A paixão de Mateus Bodanese, 27, por cervejas está estampada na pele. “Somos apaixonados por cerveja”, informa uma tatuagem em seu tornozelo esquerdo. Além dela, outras três com a temática da bebida estão espalhadas pelos braços e pernas do engenheiro elétrico de Florianópolis que, junto com o irmão, o também engenheiro (de automação) João Paulo, 34, criou um negócio inusitado para refletir tamanho amor. Não, eles não se tornaram tatuadores, nem abriram um bar. Os irmãos Bodanese foram os primeiros a trazer para o Brasil um sistema eletrônico de self-service de chope. Com o myTapp, o cliente paga por mililitro consumido (e não por copos com tamanhos pré-estabelecidos), usando um cartão de crédito pré-pago, por aplicativo ou no caixa, fornecido pelo bar. As informações sobre o tipo de cerveja e a escolha de quantidade ficam em um tablet junto à torneira.
“Desde os tempos de estudante eu curtia cerveja, mas as artesanais eram muito caras”, conta Mateus, que produzia sua própria bebida. Como bom apreciador, ele sonhava em ir ao bar e poder experimentar todas as opções disponíveis. Mas sabia que isso seria inviável, como conta:
“Além de não ter dinheiro, eu sairia ‘trêbado’ se fosse tomar chopes de 300 ou 500 ml, que são o padrão no mercado”
Até que, em 2014, durante um mestrado em San Diego, nos Estados Unidos, João Paulo conheceu um bar com um sistema self-service que permitia justamente isso. “Ele me mandou uma foto e eu disse ‘vamos desenvolver esse negócio aqui’”, conta Mateus. Os dois se animaram, e resolveram trabalhar para abrir o próprio bar com o sistema inovador.
Durante um ano, os irmãos trabalharam na sacada da casa da mãe desenvolvendo o protótipo do sistema. Investiram cerca de 20 mil reais e surrupiaram muitos potinhos dos armários da mãe para transformaram em “chopeiras”.
Os desafios eram muitos: desde desenvolver um sistema que não interferisse no fluxo da cerveja do barril para a torneira, contando o que está sendo servido de maneira precisa (sem espumar ou alterar as propriedades da cerveja, por exemplo), até criar um produto estável e acessível. No fim, perceberam que o que tinham nas mãos era precioso demais para um bar só. Além disso, o custo para abrir o próprio bar se mostrou maior do que eles de fato podiam investir. E assim mudaram de foco: em janeiro de 2015, surgiu oficialmente a myTapp.
GOLE A GOLE, BOCA A BOCA
Em março de 2015, a myTapp fez sua primeira — e frustrada — aparição em público. Os irmãos se uniram ao The Liffey, um pub de Palhoça, na região metropolitana de Florianópolis, e fizeram uma experiência durante um evento de St. Patrick’s Day na cidade. Mateus relembra que as coisas desandaram:
“Foi nosso primeiro teste com uma chopeira de verdade, mas faltou chope, ele espumava, não deu muito certo”
Mas eles não desistiram, pois sabiam da importância de mostrar ao mercado o produto que desenvolveram. Na semana seguinte, foram a Blumenau, em outra feira, e provaram que o negócio podia dar certo. Um amigo, Guilherme Lima dos Santos, 26 anos, que possui curso técnico em produção cervejeira e ajudou os irmãos com questões mais técnicas (pressão, espuma, extração), apresentou os dois a donos de cervejarias do Brasil.
Um deles era o proprietário da Bodebrown, uma conceituada cervejaria de Curitiba, que se interessou no sistema e instalou duas torneiras piloto no local. Funcionou tão bem que em menos de seis meses instalaram mais oito, fechando 2015 com dez sistemas e dando à myTapp o fôlego necessário para trabalhar no boca a boca de vender o produto Brasil afora. A estratégia adotada foi a mesma do começo: iam a feiras e eventos de cerveja para divulgar o produto. “Nosso investimento em marketing no início foi muito fraco”, explica Mateus, que considera fundamental a divulgação feita pelos usuários em redes sociais. No período de um ano, foram das duas torneiras instaladas e um faturamento de 8 mil reais para 75 (de 171 vendidas) e 700 mil de faturamento.
CRESCER TANTO E RÁPIDO CUSTA CARO
Para instalar as outras torneiras na Bodebrown, os fundadores da myTapp contaram com o investimento do administrador Renan Corrêa Torres, 28 anos, que se tornou o quarto e último sócio da empresa. Ele entrou com 85 mil reais para montar 15 sistemas e gerar capital de giro. Em média, só as peças do equipamento custam 1 700 reais. A licença para cada sistema é vendida por cerca de dois mil reais e há uma taxa mensal de 250 reais ou 5% do faturamento gerado pela torneira (o que for maior) para manutenção e análise de dados do equipamento.
Os investimentos valeram a pena. Hoje, a myTapp é líder do mercado de sistemas self-service no Brasil e está presente em 12 estados, com 406 torneiras instaladas. Em 2017, o faturamento foi de 1,4 milhão de reais. Mateus percebe o crescimento de uma forma mais divertida. Em 2014, estavam na sacada da mãe, já em 2015, foram para uma sala com dois sócios e um funcionário. No ano seguinte, mudaram para três salas e contrataram mais cinco pessoas. Por fim, em 2017, se transferiram para a sede atual (uma casa de 160 metros quadrados para comportar a equipe de 20 pessoas). “Daqui a pouco vamos ter que mudar para uma mansão”, brinca.
O sucesso se deve, principalmente, ao fato de que o sistema é “bom para todos”. O dono do bar ganha maior controle dos barris, pois passa a saber exatamente o quanto foi consumido e os usuários podem experimentar diferentes tipos de cerveja até definirem qual desejam tomar, além de interagirem entre si para dar dicas sobre como tirar o chope. Também é bom para reuniões em grupos grandes de amigos, pois permite que cada um controle o que vai beber com seu próprio cartão. O famoso Bar Brahma, em São Paulo, apostou em duas mesas com chopeiras que possuem o sistema — os clientes que se sentam nela não precisam mais acenar para o garçom quando querem um refil.
“Se a myTapp for a maior empresa do setor ou não no país (hoje já existem concorrentes, brasileiras e internacionais, com sistemas similares), tudo bem, o que me realiza é ver que a gente está mudando o jeito de consumir cerveja no Brasil e poder proporcionar essa experiência para as pessoas”, diz Mateus. “Para mim a frase mais marcante foi a que eu ouvi uma vez na Bodebrown, quando um cara atrás de mim falou: parece um sonho isso aqui”. Ele não sabia que estava atrás da pessoa que sonhou com algo do tipo e transformou isso em realidade.
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