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Inovar é obrigatório mesmo para empresas centenárias: como a Melhoramentos busca tornar sua operação mais ágil e sustentável

Maisa Infante - 30 jun 2022
Carolina Alcoforado, COO da Melhoramentos (foto: Claudio Gatti).
Maisa Infante - 30 jun 2022
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Fundada em 1890, a Melhoramentos iniciou suas operações como uma fábrica de papel, que foi integrada a uma gráfica e a uma editora. Depois, começou a plantar florestas para fazer seu produto e ingressou nos empreendimentos imobiliários nos anos 1990.

A fábrica foi vendida em 2009, mas a empresa seguiu com as demais atividades, acelerando a produção de fibras de alto rendimento — vendidas para terceiros.

Com 364 funcionários, que se dividem entre a sede administrativa em São Paulo e as unidades operacionais em Bragança Paulista (SP), Caieiras (SP), Cajamar (SP) e Camanducaia (MG), a Melhoramentos está no meio de um processo de inovação.

A proposta é diversificar o portfólio e trazer as três unidades de negócios — Editora, Florestal e Patrimonial — para um universo mais moderno — que atenda não só as necessidades da empresa, mas de um mundo que precisa de mais impacto positivo.

Carolina Alcoforado, COO da Melhoramentos, é uma das executivas que está trabalhando nesse processo. Ela ingressou na companhia em maio de 2020, dois meses depois da pandemia ter sido decretada. Segundo ela:

“Estamos tentando olhar de fora, ouvindo muito, absorvendo, vendo o que sabemos fazer bem para começar a aplicar e reposicionar nossos três negócios. Queremos que todas essas unidades cresçam”

As mudanças vêm no curso de um novo posicionamento estratégico da empresa, orientado para produtos com mais sustentáveis, e incluem pesquisa sobre novas aplicações para as fibras de alto rendimento (hoje comercializadas para grandes indústrias de papel como Suzano e Klabin), uso de tecnologia na editora e desenvolvimento de projetos imobiliários nos mais de 150 milhões de metros quadrados de terras de propriedade da companhia. 

Em entrevista ao Draft, Carolina conta o que vem sendo feito para que essa inovação aconteça. Confira a seguir:

 

O que o novo posicionamento da Melhoramentos, mais orientado para impacto positivo e sustentabilidade, mudou na companhia? Como essas mudanças foram integradas ao negócio?
Participei muito da construção do posicionamento, da nova marca, dos valores e do propósito porque estou desde o dia zero em que isso foi contratado.

Fizemos várias entrevistas para saber o que as pessoas viam como valor para a empresa e todo mundo falava do orgulho que sentia, mas ninguém citou sustentabilidade.

A conclusão a que chegamos é que isso é tão natural na empresa que ninguém achava digno de citar separado. Mas o mercado está olhando para a sustentabilidade, então precisávamos mostrar esse trabalho.

O posicionamento de fazer algo que tenha impacto positivo já era genuíno e não é novo, não foi uma coisa que a gente trouxe para a empresa. O que mudou foi a gestão. Começamos a dar a importância que isso tem de fato. E o maior ponto é que passamos a olhar para fora também, para ver o que está mudando no mundo em termos de tecnologias

A Melhoramentos sempre foi uma empresa muito inovadora. O primeiro papel higiênico da América Latina foi a Melhoramentos que fez, assim como o primeiro livro colorido. Também fomos uma das primeiras empresas a produzir celulose de eucalipto no Brasil.

Então por que não voltar para essa origem e continuar inovando? É quase um grande resgate. 

Na prática, como está sendo feito esse processo de inovação?
Começou no ano passado, quando criamos a área de inovação, colocamos pessoas alocadas para essa frente e contratamos consultorias especializadas para trazer o que está acontecendo lá fora.

Olhamos primeiro o mercado brasileiro, porque a Melhoramentos é uma empresa que produz no país e vende internamente. Nossa força está aqui. Mas também começamos a observar movimentos de fora, com tecnologias mais avançadas e a captar de fora para dentro.

Há algumas semanas, estive na Suécia e na Finlândia, países pioneiros no desenvolvimento de estudos de celulose e fibras à base de madeira, já que esse é o core da economia de lá.

Eles têm muita iniciativa legal e conseguimos falar com startups e empresas de diversos segmentos que já estão com produtos sendo comercializados.

Também conversamos com pessoas dos Estados Unidos e China. Nesse momento, estamos formatando algumas parcerias. Selecionamos alguns players com boas oportunidades nesse desenvolvimento.

Já temos um pipeline de até quatro anos de fluxo de inovação. Cada projeto tem um timing diferente. Alguns estão bem mais maduros, já com protótipo, outros em avaliação de mercado ou em teste técnico.

A unidade Florestal é a mais rentável da companhia. Por que inovar no que está dando tão certo e quais os projetos inovadores que estão trabalhando nessa área?
A Florestal é o nosso principal negócio há alguns anos e, obviamente, temos que pensar na evolução deste produto.

Somos autossuficientes em madeira, produzimos a fibra com a madeira que plantamos e vendemos para empresas do segmento de celulose. É uma fibra que dá estabilidade para o produto final sem usar tanto material, o que traz eficiência para o processo, por isso chamamos de fibra de alto rendimento

Ela é usada, por exemplo, no papel cartão para fazer embalagem de remédio e caixa de bombom. Também tem característica de absorção, então é usada no papel toalha.

Mas é uma fibra que tem uma aplicação muito específica, apesar de ser um produto super verde. E quando começamos a investigar o mercado de substituição do plástico, por causa do banimento de alguns tipos de produtos, como o canudo e talheres, pensamos em como uma fibra com essas características de resistência e absorção poderia ser utilizada.

Tem, por exemplo, os plásticos que são duráveis ou outros materiais que são altamente poluentes, mas que podem ser duráveis. Por que não reduzir a pegada de carbono desses materiais agregando uma fibra mais sustentável?

No ano passado, começamos um projeto de desenvolvimento que inclui fazer testes e investigar quais são os mercados que podemos alcançar.

Estamos avançados no teste técnico. Já temos alguns protótipos de produtos que funcionam bem com a nossa fibra ou que podem funcionar em conjunto com alguma outra característica técnica

Agora, avaliamos tecnologias, formas mais eficientes de fazer isso. Mas o nosso foco está na diversificação de produtos e de aplicações com essa fibra.

É olhar o que mais podemos agregar para trazer impacto positivo. 

São novos mercados que estão se abrindo para a Melhoramentos atuar? Em vez de vender só para a indústria de papel, a ideia é vender para outros setores e ajudá-los a criar novos produtos?
Exato. Também queremos ajudar empresas com o compromisso de redução da pegada de carbono. ELas poderão aplicar a nossa fibra para ter um produto mais verde.

E estamos buscando produtos que sejam biodegradáveis, compostáveis ou que tenham um uso muito longo e reduzam essa pegada que deixam na própria produção. 

Já avançamos bem em dois produtos, mas ainda não divulgamos porque estamos na fase de business plan, ajustes com parceiros, fazendo contratos e validação do modelo de negócios.

Existe a intenção de, além das fibras, fazer o produto final?
Sim, estamos construindo esse modelo de negócios para avançar na cadeia também.

Se o produto está muito próximo do meu core, que é a base de papel, vamos seguir sem descartar a possibilidade de ter um parceiro nisso.

Para aqueles produtos que vão além do nosso mercado, preferimos atuar em parceria com especialistas, com quem já domina o mercado. 

No caso da editora, como se dá a inovação?
Na editora, o foco é em tecnologia. Do aprendizado que tivemos ao longo do tempo com as escolas e vendo a mudança de comportamento das próprias crianças, que demandam uma outra forma de aprender, vimos que precisamos mudar essa forma de aprendizagem e oferecer suporte aos professores.

Estamos tentando criar algo que seja interessante para o aluno, apoie o professor e traga escalabilidade, o que só a tecnologia permite

Nós produzimos conteúdo. Por acaso, até o momento, o veículo para essa missão era o livro. Agora, queremos expandir e dar escala a isso com tecnologia. 

A unidade patrimonial não era considerada um business, mas um ativo da empresa. Agora, quais são os planos?
O patrimonial tem um grande potencial. Só em balanço, a Melhoramentos tem 1 bilhão de reais em terras. São áreas em Monte Verde (MG) e em Caieiras (SP), entre as rodovias Bandeirantes e a Anhanguera.

São terras com vocações diversas, incluindo industrial, logística e residencial. Temos 30% do município de Caierias e consequentemente um impacto direto naquela comunidade.

Hoje, é uma terra que está parada. Então, o que podemos  fazer para trazer benefícios para a Melhoramentos, mas também gerar um impacto positivo naquela comunidade?

Começamos a fazer os masterplans do patrimonial para criar uma unidade de negócios. Como são 150 milhões de metros quadrados, o potencial desse negócio é imenso, tanto de receita quanto de resultado

É uma unidade que tende a ser o principal negócio da empresa lá na frente. Mas é uma evolução longa, porque cada projeto precisa de quatro a seis anos para desenvolvimento. 

Atualmemte, temos em desenvolvimento o Swiss Park Caieiras, um projeto residencial que será, basicamente, um bairro novo.

Agora estamos olhando outras vertentes. Como temos áreas que são muito atrativas para o segmento logístico e industrial, conversamos sobre o desenvolvimento de projetos nessa linha, porque aí teremos uma receita mais perene. 

Quando se fala em terras, a Melhoramentos também possui áreas de preservação. Como trabalham com elas?
Dentro das nossas áreas, temos mais de 48% de áreas preservadas, incluindo algumas que são de alto valor de conservação.

Hoje, mantemos isso a custo próprio, mas existem mecanismos que estamos estudando, como o crédito de carbono. Também vemos potencial de exploração do turismo na região de Monte Verde, onde está a maior parte destas terras

Monte Verde já é um lugar turístico e temos vários picos dentro da nossa área, hoje fechados à visitação por uma questão de risco.

Os masterplans também estão sendo desenhados pensando nesse desenvolvimento, porque a própria cidade vive do turismo, então precisamos dar oportunidade de desenvolvimento econômico para essas pessoas, mas de forma ordenada.

Florestal, Editora e Patrimonial são três negócios diferentes. O que conecta todos eles e o que está sendo feito em gestão e governança para que a inovação se dê de forma eficiente?
Sustentabilidade é o propósito que conecta os três negócios. Em governança, a maior mudança foi no próprio conselho, que hoje é composto por cinco conselheiros independentes vindos de áreas diversas, como terceiro setor, mercado financeiro e inovação. É uma miríade de visões muito importante.

Em termos de gestão, começamos a reformular de dentro para fora, mas sem esquecer de olhar de fora para dentro.

Todos os processos de pessoas foram reformulados e estamos trabalhando melhorias de sistemas e processos. Buscamos inovar e melhorar ao mesmo tempo, porque temos um passado que precisa ser tratado e valorizado.

 

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