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Como a Biva facilita o crédito a pequenos empresários, eliminando intermediários entre credores e investidores

Adriana Fonseca - 10 out 2017 O time atual da Biva formado após a reestruturação feita para salvar o negócio.
O time atual da Biva formado após a reestruturação feita para salvar o negócio.
Adriana Fonseca - 10 out 2017
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Advogado de formação, Jorge Vargas Neto, 28, – fundador da startup Biva, que facilita a concessão de créditos para empresas sem intermediários – trabalhava em um dos maiores escritórios de advocacia do país, o Pinheiro Neto, há três anos. Ele tinha apenas 25 anos, sua carreira estava decolando e decidiu fazer um mestrado. Na academia, seu objeto de estudo foi o ambiente regulatório das fintechs, nomenclatura que se dá às startups do setor financeiro, e por conta disso conheceu um dos fundadores do Nubank, o colombiano David Vélez.

Ainda funcionário do Pinheiro Neto, trabalhou na estruturação jurídica do banco que naquela época dava os primeiros passos. “Foi impactante ver o Nubank se desenvolver. Ver alguém tirar uma ideia do papel, torná-la real, montar um time. Eu nunca tinha acompanhado esse tipo de processo, porque só havia trabalhado em grandes empresas”, conta.

Ali nasceu a vontade de empreender. “Até então eu não pensava em abrir um negócio, estava bem feliz com a minha carreira, tinha um chefe incrível”, diz Jorge. Ainda no mestrado, estudando o ambiente das fintechs, ele teve contato com algo inédito no Brasil, o peer-to-peer lending, e viu nessa modalidade uma oportunidade de facilitar o crédito para donos de pequenas empresas.

P2P, OU COMO FACILITAR O CRÉDITO PARA PEQUENAS EMPRESAS 

No sistema financeiro tradicional, pessoas que poupam dinheiro investem esse recurso no banco e recebem uma taxa de juros em troca. O banco, por sua vez, empresta esse dinheiro para pessoas e empresas que precisam de recursos e, por esse serviço, cobra outra taxa de juros. A diferença entre uma taxa e a outra é chamada de spread bancário. No Brasil, temos o terceiro maior spread do mundo segundo dados de 2016 do Banco Mundial (estamos atrás apenas de Madagascar e do Malawi) e isso deixa o crédito caro, às vezes até inacessível para boa parte da população.

Jorge, fundador da Biva, que investiu em um negócio para facilitar o crédito para donos de pequenas empresas.

Jorge, fundador da Biva, que investiu em um negócio que possibilita a desintermediação das relações de investimento e crédito.

Quando descobriu o peer-to-peer lending, ou P2P, o que Jorge queria era diminuir o spread. E essa é a missão dele com a Biva, startup fundada em 2015 com sede em São Paulo. Em um marketplace – ou lugar de troca na internet – , o P2P possibilita a desintermediação das relações de investimento e crédito. Em outras palavras, isso significa que uma pessoa empresta dinheiro para outras pessoas sem um banco no meio do caminho. “Quando surgiu a ideia, tive a percepção de que era algo impossível de se fazer, por conta da regulação do mercado. Mas, ao mesmo tempo, era onde eu via a possibilidade de causar maior impacto”, conta Jorge, que segue dizendo: “O spread alto e os juros atuais prejudicam muito as pessoas.”

Para tirar sua ideia do papel, Jorge pediu conselhos ao fundador do Nubank, que a essa altura já administrava um negócio que havia dado certo. “O David falou que investiria e eu fui em frente”, conta.  O próximo passo foi conversar com o chefe – Jorge ainda era funcionário do Pinheiro Neto quando teve a ideia de empreender, lembra? Ele gostou tanto da ideia que o escritório apoiou o futuro negócio nas questões jurídicas, algo de extrema importância em um mercado altamente regulado, como é o financeiro.

Tudo caminhando, mas ainda era preciso o aval do Banco Central para operar. Jorge montou a estrutura do negócio e levou para o BC, que aprovou o projeto em maio de 2015. Com tudo regulamentado, o fundador do Nubank investiu 250 mil reais e abriu as portas para outros investidores. Três meses depois a Biva recebeu, então, mais 600 mil reais, que vieram da Vox Capital e do Kaszek Ventures. Os três sócios fundadores (apenas Jorge continua na startup) investiram 75 mil reais cada um para fazer o negócio girar.

O COMEÇO E O QUASE FIM DA OPERAÇÃO

Com a empresa já rodando, o primeiro desafio era mostrar para as pessoas o que era o P2P e convencê-las de que essa alternativa é totalmente legal e mais barata do que o empréstimo bancário tradicional. Jorge lembra que, no começo, as pessoas desconfiavam, porque a Biva oferecia juros muito mais baixos para quem tomava empréstimo e uma boa rentabilidade para quem emprestava. “Perguntavam se era agiotagem”, lembra.

Para explicar o que era o P2P, a Biva criou um blog e passou a criar conteúdo informativo. Já para conseguir os primeiros clientes o trabalho foi porta a porta. Jorge conversou com o pai de um amigo, que era dono de um restaurante japonês, e ofereceu o empréstimo. Quando ele topou, o fundador da Biva foi atrás de quem quisesse emprestar dinheiro a ele.

Depois do primeiro negócio, outros vieram. “Era 2015 e, com a crise, a Biva cresceu”, diz o empreendedor. Em sete meses de operação, a startup foi avaliada em 25 milhões de reais e receberia uma rodada de investimento de 10 milhões de reais da Monashees e do Kaszek. Nessa época, a Biva garantia o investimento dos investidores. Então, quem emprestava o dinheiro tinha garantia de retorno a uma taxa pré-fixada, independentemente de inadimplência do tomador do empréstimo. Jorge lembra que:

“Todo mundo pagava os empréstimos até então, mas, de uma hora para outra, a taxa de inadimplência saiu de 0% para 28%. Isso quase quebrou a Biva!”

No começo de 2016, um pouco antes do baque, os recursos no caixa da Biva estavam programados para durar 18 meses, incluindo os gastos com folha de pagamento e demais despesas. De repente, por causa da inadimplência e outros problemas de execução, os fundos acabaram desistindo do investimento e o dinheiro do caixa daria para apenas mais 40 dias. “Chamei os funcionários, expliquei a situação, e perguntei quem queria sair, que eu ajudaria a recolocar no mercado”, conta Jorge. Quem ficasse teria que apoiar a reestruturação da empresa no risco. Na época, a Biva tinha 34 colaboradores. “Foi o pior dia da minha vida”, diz Jorge.

Do 34, apenas seis ficaram. Nos dias seguintes a essa difícil conversa com a equipe, Jorge fez diversas ligações para sua rede de contatos, até recolocar todo mundo. A partir daí começou a reconstruir a Biva com os seis funcionários que ficaram.

REESTRUTURANDO O NEGÓCIO

A primeira melhoria implementada foi criar um portfólio de investimento. Assim, o investidor não emprestaria seu dinheiro para uma só empresa ou pessoa, ele diversificaria seu investimento em várias pessoas, diminuindo o risco. Nessa nova fase a Biva deixou de garantir o retorno do investidor.

Para desenvolver o novo sistema foram necessários cerca de cinco meses. “Sem dormir e sem fim de semana”, recorda Jorge, que nessa época morava e trabalhava em uma casa na rua Califórnia, no bairro do Brooklin, na zona sul de São Paulo. Em agosto de 2016, nascia a nova Biva. Desde então, o negócio voltou a crescer, agora de forma mais sólida.

O foco da Biva é emprestar dinheiro para pequenas e médias empresas.

O foco da Biva é emprestar dinheiro para pequenas e médias empresas.

Quem toma empréstimo na startup consegue juros cerca de 60% mais baixos do que os praticados no setor bancário. Quem investe consegue rentabilidade de até 25% ao ano ou 245% do CDI (Crédito de Depósito Interbancário)A startup lucra nas taxas que cobra por fazer a aproximação entre as duas pontas – valor que varia de 1% a 5% do montante negociado.

Já reestruturada, a Biva conseguiu um novo sócio investidor, o fundo suíço Mipey. “Foi o que nos deu fôlego para recomeçar e crescer em um modelo sustentável”, diz Jorge. Desde o relançamento, a Biva cresce cerca de 25% ao mês e hoje tem uma carteira ativa de 48 milhões de reais. A startup deve encerrar 2017 com um faturamento de 3 milhões de reais.

A EXPANSÃO DOS NEGÓCIOS COM A INCLUSÃO DE NOVOS PÚBLICOS

Se no início o foco da Biva era fornecer crédito para pequenas empresas, agora a startup passou a atender também as médias empresas e já está concedendo crédito para as grandes, graças a uma recente parceria com a Fdex, uma plataforma de busca por crédito.  Neste novo cenário, o negócio passou a atender companhias com faturamento entre 10 milhões e 150 milhões de reais por ano.

Outra novidade é o crédito estudantil. A Biva lançou recentemente empréstimo para estudantes, com prazos de pagamentos mais longos. Por enquanto há 107 alunos utilizando o recurso, pagando uma taxa de juros de 1,1% ao mês.

Apesar do baque inicial, Jorge diz ter continuado com a Biva porque vê propósito no que faz. “Cada um que toma empréstimo aqui tem histórias maravilhosas”, conta o empreendedor, que liga para cada dono de pequena empresa que recebe crédito através da startup. Ele faz questão de fazer isso por duas razões: primeiro porque mantém uma relação mais humana com os tomadores de empréstimo, o que impacta na baixa taxa de inadimplência, e segundo porque disponibiliza a eles uma consultoria em finanças. “Queremos oferecer um crédito consciente, orientar sobre capital de giro e fluxo de caixa, porque nosso objetivo é ver quem toma o empréstimo prosperar”, diz.

 

DRAFT CARD

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  • Projeto: Biva
  • O que faz: Plataforma de empréstimo entre pessoas (peer-to-peer lending)
  • Sócio(s): Jorge Vargas Neto, Diego Lissoni, Artur Malabarba, Bruno Zacarias, Felipe Pagano, Theodoro Prado, Diandra Guimarães e o fundo Mipey AG
  • Funcionários: 28 (incluindo 8 sócios)
  • Sede: São Paulo
  • Início das atividades: 2015
  • Investimento inicial: R$ 475 mil
  • Faturamento: R$ 3 milhões (projeção 2017)
  • Contato: [email protected]
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