Descomplicar o obscuro mundo dos investimentos e convencer as pessoas de que cuidar de suas finanças pessoais pode ser algo leve, simples e até divertido. Para facilitar este processo e atrair clientes que não entendem, ou não gostam, da linguagem dos bancos tradicionais, surgiu o Warren. Basicamente, é uma plataforma online em que incentiva os usuários a “criar objetivos” (coisas tão palpáveis como “Carnaval 2018”, “Viver na praia” etc) e a partir deles dá orientação de investimentos livre de interesses — isso mesmo: o serviço não está atrelado a comissões.
Lançado no começo deste ano, o Warren já tem mais de 10 mil clientes cadastrados e um volume de 45 milhões de reais sob custódia. Embora só tenha começado a operar há seis meses, a startup nasceu em 2014, em Nova York, quando um dos fundadores, Tito Gusmão, 37, hoje CEO da empresa, ainda morava nos Estados Unidos. Ele sempre foi um apaixonado pelos investimentos. Ainda adolescente, dava conselhos para os amigos sobre a melhor forma de investir e chegou a iniciar a faculdade de economia, na Unisinos, em Porto Alegre. Frustrado com o currículo que incluía muita História e conhecimentos teóricos, largou o curso depois de apenas dois semestres.
Mesmo sem formação na área, Tito começou a trabalhar em empresas de investimentos e não demorou para que fosse convidado a fazer parte do time que daria início a XP Investimentos, que uma década depois acabou se tornando a maior corretora do país. Em 2012, mudou-se para Nova York com a missão de abrir um escritório da XP nos Estados Unidos e foi lá, mergulhado no paraíso das fintechs, que ele se inspirou para criar o Warren. “Conheci uma empresa que estava surgindo para resolver dois problemas: primeiro, investir é chato e complexo demais; segundo, o investidor fica sempre na mão do gerente do banco ou do corretor, que ganham comissões sobre os produtos que indicam. Achei fantástico o que eles estavam fazendo, mas a plataforma deles ainda não era muito amigável, dava para melhorar”, conta.
SE NÃO EXISTE ALGO TÃO LEGAL QUANTO VOCÊ IMAGINOU, CRIAR PODE SER UMA BOA
No final de 2015, os quatro desembarcaram no Brasil e começou então a jornada para conseguir as credenciais necessárias para abrir uma empresa de investimentos. Foram longos meses até que saíssem os credenciamentos da CVM (Comissão de Valores Mobiliários) e da Anbima (Associação Brasileira das Entidades dos Mercados Financeiro e de Capitais). Isso acabou atrasando um pouco os planos de lançamento da operação. A previsão inicial era meados de 2016, mas o Warren só começou a operar no início de 2017.
Para investir no Warren, o primeiro passo é bater um papo com a plataforma via site ou aplicativo (por enquanto apenas em iOS, mas estará no Android em breve). Em um chatbot, o usuário responde a algumas perguntas que ajudarão o algoritmo a definir seu perfil. Já aí entra outra diferença em relação aos bancos ou corretoras convencionais, como Tito fala:
“No Warren você não vai ter um carimbo na testa dizendo se é conservador ou arrojado nas decisões que envolvem seus investimentos”
Ele prossegue: “Isso vai depender dos objetivos que você traçar. Levando em conta se são de curto ou longo prazo, o Warren vai te fazer a melhor recomendação, e provavelmente você vai ser conservador em um objetivo, mas mais arrojado em outro”.
Ao falar mais sobre a ferramenta, ele afirma que ideal é que cada usuário tenha pelo menos dois objetivos e que um deles seja de uma reserva para emergência, algo que ele possa movimentar com facilidade em caso de necessidade, enquanto o outro seja de longo prazo, como uma aposentadoria. Naturalmente, as recomendações para os dois casos serão diferentes. “Com objetivos de curto prazo é interessante investir em produtos de menor risco. Para longo prazo, por exemplo, ter 1 milhão de reais daqui a 10 anos, é interessante colocar componentes de ações no portfólio, porque isso vai trazer mais performance no longo prazo”, diz o CEO.
O Warren oferece duas modalidades de investimento: renda fixa e ações. Em renda fixa são 100% títulos do governo, ou seja, é o produto de renda fixa de menor risco do mercado. Já na parte de ações, a plataforma diversifica a carteira entre as 500 maiores empresas do mundo, como Apple, Google, Facebook, Amazon, Disney, Nike entre outras, e nas 100 principais empresas brasileiras. O Warren é ao mesmo tempo o gestor dos recursos, o administrador e o distribuidor, mas para custodiante, eles escolheram o Santander. “Somos uma empresa 100% online. Achamos importante escolher um banco grande para trazer mais segurança, no fim é lá onde o dinheiro dorme”, diz.
MAS COMO O WARREN GANHA DINHEIRO?
O Warren cobra uma taxa de 0,8% ao ano sob o valor investido e permite investimentos a partir de 100 reais. Segundo Tito, este índice é três vezes menor do que o aplicado por bancos e corretoras. “Conseguimos essa taxa menor porque não temos agências suntuosas e, além disso, automatizamos muita coisa para baixar bem nosso custo operacional. E esse investimento inicial de apenas 100 reais permite que todo mundo teste a plataforma”, diz, e conta que, no momento, a estratégia da empresa é ganhar território:
“Não estamos muito preocupados em recuperar o investimento agora. Queremos crescer. Nossa expectativa é chegar aos 50 mil usuários até o meio do ano que vem”
Eles não divulgam o faturamento, mas para abrir a fintech, os sócios investiram cerca de 5 milhões de reais. Para ganhar novos usuários, o Warren aposta em ferramentas digitais e redes sociais, mas também confia muito na propaganda boca a boca. Há, por exemplo, um programa de vantagens para quem indica novos clientes que inclui mimos como camiseta e cartão de agradecimento escrito à mão. Tito conta que apesar de serem uma empresa virtual, eles também realizam alguns eventos offline, como o “Papo de Grana”, uma conversa sobre investimentos e finanças pessoais que já aconteceu algumas vezes em Porto Alegre e deve ser levada para outras sete capitais até o fim do ano. Além disso, eles também realizam o W Summit, um evento anual com palestras que reuniu cerca de 500 pessoas na primeira edição.
A maior parte dos investidores do Warren são os chamados millennials. Tito afirma que os usuários têm em torno de 28 anos e investem cerca de 5 mil reais na plataforma. “São aqueles jovens que compram até pão pelo iPhone”, brinca. A comunicação da marca, no Facebook, diz coisas como: “Investir era chato. Agora é legal”. É por aí.
Há duas semanas, eles lançaram uma nova funcionalidade na plataforma. Nela os usuários (amigos!) podem compartilhar um mesmo objetivo. Por exemplo, uma turma que esteja planejando uma viagem, pais que queiram fazer uma reserva para a faculdade dos filhos ou estudantes que estejam guardando dinheiro para formatura podem criar um objetivo compartilhado na plataforma, em que todos os envolvidos podem contribuir mensalmente. É a famosa vaquinha. Turbinada, claro:
“A novidade são os objetivos compartilhados. É como uma vaquinha. A diferença é que no Warren o dinheiro fica rendendo”
Mesmo o Warren tendo apenas um semestre de vida, o CEO já consegue listar algumas coisas que faria diferente. Um dos grandes aprendizados que ele destaca foi sempre prototipar e testar qualquer funcionalidade antes de sair desenvolvendo produtos. Ele fala sobre os próprios erros: “No início a gente fez muita coisa partindo direto pra produção, sem antes validar. Aí depois descobríamos que aquilo não funcionava e perdíamos semanas de trabalho. Aprendemos que o melhor caminho é usar simuladores ou convidar alguns usuários beta para testar antes de desenvolver qualquer coisa”.
Outra lição foi aprendida durante o processo para obtenção de credenciais com as entidades reguladoras. Por se tratar de um novo modelo de investimentos, o Warren não se encaixava em vários dos critérios técnicos já definidos pelas reguladoras. “O processo demorou muito, a gente deixou na mão dos advogados, mas no fim tivemos que assumir. Eu me arrependo de não ter feito isso antes, já que a demora acabou atrasando o início da nossa operação”, afirma.
COMO PROSPERAR NUM PAÍS QUE AMA BANCO
Até o momento o Warren ainda não recebeu investimento externo, mas Tito conta que há algumas conversas em andamento e que um acordo pode ser fechado em breve. Entre as novidades que estão por vir existem também um projeto de diversificar os produtos oferecidos, tendo uma opção para clientes que gostariam de investir quantias maiores (ou seja, para quem está acima da média dos 5 mil e tem, por exemplo, acima de 50 mil reais para investir), além de um serviço que ajudará brasileiros a investir nos Estados Unidos.
Segundo o jovem empreendedor, que não terminou a faculdade porque preferiu colocar a mão na massa, o maior desafio do Warren continua sendo vencer o receio das pessoas de investir e convencê-las de que isso pode ser de fato simples. “O brasileiro gosta muito de banco, gosta da agência física, de chegar lá e olhar o gerente no olho. Nós somos totalmente online, não temos sede, não temos agências. Nosso objetivo, claro, é criar uma nova geração de investidores, mas precisamos conseguir vencer essa barreira da insegurança. É um trabalho de longo prazo”, diz. A vaquinha dele está aí. Turbinada.
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