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Com tecnologia nacional, a Laura Networks usa computação cognitiva para salvar vidas em hospitais

Bruna Paese - 13 fev 2017
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Bruna Paese - 13 fev 2017
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Inteligência artificial, machine learning, internet das coisas, realidade virtual… As tecnologias “do futuro” já estão aí, embasando novíssimos empreendimentos. Neste novo cenário, startups com um propósito transformador massivo merecem destaque. É o caso da curitibana Laura Networks, que desenvolveu o Robô Laura. Não se trata de um robô físico, mas sim um algoritmo de inteligência artificial aplicada na gestão de risco em hospitais, salvando “tempo, recurso e vidas”, como diz o site.

É, também, bem mais que isso: uma solução cognitiva agnóstica (segundo seu criador, a primeira do mundo usada para gestão de risco) capaz de prever e controlar cenários. Laura, como é chamada, nasceu para rastrear e eliminar a Sepse — uma resposta desregulada e exagerada do sistema imunológico a uma infecção, que provoca uma disfunção orgânica silenciosa, que demora a ser percebida e, justament por isso, mata cerca de 250 mil pessoas por ano no país — em hospitais.

Evangelizador, Jacson fala a uma plateia de um encontro de tecnologia aplicada em hospitais.

Evangelizador, Jacson fala a uma plateia de um encontro de tecnologia aplicada em hospitais.

Laura está instalada no Hospital Nossa Senhora das Graças, na capital paranaense, local do piloto, desde o ano passado. Com menos de seis meses de uso, o robô já ajudou a salvar uma vida efetivamente (identificou um paciente auto-imune, ele foi isolado e não adquiriu sepse), além de reduzir consideravelmente o índice de casos de infecção por Sepse. Houve aumento de 17% na detecção precoce da Sepse, redução de 13% de casos de Sepse Grave e Choque Séptico, e redução de 7% na mortalidade global de Sepse.

O Robô Laura é composto por uma família de seis produtos e serviços, que formam as Especialidades de Laura, comercializadas para hospitais e empresas de outros setores. O sistema instalado custa 14,90 reais por paciente monitorado. A implantação em hospitais filantrópicos sai por 42 mil reais. Nos públicos e privados, 120 mil reais.

QUANDO A IDEIA DO NEGÓCIO NASCE DE UM DRAMA

Jacson Fressatto, 37, é um hacker ativista e analista de sistemas. Tornou-se especialista em segurança corporativa e trabalhou em grandes empresas como IBM e Volvo. Fundou duas empresas de tecnologia e uma de consultoria para investigação corporativa. Na jornada de um empreendedor, eventos inesperados podem determinar o fim de um projeto, ou o início de uma grande caminhada. Esta é a história de Jacson, pai de Laura e criador do robô. Laura faleceu em 2010, apenas 18 dias depois de nascer, por ter adquirido sepse.

Quando ele perdeu a filha, elaborou seu luto de uma maneira peculiar: passou os nove meses seguintes trabalhando como voluntário em diferentes hospitais com o intuito de descobrir quem (ou o quê) tinha sido culpado pela morte de Laura. Ao perceber que não existiam culpados, e sim a falta de recursos de inteligência (por exemplo, para comparar sintomas sutis de pacientes internados e montar um mapa de risco para cada paciente), percebeu que seu aprendizado poderia ser utilizado para evitar que outros pais passassem por semelhante tragédia. A esta altura, ele já sabia o que precisava: criar um algoritmo que fosse autônomo e auditável. Iniciou, então, o desenvolvimento do software. Ele fala desse período:​

“O momento mais difícil foram os dois anos sozinho, trancado em casa, desenvolvendo o protótipo e a arquitetura do robô. A solidão era desesperadora. As pessoas achavam que eu estava obcecado, doente”

O algoritmo que seria depois batizado de Laura começou a ser desenvolvido em 2006 e passou a ser usado em trabalhos de investigação corporativa e compliance. Anos depois, foi transformado em um protótipo de machine learning com atribuição de classificação. Esta versão foi usada para validar a ideia e possibilitar a análise em grandes massas de dados sem adaptação por compiladores (automáticas ou manuais). Assim, foi possível testar o conceito, numa operação segura e auditável. Hoje o robô é capaz de processar mais de 1 milhão de linhas por segundo, sem nenhum tipo de restrição e deficiência na performance.

As famosas barreiras de empreender: falta de crença dos outros no projeto, recursos escassos, anos de dedicação abdicando de outros prazeres, dúvidas, resiliência, medos. Jacson passou por todas elas, mas não perdeu o foco na promessa que fez à filha, pouco tempo depois de perdê-la. “Foi gratificante, finalmente, ver a Laura funcionando e ver quando efetivamente ela salvou a primeira vida no hospital piloto”, conta ele. O desenvolvimento do software consumiu quase 1 milhão de reais, valor dividido por Jacson e um investidor-anjo.

COMO UM ROBÔ PODE CONTROLAR RISCOS

A Laura não precisa de devices nem de recursos proprietários, como aplicativos ou API’s integradoras, não tem usuários ou operadores. É absolutamente auditável. ​E isso a torna escalável. Jacson diz que o software foi desenvolvido para hospitais, mas é aplicável em quaisquer outras empresas: “É o primeiro robô de uma geração de máquinas cognitivas que executa tarefas de gerenciamento de risco aprendendo com os indicadores da própria operação que está monitorando, alertando os agentes do processo de que algo está errado, tornando seu alcance muito maior e mais efetivo”.

O Robô Laura, ele prossegue, se integra ao dia a dia da empresa promovendo celeridade nos processos e melhoria continuada, sem impor uma nova metodologia ou forma de trabalho, como fariam outros sistemas de gestão ou de monitoramento de serviços. Jacson não tira do foco o propósito social de sua criação:

“Quero que milhares de pessoas tenham a segunda chance que minha princesa não teve. Vamos mostrar que podemos fazer algo grande, milionário e singular, simplesmente focando no bem estar dos outros​”

Para que isso ocorra, além da venda dos serviços descritas acima, a Laura Networks criou o projeto chamado “o sonho de Laura”: a meta é de levar o Robô Laura gratuitamente para todas as unidades de hospitais filantrópicos no Brasil, que são mais de 2 000. Recentemente, foi criada uma campanha de crowdfunding que, no entanto, ainda está longe de atingir o valor necessário. Jacson e sua equipe apostam que um engajamento maior vá acontecer graças à visibilidade conquistada com prêmios recentes, como o Ozíres Silva (dedicado a iniciativas de impacto social), e reportagens na TV, como uma recente no Jornal Nacional.

Jacson, ao centro, recebe mais um prêmio pela ideia. Ele aposta na visibilidade para aumentar o impacto da empresa.

Jacson, ao centro, recebe mais um prêmio pela ideia. Ele aposta na visibilidade para aumentar o impacto da empresa.

Enquanto isso, a empresa, que tem oito funcionários, vem se preparando para crescer. O CEO Marcelino Costa (que tem experiência em vendas e no comercial de outras empresas de tecnologia) atraiu dois sócios-investidores para formar um conselho consultivo e está selecionando um profissional com experiência em conselhos de startups, com conhecimento em tecnologia para se tornar o quinto conselheiro.

O objetivo da Laura Networks é afetar positivamente a vida de 1 bilhão de pessoas. Ciente de que esta é uma tarefa complexa e difícil, Jacson, diz que se considera um “pirata”. Quando as coisas começam a ficar fora de ritmo, conta, ele se inspira na história profissional e no modelo mental de Ed Catmul, CEO da Pixar que chama os projetos de seus filmes de “bebês feios” e diz: “O desafio de quem cria algo novo é proteger o seu bebê feio e dar de comer à fera voraz”. Jacson segue à risca a inspiração e diz ter certeza absoluta de que seu negócio vingará:

“Se você se achar um fracassado, passará a ser um. Então, não dar certo nunca foi uma opção”

Jacson segue sua jornada de empreendedor, de pirata, de sonhador, de trabalhador desse sonho. Inspira-o fazer com que outras pessoas também passem a se importar em construir não só uma empresa de sucesso, mas uma que capaz de impactar vidas, ajudar a construir um futuro melhor, que se move, mas não deixa de se reinventar.

DRAFT CARD

Draft Card Logo
  • Projeto: Laura Networks
  • O que faz: Computação cognitiva para gestão de risco hospitalar
  • Sócio(s): Jacson Fresatto
  • Funcionários: 8 (incluindo o fundador)
  • Sede: Curitiba
  • Início das atividades: 2016
  • Investimento inicial: cerca de R$ 1 milhão
  • Faturamento: NI
  • Contato: [email protected] e (41) 4063-9797
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