Como duas remadoras podem ajudar a salvar o planeta?
Tentei responder essa pergunta quando fui convidada, ao lado de minha irmã gêmea, Kátia Alencar, para palestrar sobre esporte e sustentabilidade no TEDx Rio+20, um evento paralelo à Conferência das Nações Unidas sobre Desenvolvimento Sustentável em 2012.
Poucos dias antes da palestra, decidimos remar de Angra dos Reis até o Rio de Janeiro, uma jornada de três dias para analisar a poluição entre as Bacias de Angra dos Reis, Sepetiba e Rio de Janeiro, e chamar a atenção para a poluição dos oceanos
A experiência foi transformadora e nos fez perceber a gravidade da situação ambiental e o impacto das mudanças climáticas.
Eu era uma atleta dedicada, competindo pela seleção brasileira no remo e polo aquático.
Nós duas, eu e minha irmã gêmea, fizemos história como as primeiras brasileiras a competir nos principais eventos internacionais nessas duas modalidades.
Fui remadora do Flamengo durante 15 anos e do Vasco, por outros cinco. Ao lado de Kátia, representei durante muitos anos a seleção brasileira de remo, 30 vezes campeã brasileira, campeã sul-americana e hexacampeã estadual
Marquei minha história por ser a primeira mulher a representar o Brasil em competições internacionais de remo, como o Pan-americano de Winnipeg (Canadá), Copa do Mundo (Áustria e Alemanha) e Campeonato Mundial (Alemanha).
Anteriormente, fui atleta da seleção brasileira de polo aquático, sendo bicampeã pan-americana e sul-americana. Também fiz parte da primeira seleção feminina a participar – na Austrália, em 1990 – do Campeonato Mundial de Esportes Aquáticos.
Treinávamos arduamente, enfrentando os novos ciclos de competições durante 25 anos.
A vida parecia um ciclo interminável de competições e treinos exaustivos, onde aprendemos a lidar com a pressão, a resiliência, os constantes desafios – e até com o preconceito.
Por estarmos à frente de dois esportes tradicionalmente marcados pela presença masculina, acabamos vivendo o preconceito de estarmos “invadindo” um espaço só de homens
No polo aquático treinávamos no canto da piscina, onde era mais raso e atrapalhava os nossos treinamentos, enquanto os homens treinavam sempre no centro da piscina.
No remo, levamos um bom tempo para recebermos nossa primeira ajuda de custo, mesmo ganhando muitas competições. E depois de alguns anos passamos a ter o maior salário do clube – o que despertou um olhar preconceituoso por sermos mulheres.
Desde crianças, o mundo para nós duas girava em torno do esporte.
Nossa infância foi marcada pela solidão e a ausência de amigos: éramos tímidas e andávamos sempre juntas. Então, os outros alunos não se aproximavam muito.
O esporte nos deu propósito e uma direção clara. Quando começamos a competir nos campeonatos escolares, começamos a ver as coisas mudarem. Não imaginávamos o quanto essas experiências moldariam nossas futuras escolhas
Foi assim que comecei a “crescer profissionalmente”. Diferente de muitos atletas, eu consegui me formar em Marketing, fazer pós-graduação em Gestão e Marketing Esportivo pela Trevisan Escola de Negócios e em Marketing pela Fundação Getúlio Vargas.
Além disso, fiz um mestrado em Gestão Esportiva pela Universidade do Porto, em Portugal. Sou membro Honoris Causa da Academia Brasileira de Filosofia e recentemente ingressei no Comitê Permanente em Ambiente, Sustentabilidade e Responsabilidade Social da América Latina para a Sport Integrity Global Alliance (SIGA).
O ponto de virada foi por meio do remo, que proporcionou um contato direto com a natureza e despertou minha consciência ambiental. Ao mesmo tempo, passei a perceber a gravidade da poluição hídrica e das alterações climáticas que afetavam o meu dia a dia
Filha de uma bióloga, fui ensinada a ter um olhar atento às questões ambientais, entendendo a urgência de cuidar do planeta e das pessoas.
Assim, nasceu a ideia do Instituto Esporte pelo Planeta, uma organização sem fins lucrativos dedicada a apoiar a comunidade esportiva e as populações mais vulneráveis no enfrentamento dos extremos climáticos.
Fundar o Instituto EPP, em 2021, foi um desafio gigantesco. O tema das alterações climáticas no esporte ainda é distante da comunidade esportiva
Os primeiros dois anos foram de planejamento e análise do nosso potencial de financiamento. Começamos a estudar sobre os créditos de carbono e estabelecemos uma parceria inovadora com a Carbonext, uma das maiores desenvolvedoras de projetos REDD+ (Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação Florestal) do país.
A ideia de trabalhar com créditos de carbono para financiar nossos projetos parecia promissora, mas exigiu muito aprendizado e adaptação. Prospectamos grandes empresas, que logo se interessaram em conversar sobre a proposta de direcionar parte de seus recursos para o Instituto EPP.
Lá estávamos, eu e minha irmã, duas ex-atletas, em meio a muitas reuniões com diretores e gerentes de sustentabilidade de grandes empresas, vendendo o esporte e a educação climática como uma contrapartida para os projetos de créditos de carbono
Por meio da nossa intermediação com empresas que querem neutralizar sua pegada de carbono ou de proprietários de terra que querem gerar créditos de carbono em suas terras, parte dos créditos de carbono vai para os projetos do Instituto EPP. O primeiro contrato fechado é o projeto chamado de Tatuy, que já está em fase final junto à Verra, a principal certificadora do mundo em projetos de créditos de carbono.
Na condição de ex-atleta e mulher, reconheço o grande esforço em abrir caminhos pioneiros e inovadores, para estar à frente do primeiro instituto esportivo do mundo que irá receber créditos de carbono durante 40 anos, provenientes de um projeto REDD+.
Ao longo desse período, haverá “safras de créditos de carbono” anuais que serão vendidas no mercado voluntário para empresas que precisam neutralizar sua pegada de carbono
Esta iniciativa vai também possibilitar desenvolver o primeiro projeto de esporte com nossa metodologia EPP dentro de um projeto REDD+, obtendo o selo de Padrões CCB (Clima, Comunidade & Biodiversidade), que aumentam o valor dos créditos de carbono — pois além de proteger a floresta, ajudam a população local.
A metodologia visa integrar práticas esportivas – parkour, escalada, natação preventiva, remo, canoagem, corrida de obstáculos e krav magá – ao desenvolvimento de habilidades essenciais para enfrentar eventos climáticos extremos.
Com o interesse de startups brasileiras e estrangeiras, de grandes empresas, bancos e do BNDES, o mercado de compensações voluntárias vive em crescimento, bem como a preocupação com a qualidade e a integridade das compensações de emissões de gases de efeito estufa.
Muitas vezes, me pego pensando como consegui entrar em um mercado milionário e tão concorrido por especialistas.
A resposta está na minha determinação e na capacidade de aprender e me adaptar rapidamente. Tive que me tornar especialista em um campo completamente novo – e a paixão pela causa me impulsionou a superar cada dificuldade
O que começou como uma jornada incerta hoje é um exemplo de como a inovação e a sustentabilidade podem andar de mãos dadas, criando soluções que beneficiam tanto o meio ambiente quanto a sociedade.
O Instituto EPP oferece, ainda, a possibilidade de atletas, instituições esportivas e empresas calcularem e compensarem sua pegada de carbono usando a calculadora disponível em nosso site, construída a partir da ferramenta do Programa Brasileiro GHG Protocol e da parceria com a Carbonext.
Estamos à frente do desenvolvimento do primeiro Plano Nacional de Ação Climática do Esporte (PNACE), em parceria com o Ministério do Esporte e Ministério do Meio Ambiente, promovendo o debate sobre a temática da mudança climática e seu impacto direto no esporte, no contexto das políticas públicas e seus desdobramentos para o futuro do esporte. Nosso objetivo é incorporar o tema das mudanças climáticas na agenda esportiva e avançar em ações setoriais de mitigação e adaptação.
Olhar para trás e ver toda a experiência no esporte me dá certeza de que, novamente, estou criando caminhos pioneiros e inovadores para o esporte brasileiro
Estou comprometida com a segurança, saúde e bem-estar físico e mental, preparando a comunidade esportiva e as pessoas mais vulneráveis para enfrentar emergências climáticas. Os créditos de carbono são uma maneira incrível de ajudar o planeta e realizar meus sonhos.
Fundamos o Instituto Esporte pelo Planeta para promover o esporte como uma poderosa força de inovação social, capaz de educar, mobilizar e preparar as pessoas, com foco na saúde, segurança pessoal e sobrevivência, para enfrentar as inevitáveis alterações climáticas.
Formada em marketing, com pós-graduações pela Trevisan Escola de Negócios e Fundação Getúlio Vargas, além de um mestrado pela Universidade do Porto, Cláudia Alencar fez história como atleta de remo e polo aquático, junto com sua irmã Kátia Alencar. Elas são fundadoras do Instituto Esporte pelo Planeta.
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