Drones controlados com o poder da mente, pulseiras de realidade aumentada e copos de cerveja inteligentes. Parece ficção científica? A Bolha já faz. Fundado no final de 2010, o estúdio de “tecnologia criativa” assim se denomina porque une programação e design em projetos de hardware, software e web para criar “experiências memoráveis”, seja usando IoT, wearables, instalações digitais, impressão 3D ou o que for.
O negócio nasceu de uma inquietação profissional do publicitário Nagib Nassif Filho, 42, que passou a maior parte de sua carreira no mercado digital. Trabalhou por quase duas décadas em agências e produtoras, como Media Lab, TV1, XLab e Wunderman.
“Eu me frustrei um pouco, quando percebi que o mercado ficou muito enraizado em um modelo de negócio entre o desenvolvimento de software e agência de publicidade tradicional”, diz o CEO da Bolha. “O espaço para inovação e criatividade se tornou limitado.”
Naquela época, pouco se falava em hardware, mas esse era o sonho de Nagib para a Bolha e, também, a chance de transformar seu hobby de adolescência em algo profissional. Quando garoto, ele conta que adorava montar e desmontar eletrônicos em São José do Rio Preto, sua cidade natal, no interior paulista. A vontade de materializar experiências também foi um dos propulsores para a criação do estúdio.
EXPERIÊNCIAS MEMORÁVEIS E O PORQUÊ DE BOLHA
Nagib conta que veio de um tempo em que tudo era muito físico. Mas hoje percebe como as coisas viraram cibernéticas. As pessoas estão concentradas nas redes sociais, em um mundo virtual. (Tanto que ele mesmo foi trabalhar no mercado digital.) A Bolha surgiu dentro desse resgate pelo material, da necessidade de contar histórias através de “experiências únicas e personalizadas”, como ele fala:
“A gente perdeu a essência de algo que o ser humano gosta muito que é o físico em si, a possibilidade de colocar a mão, fazer, criar e construir algo”
Quando decidiu empreender e investiu 50 mil reais (de economias próprias) para tornar sua ideia possível, adotou o nome de seu primeiro empreendimento quando era adolescente, uma rádio pirata criada com a ajuda de um amigo, estudante de eletrônica. Na sua cidade só havia rádios sertanejas e a Bolha era a única a transmitir programação de rock, em 1993.
“Essa rádio pirata é, para mim, um case de sucesso e quando decidi abrir o estúdio, quis relacionar com essa lembrança positiva. No final, tem tudo a ver. Bolha é algo que não tem forma, muda o tempo todo, tem também eletrônica nessa história.”
A Bolha, o estúdio, também foi criada com a ajuda de outro amigo, Michel Gubeissi, 41. O sócio esteve mais presente no começo da operação e hoje, segundo Nagib, “está no backstage” e dedica a maior parte do tempo a uma produtora de vídeo. Os dois se conheceram na primeira faculdade de publicidade que o CEO cursou (ele passou por três até achar tempo para estudar e trabalhar).
O PRIMEIRO HARDWARE A GENTE NUNCA ESQUECE
O primeiro projeto de hardware da Bolha só emplacou em 2013. Até ali, o estúdio sobrevivei trabalhando apenas com softwares. Mas uma encomenda da agência de publicidade Africa com a cerveja Budweiser veio desafiar o estúdio: desenvolver um “copo inteligente”.
O Buddy Cup convidava as pessoas a serem amigas no Facebook no exato momento em que elas brindavam.
Como fazer isso? Missão para a Bolha. “A mão de obra foi muito complexa. Não tinha ninguém que operava hardware no Brasil com este fim. Era mais na questão de telefonia, portão, commodity”, diz Nagib.
O mecanismo funcionou e a campanha foi um sucesso. E alavancou o negócio, pois o burburinho da tecnologia que conectava as pessoas nas redes sociais com um tim-tim levou outros clientes a irem atrás da Bolha. Nagib diz o quanto foi emblemático para o estúdio: “Este copo da Budweiser foi o primeiro projeto de IoT desenvolvido no Brasil. Ganhou repercussão mundial”.
Não que tenha sido fácil. Mas até isso foi bom. As dificuldades no desenvolvimento do tal copo fizeram com que Nagib fosse buscar ajuda fora. Ele passou uma temporada no MIT (Massachusetts Institute of Technology, nos EUA) onde tomou “um banho de cultura tecnológica”. Lá, percebeu que existia uma demanda crescente para desenvolver coisas novas com a competência do hardware, como fabricação digital, packing e impressão 3D. Quando os novos clientes chegaram, a Bolha já estava mais preparada para atendê-los.
A FORÇA DO PENSAMENTO E CHOCOLATES HIGH TECH
Outros projetos considerados simbólicos por Nagib, e que trouxeram grande aprendizado para a empresa, foram os desenvolvidos através de interface neural. Com esse recurso, é possível utilizar o poder da mente para ativar coisas.
Dentro dessa modalidade, o estúdio construiu uma campanha de marketing para a Toyota em que foi montada uma pista de autorama em que os carrinhos eram controlados pelas ondas cerebrais dos participantes, captadas através de uma espécie de tiara que os participantes colocavam na cabeça. Os automóveis saíam do lugar e se deslocavam com maior ou menor velocidade de acordo com a capacidade de concentração de cada pessoa.
O mesmo recurso também serve, por exemplo, para controlar drones (um produto da Bolha, o NeuroDrone, apresentado no último Festival Wired). Talvez o maior trunfo da Bolha seja a capacidade de integrar recursos tecnológicos a campanhas de publicidade, às vezes de forma visível, outras só nos bastidores.
Um exemplo disso é o uso do processo de fabricação digital. Com ele, o estúdio tornou possível uma promoção dos chocolates Hershey’s (que ganhou um Leão de Prata em Cannes) chamada “Coma o Site”.
Funcionava assim: os consumidores da marca eram convidados a visitar o site e concorriam a prêmios que eram barras de chocolate de 1,5 quilo no formato do ícone em que clicavam. E tinha de tudo: o logotipo do Youtube, símbolos do horóscopo, emojis e até memes estilizados.
A Bolha ficou responsável por produzir mais de 170 moldes diferentes de chocolate.
“Isso para o mercado tradicional é irreal. Uma forma leva no mínimo dois meses para ser fabricada e custa uma fortuna. A gente fez 170 formas no mesmo período a um custo muito baixo e mostrou para o cliente que existe uma maneira bem mais ágil e moderna de fabricar coisas”, conta Nagib.
Hoje já são mais de 150 projetos realizados. A maior parte da produção é feita no próprio estúdio, baseando-se em pesquisas e estudos dos profissionais da Bolha, que tem um time de 12 makers e equipamentos como impressoras 3D e máquinas de corte laser. Quando não encontra o que é preciso em casa, como plaquinhas de circuito, Nagib aciona parceiros ou importa produtos.
350 PROPOSTAS PARA FECHAR 8 CONTRATOS. TÁ BOM ASSIM?
Apesar de muito trabalho, Nagib vê que ainda há muito espaço para crescer. Ele diz que o mercado não sabe mensurar bem o que é desenvolvido pelo seu time. E que são poucos projetos executados por ano — no máximo oito. Mas as propostas apresentadas chegam a 350, quase uma por dia. Cada uma acaba exigindo horas de estudo, já que a Bolha não possui produtos de prateleira.
“As pessoas querem fazer coisas diferentes porque todo mundo está fazendo, porque é uma coisa de vanguarda, mas não sabem quanto custa”, conta.
Para ele, os investimentos das empresas em mídia tradicional são muito maiores que o valor cobrado pela Bolha por projeto, entre 50 mil a 300 mil reais. O CEO ainda comprara sua luta atual para conquistar o mercado com sua experiência anterior no mercado digital:
“O que a gente vive com inovação com hardware hoje é muito parecido com o começo da internet, quando tínhamos que brigar para levar o dinheiro do offline para o online”
Outra dificuldade é explicar impossibilidades para os clientes. “Houve uma frustração muito grande com wi-fi em lugares de multidão e shows. Não funciona bem. Mas aprendemos com isso. Só que tem cliente que quer fazer, independente do que trazemos com o nosso aprendizado. Não vai dar certo. Para conseguirmos resultado, muitas vezes temos que criar uma solução mais cara”, afirma.
O HORIZONTE, DE REPENTE, ESTÁ ALÉM DA PUBLICIDADE
Depois de cinco anos inovando com software, hardware e web para a publicidade, o diretor do estúdio percebe que o seu negócio vai além deste mercado. Nagib diz que grandes empresas de muitas outras áreas já entenderam a necessidade de desenvolver produtos para pequenos grupos. Na sua visão, um mercado potencial que cresce muito ultimamente é o da tecnologia aplicada à agricultura.
Apesar dos contratempos da vida de empreendedor, e dos números serem menos expressivos do que gostaria, ele diz que não faria nada diferente. Na verdade, ousaria mais se pudesse voltar no tempo. Nagib conta que nunca aprendeu tanto quanto nesses seis anos como empreendedor:
“Sabe aquela coisa cabeçuda de matemática e física que você fala ‘onde eu vou usar isso’? Aqui a gente aplica. Mas, muitas vezes, estudar bastante não significa colher os frutos de uma maneira rápida”
Os resultados práticos ele mede de uma maneira menos precisa: observa as reações do público diante das experiências que ele ajuda a tornar possíveis.
“É revigorante ver a satisfação das pessoas com experiências materiais. Não é aquela coisa de massa, que a gente coloca em um comercial e todo mundo vê. Mas quem participa de nossos projetos, de fato, lembra daquilo para sempre”, diz. E segue furando as bolhas do mundo virtual.
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