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Como a Klabin vem transformando sua matriz energética para tornar seu negócio de papel e celulose mais sustentável

Maisa Infante - 1 jul 2021
Júlio Nogueira, gerente corporativo de Sustentabilidade e Meio Ambiente da Klabin.
Maisa Infante - 1 jul 2021
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Produtora e exportadora de papéis para embalagens, a Klabin é dona de 271 mil hectares de florestas cultivadas de pinus e eucalipto (no Paraná, Santa Catarina e São Paulo) e 250 mil hectares de florestas nativas conservadas.

A companhia tem 23 unidades industriais no Brasil e um balanço positivo de carbono, com 4,5 milhões de toneladas de carbono equivalente no chamado estoque líquido anual. Ainda assim, quer reduzir suas emissões próprias e de energia comprada em 25% até 2025 (e em 49% até 2035) e trazer outras empresas para esse movimento. 

“O aquecimento global não é algo que ainda vai acontecer, mas algo que já é perceptível na nossa vida”, afirma Júlio Nogueira, gerente corporativo de Sustentabilidade e Meio Ambiente da Klabin. “Para mim, o grande desafio do mundo todo, não [só] da Klabin, é a descarbonização.” 

Todas as metas relacionadas à sustentabilidade da companhia foram lançadas em dezembro de 2020 com o nome de Kods (Objetivos Klabin para o Desenvolvimento Sustentável), um conjunto de compromissos de curto (2021), médio (2025) e longo prazo (2030), que norteiam a Agenda Klabin 2030 para o Desenvolvimento Sustentável. 

Tais compromissos foram mapeados a partir da adequação dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU para a realidade da companhia. 

Entre eles estão: reduzir a participação de combustíveis fósseis para garantir uma matriz energética, no mínimo, 92% renovável; zerar destinação de resíduos industriais para aterros; captura líquida de 45 milhões de toneladas de CO₂eq da atmosfera entre 2020 e 2030; 100% dos fornecedores críticos contemplados pelo Programa de Gestão Sustentável da Cadeia de Fornecimento.

Na entrevista a seguir, Júlio fala sobre os desafios para o cumprimento desta agenda.

 

O que é e como surgiu a Agenda Klabin 2030 para o Desenvolvimento Sustentável?
Em 2015, a ONU lançou os 17 Objetivos para o Desenvolvimento Sustentável, os famosos ODS. Essa é uma agenda global, que serve como base para a sociedade como um todo e cada um internaliza o tema como acha que deve fazer, avaliando qual é a relação e o impacto desses objetivos com o seu negócio. 

A partir da nossa adesão voluntária a esta agenda em 2016, começamos a fazer uma avaliação interna e a construir a nossa própria agenda, que batizamos de Agenda Klabin 2030. 

Esta agenda está bastante alinhada com o movimento ESG, que ficou muito intenso nesses últimos anos, e norteia a nossa atividade com relação aos compromissos de sustentabilidade a curto, médio e longo prazo. Foi um processo que envolveu mais de 400 pessoas de todos os níveis da organização, inclusive o Conselho de Administração, para fazer a validação final.

Qual o maior desafio que a Klabin tem pela frente na área de sustentabilidade?
O grande desafio do momento é a descarbonização do processo, buscando reduzir as emissões de gases de efeito estufa e bloquear o aquecimento global, que já é perceptível na nossa vida. Já estamos vivenciando os efeitos das mudanças climáticas. Para mim, o grande desafio do mundo todo, não apenas da Klabin, é a descarbonização. 

A Klabin tem um saldo positivo de carbono e, ainda assim, quer reduzir mais as emissões. Por quê?
O combate às mudanças climáticas é um tema urgente e requer a mobilização de todos. Nos últimos anos, tivemos significativos avanços nessa frente, mas sabemos que para garantirmos o futuro do planeta é preciso ir além. 

Por conta disso, fomos uma das primeiras empresas brasileiras a se comprometer com o desenho de metas para a redução de emissões de gases de efeito estufa alinhadas ao que a ciência acredita ser suficiente para limitar o aumento da temperatura global muito abaixo dos 2ºC, fazendo todo o possível para mantê-lo em 1,5ºC. 

Nossas metas, alinhadas com a Science Based Targets Initiative (SBTi), foram aprovadas este ano e com isso nos comprometemos a reduzir as emissões próprias e de energia comprada por tonelada de celulose, papéis e embalagens em 25% até 2025 e em 49% até 2035 

Vale reforçar que, entre 2003 e 2020, reduzimos em 64% as emissões específicas de CO2 equivalente — ou seja, um trabalho contínuo que seguirá sendo realizado.

Junto a isso, iniciamos um movimento em parceria com a Rede Brasil do Pacto Global para mobilizar o setor privado, convidando-os a avaliarem a adoção de metas de redução baseadas na ciência, e também a sociedade para se engajar na causa.

A Klabin tem 90% da matriz energética de fonte renovável. Que fonte é essa? O que vai ser feito para atingir as metas de redução das emissões?
No nosso negócio, quando falamos de fonte renovável, estamos falando basicamente de combustível que vem da biomassa. 

Quando colhemos a nossa floresta plantada com o objetivo de produzir papel, geramos alguns resíduos, como galhos e ponteiras do tronco das árvores, que não servem para produzir celulose, mas podem produzir combustível. Esse combustível é processado e queimado nas caldeiras 

Outra fonte de energia vem do licor preto, substância gerada durante o cozimento da madeira para a produção da celulose. Esse licor é queimado na caldeira de recuperação e conseguimos aproveitar o seu potencial energético para produzir vapor de alta pressão que vai gerar energia elétrica. 

(Nota: a matriz energética renovável da Klabin divide-se assim: 57% de licor negro, 32% de biomassa e 1% de outras fontes).  

Existe a meta de ter 100% dessa matriz energética vindo de fontes renováveis?
Nossa meta é chegar a 92%. Ano a ano, estamos fazendo esforços para aumentar isso gradativamente. Mas, quanto mais você cresce, mais difícil fica. Porém, nunca vamos desistir de aumentar. Por isso precisamos cada vez mais da ajuda da inovação para encontrar alternativas que sejam viáveis economicamente e nos ajudem a atingir essas metas. 

Como a empresa reduziu em 64% as emissões de CO2 entre 2003 e 2020?
Trabalhamos muito forte nesses últimos anos substituindo queima de óleo por biomassa dentro do nosso processo. Fomos, ao longo do tempo, implantando projetos com novos equipamentos ou adaptando equipamentos existentes. 

O que inovação e tecnologia têm a ver com sustentabilidade?
Fazer sustentabilidade buscando a inovação é superimportante e necessário nesse mundo desafiador. Então, buscamos novas tecnologias e produtos inovadores com o objetivo de melhorar o resultado, reduzir o impacto no meio-ambiente e o consumo dos recursos naturais. 

Eu acredito que é através da inovação que vamos conseguir atingir nossos objetivos. Não consigo enxergar a Klabin andando sem a inovação de braços dados com a sustentabilidade. 

Pode citar algum exemplo de como essa inovação ajuda na sustentabilidade?
Na Unidade Puma II [fábrica localizada em Ortigueira, no Paraná], vamos produzir papel kraftliner 100% com madeira de eucalipto. O normal é ter kraftliner produzido a partir da madeira de pinus. 

Além de ter uma qualidade melhor, existem vantagens ambientais, como utilizar menos água no processo, menos vapor e necessitar de áreas de plantio até dez vezes menores do que as empregadas por players globais. A Klabin patenteou essa produção. 

A Klabin compra crédito de carbono?
Não temos necessidade porque somos positivos. Ao contrário, em vez de comprar, queremos vender. 

Já existe algum projeto de ingressar no mercado de venda desses créditos?
A Klabin vem acompanhando com atenção as discussões relacionadas a este tema e é a favor da regulamentação do mercado de carbono. Acreditamos que o mecanismo trará uma série de benefícios socioambientais significativos. 

A companhia estuda alguns projetos de geração de crédito de carbono a partir da sua área florestal e também a partir da implementação de tecnologias industriais que reduzem as suas emissões.

Como a Klabin faz  o manejo das suas áreas florestais para garantir a sustentabilidade do processo?
Desde 1998 temos a nossa floresta certificada pelo FSC. Isso leva em consideração as práticas de respeito aos recursos naturais, à comunidade e aos trabalhadores e nos dá a garantia do manejo florestal sustentável. 

Nosso plantio é feito em mosaico florestal, ou seja, temos sempre a floresta nativa e a floresta plantada entremeadas, mantendo os corredores ecológicos e criando uma condição muito favorável para exuberância da biodiversidade presente nas nossas áreas 

Temos em torno de 900 espécies identificadas de fauna e mais de 2 mil espécies vegetais dentro das nossas áreas. Isso tudo é resultado desse manejo florestal. 

Além das florestas próprias de pinus e eucalipto, a Klabin compra matéria-prima de outros fornecedores. Esses pequenos fornecedores correspondem a quantos por cento da matéria prima da Klabin? E como garantir a sustentabilidade deles?
Hoje, em torno de 70% da matéria-prima é própria e 30% de terceiros. O que fazemos é incentivá-los e ajudá-los a também buscar a certificação. 

Para nós, é superimportante que esses fornecedores sejam sustentáveis e certificados. É uma forma de ter a garantia que o manejo está sendo feito da forma correta, que está preservando, conservando a biodiversidade, protegendo os recursos hídricos e que a gente terá uma madeira certificada de origem confiável 

Então, a Klabin dá todo suporte e apoio aos seus fornecedores de madeira buscarem a certificação. 

A Klabin já teve problema com fornecedor de madeira ilegal?
Não. Mas precisamos sempre fornecer informações aos compradores. As pessoas, principalmente do exterior, não conhecem muito sobre o nosso país e acham que estamos ao lado da Amazônia. Temos que estar sempre explicando, justificando, e mostrando geograficamente onde estamos localizados. 

O tema desmatamento e madeira ilegal ganhou holofotes nos últimos tempos, inclusive com grandes operações da Polícia Federal. Qual o maior desafio da Klabin nessa área?
A comunicação é essencial e necessária. Percebo que ainda existe muita desinformação sobre o setor. É sempre importante reforçar a mensagem de que não só a Klabin, mas qualquer outra empresa do setor de papel, tem a sua floresta plantada que servirá de matéria-prima para a produção. Ninguém no Brasil explora floresta nativa para produzir papel. 

O que são os programas Matas Legais e Matas Sociais e qual a relação deles com a sustentabilidade?
O programa Matas Legais começou em 2015 e consiste no auxílio ao planejamento da propriedade, conservação e educação ambiental dos proprietários, além do fomento florestal. Realizamos este projeto em 31 municípios do Paraná e 39 de Santa Catarina. 

Já atendemos mais de mil pequenos produtores rurais, que são orientados a atuar de forma mais eficiente, rentável e ecológica. Nós os orientamos a recuperar as áreas degradadas da sua propriedade, atender ao código florestal, fazer um planejamento com adequação ambiental, legal e paisagística da propriedade 

Eles precisam fazer essas adequações para serem nossos parceiros; eles plantam a floresta e a Klabin compra essa floresta plantada. 

Ao longo desse projeto, já doamos mais de 1 milhão de mudas de nativas para esses pequenos produtores rurais, com o objetivo de conservação de áreas na propriedade. 

O programa Matas Sociais é direcionado a pequenos e médios produtores rurais no entorno das nossas propriedades e visa apoiar a diversificação de renda da propriedade, principalmente com a comercialização de alimentos. 

Então, oferecemos uma capacitação para envolver manejo agrícola, pecuária, produção orgânica e educação ambiental. Esse projeto é desenvolvido em nove municípios no Paraná e já atendeu em torno de 500 propriedades. 

A Klabin está participando de uma pesquisa junto com a Embrapa para consorciar a produção de celulose e carne. A empresa pretende entrar nessa área da carne de baixo carbono?
Na realidade, já entramos. Essa parceria com a Embrapa tem o objetivo de oferecer um adicional para o proprietário que cria gado, para que ele também plante uma floresta na sua propriedade. E nós damos a ele a garantia de compra dessa floresta plantada.

Esta carne de baixo carbono visa atingir um público seleto e exigente, que está demandando produtos mais sustentáveis. A ideia é que essa carne tenha o certificado de carbono neutralizado através da floresta plantada na propriedade 

Estamos ainda bem no início [do projeto]. Já selecionamos duas propriedades que vão servir de piloto, porque precisamos fazer a parte metodológica junto com a Embrapa. E é em campo que tudo isso vai ser mensurado e desenvolvido. 

 

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