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Com sobras da indústria, a Clo produz calçados slow fashion e ainda ajuda cachorros de rua

Maitê Vallejos - 16 jan 2019
Christian, Barbara e a cachorrinha Clô, que inspirou a criação da marca. Os calçados são feitos de sobras da indústria e parte do faturamento é usada para alimentar cães abandonados.
Maitê Vallejos - 16 jan 2019
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Com uma economia que gira em torno da indústria calçadista, a cidade de Novo Hamburgo, no Rio Grande do Sul, é o ponto de partida para a história da Clo, marca de calçados que tem o mesmo nome da cachorrinha que inspirou sua criação. Na contramão do mercado tradicional, Bárbara Mattes Müller Silva, 29, e Christian Seidl Silva, 33, resolveram apostar em um negócio com um viés um pouco diferente do meio onde cresceram: criaram uma marca de calçados slow fashion, 100% online e que apoia animais em necessidade.

Ambos de família com empresas nessa área, os dois sempre estiveram envolvidos no business de calçado, ele há mais de 13 anos e ela desde 2015, quando resolveu parar de trabalhar como advogada já com o desejo de empreender.

Com amplo conhecimento no setor, ambos tinham vontade de iniciar um negócio próprio, mas que não representasse apenas o “consumo pelo consumo”, nas palavras de Bárbara. “A gente pensou que, se era para seguir nesse ramo, teríamos que fazer de uma forma diferente”, diz. Foi então que a Clô entrou na história do casal. Ela conta como: “Ajudar cachorros de rua sempre foi uma causa importante para nós, então decidimos proporcionar o mesmo cuidado que a nossa mascote tinha para outros cachorros”. Em 2017, começaram a estruturar a empresa.

COMO VOLTAR À PRODUÇÃO ARTESANAL? USANDO SOBRAS DA INDÚSTRIA

Já que a região onde estão localizados é um polo forte do segmento couro-calçadista, os sócios resolveram que toda a produção seria realizada a partir de materiais de sobra da indústria e que 10% da receita líquida iria para a doação de ONGs ou instituições protetoras de animais. Sobre o paradoxo entre ajudar alguns animais e produzir calçados de couro (ou seja, da pele de outros animais mortos), Bárbara conta que eles receberam algumas críticas no começo, mas que a maioria do público que se interessou pela marca entende o valor por trás da ideia. Ela fala a respeito:

“Víamos a quantidade enorme de material que iria para aterros e encontramos uma forma de não produzir mais demanda de couro. Ao reutilizá-lo, evitamos que vire lixo”

Para dar o pontapé inicial na empresa, Christian conta que eles quase não tiveram uma despesa inicial, já que optaram por não ter estoque e iniciar a produção com os recursos que já existiam. “O capital foi mais para giro fixo do escritório, visto que o investimento em estoque é inexistente quando se produz sob demanda. O grande lance foi conseguir estruturar um escopo com produtos atraentes, legais e de qualidade, de forma que possamos produzir rapidamente e de forma unitária”, conta.

Bri^^, um sneaker de couro total white, é um dos best sellers da marca  e custa 239 reais.

Na prática, a Clo confecciona vários produtos com edição limitada, uma vez que os materiais dependem do excedente industrial.

Hoje, o processo do negócio passa pelas etapas de busca de materiais, modelagem, criação dos produtos no escritório da marca e produção final em uma empresa parceira (o pedido costuma levar sete dias úteis de produção, após a compra no e-commerce).

E tem mais: Depois que o faturamento chega a um valor representativo, mais ou menos de três em três meses, eles entram em contato com ONGs e associações da região e doam ração, medicamentos, consultas veterinárias ou o que for mais necessário para a organização apoiada naquele momento.

Bárbara conta que eles dão preferência para lugares menores, que não têm ajuda fixa, ou até para pessoas que ajudam cachorros em casa por conta própria: “Já apoiamos o Patas Dadas, Projeto Vida, Bichinho Carente e algumas outras. Em uma das doações, fizemos uma parceria com uma empresa de ração, que rendeu quase uma tonelada”.

IDENTIFICAÇÃO DO CONSUMIDOR COM O NEGÓCIO = CRESCIMENTO RÁPIDO

Fundada oficialmente em agosto de 2017, a Clo vem crescendo de forma constante. No início, a maior dificuldade era aprender a lidar com a plataforma de e-commerce e com a parte de vendas e marketing. Bárbara fala da experiência, e os desafios, de começar um negócio nesse molde:

“Não tínhamos muito conhecimento em vendas online. Éramos nós dois para fazer tudo, o dia a dia do escritório, fazer fotos, alimentar o site e administrar os pedidos. É difícil” 

Ela lembra que ambos têm mais background na produção e que, por exemplo, sofreram para encontrar fornecedores que trabalhassem exatamente da maneira como queriam: “Mas fomos fazendo, testando e agora estamos bem satisfeitos”. Como estavam recebendo bons feedbacks no primeiro ano de operação, decidiram eles  que 2018 era o ano de investir mais.

A maior entrega de ração (comprada com dinheiro do faturamento da Clo) foi de uma tonelada de ração, realizada no ano passado.

Para conseguir entregar um produto de qualidade, por um valor competitivo (os preços variam entre 169 reais e 259 reais), perceberam que precisavam expandir a equipe de marketing, mídia e também o administrativo.

Christian fala sobre isso: “Consideramos que o projeto foi bem piloto em 2017. Foi possível validar nossos conceitos de produtos, preços, comunicação e todas as propostas de valores da marca. Assim, arrumamos a casa em janeiro e focamos nas nossas forças, conseguindo um crescimento acelerado”.

Os meses de maio até julho de 2018 representaram um crescimento de 100% no negócio, momento em que a empresa dobrou o faturamento. No período, a média de compras no site girou em torno de 1 000 pedidos por mês (a maior receita vem de São Paulo e Rio de Janeiro). Em 2018, o faturamento foi de 1 milhão de reais.

Para este ano, a dupla busca manter o ritmo no primeiro semestre para depois estabilizar em uma evolução mais orgânica, ajudando instituições pelo menos uma vez por mês (em vez de a cada trimestre). Os sócios também têm planos de abertura para o mercado internacional, mas ainda estão estudando as questões de logística. “Pensamos também em lojas físicas, mas como não temos estoque, essa não é uma prioridade, porque nosso maior compromisso é não gerar mais produtos parados. No final das contas, queremos fazer a nossa parte para reduzir o impacto ambiental, unindo nossas duas paixões”, diz Bárbara. As duas paixões a qual se refere é o grande objetivo da empresa: produzir calçados artesanais e apoiar cachorros que ainda não tiveram a sorte da Clô.

DRAFT CARD

Draft Card Logo
  • Projeto: Clo
  • O que faz: Calçados com sobras de couro da indústria
  • Sócio(s): Bárbara Mattes Müller Silva e Christian Seidl Silva
  • Funcionários: 8 (incluindo os sócios)
  • Sede: Novo Hamburgo (RS)
  • Início das atividades: 2017
  • Investimento inicial: não houve
  • Faturamento: R$ 1 milhão (em 2018)
  • Contato: [email protected]
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