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Como a ImpulsoBeta está provando para as empresas que igualdade de gênero é bom para os negócios

Carolina Oms - 5 fev 2018 Renata Moraes fundou a ImpulsoBeta para unir o sonho de empreender e da igualdade de gênero no trabalho.
Renata Moraes fundou a ImpulsoBeta para unir o sonho de empreender e da igualdade de gênero no trabalho.
Carolina Oms - 5 fev 2018
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Não se trata de filantropia, militância ou ideologia. Números e pesquisas já comprovaram que empresas que promovem a igualdade de gênero em seus ambientes de trabalho e incentivam o aumento mulheres em cargos de liderança desempenham melhor. O crescimento da carteira de clientes da ImpulsoBeta, startup que promove ações para promover a diversidade de gênero no mercado, também indica que as empresas estão começando a perceber isso.

Fundada em 2015 pela empreendedora Renata Moraes, 32, a Impulso Beta entra em 2018 com a expectativa de faturar acima de 1 milhão de reais. Para isso, conta com nomes de peso entre seus clientes e parceiros, como a sucroalcooleira brasileira Raízen, o banco francês BNP Paribas e a ONU Mulheres. Ela fala a respeito:

“O imperativo de negócio está fazendo as empresas começarem a pensar nisso. Elas estão percebendo que, se não começarem a agir agora, em alguns anos suas ações podem se desvalorizar”

Mesmo para as empresas que não têm ações em bolsa, a pressão regulatória, do mercado de trabalho e até de consumidores mais conscientes, vem batendo à porta. A despeito disso, nos últimos dez anos, a presença de mulheres em altos cargos em companhias brasileiras se manteve estagnada em cerca de 7,7%, segundo uma pesquisa da FGV (Fundação Getúlio Vargas). Enquanto isso, países como Noruega, Espanha e Holanda já implementaram cotas para mulheres em cargos de liderança e esse debate vem ganhando força no Brasil e no mundo.

Para Renata, esta é, sim, uma oportunidade negócio mas também a de promover uma mudança que beneficia não só seus clientes como a sociedade. Ela aposta que empresas que não melhorarem seu ambiente de trabalho para mulheres vão perder as melhores funcionárias para aquelas que já o fizeram. “Em um país onde apenas 11% da população tem ensino superior, as mulheres são 60% das graduadas”, diz.

POR QUE HÁ TÃO POUCAS MULHERES EM CARGO DE LIDERANÇA?

Formada em jornalismo pela Universidade de São Paulo, com extensão na Universidade de Navarra (Espanha) e MBA Executivo pelo Insper, Renata foi contratada pela Fundação Estudar, em 2010, pouco depois de formada. Na fundação criada por Jorge Paulo Lemann, o homem mais rico do Brasil, ela aprendeu muito sobre como formar líderes inovadores e dispostos a transformar o Brasil, mas também perdeu a conta das vezes que em que ouviu homens culpando mulheres pelo desequilíbrio de gênero nos cargos de lideranças nas empresas.

“Enquanto trabalhei lá, as lideranças mulheres formadas pela Estudar nunca foram mais do que 30%. Isso me incomodava, mas nunca consegui pautar essa discussão, a maioria justificava a diferença com uma suposta falta de interesse das mulheres em serem líderes”, conta. Até mesmo nas reuniões do conselho da fundação, onde, em geral, participavam cerca de 14 pessoas, apenas duas eram mulheres.

Roda de conversa em uma das edições do LideraBeta, curso de liderança para mulheres e um dos principais produtos da startup


Roda de conversa em uma das edições do LideraBeta, curso de liderança para mulheres e um dos principais produtos da consultoria.

Quando Renata foi estudar administração no MBA Executivo do Insper, viu a oportunidade de unir dois sonhos: empreender e mudar os números da desigualdade de gênero no mercado de trabalho. Com a ajuda dos professores da universidade, desenhou o plano de negócios da ImpulsoBeta em seu trabalho de conclusão de curso e, em janeiro de 2015, deixou seu emprego com carteira assinada e uma política de bônus generosa para concretizar esse sonho.

Inicialmente, os investimentos foram fruto de suas economias (48,5 mil reais) e ela era a única funcionária. Três anos depois, a maioria dos seus clientes são grandes empresas e tíquete médio de cada cliente, em 2017, foi de 25 mil reais — três vezes o resultado do ano anterior. Hoje, a startup tem quatro pessoas com dedicação integral, que cuidam de desenvolvimento de produto, marketing, vendas, relacionamento com parceiros e gestão de projetos, além do administrativo-financeiro. Além de uma rede de seis especialistas (facilitadores e pesquisadores) que atuam por projetos e a consultoria de um escritório de contabilidade e outro de advocacia.

COMO CRIAR UM PRODUTO QUE MUDE UMA SITUAÇÃO SOCIAL?

A ideia inicial de Renata era vender cursos diretamente para as mulheres que buscavam melhores oportunidades no mercado de trabalho. Foram mais de quatro meses dedicados à criação do curso LideraBeta, desenvolvido com base nas habilidades tipicamente exploradas em programas de liderança, mas com um recorte ligado aos desafios específicos que as mulheres enfrentam na construção de uma trajetória profissional ambiciosa. Assim que as primeiras edições aconteceram o boca-a-boca se encarregou de manter a procura por novas vagas em alta.

Renata fala sobre um comportamento comum às mulheres: “As mulheres negociam 25% menos do que os homens. Ao ouvir uma proposta, nós aceitamos ou não, enquanto os homens tendem a não se sentir constrangidos a tentar melhorar as propostas que se são apresentadas”. Isso, diz, acaba resultando em salários menores, dificuldades nas conversas com clientes e fornecedores e uma visão preconceituosa de que mulheres são menos flexíveis. Uma das pistas de por que isso acontece pode estar na maneira como cursos e formações são lapidados:

“Aulas de MBA e de liderança são baseadas no histórico de liderança masculino que temos no mundo e não costumam abordar premissas importantes para mulheres”

Nos cursos da ImpulsoBeta, ela prossegue, as mulheres percebem que grande parte de suas angústias são compartilhadas por outras mulheres. “Muitas nos relatam que achavam que não sabiam negociar, que não tinham ambição e que todas as mulheres da empresa que queriam ser mães estavam aflitas, mas nenhum dos homens estava”, diz.

Até hoje o LideraBeta é um dos principais produtos do empreendimento, mas as próprias alunas logo levaram Renata a perceber que seu verdadeiro potencial estava em ser vendido diretamente às empresas. “As alunas perceberam de que a mudança no ambiente de trabalho não podia se encerrar nelas e começaram a nos indicar para as áreas de Recursos Humanos de suas empresas”, conta. A multinacional Deloitte foi a primeira empresa a contratá-las, no final de 2015.

BOM PARA ELAS, BOM QUE ELES CHEGUEM JUNTO TAMBÉM

Mas não parou por aí, trabalhando junto com as empresas, Renata percebeu que não se tratava apenas de formar líderes, mas de propiciar um ambiente de trabalho sem machismo e com oportunidades iguais para todas as mulheres. Assim, a ImpulsoBeta aumentou seu portfólio de produtos para incluir, por exemplo, diagnósticos para mostrar para as empresas onde podem melhorar e onde deixam a desejar na igualdade de gênero; estratégias para que líderes e funcionários do sexo masculino sejam mais inclusivos no trabalho e soluções para reduzir o machismo e aumentar as oportunidades para mulheres em cada empresa.

A ImpulsoBeta também envolve os homens na discussão pela igualdade de gênero. O LideraBeta Men é um programa de liderança inclusiva para homens.

A ImpulsoBeta também envolve os homens na discussão pela igualdade de gênero. O LideraBeta Men é um programa de liderança inclusiva para homens.

As ações vão desde sensibilizações por meio de palestras e workshops, formação de novas lideranças femininas, capacitações para altos executivos até o apoio no entendimento dos desafios estruturais de diversidade da empresa e o desenho de um plano para a mudança.

A jornada de transformação pode começar com um investimento de menos de 10 mil reais.  “Cada um dos produtos que temos hoje vai entregar uma parte do objetivo maior de ter total igualdade de gênero dentro daquela empresa”, explica Renata”.

PLANOS PARA O FUTURO, DIFICULDADES DO PASSADO

Embora hoje esteja bastante satisfeita com seus resultados, Renata conta que este portfólio não surgiu sem dificuldades. “Meus pais são empreendedores e eu sempre quis empreender, mas assim que criei a empresa percebi que é bem diferente ser filha de empreendedores e empreender”, ela conta, rindo.

Ainda muito ligada à sua experiência na Fundação Estudar, Renata avalia que demorou a perceber que não se tratava somente de cursos para as mulheres, mas de uma estratégia completa e abrangente para mudar a cultura de uma empresa. “É preciso um trabalho prévio de conscientização, as mulheres que participavam dos cursos começaram a reclamar que empresa estava colocando toda a responsabilidade pela desigualdade de gênero nelas”, conta.

Ela lembra também que no primeiro ano da ImpulsoBeta acabou dando excessivo foco e recursos para a criação do site, contratando, inclusive, jornalistas para produção de conteúdo. Ao final do primeiro ano, com o dinheiro acabando, Renata percebeu que este conteúdo não era um produto rentável e concentrou esforços no LideraBeta. “Eu não tive muito tempo para pensar no longo prazo, a empresa precisava dar resultados logo”, diz. A decisão se mostrou acertada e logo no início de 2016, no seu segundo ano de existência, a ImpulsoBeta começou a fechar as contas no azul.

Apesar dos percalços e inseguranças, Renata se sente realizada como empreendedora, onde pode “ao mesmo tempo ter sonhos grandes e autonomia no desenho do seu modelo de vida”. Ela acredita que hoje muitas empresas e seus funcionários são reféns de uma cultura que exige longas horas no escritório, às vezes apenas para “mostrar serviço”. Com a autonomia conquistada, ela se orgulha de trabalhar muito, mas também de ter tempo para buscar seu filho na escola, ter horas flexíveis e de planejar com autonomia a chegada de seu segundo filho, que já está a caminho.

DRAFT CARD

Draft Card Logo
  • Projeto: ImpulsoBeta
  • O que faz: estratégia e implementação de ações para promoção da diversidade de gênero nas empresas
  • Sócio(s): Renata Moraes e Dani Botaro
  • Funcionários: 4 (incluindo Renata) e 6 facilitadores e pesquisadores
  • Sede: São Paulo
  • Início das atividades: janeiro de 2015
  • Investimento inicial: R$ 48.500
  • Faturamento: R$ 25.000 (tíquete médio por cliente, em 2017)
  • Contato: [email protected]
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