Noz-Moscada: o amor pela gastronomia fez nascer uma agência de comunicação especializada em comida

Phydia de Athayde - 6 nov 2014
Bruno Geraldi, Helena Mattar e Camila Dias, amigos de faculdade e sócios do empreendimento
Phydia de Athayde - 6 nov 2014
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Conhecer a história da Noz-Moscada já seria prazeroso de qualquer forma, pois ela começa com duas amigas apaixonadas por gastronomia colocando no ar um blog com dicas espertas e fotos lindas. Mas entender como isso se tornou algo maior, um negócio inovador a que elas vêm chamando de “agência de comunicação gastronômica”, é ainda mais bacana porque envolve a rejeição, e redescoberta, da profissão que escolheram.

Camila Dias, 28, e Helena Mattar, 29, se conheceram no curso de Publicidade, Propaganda e Marketing da ESPM. Amigas e apaixonadas por cozinhar, nunca se distanciaram. Em 2011, formadas, ambas experimentavam caminhos profissionais fora de agências de publicidade. Camila trabalhava no marketing da Livraria Cultura e fazia, em paralelo, o blog Gourmet, no site Update or Die. Helena estava morando em Paris, onde estudou e se formou sommelière, e passou a colaborar com o blog. Elas gostaram de trabalhar juntas, mas a gastronomia não trouxe o retorno financeiro desejado ao site, e o blog foi descontinuado.

Mais tarde, Camila iria trabalhar em outro blog, o Radar 55, sobre moda, beleza e estilo de vida, e percebeu que ali as parcerias comerciais, e as receitas, eram mais atraentes. Assim que Helena retornou de Paris, ela a chamou para tomar um café. Camila colocou o desafio à mesa: já existia um jeito novo de ganhar dinheiro na internet, elas só precisavam pensar em como fazer isso com gastronomia. Fãs de conteúdos como What Katie Ate, Tiger in a Jar e Miss Moss, elas viam uma oportunidade. “A gente queria criar, no Brasil, um jeito de olhar para a gastronomia tão cuidadoso quanto o que gostávamos de ver”, diz Helena.

Poder ganhar dinheiro era importante, mas o que inquietava a dupla era a vontade, quase a necessidade, de ter algo próprio e fora das agências de publicidade. As duas chegaram a trabalhar juntas na área de planejamento da Fischer. “Gostei de conhecer pessoas inquietas, mas não me identificava com o modelo de trabalho, nem com os processos. Com o tempo, vi que aquelas pessoas acabam se tornando personagens de si mesmas”, diz Camila. “O clima também não era tão legal, tinha sempre uma piadinha meio desconfortável, não era exatamente saudável”, completa Helena.

As fotos de Bruno contam histórias, trazem memórias, e são marca registrada do Noz-Moscada

As fotos de Bruno contam histórias, trazem memórias, e são marca registrada do Noz-Moscada

Bruno Geraldi, 28, também da ESPM, nem chegou a experimentar a vida de publicitário. Sabia que queria trabalhar com fotografia e, formado, foi morar na Itália e lá fez uma especialização no IED (Istituto Europeo di Design). Ao retornar, atuou como assistente de fotógrafos de moda da dupla Dudu+Mendez (Dudu Lima e Marco Mendez), depois do fotógrafo Hugo Toni.

Após quatro anos nesse mercado, estava decepcionado com o pouco retorno financeiro. “Um belo dia, encontrei a Camila num Fashion Rio e ela me disse para ter calma, que me tiraria dali. Um ano depois, elas me chamaram para fotografar para o Noz-Moscada”, conta ele.

Camila e Helena se especializavam (Camila fez pós em Administração e também cursos de culinária) e mantinham seus empregos enquanto o sonho do blog começava a se tornar realidade. Para tal, cada uma investiu 5 mil reais para bancar o programador e as primeiras produções de objetos para as fotos.

A primeira sessão de fotos levou quase 12 horas e resultou em dez imagens. Um exagero que dá a medida do perfeccionismo das duas e que, por sorte, fez aflorar em Bruno um novo gosto. “Eu nunca tinha tido contato com esse mundo e me identifiquei demais.” O olhar, a luz e a montagem de cena da fotografia moda se tornariam um dos diferenciais do Noz-Moscada.

O blog entrou no ar em abril de 2012. Começava oficialmente a vida dupla das empreendedoras. Helena era sommelière do restaurante Vito e Camila trabalhava na equipe de conteúdo do Panelinha (blog de Rita Lobo), depois no marketing dos restaurantes Attimo e Kinoshita. Elas se encontravam quase todos os dias para falar do Noz-Moscada, discutiam cada post como se fosse uma questão de estado, e usavam os domingos para cozinharem e fazerem as fotos, sempre com Bruno.

Não foi uma explosão, mas o blog cresceu de maneira sólida e orgânica. Os posts nunca tratavam só de comida, mas dos sentimentos, das memórias, da construção de histórias que envolvem o ato de comer.

“Nosso jeito de lidar com a gastronomia tem um valor. Isso formou nosso público e também atraiu marcas”, diz Helena. As marcas estavam nas redes sociais, e apresentar bom conteúdo era garantia de retorno e engajamento do público. O primeiro cliente desse tipo no Noz-Moscada foi a KitchenAid. Depois vieram Torteria, Myk, Il Casalingo.

DIZER ADEUS AO EMPREGO DÓI

O projeto paralelo já se pagava, mas as duas seguiam dividindo o tempo, cada vez mais escasso, entre Noz-Moscada e os empregos. Nunca é fácil decidir a hora de abandonar a estabilidade para empreender. Para elas, tampouco Em outubro de 2013, a revista Vogue convidou o Noz-Moscada para assinar o editorial de Natal, produzindo as comidas e as fotos.

O convite parecia um sonho, a realização máxima, mas foi virando pesadelo porque elas simplesmente não tinham tempo, condições, de assumir tal responsabilidade. “A gente estava surtando, até decidirmos não fazer”, conta Camila. Aquilo ficou entalado. “Estávamos consumidas emocionalmente. Era hora de dar um passo atrás, mas para apostar em algo que estava dando certo”, diz Helena. Dois meses depois, ela pediu demissão.

O início de 2014 foi a hora de assumir muita coisa: o blog, a vida de empreendedora, seus custos e riscos. Elas convidaram Bruno para se tornar sócio (topou, é claro) e assim o trio inaugurou a nova etapa. Eles não queriam continuar trabalhando de casa, e precisariam de espaço para as produções de fotos. Considerando a receita dos clientes fixos, alugaram uma casa de fundos em uma vilinha simpática, na Vila Madalena, por 3 400 reais, incluídas as contas. Também contrataram uma consultoria, feita por Débora Emm, da Inesplorato.

“Quando a gente se assumiu como empresa, as pessoas também passaram a nos olhar de outra forma. Tudo foi acontecendo. E percebemos que existia uma demanda não atendida no mercado”, diz Helena.

A Noz-Moscada nunca perdeu de vista sua vocação original: fazer conteúdo autoral para o público final. Mas o trio passou a ser procurado por restaurantes com demandas específicas, que precisavam de conhecimento apurado tanto de comunicação como em gastronomia. O Tuju foi o primeiro cliente da nova fase. A Noz-Moscada os atendeu desde o planejamento de comunicação até a produção das fotos para o site, a assessoria de imprensa e as redes sociais.

Bolo de outono, post do blog. Camila e Helena cozinham, Bruno faz o clique

Bolo de outono, post do blog: Camila e Helena cozinham, Bruno faz o clique

Outro cliente é a Cia Tradicional, mais especificamente o festival de pizzas Fora de Série, da Bráz Pizzaria. Eles pediram ajuda divulgar melhor o que havia de especial no evento, pois os clientes não viam a diferença. Em vez de fazer algo racional, elas conceberam um vídeo totalmente inspiracional, que com pouquíssimas palavras passava todo o charme dos ingredientes e pizzas especiais.

A este combo de serviços, que não tem concorrência no mercado e nem nome, elas estão chamando de “agência de comunicação gastronômica”. Recentemente, contraram a primeira funcionária, Vanessa Nakamura, para ajudar em um pouco de tudo. Os olhos dos sócios brilham ao falar dos trabalhos. “Marketing e publicidade não são ruins, afinal. A faculdade não tá dá tanto horizonte, é preciso ir além. Dá para juntar marketing com comida, com o que a gente gosta”, diz Camila.

Em paz com a profissão e há apenas oito meses empreendendo em tempo integral, Camila, Helena e Bruno já perceberam dificuldades. “O emocional e o financeiro se misturam muito. A gente já fez muita coisa só porque é legal, sem pensar na sustentação financeira”, diz Helena.

“É uma novidade não ter um chefe te dizendo o que fazer. A gente não sonhou com isso, não estudou pra isso, então tem uma angústia”, conta Camila.

A consultoria os ajuda a enxergar melhor seus valores, processos e erros, também a fazer escolhas conscientes, ainda que sejam por prazer. “Está sendo bem saudável tomar umas broncas”, diz Bruno.

Há um mês, eles instituíram na casa o Lab Noz-Moscada, uma reunião após o expediente em cada vez um deles ensinará algo novo aos demais. Na primeira edição, Vanessa ensinou os chefes a fazerem drinks com saquê. Um brinde ao Noz-Moscada!

draft card noz-moscada

Helena Mattar falar mais sobre o Noz-Moscada neste vídeo.

 

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