Certa vez, uma empresa do Grupo FCA-Fiat Chrysler Autombiles enfrentava um problema. Para solucioná-lo, executivos e técnicos foram convidados a usar peças de Lego e infografia para sinalizar onde estava o problema e como poderiam resolvê-lo. Não deve ser fácil colocar engenheiros para se comunicar de forma lúdica, mas é este tipo de provocação que faz o Isvor, universidade corporativa do Grupo sediada na cidade mineira de Betim e responsável por ajudar a empresa a navegar na onda da inovação que toma conta do mundo dos negócios.
O resultado da experiência descrita acima não poderia ser mais positivo. “Ao pedir para que as pessoas desenhassem e montassem os processos, ficaram claras as falhas. Acabamos identificando outros problemas além daquele que queríamos resolver”, conta Márcia Naves, 51, superintendente do Isvor há mais de sete anos, dos 20 que a instituição está no Brasil. Economista com pós-graduação em Informática Apliacada à Educação e com MBA em e-business, ela é coach certificada pela ICF, International Coach Federation.
Márcia veio da área de telecomunicações, trabalhou na Telemig Celular e na Claro. Mas ao acompanhar a rápida evolução da internet móvel no Brasil ela descobriu coisas como o ensino à distância e acabou e se apaixonando por educação. Agora é a grande responsável pelos métodos pouco ortodoxos, porém bastante eficazes da empresa. O Isvor tem como missão tirar proveito do choque de gerações nas empresas e preparar profissionais para olhar adiante e pensar além, como Márcia diz:
“A inovação precisa fazer parte da cultura das empresas. É preciso treinar as lideranças para o novo”
É um desejo recorrente do Isvor motivar as pessoas para que elas façam novas perguntas, em vez de apenas procurarem novas respostas. Para tanto, eles oferecem serviços de treinamento e capacitação também para a rede de concessionárias e outros canais.
A maior parte do faturamento do Isvor, que foi de 35 milhões de reais em 2014, é obtida com serviços prestados para as companhias da FCA e da CNHi, o braço do grupo que abriga a fabricante de máquinas agrícolas CNH e a montadora de caminhões Iveco. Cerca de 8% das receitas, no entanto, vem de organizações que não pertencem ao grupo. “Até porque também precisamos nos arejar internamente, estar em contato com culturas diferentes”, afirma Márcia, apontando que busca praticar o que recomenda para os clientes.
A empresa chegou ao Brasil primeiro como filial de uma iniciativa italiana. O objetivo era suprir as necessidades de desenvolvimento de competências para a FCA, algo estratégico para companhia. No começo eram oferecidos apenas treinamentos técnicos, mas a necessidade da empresa evoluiu ao longo do tempo, levando o Isvor junto.
UM INSTITUTO CRIADO PARA APOIAR UM GRUPO EMPRESARIAL
Em 2010, uma reestruturação fez a instituição mudar de nome e área de atuação na Itália. Mesmo com o novo posicionamento na matriz, o projeto seguiu firme e independente por aqui, com foco nas necessidades nacionais. Márcia conta que a decisão de manter a iniciativa localmente foi de Cledorvino Belini, na época o presidente da FCA América Latina, que via no Isvor um papel importante no desenvolvimento humano para a organização.
Márcia conduz o Isvor com esforço constante para levar o que chama de “pensar novo” às empresas e executivos. “Como universidade corporativa, damos apoio à necessidade estratégica da FCA desenvolvendo competências. A questão é: quem pensa nessa estratégia da empresa? Como ela foi desenvolvida? Temos que levar a inovação até lá”, conta.
Depois de muito quebrar a cabeça para atender a esta necessidade, Márcia diz ter descoberto uma maneira eficaz de ajudar líderes e pessoas da área técnica na árdua tarefa de pensar fora da caixa:
“Quanto mais a gente amplia o repertório dos profissionais, principalmente em humanas, mais geramos conexões inusitadas. A grande competência do homem é sonhar e quando ele traz isso para os negócios, a inovação acontece”
Márcia é uma entusiasta desta tese e não se intimida em arrastar um engenheiro para uma exposição de arte, ou em estimular um líder importante na empresa a reservar parte do seu tempo a uma discussão filosófica.
Para conduzir tais práticas, além de seus 102 funcionários, o Isvor tem uma rede diversa de consultores e profissionais de várias áreas que participam das atividades. São psicanalistas, filósofos e roteiristas de cinema, por exemplo. A missão é oferecer atividades capazes de dar asas ao pensamento livre, que não está atrelado à execução.
Márcia defende que, ao exercitar isso, as pessoas desenvolvem uma visão de futuro. Com isso em mãos é que elas vão pensar na estratégia prática, ou seja, em como transformar uma situação desejada numa situação existente. “Tem sido muito rico para os líderes, que se interessam bastante”, diz.
REPENSAR O TRABALHO, BUSCAR A DISRUPÇÃO
Este modelo, além de ampliar as fontes de conhecimento, pretende repensar também o trabalho, o papel das pessoas dentro das empresas. Márcia enfatiza que o pulso do movimento maker e do empreendedorismo não pode ficar apenas da porta para fora da companhia. “O indivíduo contemporâneo tem de tomar suas decisões, assumir protagonismo da sua carreira. Por que não empreender dentro da própria empresa?”, questiona, garantindo que esta possibilidade se torna cada vez mais real.
“As pessoas têm as ferramentas, como as mídias sociais, que permitem que qualquer um seja um grande influenciador nas suas redes. Os modelos de gestão e de liderança estão em cheque. O líder, mais do que nunca, precisa ser um grande engajador e motivador”, afirma.
Márcia reconhece a importância de valorizar a melhoria contínua mas diz que, ao menos na indústria automotiva, setor em que o Isvor mais atua hoje, é preciso investir na disrupção: “Não adianta continuar crescendo na mesma curva. Teremos de criar uma nova curva”.
Na visão dela, a trajetória deve levar em conta o momento de transformação de uma indústria tão antiga, que começa agora a lidar com o crescimento rápido da conectividade, com o surgimento do carro autônomo, e enfrenta a chegada de novos e poderosos players, como Google, Apple e Tesla.
Parte da munição para a nova batalha pode vir de startups, segundo Márcia. Ironicamente, chegou a hora de empresas com décadas e décadas de história buscarem inspiração nas novatas no mundo dos negócios:
“A indústria automotiva nunca será uma startup, mas ela pode beber nessa fonte. Há muita coisa para aprender coma elas”
A rapidez para responder às demandas do mercado é uma delas, diz Márcia. Colaboração é outro ensinamento essencial para os líderes, ela garante. Para mostrar o modo de fazer negócio das startups para os líderes de corporações, além de trazer os profissionais destas novas empresas para discussões, o Isvor investiu na construção de um Fab Lab em 2015. A unidade do laboratório de fabricação criado pelo MIT tem de seguir princípios de colaboração e de abertura para a comunidade ao menos uma vez por semana.
Márcia conta que o Fab Lab terá o importante papel dentro da instituição de mostrar a necessidade da experimentação e do desenvolvimento em plataformas abertas. “Como somos uma instituição de educação, nosso objetivo não é desenvolver um produto ali, mas propagar essa cultura, instalar esse novo processo”, diz.
Segundo ela, os resultados devem surgir devagar nos próximos anos, em forma de transformação nas relações internas das empresas que o Isvor atende e, claro, em produtos mais interessantes e adequados para o consumidor. “Já vemos muito resultado, mas não conseguimos medir de forma objetiva, já que nada é imediato. A mudança de cultura leva tempo”, diz ela, com seu sotaque mineiro, mostrando que a pressa não faz parte da transformação que o Isvor quer implementar.
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