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Como a Seiva quer ajudar você a destravar o seu lado artístico e a exercitar o cérebro de forma criativa

Leonardo Neiva - 27 mar 2025
Daniel Lameira (à esq.) e Adriano Fromer, sócios da Seiva (foto: Roberto Setton).
Leonardo Neiva - 27 mar 2025
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Dizer que a Seiva é uma editora seria reducionista. 

“Eu tenho evitado o termo, acho que hoje ela está mais para uma escola”, afirma Daniel Lameira, 37, cofundador e CEO da empresa, criada há pouco mais de um ano. “A gente briga internamente para entender o que a gente é e como comunicar isso, porque é um formato um pouco novo.”

De forma mais abrangente, pode-se dizer que a Seiva é um ecossistema voltado à criatividade e ao desenvolvimento artístico. Reúne cursos e oficinas (com gente como a cartunista Laerte, a escritora Carol Bensimon e o artista visual Marlon Amaro), oferecidas por meio de um clube para assinantes, um podcast e uma newsletter sobre arte:

“Temos o propósito de inspirar as pessoas a se reconectarem com elas mesmas através da arte. Esse é o maior pitch da Seiva hoje: como, através da criatividade, através da arte, as pessoas podem se conhecer e conhecer melhor o mundo”

Dentro desse propósito, a Seiva também publica livros, especificamente sobre o fazer criativo. Entre os cinco títulos do catálogo, estão: Anatomia da história, do consultor de roteiros John Truby; e Como criar histórias, da escritora Ursula K. Le Guin.

“Conheci o Anatomia da história quando fiz um curso de roteiro”, diz Daniel. “É o melhor livro de roteiro que tem, era um absurdo não estar publicado aqui no Brasil. Aí a gente contatou o autor e liberou com ele.”

ELE ESTAVA PRESTES A LARGAR O MERCADO EDITORIAL QUANDO SURGIU A IDEIA DE EMPREENDER NUM FORMATO DIFERENTE

Editor e diretor criativo, Daniel foi um dos criadores da editora Antofágica, que publica edições ilustradas de clássicos em domínio público, e teve passagens por editoras como Intrínseca, Novo Século e LeYa.

Seu sócio, Adriano Fromer, está há mais de 20 anos à frente da Aleph, especializada em ficção científica – onde Daniel também trabalhou, ocupando por um tempo o cargo de diretor editorial. 

Em 2023, Adriano o procurou para discutir um novo projeto. Daniel voltava de um afastamento, após um burnout, e estava decidido a largar esse mercado: 

“Quando surge essa conversa, minha primeira reação é falar para o Adriano: Não sei se eu quero voltar a trabalhar com livro…” 

Ele conta que vislumbrava dar uma guinada na carreira e ter uma atuação mais próxima da área de tecnologia. “Estava fazendo um curso de programação, inclusive.”

As coisas, porém, acabaram tomando outro rumo. Na conversa, partindo de uma ideia antiga do próprio Daniel de lançar um selo voltado para a criatividade dentro da Aleph, os dois decidiram criar um negócio totalmente novo. Aí nasce a Seiva.

“Quando vi que poderia ser algo mais do que uma editora, misturando experiências digitais e indo para esse lado de comunidade, me deu ânimo de voltar com esse propósito, dando esse passo de explorar também novas formas de comunicar um conteúdo.”

PARA FAZER O NEGÓCIO SAIR DO PAPEL, OS SÓCIOS BUSCARAM CORTAR OS CUSTOS FIXOS E DIVERSIFICAR AS FONTES DE RECEITA

O desafio inicial era pensar em formas de fazer dinheiro com “uma editora fora da lógica ‘complexa’ do mercado”, em que investidores precisam passar anos no vermelho até que o negócio gere algum retorno. 

No caso da Seiva, o capital inicial saiu em partes iguais dos bolsos dos dois (que preferem não abrir o valor). Como não podiam se dar ao luxo de esperar muito para rever a cor do dinheiro, buscaram cortar os custos fixos ao máximo. 

A maior parte das vendas de livros, por exemplo, é feita de forma direta por meio da Amazon, com uma distribuição limitada em livrarias. (O primeiro livro publicado pela Seiva — Arte e Medo, dos artistas visuais David Bailey e Ted Orland – saiu alguns meses após o lançamento da empresa).

Parte da estratégia foi diversificar as fontes de receita. Daí a decisão de lançar uma nova edição do curso Vida do Livro, que Daniel já ministrava havia dez anos, mas agora numa versão exclusiva para a plataforma da Seiva. Custa 899 reais e traz 28 aulas, gravadas e ao vivo, com profissionais de diferentes etapas da cadeia do livro.

“É um curso referência no mercado e foi um dos nossos principais produtos para dar uma monetizada no começo da empresa”

Outra aposta inicial foi a criação de uma newsletter diária. Parcialmente inspirada na TLDR, newsletter gringa voltada para tecnologia, a Aurora veio à luz procurando ser mais cool, com imagens e notícias sobre arte nas suas várias ramificações. 

Com curadoria de conteúdo a cargo de Nathan Fernandes, ex-editor da revista Galileu, a Aurora tem cerca de 17 mil assinantes e taxa de abertura de quase 50%, segundo Daniel. A newsletter abriu portas para parcerias comerciais com a TAG, clube de assinatura de livros, e a Filmicca, streaming de filmes independentes.  

“Tem sido legal ver esse reconhecimento”, diz Daniel. “Um público qualificado segue a Seiva: pessoas que estão botando a mão na massa e criando dentro de suas áreas.”

UM DOS CURSOS ONLINE PERMITIU AOS PARTICIPANTES ACOMPANHAR A CRIAÇÃO DE UMA HQ DE LAERTE E RAFAEL COUTINHO

O motor do faturamento são os cursos e oficinas (até aqui, foram dez) sobre escrita, pintura e desenvolvimento de personagens, por exemplo.

O curso Vida Fóssil promoveu a experiência de acompanhar Laerte e seu filho Rafael Coutinho criando um quadrinho juntos; ao final de quatro encontros online, os participantes receberam em casa a HQ autografada.

A partir da procura pelas oficinas (algumas, dizem os sócios, atraem “milhares de inscritos”), a equipe montou um clube de criação artística, que vem rolando há uns meses. 

Por R$ 59,90 mensais, o Clube Seiva oferece atividades como uma oficina criativa aos sábados, um clube de leitura bimestral, playlists de músicas e até cartinhas “inspiradoras” enviadas por artistas. Atualmente, são cerca de 200 inscritos.

“Além disso, tem um grupo em que os participantes conversam entre eles, e já estão combinando encontros em São Paulo e no Rio. As pessoas fazem uma aula gratuita ou um curso e querem continuar tendo essa vivência.”

O DESAFIO AGORA É DOBRAR A OFERTA DE CURSOS, CRESCER O FATURAMENTO E CONSOLIDAR A MARCA

Daniel fica mais ativo no dia a dia da empresa, já que Adriano segue à frente da Aleph e da Quantum Academy, escola voltada para a espiritualidade. 

A Seiva tem outros quatro colaboradores: uma editora, um designer, uma gerente de marketing e uma assistente para ajudar com o Clube Seiva. A equipe trabalha em um coworking no Rio de Janeiro.

No primeiro ano, diz Daniel, a empresa faturou acima de 1 milhão de reais. A meta é crescer esse faturamento entre 30% e 50% em 2025. Para atrair mais público, a Seiva vem disponibilizando aulas e oficinas gratuitas, que funcionam como uma “amostra grátis” do seu ecossistema criativo. 

“No próximo mês, vamos ter o Filipe Grimaldi, um cara que super viralizou o trabalho dele de react e arte de rua. Fechamos com ele uma oficina gratuita para divulgar o clube”

Quanto aos livros, a ideia é ampliar o catálogo em 2025 com uma nova versão do ensaio clássico “A obra de arte na era de sua reprodutibilidade técnica”, de Walter Benjamin, e a tradução de um livro de Gertrude Stein, entre outros projetos.

De resto, o desafio para este ano, diz Daniel, é consolidar a marca, dobrando a oferta de cursos e reforçando a importância da criatividade e da conexão consigo mesmo.

“A gente demorou anos para entender que exercícios físicos eram necessários. Eu acho que exercitar o seu cérebro de forma criativa, daqui a alguns anos, vai entrar na mesma classificação.”

 

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