Um dos maiores desafios que a nossa sociedade, como um todo, enfrentará nas próximas décadas é, sem dúvida alguma, o aumento, tanto em proporções quanto em densidade populacional, das cidades.
De acordo com estatísticas da ONU, mais de 70% da população mundial estará nos centros urbanos até 2050, e na América Latina, os dados já são surpreendentes, com 80% da população concentrada nas cidades, entre elas seis megalópoles com mais de 10 milhões de habitantes, segundo dados do relatório EvEx “Covid-19 e governos locais: soluções de enfrentamento”.
Gerir cidades deste tamanho vai se tornando exponencialmente mais complexo, não apenas no sentido da gestão pública, mas também no quesito bem-estar em geral
Questões como segurança, zoneamento, ordem pública, eliminação de espaços abertos e mobilidade urbana acabam se tornando preocupações de gestores públicos e da sociedade como um todo, em especial a utilização eficiente dos orçamentos públicos, assim como o monitoramento das parcerias público-privadas (PPPs). E como se isso não fosse mudança o suficiente, as questões ambientais e sociais também se tornam cada vez mais presentes nos anseios das pessoas.
A tecnologia vem sendo apontada como um dos principais aliados na busca por soluções para muitas destas necessidades, o que nos leva ao conceito de Smart Cities, ou cidades inteligentes, onde a tecnologia tem atuação primordial na gestão pública, permitindo melhor relação na colaboração entre governo e população, e a busca pela qualidade de vida é o motor que impulsiona a remodelação dos espaços urbanos para o futuro.
Com novas tecnologias, logicamente, surgem novos desafios. Em sua fase atual, aplicações de IoT para cidades inteligentes têm um desafio pela frente: a segurança, tanto da rede em si, quanto dos dados gerados pelo uso. Neste aspecto, a praticidade e a tecnologia trazem brechas que acabam desestimulando uma adesão em massa
A possibilidade de gerir, de forma ativa e inteligente, recursos públicos em uma estrutura como essas se torna desafiador, pois no caso de hack pode haver não só um comprometimento da qualidade dos dados e tomada de decisão, mas um potencial impacto no erário municipal. Outro aspecto que impede o desenvolvimento de um projeto desta magnitude é o investimento em infraestrutura.
Porém, esses desafios não são suficientes para deter o avanço das cidades inteligentes, que agora conta com uma nova aliada: a blockchain. Ela tem sido apontada por especialistas como uma tecnologia promissora para tornar sistemas de IoT não só robustos, mas também em oferecer maneiras criativas de envolver a população e a iniciativa privada na construção desses espaços.
A tecnologia da blockchain, conhecida pelo público geral como a que possibilita a existência do Bitcoin e outras criptomoedas, pode ser a solução para a implantação de smart cities de forma mais barata, eficiente e segura.
Isso porque ela permite, além da execução da computação verificável e segura, a implantação de modelos econômicos colaborativos onde outros atores, além do Estado, podem ter uma participação na implantação, reduzindo assim a necessidade de financiamento inteiramente estatal
Indivíduos, associações e empresas podem somar esforços e recursos, sendo recompensados de maneira automatizada por meio das diversas funcionalidades oferecidas pela blockchain.
Entre eles estão aplicações descentralizadas (dApps), que são implementados via smart contracts, contratos executados automaticamente ao se cumprirem as cláusulas previstas, além do armazenamento e processamento de dados provenientes de dispositivos IoT.
É indispensável falar de contratos inteligentes, que suportam as aplicações descentralizadas (dAPPs), quando se sugere o uso da tecnologia blockchain como solução para os problemas já mencionados na implementação das smart cities. Isso porque, sem elas, muitas das interações indispensáveis para o bom funcionamento dos sistemas simplesmente não existiriam.
Podemos usar como exemplo o mercado de logística, que utiliza comunicação confiável, transparente e eficiente.
Em operações de escala global, com uma infinidade de fornecedores de produtos e serviços interagindo em uma mesma cadeia de suprimentos, o uso de sensores de IoT, consolidação e processamento de informação de forma segura, utilizando como por exemplo a tecnologia de blockchain como rede externa de compliance de informações, tem sido apontado como a solução para o desafio de se alcançar a situação ideal de MRV (Measurement, Report and Verification, ou medição, relatório e verificação, em tradução livre) em toda a cadeia.
Outro exemplo de como a blockchain pode estar à serviço da transparência e da conservação ambiental é o projeto Lilium. Desenvolvido dentro do ambiente da Cartesi, este DApp permite o leilão legítimo, verificado e prático de créditos de carbono. A melhor parte? Todo o projeto está em licença de código aberto, sendo possível aos interessados contribuir com a evolução da aplicação, podendo usá-la para iniciar projeto de site de leilões de crédito de carbono.
A construção de cidades inteligentes agora avança com mais segurança e confiabilidade. A tecnologia blockchain permite criar fluxos de informação e regras de negócios sem depender de intermediários ou de confiança entre as partes
A própria rede executa as operações de forma segura, garantindo que as informações sejam protegidas e imutáveis. Além disso, dados coletados por dispositivos IoT podem ser protegidos por assinaturas digitais, verificadas por contratos inteligentes na blockchain.
Com isso, o ciclo de geração, processamento e uso dos dados se torna seguro e confiável – possibilitando a criação desses espaços com simplicidade e proteção para todas as partes envolvidas.
Bruno Maia é head de ecosystem growth da Cartesi.
Diante de eventos climáticos cada vez mais extremos, precisamos combinar senso de urgência e visão de longo prazo. A jornalista e consultora Fabiana Dias sugere caminhos para um novo modelo de cidade, baseado na economia verde e regenerativa.
Ao mesmo tempo em que abria o leilão de áreas de exploração de petróleo na Amazônia, o governo anunciava o Plano de Transformação Ecológica. Entenda por que o documento é um avanço enorme – e quais são as armadilhas no caminho.
Num mundo em constante mudança, saber abraçar o caos é essencial à inovação. Fernando Seabra, empreendedor, mentor e investidor, explica como atravessar esse “labirinto de complexidades” e aproveitar as oportunidades que ele oferece.