O que torna uma série de TV, um filme, um documentário, um podcast ou mesmo um reality show bem sucedido? Alguns diriam qualidade do material, outros sorte…
Quem se debruça no mundo do entretenimento entende que por trás de cada projeto existe uma lógica e estrutura de negócios que transformam arte em indústria. E é justamente esse o objetivo da WIP, acrônimo para Working Intellectual Property, primeira plataforma de aceleração de projetos de entretenimento do Brasil.
Concebida em 2018 e lançada em 2019, a WIP tomou corpo em 2020, quando os sócios Bruno D’Angelo (hoje com 44 anos) e Pedro Pizzolato (34) se conheceram.
Do primeiro vem a inquietação e a experiência em jornalismo, quadrinhos e publicidade, com passagem por grandes editoras e agências do país. Do segundo, a habilidade com negócios, fruto de anos trabalhando em uma butique de fusões e aquisições focada em tecnologia e em seu próprio banco de investimentos, a Supernova Ventures.
Tal qual os grandes estúdios da era de ouro de Hollywood, que detinham toda a cadeia de produção cinematográfica — da formação de atores à produção do filme até a distribuição em salas de cinema próprias, ou como algumas agências da Hollywood atual que se posicionam como “criadoras de oportunidades” no entretenimento, a WIP quer estruturar este ambiente no país, explica Bruno:
“Meu sonho é influenciar de alguma forma o Brasil a ser reconhecido como referência em entretenimento, liderar a evolução desse mercado. Fazer o que a Coreia do Sul fez há 20 anos”
Na visão dele, se hoje vemos a cultura sul-coreana disseminada amplamente, é graças a grandes investimentos feitos no setor de maneira contínua e estruturada. O resultado são hits como o filme Parasita, vencedor do Oscar de 2020, a série recente Round 6 e o gênero musical K-pop.
Foi em 2018, percebendo os movimentos dos mercados de streaming e publicidade, que Bruno elaborou a tese que viria a se transformar em um modelo de negócios.
“Pirando por muito tempo criei a tese de que se a gente focasse em propriedade intelectual de entretenimento talvez o Brasil tivesse chance de criar uma indústria”, explica Bruno. “Como? Acelerando.”
À primeira vista, pode parecer complicado, mas a ideia era basicamente criar uma venture building de propriedade intelectual de entretenimento. Em vez de startups de tecnologia, a empresa acelera projetos – sejam eles de programas de TV, séries, filmes, games, livros, produtos digitais – e os conecta a investidores e compradores interessados – canais, plataformas e estúdios. Bruno resume:
“A WIP é uma plataforma de negócios no ecossistema de entretenimento do Brasil que traz método, soluções criativas de negócios e conexões para criadores, canais, marcas e investidores”
No mercado interno, isso significa não só ser uma ponte entre criadores e marcas ou distribuidores de conteúdo, mas dar a ambos os lados o suporte para que as ideias saiam do papel. Para o mercado externo, significa ser o ponto de acesso para quem busca conteúdo local.
Segundo Bruno, em tempos de streamings sedentos por preencher suas plataformas com conteúdos originais e diferentes, a demanda por produções que fogem do circuito hollywoodiano aumentou.
O modelo de negócios da WIP é baseado em um método desenvolvido internamente e que pode ser aplicado para viabilizar diferentes tipos de projetos.
“Qualquer propriedade intelectual que entra na WIP recebe tratamento de três teses: criativa, de distribuição e de investimento”, explica Bruno. Combinadas, essas informações resultam em uma tese de viabilidade e em um plano do que será feito com essa propriedade intelectual. “O nosso negócio é criar teses viáveis de entretenimento no Brasil”, completa.
“A propriedade intelectual de entretenimento é uma plataforma de negócios. É como um software: você pode vender, alugar, criar inúmeros modelos de negócios. Ou simplesmente desenvolver, gravar num CD e guardar numa gaveta”, compara Pedro.
“O mercado se viciou em uma maneira de fazer dinheiro com propriedade intelectual de entretenimento e a gente está aqui para desafiar essa única maneira. Hollywood está sendo atravessada por novos modelos de negócios, pelo Vale do Silício. Não é só desenvolver a engenharia de novos softwares, é pensar modelos de negócios também”
Um dos principais produtos da WIP é o Plot 2 Pilot, uma consultoria baseada em design sprint para projetos de entretenimento. Por meio dele, os criadores conseguem tirar do papel e viabilizar suas obras em até oito dias – o que causa espanto para os canais e plataformas.
A empresa também monetiza oferecendo serviços de produção e desenvolvimento, treinamentos e com os próprios royalties e ganhos indiretos das 70 EIPs que ela tem participação. São contratos como com os quadrinhos do Stout Club, com o canal de divulgação científica no YouTube BlaBlaLogia e com a autora negra e lésbica Joana Mendes, da série Sapático.
“Hoje gerenciamos tudo isso com quatro pessoas, em breve 15, mas aí é que entra o controle e gestão do método… O truque é cada projeto ter um Project Management Office (PMO) e nunca, nunca, em hipótese alguma, tirar o autor do projeto. Somos co-founders, sócios, parceiros”
Com essa pegada, a WIP atende a quatro tipos de clientes: o criador, que quer estabelecer o lugar dele no mundo (seja um roteirista, podcaster, influencer, ator); o canal, que precisa comprar muito conteúdo e precisa que alguém o ajude a priorizar; as marcas, cansadas de fazer propaganda e que querem entrar no mundo do brand entertainment; e os investidores, que descobrem que existe um caminho de ganhar dinheiro com entretenimento.
Graças à versatilidade da metodologia, em pouco tempo a WIP conseguiu projetos expressivos. O mais marcante é o Colaboratório Criativo, um projeto financiado pela matriz da Netflix para formar roteiristas e cineastas afro-brasileiros, que já está em sua segunda edição. A iniciativa é uma colaboração da WIP com a AFAR Ventures, agência global de consultoria de mídia e insights com foco em diversidade.
A WIP também já viabilizou projetos junto ao canal Discovery e à ONG de desenvolvimento social Gerando Falcões. E com sua abordagem inovadora frente à propriedade intelectual de entretenimento, conseguiu fechar um contrato com um canal de televisão sem a cessão dos direitos autorais, algo raro no mercado brasileiro. Segundo Bruno:
“A WIP, dentro da mentalidade dos dois sócios, é uma combinação de narrativas e números. Acreditamos que a história é tão importante quanto o modo como essa história vai ganhar vida”
Recentemente, os sócios abriram uma rodada de seed money, modelo de financiamento para empresas em fase inicial. Atraiu investidores considerados estratégicos em seu board, como Felipe Oliva, da Squid, Ítala Herta, da Diver.SSA (confira a entrevista que ela deu ao Draft), e Rob Sorcher, produtor executivo da Warner Bros. e ex-vice-presidente executivo do Cartoon Network. E, ainda em 2022, esperam abrir a rodada Série A de investimentos, pensando em contratações para incrementar a operação.
“O Brasil tem muitos prêmios em Cannes e poucos Oscar. Para uma população tão criativa, o tanto de histórias e a cultura rica que nós temos aqui, por que alguns ganham prêmios e outros não? Achamos que isso tem tudo a ver com essa pegada de profissionalização”, diz Pedro. “A WIP pode ser esse agente catalisador para transformar o ecossistema do entretenimento brasileiro em uma indústria.”
Pioneiros do podcast muito antes do estouro desse formato, Alexandre Ottoni e Deive Pazos venderam o Jovem Nerd para o Magalu, mas seguem na operação. E agora realizam um antigo sonho: o lançamento de seu primeiro videogame.
Com uma longa carreira na indústria do cinema (ele é fundador da Downtown Filmes), Bruno Wainer fala sobre saúde mental e os bastidores da criação de Aquarius, sua plataforma de streaming que acaba de chegar ao catálogo da Amazon Prime Video.
Voz do Aeroporto de Guarulhos e de várias marcas e campanhas, Simone Kliass fala sobre sua carreira, a evolução — e os estereótipos de gênero — do mercado de locução e a conquista de três estatuetas no SOVAS Voice Arts Awards, em Los Angeles.