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Com tecnologia e simplicidade, o Aegro torna a gestão agrícola mais acessível e menos elitista

Thadeu Melo - 7 nov 2017 Pouca idade, barba na cara e calça xadrez: o time da Aegro leva tecnologia acessível e inteligente para tornar a vida no campo mais atraente aos jovens.
Pouca idade, barba na cara e calça xadrez: o time da Aegro leva tecnologia acessível e inteligente para tornar a vida no campo mais atraente aos jovens.
Thadeu Melo - 7 nov 2017
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A vida no campo deixou de ser analógica faz tempo, sabemos. A era digital avança e este movimento fica mais evidente com a onda de retorno dos filhos e filhas de produtores agrícolas, que saíram de casa para estudar todos os tipos de ciências da vida, saberes da terra ou administrações, e agora estão de volta, totalmente conectados. Para uma nova geração, surgem novas propostas de estilo de vida no campo.

Lançado comercialmente em fevereiro de 2016, o sistema de gestão agrícola Aegro foi concebido por um grupo quatro de amigos formados em Ciências da Computação pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Depois de um ano de estágio na Alemanha, quando concluíram a graduação, em 2011, os jovens retornaram ao Brasil com disposição para criar algo que pudesse contribuir para melhorar a realidade do país. Pedro Dusso, 29, CEO da startup cuja base de clientes cresce cerca 15% ao mês:

“Na Alemanha ficou claro que quem conserta um país não é quem emigra, mas quem fica. Por isso, voltamos para cá querendo botar a mão na massa e fazer daqui um lugar melhor”

Pode parecer meio piegas este pano de fundo para criação da startup, mas é visível o brilho nos olhos de quem conta isso. Pedro fala que ele e os sócios não queriam “criar um novo e viciante Candy Crush nem escrever um código para um sistema que rodaria em uma fábrica no Vietnã”.

Fato é que a criação dos cientistas da computação gaúchos está correspondendo aos objetivos a que se propôs: mudar a realidade de dezenas de produtores rurais em estados como Paraná, São Paulo, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Maranhão, Goiás, Pará e, claro, Rio Grande do Sul.

Com 160 assinantes da versão paga e 1 567 usuários ativos em outubro, o sistema Aegro já teve 10 mil downloads (somando a versão gratuita) e é utilizado principalmente por produtores com áreas entre 700 e 1 500 hectares — tamanho considerado pequeno ou médio para os padrões latifundiários brasileiros. Até o fim de 2018, os sócios esperam chegar a 1 000 clientes, produtores de soja, milho, arroz e feijão, que são as maiores culturas agrícolas do país.

COMPARTILHANDO SIMPLICIDADE

O funcionamento do sistema é simples para quem tem familiaridade com a rotina agrícola e utiliza aplicativos de comunicação, como o Whatsapp, ou de georreferenciamento, como o Google Maps.

Pedro Dusso, 29, CEO da Aegro, formou-se na Alemanha antes de decidir voltar ao Brasil para "ajudar o país".

Pedro Dusso, 29, CEO da Aegro, estudou na Alemanha antes de decidir voltar ao Brasil para “botar a mão na massa”.

Pela plataforma, delimita-se uma área no mapa, os chamados ‘talhões’, define-se a safra (milho, arroz etc.), planeja-se o cronograma de atividades (semeadura, aplicação de defensivos, fertilizantes, colheita etc.), registra-se as atividades planejadas e também as inesperadas, assim como os resultados colhidos. Tudo pode ser feito offline, com sincronização em nuvem, quando há conexão disponível.

O simples fato de manter um registro histórico de todas as atividades durante as safras, assim como os resultados alcançados nas colheitas, já é um ativo muito importante, para quem trabalha com agricultura não depender apenas da memória e da intuição para tomar decisões. Oferecer isso de forma digital e gratuita, com todas as funcionalidades disponíveis na versão do Aegro para celular, tornou-se um grande chamariz da ferramenta. Pedro fala do desenvolvimento do programa:

“Como a gente não entendia nada de agricultura, fizemos um troço muito básico, para a gente mesmo entender. Isso acabou atraindo clientes que reclamavam da complexidade dos sistemas disponíveis no mercado”

Ele diz que, até hoje, a complexidade das ferramentas disponíveis e as experiências prévias desagradáveis dos produtores são seus “maiores concorrentes”. “A gente deixou o aplicativo o mais simples possível, porque o público é muito heterogêneo. Tem desde gente com pós-doutorado em agronomia, até quem não tem nem o ensino fundamental completo”, conta.

O modelo de negócios da startup é freemium, ou seja, há uma versão gratuita do sistema e outra, com cobrança de anuidade, em que o cliente tem acesso a funções extras como controle de estoques, patrimônio, vendas de produtos e fluxo de caixa. O valor muda de acordo com o tamanho da propriedade: propriedades até 500 hectares pagam 3,99 reais/hectare ao ano; propriedades de 500 a 1 000 hectares pagam 2,99 reais/hectare ao ano; e aquelas acima de 1 000 hectares pagam 1,99 real/hectare ao ano.

Nessa versão para desktop, que tem expansões periódicas previstas, o sistema se propõe a “gerir e otimizar o processo de produção agrícola”, tendo o smartphone como plataforma suplementar.

Além da integração dos vários aspectos da gestão diária de uma fazenda, o Aegro também foi desenhado para possibilitar a otimização, ou seja, o ganho de produtividade e a redução de custos, de uma safra para outra. O empreendedor conta que isso deve ficar mais evidente com o passar das safras, já até agora apenas duas puderam contar com o apoio do sistema. Ele fala do seu produto:

“Gestão agrícola, todo mundo faz. Alguns, com lápis e caderno, outros, com planilhas de Excel, ou mesmo de cabeça. Agora, otimizar alguma coisa é algo mais complexo”

E prossegue: “Para otimizar algo é preciso ter algum histórico para fazer uma análise em cima de um conjunto de dados para poder dizer o que é melhor, o que não é melhor, o que é ótimo para o teu cenário”,  afirma. Ele traz como exemplo o relato de um cliente que cultiva arroz e soja em 8 mil hectares e que costumava levar duas semanas para fazer todo o processo de planejamento da safra: com o Aegro, conseguiu fazer tudo em apenas um dia.

COMO A IDEIA DO NEGÓCIO AMADURECEU

A fase de desenvolvimento do sistema consumiu 18 meses de trabalho de cinco especialistas, part time, e foi um período difícil. Pedro conta que tampouco foi fácil decidir, pouco antes disso, qual ramo de inovação em que o grupo de amigos estava disposto a investir tempo e dinheiro. Afinal, o desejo de “contribuir com o desenvolvimento econômico do país” tem muitas possibilidades.

Eles chegaram, por exemplo, a cogitar investir na importação de um aparato de sensores para controle da aplicação de defensivos agrícolas em parreirais de uva (para produção de vinho), uma das atividades econômicas mais importantes do centro-leste do estado, onde está a Serra Gaúcha. Mesmo unindo inovação tecnológica à realidade produtiva de uma região, a opção foi descartada porque tinha muitos complicadores e um potencial de escalonamento limitado.

Foi quando um dos atuais sócios e CFO da empresa, Paulo Silvestrin, conheceu o agrônomo Valmir Menezes, consultor e pesquisador do Instituto Riograndense do Arroz (Irga). Os dois começaram a investigar a conveniência de desenvolver um “sisteminha”, assim mesmo no diminutivo, para facilitar o trabalho de coleta de dados (semeadura, cargas da colheita, volume de herbicida, preços etc) de que depende o bom desempenho de um consultor agrícola.

O "sisteminha" acabou virando a startup Aegro, que otimiza a vida no campo (foto: Italo de Bortoli).

O “sisteminha” acabou virando a startup Aegro, que otimiza a vida no campo (foto: Italo de Bortoli).

 

E foi assim, criando esse “sisteminha”, como brincam, para controlar dezenas de planilhas, até então perdidas em infinitos emails e arquivos online e offline, que foi concebido o embrião do Aegro. Com o primeiro protótipo em fase de testes, tornou-se evidente a necessidade de que, em vez de cliente, Valmir fosse também um dos sócios da empresa, já que boa parte dos aprimoramentos dependia de sua experiência de campo.

Oficialmente reunidos, foram pré-incubados no Centro de Empreendimentos em Informática da UFRGS, quando puderam colocar o protótipo em pé e iniciar a elaboração do business plan para a startup. “Fizemos uns 20 ou 30 business plan pelo método canvas, identificando key resources e outros aspectos do negócio que nos ajudaram muito, porque a gente pensava só no aspecto técnico, ninguém pensava em vender, a gente quase não pensava em marketing”, conta Pedro.

A qualidade atual do produto ele atribui, justamente, ao “excesso de preciosismo” que o time dedicou a desenvolvimento do sistema, construção da estrutura de dados e algoritmos. “A gente gostava muito do assunto, então queríamos botar em prática tudo aquilo que aprendemos na faculdade”, diz o jovem empreendedor.

Durante a pré-incubação, tiveram também assessoria do Sebrae para incrementar o planejamento dos aspectos gerais do negócio, que iniciou uma rodada piloto durante a safra 2015/2016 (a safra principal na maior parte do Brasil ocorre entre os meses de setembro e fevereiro).

A LUTA POR UM LUGAR AO SOL NO ECOSSISTEMA

Após o lançamento oficial, na ritualística abertura da colheita da safra gaúcha do arroz, em 2016, conseguiram ser selecionados para o programa de apoio da aceleradora WOW.  Sediada em Porto Alegre, a organização independente tem se consolidado como uma das principais motivadoras do ecossistema de tecnologia da informação que prolifera na capital gaúcha, onde também operam algumas gigantes do ramo tech, como Dell e ThoughtWorks.

Com o investimento inicial de 150 mil reais, feito pela WOW, os sócios partiram para o desenvolvimento da marca, criação do website, produção de cartões de visita, participação em eventos, em um movimento de profissionalização que acabou por alçar Pedro à condição de diretor executivo, ainda que ele diga se sentir, como CEO, quase que “uma secretária de luxo”.

Depois de terem o negócio formatado, foi ele quem rodou de carro pelos rincões riograndenses para vender a joia rara que haviam se dedicado a lapidar. Ao fim de quatro meses comendo poeira na estrada, haviam conseguido amealhar três assinaturas, “sendo duas, meio que por pena”, se ri.

Além de estar sendo pouco eficaz, esse modelo de vendas de empreendedor viajante, com alto consumo de combustível, sugeria a necessidade de cobrar caro pelas assinaturas, reduzindo as chances de escalar. Foi quando resolveram integrar à equipe um profissional de comunicação, também amigo da turma, que ficaria responsável por elaborar e implantar um plano de marketing digital. Aí o time ficou completo.

“Com os anúncios na internet, logo na primeira semana conseguimos o mesmo número de assinaturas que levamos quatro meses para juntar”, lembra Pedro. Esse volume crescente de assinantes permitiu que eles estabilizassem o valor médio do serviço.

QUANDO AS COISAS VÃO BEM, O DINHEIRO VEM

Logo a equipe também precisou crescer, até chegar aos 20 funcionários atuais. Com a carteira de clientes se multiplicando por todas as regiões do país e um serviço de valor atraente para pequenos e médios produtores, contando com mais de 800 usuários ativos, foi a vez do Aegro receber o aporte de 2,5 milhões de reais do fundo SP Ventures, em abril deste ano.

Por conta desse salto de dimensões, e pela exigência do fundo investidor de que a sede dos empreendimentos apoiados esteja em solo paulista, o Aegro está de mudança para Piracicaba (SP), de onde está se posicionando como chassi básico de integração com outros aplicativos agrícolas de uso mais específico.

A seguir nessa toada, o sistema deve mesmo se consolidar e realizar sua vocação de “Robbin Hood do agronegócio”, repassando as novas ferramentas digitais para propriedades menores, contribuindo para incrementar a produtividade agrícola nacional e manter cada vez mais os jovens agricultores brasileiros conectados no campo.

“A gente sente a satisfação do cliente quando ele vê o brilho nos olhos do filho querendo assinar o sistema”, diz Pedro, e prossegue: “Porque o que ele quer é o filho por perto, tocando o negócio da família”. De preferência, num país melhor.

DRAFT CARD

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  • Projeto: Aegro
  • O que faz: Sistema de gestão e otimização do processo de produção agrícola
  • Sócio(s): Francisco de Borja, Paulo Silvestrin, Pedro Dusso, Thomas Rodrigues e Valmir Menezes
  • Funcionários: 20
  • Sede: Piracicaba (SP)
  • Início das atividades: fevereiro de 2016
  • Investimento inicial: R$ 150.000
  • Faturamento: R$ 600.000 (projeção 2017)
  • Contato: [email protected]
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