Criada em 2015, a FindUP é uma startup que conecta técnicos de informática (um tipo de profissional tão necessário quanto difícil de achar na hora certa) às áreas de TI de grandes empresas, sem intermediários e com agilidade. O negócio nasceu no Recife e tem como sócios os administradores de empresas Fábio Freire, 40, Gustavo Ferreira, 35, e Tiago Lira, 39. Já entre os principais clientes varejistas estão Centauro, Cinemark, Magazine Luiza e Walmart.
Funciona assim: quando precisa de atendimento em alguma filial ou algum ponto, por exemplo, a empresa entra na plataforma da FindUP e faz a solicitação de um técnico. “Em 15 minutos, o cliente já sabe quem vai atendê-lo, recebe a foto, CPF, e-mail e a nota fiscal do serviço”, diz Fábio, CEO da startup. Ao receber o pedido, o técnico avisa que está saindo e o cliente pode acompanhar o trajeto dele no mapa. Ao chegar ao local, o profissional faz um check in, executa o trabalho, descreve o que foi feito na plataforma e por ali também faz o check out. Só então, o cliente valida o chamado e avalia o técnico, que recebe o pagamento somente depois do chamado ser validado pelo usuário.
Segundo o fundador, esses técnicos são microempreendedores individuais que não pagam nada para se cadastrar na plataforma (é semelhante à relação dos motoristas de Uber e a empresa). Porém, precisam enviar uma série de documentos, currículo e fazer um teste online de avaliação de conhecimentos específicos. Essa triagem é fundamental para saber em qual área poderá atuar e se tem condições de estar na plataforma. Hoje, são seis mil técnicos cadastrados em todo o Brasil.
A STARTUP CRESCEU AO OFERECER ESSENCIALMENTE AGILIDADE
Para o CEO, há vantagem tanto para os técnicos como para as empresas. “No modelo tradicional, o técnico pode levar até 70 dias para receber porque tem muita subcontratação na cadeia. Na FindUP, temos duas datas por mês para pagamento dos técnicos. Para a empresa, a vantagem é que conseguimos um preço até 30% mais baixo e o tempo para o atendimento é de até três horas.”
Quando fala em modelo tradicional, o empreendedor se refere a uma cadeia de subcontratações que é movimentada quando uma grande rede precisa de atendimento. “A rede varejista que precisa desse serviço contrata uma companhia de TI, que subcontrata uma empresa regional, que subcontrata uma local, que contrata o técnico. Nesse caminho, o técnico pode levar até dois dias para chegar ao local de atendimento”, diz.
A responsabilidade pelo serviço prestado, de acordo com Fábio, fica toda a cargo da FindUP, ou seja, se houver algum problema, a startup oferece outro técnico sem custo adicional e abre um procedimento para apurar o que aconteceu e, se for o caso, pode retirar o técnico da base. Para usar o serviço, as empresas contratam pacotes de Ups. Um Up custa 310 reais e tem duração de três horas. Nesse período, o técnico estará à disposição para fazer qualquer serviço que seja necessário no local, ou seja, um Up é um período de tempo que se compra e não um serviço específico. Quanto mais Ups uma empresa compra, mais barato fica.
A FindUP também oferece pacotes adicionais, muito usado pelas redes varejistas para ter um técnico na loja em dias de movimento intenso, como datas especiais. “Se ele precisa de um técnico lá por nove horas, vai comprar três Ups e não vai perder venda”, diz Fábio. Uma vez na plataforma, o cliente também tem acesso a todos os dados dos chamados que já foram feitos para a empresa, pode acompanhar, em tempo real, qual a filial que mais tem chamado, qual o tipo de problema, como foi a solução, quanto tempo levou etc.
Com isso, fica mais fácil para a área de TI saber que tipo de pacote é mais vantajoso fechar com a startup, que, em 2017, faturou 1,5 milhão de reais. A expectativa para este ano é chegar a 5 milhões de reais. “Já temos técnicos em vários países da América Latina (Argentina, Chile, Bolívia, Colômbia e República Dominicana) e atendemos alguns clientes brasileiros que têm operação fora do país.”
A MENTORIA MOSTROU “AS PORTAS SECRETAS” PARA O NEGÓCIO PASSAR DE FASE
Desde o começo, Fábio diz que queria um produto que fosse escalável. Até chegar ao modelo atual, houve algumas tentativas. A primeira versão da FindUP, que ainda nem tinha esse nome, surgiu em 2014, quando ele pediu demissão do banco em que trabalhava como executivo para realizar o sonho de empreender, como conta:
“Se quiser se tornar empreendedor de verdade, vá trabalhar em um banco. Lá as coisas são tão engessadas que logo se deixa tudo de lado para ir atrás do próprio sonho”
Seu primeiro negócio foi uma consultoria, mas ele logo percebeu que aquilo não era escalável, então, convidou Tiago, que trabalhava como executivo em uma empresa de TI, para ser seu sócio em um negócio que ofereceria uma solução de atendimento em informática, o embrião da FindUP. Gustavo entrou como gerente de operações da empresa e se tornou sócio por merecimento.
A ideia era basicamente a mesma que está funcionando hoje, porém, sem tanta tecnologia envolvida. Eles precisavam consultar uma planilha Excel para encontrar o técnico mais próximo, ligar pra ele, ver se estava disponível, confirmar o atendimento etc. “Operacionalmente era péssimo. O cliente estava insatisfeito e a gente também”, afirma o empreendedor. Ainda assim, a empresa cresceu, eles conquistaram clientes no norte, nordeste e sudeste e chegaram a ter mais de 30 funcionários.
Porém, queriam encontrar uma forma mais eficiente de atuar. Foi quando pensaram em geolocalização. Inscreveram-se em um programa chamado TI de Impacto, do Ministério da Ciência e Tecnologia e, ao lado de mais 44 empresas, conseguiram desenvolver um modelo mais eficiente. “Ali a gente resolveu jogar a nossa ideia na mesa. Das 45 empresas participantes, a nossa era a única de infraestrutura. As outras eram todas de desenvolvimento. Então, em todo o brainstorming e estudo de caso, eu colocava a nossa ideia. No final, tínhamos um layout de como funcionaria esse negócio”. Eles apresentaram o projeto em um pitch e ganharam como solução mais inovadora. Com isso, tiveram acesso a dois mentores que os ajudaram a validar a ideia. Fábio fala mais a respeito desse processo:
“As mentorias são como um jogo de videogame em que se descobrem as portas secretas para passar para a próxima fase”
Ele continua: “Quando se tem um problema que parece intransponível e se conversa com um mentor, é como se abrisse uma dessas portas”. Com todos os “portais” abertos, a plataforma começou a ser desenvolvida em dezembro de 2014 e, em maio de 2015, já estava no ar primeira versão, com foco no cliente B2C. A outra empresa, aquela das planilhas em Excel, foi descontinuada. “Saímos de um escritório formal para um coworking e fomos para o Porto Digital, parque tecnológico de Recife, porque queríamos interagir com pessoas desse universo. Lá são 300 empresas de tecnologia com mais de oito mil profissionais”, conta o CEO. Hoje, além do escritório em Recife, a FindUP tem uma sala em um coworking de São Paulo, onde fica concentrada a área de vendas da empresa.
QUANDO FALTA DINHEIRO, MAS SOBRA ÂNIMO
A pivotagem do B2C para o B2B aconteceu por causa da vontade de ter um negócio escalável. “Quando saiu a primeira versão para cliente residencial, percebemos que para atingir o cliente B2C é preciso ter um caminhão de dinheiro para investir em marketing. E a gente não tinha esse dinheiro. Vimos também que a recorrência residencial é muito baixa. Foi aí que começamos a mirar forte para o corporativo”.
O primeiro cliente foi a marca de roupas Calvin Klein e, hoje, são 100 empresas de diversas áreas do varejo que usam a plataforma do FindUP. “A característica do meu cliente é a capilaridade. Se for uma empresa de uma pessoa só ou que tenha um único escritório, compensa mais mais ter um técnico lá dentro para resolver o problema.” Já os clientes residenciais podem baixar um aplicativo no celular para acessar o serviço. Hoje, correspondem a apenas 5% do negócio.
Além de encontrar um modelo escalável, o grande desafio dos empreendedores foi dinheiro. “A falta de capital é um grande problema porque sem dinheiro uma ideia pode morrer”, diz Fábio. Ele complementa:
“No início de uma startup há uma escassez de mão de obra e de dinheiro. Só não tem escassez de ideia e de vontade”
Os sócios investiram 10 mil reais de recursos próprios para começar o negócio e durante a transição do modelo B2B para B2C ficaram seis meses sem fazer nenhuma retirada — o momento mais difícil para os empreendedores. “A questão é que agente acreditava tanto no produto que não deixou se abalar por isso. Hoje, olho para trás e vejo que foi importante passar por aquilo, pois a nossa capacidade de resiliência aumentou muito. A gente tinha certeza que ia funcionar e por isso continuou.”
Para seguir na caminhada, eles foram em busca de um investimento-anjo, conseguiram e isso ajudou a dar andamento no negócio. Dentro do Porto Digital, tiveram a mentoria de Sergio Cavalcante, CEO do CESAR.
O centro de inovação, que atua nas áreas de Engenharia e Design, Educação e Empreendedorismo, reuniu três pessoas para serem conselheiros da FindUP. “Eles nos ajudaram pro bono, pensando no ecossistema. Ali, tivemos contato com gente boa em produto, finanças e conexão, que nos auxiliaram a resolver algumas questões e gargalos tecnológicos.”
Hoje, quando olha para a sua trajetória e de seus sócios, Fábio diz que se sente renovado, mais jovem do que quando trabalhava no banco. “Se ainda estivesse naquele banco, acho que já estaria cheio de cabelos brancos e muito triste.” Para os empreendedores, a liberdade de criar e a dinâmica do universo das startups, onde é possível testar, validar e continuar se fizer sentido ou parar se não der certo, injetam cada vez mais determinação no grupo.
“Em uma startup você faz a coisa acontecer de verdade e isso é animador. No banco, a gente se preocupava demais com planejamento a longo prazo e na hora de executar tinha perdido o timing”, diz. Agora, o plano é crescer cada vez mais e desenvolver um Big Data para gerar informações preventivas. “Queremos chegar ao ponto em que vamos prever quando uma máquina ou um software vai dar problema”, conta Fábio. Com esse ânimo todo, é aguardar para ver!
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