Com uma economia que gira em torno da indústria calçadista, a cidade de Novo Hamburgo, no Rio Grande do Sul, é o ponto de partida para a história da Clo, marca de calçados que tem o mesmo nome da cachorrinha que inspirou sua criação. Na contramão do mercado tradicional, Bárbara Mattes Müller Silva, 29, e Christian Seidl Silva, 33, resolveram apostar em um negócio com um viés um pouco diferente do meio onde cresceram: criaram uma marca de calçados slow fashion, 100% online e que apoia animais em necessidade.
Ambos de família com empresas nessa área, os dois sempre estiveram envolvidos no business de calçado, ele há mais de 13 anos e ela desde 2015, quando resolveu parar de trabalhar como advogada já com o desejo de empreender.
Com amplo conhecimento no setor, ambos tinham vontade de iniciar um negócio próprio, mas que não representasse apenas o “consumo pelo consumo”, nas palavras de Bárbara. “A gente pensou que, se era para seguir nesse ramo, teríamos que fazer de uma forma diferente”, diz. Foi então que a Clô entrou na história do casal. Ela conta como: “Ajudar cachorros de rua sempre foi uma causa importante para nós, então decidimos proporcionar o mesmo cuidado que a nossa mascote tinha para outros cachorros”. Em 2017, começaram a estruturar a empresa.
COMO VOLTAR À PRODUÇÃO ARTESANAL? USANDO SOBRAS DA INDÚSTRIA
Já que a região onde estão localizados é um polo forte do segmento couro-calçadista, os sócios resolveram que toda a produção seria realizada a partir de materiais de sobra da indústria e que 10% da receita líquida iria para a doação de ONGs ou instituições protetoras de animais. Sobre o paradoxo entre ajudar alguns animais e produzir calçados de couro (ou seja, da pele de outros animais mortos), Bárbara conta que eles receberam algumas críticas no começo, mas que a maioria do público que se interessou pela marca entende o valor por trás da ideia. Ela fala a respeito:
“Víamos a quantidade enorme de material que iria para aterros e encontramos uma forma de não produzir mais demanda de couro. Ao reutilizá-lo, evitamos que vire lixo”
Para dar o pontapé inicial na empresa, Christian conta que eles quase não tiveram uma despesa inicial, já que optaram por não ter estoque e iniciar a produção com os recursos que já existiam. “O capital foi mais para giro fixo do escritório, visto que o investimento em estoque é inexistente quando se produz sob demanda. O grande lance foi conseguir estruturar um escopo com produtos atraentes, legais e de qualidade, de forma que possamos produzir rapidamente e de forma unitária”, conta.
Na prática, a Clo confecciona vários produtos com edição limitada, uma vez que os materiais dependem do excedente industrial.
Hoje, o processo do negócio passa pelas etapas de busca de materiais, modelagem, criação dos produtos no escritório da marca e produção final em uma empresa parceira (o pedido costuma levar sete dias úteis de produção, após a compra no e-commerce).
E tem mais: Depois que o faturamento chega a um valor representativo, mais ou menos de três em três meses, eles entram em contato com ONGs e associações da região e doam ração, medicamentos, consultas veterinárias ou o que for mais necessário para a organização apoiada naquele momento.
Bárbara conta que eles dão preferência para lugares menores, que não têm ajuda fixa, ou até para pessoas que ajudam cachorros em casa por conta própria: “Já apoiamos o Patas Dadas, Projeto Vida, Bichinho Carente e algumas outras. Em uma das doações, fizemos uma parceria com uma empresa de ração, que rendeu quase uma tonelada”.
IDENTIFICAÇÃO DO CONSUMIDOR COM O NEGÓCIO = CRESCIMENTO RÁPIDO
Fundada oficialmente em agosto de 2017, a Clo vem crescendo de forma constante. No início, a maior dificuldade era aprender a lidar com a plataforma de e-commerce e com a parte de vendas e marketing. Bárbara fala da experiência, e os desafios, de começar um negócio nesse molde:
“Não tínhamos muito conhecimento em vendas online. Éramos nós dois para fazer tudo, o dia a dia do escritório, fazer fotos, alimentar o site e administrar os pedidos. É difícil”
Ela lembra que ambos têm mais background na produção e que, por exemplo, sofreram para encontrar fornecedores que trabalhassem exatamente da maneira como queriam: “Mas fomos fazendo, testando e agora estamos bem satisfeitos”. Como estavam recebendo bons feedbacks no primeiro ano de operação, decidiram eles que 2018 era o ano de investir mais.
Para conseguir entregar um produto de qualidade, por um valor competitivo (os preços variam entre 169 reais e 259 reais), perceberam que precisavam expandir a equipe de marketing, mídia e também o administrativo.
Christian fala sobre isso: “Consideramos que o projeto foi bem piloto em 2017. Foi possível validar nossos conceitos de produtos, preços, comunicação e todas as propostas de valores da marca. Assim, arrumamos a casa em janeiro e focamos nas nossas forças, conseguindo um crescimento acelerado”.
Os meses de maio até julho de 2018 representaram um crescimento de 100% no negócio, momento em que a empresa dobrou o faturamento. No período, a média de compras no site girou em torno de 1 000 pedidos por mês (a maior receita vem de São Paulo e Rio de Janeiro). Em 2018, o faturamento foi de 1 milhão de reais.
Para este ano, a dupla busca manter o ritmo no primeiro semestre para depois estabilizar em uma evolução mais orgânica, ajudando instituições pelo menos uma vez por mês (em vez de a cada trimestre). Os sócios também têm planos de abertura para o mercado internacional, mas ainda estão estudando as questões de logística. “Pensamos também em lojas físicas, mas como não temos estoque, essa não é uma prioridade, porque nosso maior compromisso é não gerar mais produtos parados. No final das contas, queremos fazer a nossa parte para reduzir o impacto ambiental, unindo nossas duas paixões”, diz Bárbara. As duas paixões a qual se refere é o grande objetivo da empresa: produzir calçados artesanais e apoiar cachorros que ainda não tiveram a sorte da Clô.
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