Cerca de três em cada dez brasileiros não concluíram o ensino básico — o equivalente a 70,6 milhões de pessoas. Dentre os principais motivos que levam os estudantes a abandonar a escola estão a necessidade de trabalhar, a falta de interesse nos estudos, a gravidez precoce e cuidados com familiares ou afazeres domésticos. Os dados são da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua de 2022, realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
A Zeka Educação Digital aposta na gamificação para transformar essa realidade e auxiliar jovens adultos a conquistarem o diploma do Ensino Médio. Fundada em 2021 por um grupo de mães da escola Avenues, a edtech oferece em sua plataforma trilhas de aprendizagem com aulas ao vivo, assíncronas e simulados em tempo real.
Mas tudo começou dois anos antes, sem muita tecnologia, apenas com caneta, papel e disposição.
Vista de cima, a Avenues School, uma das mais caras de São Paulo, escancara a desigualdade de um dos bairros mais nobres da Zona Sul da capital: de um lado, arranhas-céus empresariais, do outro, a favela do Real Parque.
Inconformadas com a disparidade, Mônica Pinhanez, Marina Gelman, Samara Werner e Wania Pinto — mães de alunos da Avenues — começaram a estudar a região e pensar em formas de amenizar o problema. As outras duas sócias, Loredana Sarcinella e Gal Barradas, se uniram ao grupo posteriormente.
Loredana explica:
“Elas viram que os moradores da comunidade tinham que pegar de uma a duas conduções até o outro lado do Rio Pinheiros para estudar, porque não tinha uma escola de Ensino Médio na comunidade”
O tempo gasto no trânsito dificultava a ida dessas pessoas à escola, fazendo com que muitas largassem os estudos. Foi então que as mães resolveram começar a dar aulas presenciais em um espaço da comunidade, de maneira voluntária, a fim de prepará-las para o Exame Nacional para Certificação de Competências de Jovens e Adultos (Encceja).
Até que a pandemia de Covid-19 começou e, com ela, um problema: a maioria dos equipamentos utilizados pelos estudantes não suportava chamadas de vídeo. “Mesmo assim, as aulas continuaram, só que via WhatsApp e telefone. Uma loucura”, conta Loredana.
Com o tempo, elas perceberam que existia um mercado enorme de pessoas no Brasil com o Ensino Médio incompleto e decidiram transformar a ação em uma ideia de negócio. A plataforma digital e o conteúdo pedagógico foram estruturados em cerca de um ano, até o lançamento do MVP, em 2021, por meio de um edital.
Loredana conta que a participação da Zeka na primeira edição do programa Favela Inteligente, realizado pela Fundação Carlos Chagas Filho de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro (Faperj), ajudou a startup a testar o produto e dar o pontapé inicial necessário.
COO da Zeka, Viviane Elias Moreira integra o time da startup desde janeiro deste ano e está à frente do projeto de parceria com o Favela Inteligente, que tem como intuito apoiar ações que promovam o desenvolvimento do território da Rocinha com base em ciência, tecnologia e inovação.
“Com o investimento recebido, nós cedemos 1 100 licenças da Zeka para os alunos da comunidade poderem estudar”, diz Loredana.
Visando ampliar sua atuação, a startup começou a buscar grandes empresas, fechando sua primeira parceria com a gigante Magalu em dezembro do ano passado. Desde então, companhias como Grupo Trigo e Pop Trade também entraram no portfólio de clientes da Zeka. Segundo Loredana:
“Quando a gente olha para determinados setores como construção civil, varejo e indústria, existe uma grande população sem o Ensino Médio completo. Isso é um custo para a empresa e para o próprio funcionário”
Atualmente, 80% dos alunos cadastrados na Zeka possuem 25 anos de idade e mais da metade (58%) se autodeclaram pretos, dentre os quais 40% são mulheres.
Um dos maiores desafios enfrentados pelas empreendedoras foi desenvolver um produto que atendesse às necessidades educacionais da população jovem e adulta.
“Nós avaliamos todo o Encceja desde 2016 para entender o tempo de duração da prova, o tipo de pergunta feita, se há mais perguntas interpretação de texto ou de múltipla escolha, o conhecimento exigido em cada matéria, além de considerar o que é exigido pelo MEC [Ministério da Educação]”, diz Loredana. “A partir disso, montamos uma arquitetura de aprendizagem chamada aprendizagem em blocos.”
Entretanto, ter um conteúdo pedagógico robusto não era o suficiente; era preciso manter os alunos motivados. As empreendedoras viram na gamificação um caminho para atingir esse objetivo.
Começando pelo cadastro. Ao entrar na plataforma, o estudante faz um exame de proficiência para avaliar o nível de conhecimento dele em relação às matérias exigidas no Encceja: português, matemática, ciências humanas e ciências da natureza.
Com base no resultado, o sistema sugere uma trilha de aprendizagem com videoaulas ao vivo e gravadas, questionários e simulados que podem ser acessados pelo computador ou celular. Loredana afirma:
“A plataforma é assíncrona e muito intuitiva, com professores e alunos personagens, então todos têm uma história de vida, uma persona. Ao final de cada trilha, o estudante recebe um diploma. Tudo isso foi pensado para engajá-lo dentro da plataforma”
A Zeka utiliza inteligência artificial para acompanhar o progresso dos alunos ao longo do curso, identificando e apontando as lacunas de aprendizagem de cada um. “Por meio dos algoritmos nós conseguimos saber em quais matérias as pessoas estão tendo maior dificuldade. Essa informação é repassada para o professor, para que ele possa reforçar o conteúdo nas lives diárias”, diz Loredana.
Além das matérias tradicionais, a edtech incentiva o desenvolvimento de habilidades comportamentais, como organização, priorização, autoestima e autoconfiança. A ideia é que no próximo ano esse pilar ganhe ainda mais atenção.
Até o momento, a edtech conta com o apoio de 12 anjos e já recebeu um aporte de mais de 1 milhão de reais. Apesar do avanço obtido, Loredana gosta de manter os pés no chão.
“O nosso negócio é de escala, então ainda há muito a ser feito. Nosso objetivo agora é deixar a operação cada vez mais robusta, lançar uma nova versão, com novos recursos tecnológicos e, principalmente, fazer com que o aluno aprenda.”
A perspectiva branca e europeia molda desde cedo nossa visão de mundo. Recém-lançada no Web Summit, a edtech Biografia Preta quer chacoalhar esse paradigma aplicando uma “IA afro referenciada” ao ensino de História (e demais disciplinas).
A neurociência pode ajudar a destravar o potencial dos alunos. Virgínia Chaves conta como a startup Athention usa aparelhos portáteis de eletroencefalograma (entre outros recursos) para incorporar a tecnologia de dados na educação.
Lançar medicamentos de forma segura depende de testes clínicos com voluntários. Por meio da tecnologia, a Comsentimento ajuda a recrutar pacientes elegíveis e a viabilizar novos tratamentos para doenças como o câncer.