As irmãs Alcântara (são três), do Tudo Orna, de Curitiba, começaram como tantas outras influencers: um blog de estilo, moda, viagem, etc. Aos poucos, conseguiram monetizar o projeto com parcerias com grandes marcas, como Chevrolet. Mas perceberam que a grande dúvida dos seguidores era sobre empreendedorismo. Como sair do zero e montar um negócio on-line lucrativo? Montaram um curso sobre isso e — aí sim! — viram o negócio explodir em vendas. Hoje elas têm mais de 1 milhão de fãs, além de um café, uma marca de bolsas e outra de cosméticos, entre outros negócios.
Uma trajetória criativa inspiradora, que começou com uma decisão simples. Apesar da preocupação da mãe delas (que vivia enviando mensagens com links para inscrição em concursos públicos), as irmãs decidiram ignorar os caminhos convencionais para se ganhar dinheiro. Escolheram fazer algo em que acreditassem desde o início. Deu certo. Ou melhor, está dando.
Depois de oito anos do lançamento do Tudo Orna, elas comemoram o faturamento de 2,5 milhões de reais nos últimos 12 meses, com negócios que extrapolam o ambiente digital. O blog é hoje uma plataforma para divulgar as ações, as notícias e os lançamentos da marca Orna, que compreende, além da produção de conteúdo, uma linha de bolsas, a Orna; uma de maquiagem, a Orna Makeup; o curso Efeito Orna e o Orna Café, em Curitiba — cidade natal das irmãs, onde duas delas ainda moram.
Débora, 30, é relações públicas e especialista em branding digital. Bárbara, 32, é formada em Comunicação e Design de Produto. Júlia, 28, é designer de moda, gráfica e de produto. Na prática, são blogueiras, empreendedoras e comunicadoras. Um pacote que pode ser resumido, nas palavras delas, como #affinitycreators ou criadoras de afinidades.
Não à toa, elas têm 1 milhão de fãs, no conjunto de suas plataformas. Do diário de casamento, que virou websérie à reforma de apartamento, tudo vira conteúdo, atrai seguidores, patrocinadores e parceiros. É delas, ainda, segundo Débora, a maior conta do Pinterest do país, com 400 mil seguidores.
Lá, no início dessa história, as três eram sócias da Curta Comunicação, que começou dentro de uma incubadora na universidade. Criaram a empresa porque acreditaram, antes que os youtubers virassem esse fenômeno todo, na potência dos vídeos curtos bem produzidos, na comunicação via redes sociais, nos blogs corporativos. Difícil era convencer os clientes. “Ninguém topava”, conta Débora.
Por isso, criaram o blog Tudo Orna. As três adoram moda, gostam de interagir e compartilhar conteúdos. A ideia era que ele funcionasse como um portfólio para que os futuros clientes entendessem, na prática, o potencial desse tipo de comunicação. Elas caprichavam nas fotos, nas locações, nos editoriais. Por mais pessoal que fosse o conteúdo, o canal já tinha uma cara profissional.
ENTÃO, O BLOG VIROU O NEGÓCIO
O que não estava no roteiro foi o sucesso do blog com o público. As irmãs Alcântara passaram a ser conhecidas e comentadas em Curitiba. “Demoramos a entender que estávamos sendo reconhecidas pelo conteúdo de moda e não necessariamente pela comunicação”, diz Débora. E prossegue:
“O que fazíamos era democratizar informação de moda. As pessoas foram se identificando e passamos a ver ali uma oportunidade de negócio”
A Curta Comunicação fechou as portas e as irmãs passaram a se dedicar integralmente ao blog. “A gente tinha um sentimento de que aquilo ia dar certo, havia valor naquela conquista de público”, completa a empreendedora. Passaram a estudar o mercado, pesquisar, criar formatos de ações para trabalhar com marcas parceiras.
Em 2011, para comemorar um ano do empreendimento, elas decidiram fazer um grande evento. Sem dinheiro, precisavam de patrocínio. Atraíram marcas como Nyx e Vivara. Perceberam, então, que era possível monetizar o blog. Vieram, a partir daí, chancelas importantes de marcas como Chevrolet e Nike.
Foram dois anos de altos e baixos, mas o blog passou a se pagar. Até 2014, sobreviveu apenas de produção de conteúdo. Mas, com duas das irmãs formadas em design e com uma marca já forte, elas decidiram criar produtos próprios. “A gente queria entrar na cadeia produtiva do nosso jeito. Entrar no ecossistema de moda, ajudando a economia local e usando mão de obra nacional”, conta Débora.
Vieram, assim, as linhas de bolsas (feitas artesanalmente, com mão de obra e material nacionais) e a de cosméticos. Bárbara fala sobre a aceitação: “Temos lotes pequenos para cada bolsa. Cada vez que vem um novo, nós anunciamos o lançamento e, quando chega o dia, as bolsas se esgotam em vinte minutos. É extraordinário”. Não demorou muito para que as blogueiras percebessem que a grande curiosidade do público não era apenas a respeito do conteúdo do blog ou dos produtos. Foi o momento de repensarem mais uma vez os rumos do negócio.
O CURSO DE EMPREENDEDORISMO: A NOVA VIRADA
A maioria da audiência, composta quase que exclusivamente por mulheres, queria saber sobre empreendedorismo — como as irmãs conseguiram criar uma marca do zero, ter tantos seguidores, monetizar um blog? “Há uma carência nesse mercado. Se a gente não fala, ninguém cresce. Não temos medo de dividir nossa experiência nos cursos. A concorrência não necessariamente vai roubar nossa audiência. Enxergamos como potenciais parceiros.”
Os primeiros cursos foram presenciais, mas a logística foi ficando complicada. Decidiram, então, criar o curso online em 2017. Dividido em nove módulos, com 40 aulas e nove apostilas, o Efeito Orna ensina a desenvolver o próprio negócio digital por meio de técnicas de criação e produção de conteúdo. Custa 1.890 reais, dividido em 12 parcelas. Júlia, irmã mais nova, ainda fala:
“Passamos a receber diariamente pedidos de conselhos e acreditamos fortemente que colaborar é melhor que competir”
Há também um workshop gratuito e online, a Teia do Efeito, uma ferramenta de análise exclusiva que ajuda a diagnosticar o posicionamento digital de um negócio e apontar áreas para melhoria.
QUANDO SURGIU UMA BRECHA PARA O OFFLINE
Além de dividir o que aprenderam, as irmãs Alcântara queriam ter um espaço físico onde pudessem compartilhar a atmosfera da marca. Um ponto de encontro para, vez por outra, as blogueiras encontrarem seu público.
Há seis meses, abriram o Orna Café, na capital paranaense. No dia da inauguração, havia uma fila de 500 pessoas. A estratégia para garantir público foi engajar as pessoas durante todo o processo de construção do café. Antes mesmo de abrir, o estabelecimento já tinha 40 mil seguidores no Instagram.
Com o curso e o espaço físico do café, as irmãs alcançaram um crescimento efetivo de 375% e um aumento de 985% no volume total de vendas gerais nos últimos 12 meses. Com tantas frentes de atuação, há perguntas que não calam. Por exemplo: “Não vão perder o foco com tantas coisas?” ou “O blog vai perder a importância?”.
Em relação à primeira pergunta, Débora gosta de lembrar cases de sucesso, como a Disney ou a Gucci, por exemplo, que atuam em vários segmentos sem perder o rumo. Para ela, uma coisa ajuda a outra. Em relação ao blog, Júlia afirma: “Até empresas de futurismo, como o robô Jibo, possuem um blog para não depender dos algoritmos das redes sociais ou mesmo para se posicionar organicamente nos buscadores. Hoje em dia, optamos por utilizar a plataforma como um canal de notícias das nossas marcas ou assuntos relacionados”.
O LIMITE VAI MUITO ALÉM DO CÉU. QUEM SABE, MIAMI
Atualmente, a marca Orna tem um escritório em Curitiba, com carinha e cultura de startup. Trabalha com 35 colaboradores, fora o café, que tem uma equipe própria. Se as irmãos pretendem migrar para o eixo Rio-São Paulo? Na realidade, os planos são mais ambiciosos.
Atualmente, Júlia está em Miami, estudando processos e conversando com possíveis investidores a respeito da internacionalização da marca. Também está em fase de maturação um modelo de franquia para o Orna Café. As sócias também trabalham em um livro, a convite de uma editora. E o curso Efeito Orna está sendo traduzido para outras línguas. Bárbara fala quais são os planos:
“Sonhamos muito alto! Nunca nos vimos como uma marca pequena ou local. Já conseguimos imaginar um alcance internacional e é nisso que estamos trabalhando”
Bárbara e Júlia hoje são mais focadas no desenvolvimento dos produtos, no e-commerce, na logística e no design do site. Débora cuida da parte de conteúdo, da comunicação e da metodologia dos cursos. Em paralelo, ela administra a conta @apartamento.33 no Instagram, que se tornou um case de sucesso na área de decoração.
Ainda noiva, passou a compartilhar o projeto de reforma de seu apartamento. O perfil virou um negócio à parte e é considerado uma inovação na forma como o segmento lidava com as redes sociais. Com parceria de grandes marcas, como Eliane Revestimentos, Docol, Eletrolux e outros, o “apê” no estilo escandinavo ganhou status de fenômeno.
Além da reforma do apartamento, os casamentos de Bárbara e Débora também viralizaram na rede. Com um conteúdo pessoal tão forte, é de perguntar como preservam a intimidade. Segundo Débora, a superexposição não foi planejada:
“Nunca buscamos fama. Para nós, sempre foi trabalho. Apesar do conteúdo, nossa vida não virou um reality show. Estamos preocupadas com nossos clientes, nosso trabalho”
Trabalhar em família também não é um problema, como Bárbara conta: “Existem pontos positivos e negativos, mas os positivos são muito maiores. Como o caminho que a gente quer trilhar é o mesmo, temos as mesmas vontades e os mesmo sonhos: que essas empresas deem cada vez mais certo, que atinjam cada vez mais pessoas, que mudem cada vez mais vidas, que gerem cada vez mais empregos. Isso é muito claro para todas nós, então, nada pode interferir em nosso propósito”. Ornou.
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