A eduK, startup nascida em 2013, é uma plataforma de ensino online que tem mais de 5 mil horas de conteúdo em vídeo distribuídas em 600 cursos. Por isso, posiciona-se como a “Netflix da educação”. Em dois anos, a empresa foi de 20 para 150 funcionários e hoje ocupa um prédio de quatro andares na zona sul de São Paulo. Ao todo, cerca de 20 milhões de pessoas já visitaram a plataforma, que oferece uma média de oito cursos livres por semana nas áreas de gastronomia, artesanato, beleza, moda, fotografia, design e negócios. Entre os 300 experts que já gravaram aulas para a plataforma, há gente como o cabeleireiro Celso Kamura, o maquiador Kaká Moraes, os fotógrafos JR Duran, Márcio Scavone e Clicio Barroso, o estilista João Braga, os chefs Ana Elisa Salinas, Lucas Corazza e Carole Crema, entre outros.
Além de ser um sucesso comercial, a eduK é um exemplo de que boas ideias muitas vezes que podem gerar outras ainda melhores. O que nem todo mundo sabe é que a startup é a filha mais nova de uma outra plataforma de ensino (a Buzzero, da qual falaremos adiante), dos mesmos fundadores, Eduardo Lima, 38, e Robson Catalan, 38, ambos formados em engenharia pela PUC Minas. Os dois já estavam familiarizados com o universo educacional, e com o empreendedorismo, antes do primeiro curso da eduK ir ao ar.
Apesar de terem se conhecido ainda na faculdade, eles se uniram para empreender tempos depois. Eduardo trabalhou durante alguns anos na indústria, mas o desejo de inovar foi uma constante, como ele conta:
“Sempre tive dois sonhos. Um era ter um negócio próprio, o outro era trabalhar com educação. Eu dizia que quando me aposentasse atuaria nisso, mas achava que só aconteceria daqui a uns 30 anos”
Eduardo prossegue: “É muito nítido para mim como os pontos da minha vida foram sendo ligados, à medida que o tempo foi passando, e hoje estou aqui, trabalhando com um projeto que achava que só trabalharia na minha aposentadoria, isso é muito legal”.
Por sua vez, Robson herdou a veia empreendedora da família. “Trabalhei com o meu pai durante um tempo, numa indústria de embalagens. Antes da eduK, tive uma loja de piscinas e uma fábrica de capas de caderno. Depois da faculdade, fiz um MBA em negócios na FGV e, desde então, tive uma carreira bem voltada para o empreendedorismo”, conta.
Em 2007, os dois se uniram em um projeto de e-commerce de produtos eletrônicos chamado Obabox. Foi a primeira incursão de ambos no universo digital, mas a experiência que garantiria a expertise em educação para ambos foi o segundo empreendimento da dupla, o Buzzero, um market place criado em 2009, que funcionava “como se fosse um Mercado Livre de produtos digitais”, segundo Eduardo. “Pelas parcerias que fizemos, acabamos indo para o mundo da educação. O Buzzero virou uma plataforma que chegou a ter 40 mil cursos diferentes em menos de três anos. Foi uma experiência muito rica, que aprendemos sobre a educação online, o que funciona, o que não funciona, quais os temas as pessoas buscam mais”, conta ele. Os cursos do Buzzero eram, em sua maioria, apresentações feitas em PowerPoint. O site ainda existe, mas foi vendido pela dupla de fundadores.
É PRECISO HUMILDADE PARA APRENDER COM OS ERROS DE UM NEGÓCIO ANTERIOR
Se o antigo projeto já chamou a atenção por proporcionar conteúdo diversificado online, os alicerces da eduK seriam erguidos em um dos formatos de mídia mais consumidos ultimamente: os vídeos. “Lá, em 2012, as pessoas estavam começando a se envolver mais com o YouTube e outras plataformas de vídeos e começaram a demandar conteúdo desse tipo”, diz Eduardo. Em seguida, ele descreve erros ou aspectos que não o agradavam tanto no negócio anterior. “Não havia uma curadoria muito sofisticada sobre o que entrava ou não no Buzzero. Às vezes, acabava entrando conteúdo de pessoas não especializadas e as pessoas percebiam que não estavam lidando com um especialista”, conta.
A ideia, com a eduK, era não apenas focar em vídeos, mas garantir que a construção da marca viesse com credibilidade desde o início da operação. Com um aporte inicial de 2 milhões de dólares, vindos da Monashee Capital (fundo de capital de risco com sede em São Paulo) e da Felicis Ventures (empresa de capital de risco do Vale do Silício, nos EUA), a startup foi fundada em maio de 2013.
Como parte estratégica do plano de gerar essa credibilidade, os fundadores convidaram o técnico da seleção brasileira de vôlei Bernardo Rezende, o Bernardinho, para a sociedade. “A ideia foi muito adequada, porque os valores dele combinam com os valores que nós acreditamos. Ele tem uma frase, ‘A vontade de se preparar tem que ser maior do que a vontade de vencer’, que usa nas quadras, mas tem paralelo na vida pessoal e profissional. Para alcançar uma vitória, você tem que se preparar, pois não vai cair do céu”, conta Eduardo.
A partir do conhecimento adquirido com a experiência da Buzzero, o trio escolheu como tema dos cursos oferecidos pelo novo negócio gastronomia, artesanato, beleza, moda, fotografia, design e empreendedorismo. Segundo os sócios, essas áreas são as mais demandadas e as que mais geram um retorno rápido para quem procura se profissionalizar. No modelo de negócio inicial, as aulas da eduK eram transmitidas ao vivo e gratuitamente. Quem se interessasse em comprar o curso, desembolsava em torno de 200 para ter acesso permanente ao conteúdo gravado.
PARECEU QUE SERIA FÁCIL, MAS NÃO FOI
Um dos maiores percalços encontrados no início do projeto foi a produção de conteúdo em si. “Sabíamos que seria um desafio para os professores produzirem suas aulas, porque não existe muito essa cultura do ‘do-it-youself’ no Brasil. Tentamos fechar parcerias com produtoras pequenas, mas poucas toparam. Elas estão acostumadas a fazer poucos minutos de vídeo, como na publicidade, ou no máximo 120 minutos em outras produções, e eu queria oito horas. Chegamos a receber orçamento de 150 mil reais para produzir um curso”, conta Eduardo.
O problema estava colocado. Não havia quem fizesse o que eles precisavam por um preço razoável, então os sócios resolveram se lançar e fazer os vídeos eles mesmos. “Tivemos que dominar essa tecnologia de produção de vídeo, inclusive num modelo de transmissão ao vivo. Foi um desafio enorme, tivemos que estudar quais eram os equipamentos necessários e produzir nós mesmos. Com o tempo, pudemos buscar profissionais do mercado audiovisual para integrar a equipe”, conta Robson. A primeira sede da empresa tinha apenas um estúdio improvisado, hoje são dez estúdios profissionais que funcionam simultaneamente.
HORA DE MUDAR O MODELO DE NEGÓCIOS
Em 2015, a eduK tomou um passo importante para o fundamento de sua posição no mercado, que foi a mudança para um modelo de assinatura, em vez do pagamento unitário pelos cursos. “Estamos seguindo a tendência mundial, que é a mudança do modelo de posse para o modelo de acesso. Isso está acontecendo em várias indústrias: em entretenimento temos a Netflix, na música o Spotify, nos softwares já é possível comprar o Office, da Microsoft, pagando uma mensalidade. Com a assinatura, conseguimos oferecer uma proposta de valor muito mais forte. Assim, mais pessoas têm acesso ao nosso catálogo”, afirma Robson.
Agora, os alunos podem acessar todos os cursos do catálogo da eduK pagando uma assinatura mensal: o Plano Básico dá acesso a todos os cursos de determinada categoria (são oito, como gastronomia ou fotografia) por 19,90 reais ao mês; o Plano Duplo dá acesso aos cursos de duas categorias por 24,90 reais mensais; e o Plano Premium dá acesso ilimitado a todos os cursos disponíveis no site por 29,90 reais. Mesmo com o novo modelo, eles não abandonaram a oferta inicial: a transmissão por streaming dos cursos ao vivo ainda é gratuita e aberta a qualquer interessado, pagante ou não. Os cursos têm, em média, 9 horas de duração. São divididos em três dias (3 horas por dia) e chegam a ter 30 mil alunos simultaneamente.
Apesar de recente, muita gente já aposta no ensino à distância pela internet, o e-learning, para profissionalização e capacitação. Segundo o Censo de Ensino à Distância feito pela Abed (Associação Brasileira de Educação a Distância), os cursos livres corporativos e não corporativos apresentaram um total de 2,8 milhões de matrículas em 2014. Porém, segundo um relatório analítico de 2010 da Abed, uma das maiores desvantagens apontadas pelos alunos (quase 80%) é a impessoalidade nesse tipo de ensino.
“Na eduK conseguimos superar essa problema. Temos uma das maiores comunidades setoriais do Brasil e provavelmente da América Latina nos nossos segmentos” diz Eduardo. Ele conta que os alunos podem participar dos chats nas aulas ao vivo, mas que boa parte dessas interações acontecem nas redes sociais. Ele dá como exemplo um grupo da eduK no Facebook para apaixonados por confeitaria com 250 mil pessoas. “Se você entrar lá, verá que, a cada atualização, há centenas de comentários. Essa comunidade une as pessoas que tem paixões em comum, elas trocam informações, experiências e dicas”, conta.
Se a retração econômica e falta de empregos impulsiona o indivíduo a buscar um plano B, a onda de empreendedorismo e de novas ideias que fervilha no País só serve de combustível para o aumento de alunos na plataforma, como comenta Robson:
“O brasileiro tem esse perfil de buscar, de empreender, de querer uma empresa. E nós trabalhamos com segmentos que têm o fator paixão: nós ajudamos as pessoas a transformarem suas paixões em negócios”
Em maio deste ano, a empresa recebeu um aporte de 10 milhões de dólares da Accel Partners, outra empresa do Vale do Silício, nos EUA. O montante será usado para aumentar a oferta de cursos e também para abrir novas categorias. De olho na expansão para além do Brasil, a eduK já oferece conteúdos em espanhol: há mais de 100 cursos nesse modelo nas categorias artesanato, fotografia e gastronomia. “Queremos aumentar ainda mais o conteúdo para o público hispanohablante este ano, a começar pelo México”, conta Eduardo.
A intenção é também lançar os planos de assinatura naquele país, onde atualmente os cursos são vendidos individualmente. A expansão não é só geográfica, mas também tecnológica: a startup também vai investir na compatibilidade com mais marcas de SmartTV (hoje disponível apenas para aparelhos da Samsung).
Com 70 mil assinantes, a eduK teve um crescimento de 100% (faturando 40 milhões de reais) em 2015 e acumula um faturamento de 64 milhões de reais, entre 2013 e 2015. A vontade de se preparar tem que ser maior que a vontade de vencer, ensinava Bernardinho. Ao que parece, Eduardo e Robson aprenderam a lição.
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