrube o café?”, conta Gustavo, dando o exemplo de como começa o trabalho:
“Tempo é o novo dinheiro, a nova riqueza, atenção é a nova moeda e design é a nova comunicação”
Eles contam que trabalham com design thinking para abordar desde questões críticas até reposicionamento de marca, por exemplo. Entre os projetos recentes está o design de um serviço e de um processo para melhorar a operação de um cliente da área de combustíveis. Outro projeto foi o Cubo Skol, para a Ambev, solução aparentemente simples que resulta em aumento de 8% na venda de cerveja nos bares.
Na prática, o produto é um balde de cerveja que comporta quatro garrafas e conserva a temperatura por 1h10. Os clientes não tomam a bebida quente nem têm que ficar acenando para o garçom trazer mais ao fim de cada garrafa. Enquanto isso, os funcionários, menos ocupados, ganham tempo para atender melhor, com mais atenção a cada cliente, e servir comida. É o resultado do tal trabalho de atenção do tempo. “Foi um desafio desenvolver um projeto ligado a algo tão tradicional e prazeroso quanto beber cerveja em um bar, mas fizemos muita pesquisa e conseguimos eliminar uma série de pequenas tensões nesse processo”, diz Levi.
DE QUE ADIANTA UM NEGÓCIO PREMIADO SEM REALIZAÇÃO PESSOAL?
O sucesso local da Questto|Nó deu fôlego para os sócios olharem para fora do Brasil. Mas, acima de qualquer estratégia de negócio, o escritório nos Estados Unidos realiza um desejo pessoal de Levi e de Leo, que saíram da faculdade, fundaram a empresa e nunca conseguiram morar fora do país. Eles criaram um negócio premiado e reconhecido, mas que impedia a realização deste desejo pessoal. Leo fala disso:
“Nunca ter morado fora era uma coisa mal resolvida. Precisávamos disso e percebemos que a empresa tem que ser trampolim, não âncora”
Convencido a dar a cara a tapa fora do Brasil, em 2014 ele foi passar dois meses em Nova York, que além de polo criativo e econômico importante, é muito maduro em design. “Pensamos que, se a gente passar no teste lá, podemos atuar em qualquer lugar do mundo. Acreditamos no nosso potencial como player global.” Ele pretendia testar o trabalho remoto, mapear o mercado e fazer contatos. Por meio de um amigo em comum conheceu Silas, que já tinha sido diretor de um escritório de design, com larga experiência na área. “Mostrei tudo o que a gente fazia e ele ficou impressionado”, conta Leo. Depois de uma vinda do Silas para o Brasil eles fecharam a parceria e o gringo tornou-se o o sócio que tocaria as coisas do escritório norte-americano.
A operação começou em 2015. Antes disso, a Questto|Nó já tinha realizado projetos no mercado americano, mexicano e até japonês. Mas faltavam os projetos globais, que chegaram este ano. “Essa capacidade de integrar serviços, com os estúdios de São Paulo e Nova York trabalhando juntos, nos levou a ser o escritório eleito para um projeto global de estratégia e inovação numa empresa automobilística”, conta Leo.
A nova empreitada, no entanto, também tem suas surpresas. Ele conta que, sem experiência para fazer negócio em outra moeda, fecharam um projeto com o dólar mais alto lá fora. A relação cambial mudou e eles perderam um bom dinheiro.
Internamente, eles assumem que a Questto|Nó, que sabe olhar adiante nos projetos dos clientes, tem alguns problemas com a própria comunicação. “Quando o Silas veio para o Brasil, ele disse que a gente fazia muito mais do que ele pensava e alertou que a gente precisa contar a nossa história melhor”, lembra Leo. Levi fala da questão:
“Tem cliente antigo que não percebe que hoje temos uma área de estratégia. E tem cliente novo, da área de pesquisa, que não sabe que fazemos design”
A vontade “excessiva” de trabalhar também pode se tornar um problema. Já aconteceu algumas vezes de fecharem um projeto com determinado orçamento com o cliente. No meio do caminho, na empolgação de fazer dar certo, acabam investindo mais, com mais tempo e gente trabalhando naquilo do que foi orçado. “É algo que temos que arrumar, melhorar os projetos”, diz Leo.
Tropeços acontecem, mas eles garantem que não falta ânimo para corrigir. Depois do ciclo de expansão, pretendem aquietar por pelo menos mais um ano antes de dar algum outro grande passo. A meta é colocar ordem na casa para corrigir estes problemas, aumentar a lucratividade e ganhar eficiência. Na linguagem deles, “melhorar a atenção do tempo e implementar o pensamento de design”. Depois disso, é só ganhar o mundo com a brazilian soul.
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