Aprender inglês fazendo yoga, oficina de culinária ou discutindo o uso inteligência artificial imersos em ambientes brasileiros, mas onde não se fala a língua portuguesa. Esta é a proposta da The Fools, que nasceu em 2012, no Rio Grande do Sul e promove viagens para fazer com que adultos que já possuem algum conhecimento avancem ainda mais no idioma.
Geralmente a busca pelas imersões vem da urgência de melhorar o inglês por conta de uma necessidade específica, como a apresentação do mestrado, uma entrevista de emprego ou a possibilidade da mudança de país, como conta Diego Alano, 35, CEO da The Fools:
“Queremos ajudar as pessoas a ganharem confiança para perder o medo e destravarem na hora de falar inglês. É botar em prática o que estudaram durante anos, mas participando de workshops sobre temas que lhe interessam, de forma que até esqueçam que estão aprendendo inglês”
As imersões da The Fools têm durações distintas: dois dias (fim de semana); cinco dias (quarta-feira a domingo) e 12 dias, e estão disponíveis nas cidades de Novo Hamburgo (RS), Atibaia (SP) e Petrópolis (RJ). Os valores dos pacotes variam entre 2 mil e 20 mil reais, incluindo atividades, acomodação e alimentação.
Desde a criação, a The Fools atendeu mais de 10 mil pessoas (a média de idade do público é de 40 anos) e realizou cerca de 500 eventos. Neste ano, segundo Diego, a empresa vai bater seu recorde de número de imersões e de participantes.
A The Fools foi criada por Diego, seu irmão Léo Alano, que hoje tem 39 anos e segue sendo seu sócio, e mais dois amigos (que já não estão mais na empresa). Eles estavam em busca de “criar algo diferente”.
Diego morava em um sítio em que realizava cursos e eventos na área de agricultura sustentável e decidiu agregar a experiência de morar fora do Brasil e de ser professor de inglês para criar as imersões na língua inglesa em formato de teste.
O nome “the fools” (que significa “os tolos”) já sugere um pouco do espírito descontraído e da mensagem que os eventos promovidos pela empresa querem transmitir:
“Todos nós somos um pouco tolos quando estamos aprendendo algo. A ideia é tirar um pouco a máscara do ‘João engenheiro’, da ‘Fernanda médica’ para lembrar que estamos todos no mesmo barco, querendo aprender a se comunicar melhor. É uma mensagem também para não levar a vida tão a sério, trazer uma leveza para que nossa jornada seja um pouco mais divertida e brincalhona”
A divulgação realizada em universidades e escolas de idiomas do Rio Grande do Sul ajudou a captar os primeiros participantes. Conforme o negócio se consolidou, a experiência passou a ser oferecida também em São Paulo, a partir de 2018.
A grande ameaça à empresa surgiu em 2020, com a pandemia de Covid-19. O crescimento da The Fools, claro, estagnou durante o período de isolamento social.
Com “um prejuízo gigante”, foi preciso apelar à demissão em massa da equipe de 13 pessoas. O empreendimento conseguiu sobreviver com a venda de produtos online e resistiu à crise.
A programação é preenchida por seis workshops diários que são escolhidos pelos participantes, por isso as imersões são diferentes para cada um deles.
As opções são apresentadas diariamente pelos instrutores e há exemplos como teatro, dança, meditação, negócios, vocabulários do universo da tecnologia da informação, esportes variados e atividades manuais, entre outras.
“Os instrutores estão sempre presentes, conversando com a galera. No início a gente faz uma rodada de introdução com as regras e para tirar dúvidas em português. A partir dali há um pacto para que todo mundo realmente fale inglês o programa inteiro”
Entre as opções, há indicações mais voltadas às pessoas com inglês mais ou menos avançado — embora para ser aceito na imersão, o participante precisa ter uma proficiência mínima que permita a compreensão de frases isoladas e falas em público, mesmo com erros. A referência técnica é o nível A2 do Quadro Europeu Comum de Referência para Línguas (CEFR).
Diego conta que é comum as pessoas participarem mais de uma imersão, pois sentem o avanço após a primeira experiência e querem continuar evoluindo.
“Tivemos um participante que tinha inglês nível pré-intermediário e fez uma imersão mais longa e depois outras menores e conseguiu apresentar o mestrado em inglês. Outra aluna que estava um pouco traumatizada para falar inglês, fez um acompanhamento personalizado, participou dos eventos e apresentou o mestrado em uma universidade francesa e agora tem um diploma bilíngue”
A The Fools também faz imersões sob demanda em outros idiomas como espanhol, italiano, francês e alemão e realiza treinamentos específicos, como o promovido com um time em Belo Horizonte que atua na área de tecnologia da informação e precisava se comunicar melhor em alemão com a sede da companhia.
Durante as imersões os instrutores são responsáveis por promover a articulação do grupo, promover as conexões por afinidade ou nível de proficiência do idioma, e garantir que ninguém infrinja uma das principais regras: a de não falar português.
Embora os eventos sejam realizados em hotéis que são abertos aos públicos, a empresa garante que os “imersos” têm o mínimo possível de interação com funcionários e demais hóspedes, de forma que não deixem de praticar inglês o tempo todo.
A metodologia de ensino prevê que os instrutores deem feedbacks positivos corrigindo erros por meio das repetições das frases corretas. Diego conta com uma equipe freelancer de 50 instrutores com nacionalidades diferentes e nem todos são professores de inglês. Suas expertises e habilidades, além da docência são levadas na hora de montar o cardápio de opções dos workshops.
Numa das imersões neste mês de outubro, realizada para um grupo de adolescentes com a temática de halloween, umas das instrutoras, que é polonesa, compartilhou seus conhecimentos de quilling, um artesanato feito de papel para criar diferentes objetos, variando entre brincos ou até quadros.
Em relação aos participantes, Diego diz que o desenvolvimento é “personalizado: quanto mais a pessoa se propor a evoluir, maior será a sua evolução”.
“Quem vai mais de uma vez nas imersões sabe como explorar melhor, como puxar mais papo com os professores… A The Fools vai entregar 50% da evolução, mas a pessoa precisa fazer a parte dela para chegar nos 100%. A maioria faz isso”
Na visão do cofundador, as imersões da The Fools podem garantir até mais exposição linguística do que a proporcionada por um intercâmbio, tendo em vista que o intercambista passa apenas um turno estudando e, no outro, pode acabar abrindo mão de explorar o idioma:
“Obviamente nunca vamos conseguir competir com a experiência de olhar o Big Ben ou a London Eye e vivenciar a cultura de se visitar outro país; mas em termos linguísticos, a experiência da The Fools é mais profunda porque a gente não deixa as pessoas paradas: estamos estimulando o tempo todo.”
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