Prepare-se para a festa. Em menos de 48 horas acontece na cidade de São Paulo a 17ª edição da Wake. Uma balada que, ao contrário de tantas e tantas baladas, não entra madrugada adentro nem serve bebida alcoólica. O roteiro começa às 7h15 com uma atividade de yoga. Se você não é muito da yoga, pode chegar às 8h15, hora da pista — música eletrônica, DJ, percussão, dançarinas e intervenções (como a pintura de detalhes coloridos no rosto) — e de experimentar bebidas e comidinhas orgânicas e naturais. O agito vai até 9h15, quando fica mais suave até terminar com uma prática de meditação coletiva. Às 9h30 é hora de ir para a vida. Leve, desperto.
O lema da Wake é “acordar para despertar” — para novas possibilidades, novas relações, novos contextos. O evento foi criado pela HED – Human Experience Design, que vem a ser o braço de desenho de experiências da consultoria de inovação Mandalah, um ícone da Economia Criativa no Brasil. A proposta da festa é ressignificar a lógica urbana e proporcionar um novo olhar para si mesmo e o dia a dia, como diz Lourenço Bustani, idealizador da Wake e fundador da Mandalah:
“Fazer uma festa antes do expediente, de manhã e sem álcool, misturando yoga, dança e alimentação saudável é um experimento social que desafia as pessoas a reinventarem sua rotina”
A primeira Wake aconteceu em 2015. Desde estão, já foram 16 festas, sendo 11 no Brasil e cinco no México. A última aconteceu no Rio de Janeiro excepcionalmente em um sábado (geralmente são às quartas-feiras) e por uma razão particular: a festa abriu a edição carioca da Virada Sustentável, que aconteceu entre 9 e 11 de junho na cidade. Além da Wake em São Paulo, já há outra programada para o mês que vem, no dia 8 de julho, dentro do MECAInhotim, evento que também é uma experiência diferente, unindo música e vivências no museu a céu aberto de Inhotim (MG).
AQUI, DINHEIRO NÃO É O MAIS IMPORTANTE
Como Lourenço gosta de dizer, não existe “energia monetária” na Wake. O dinheiro até está ali, sim, mas de uma maneira diferente: para entrar na festa é preciso comprar ingresso (o preço varia de 35 a 75 reais, dependendo da edição), mas toda essa receita é repassada como doação a um projeto social. A HED não fica com nenhuma porcentagem. A edição desta quarta-feira, por exemplo, custa 45 para quem quer yoga e pista, e 35 reais para quem vem apenas para a pista. Todo o faturamento será destinado ao ADUS – Instituto de Reintegração do Refugiado, instituição que atende 500 pessoas por mês e funciona no Centro de São Paulo. Na edição anterior da Wake na capital paulista, a ONG Beaba, que produz conteúdo pedagógico sobre o câncer para crianças e adolescentes, recebeu os 6 mil reais arrecadados na festa, que teve 180 participantes.
OK, então o dinheiro existe mas vai para projetos sociais. Como, então, a festa acontece? Graças ao comprometimento de quem participa.“É o que a gente chama de protagonismo coletivo, onde as pessoas se sentem parte da mudança”, diz Lourenço. Na prática, todos os prestadores de serviços envolvidos na festa (instrutores de yoga, DJs, massagistas, fornecedores de alimentos e bebidas, músicos, fotógrafos, cabeleireiros etc) estão ali por razões outras que o cachê. Além deles, há uma equipe voluntária de 15 pessoas que trabalham na produção. Lourenço estima que a cada festa cerca de 25 pessoas doem seus produtos ou serviços sem esperar grana como recompensa. Ele fala a respeito:
“Quando você participa de algo e entende que foi peça-chave na viabilização, isso ressignifica o seu papel e a concepção do seu valor nessa história”
Como festa itinerante e colaborativa, após esses dois anos de existência a Wake alcançou um modelo satisfatório de produção e presença de público. Agora, vai dar um passo novo. Em breve acontecerá, pela primeira vez, uma edição “in company” da festa. Um banco em Minas Gerais quis levar a experiência para seus funcionários e parceiros. Lourenço topou e conta que, como se trata de um arranjo diferente, a HED está cobrando (um valor não divulgado) para organizar o evento com a marca Wake.
O dinheiro, ele conta, ficará em um caixa para custear despesas operacionais das próximas festas — gastos com táxi, equipe de limpeza e segurança, que sempre saíram do bolso do empreendedor. “Mas não significa que vamos assalariar quem faz a festa acontecer”, afirma. “O protagonismo coletivo continuará sempre sendo a base da Wake, que nunca terá fins lucrativos.”
A VONTADE É CRIAR EVENTOS QUE FAVOREÇAM A CONSCIÊNCIA
Ainda que a Wake seja o carro-chefe absoluto da HED, a empresa tem outras frentes de trabalho. Todos os projetos, no entanto, têm como objetivo comum convidar seus participantes a terem mais conexão consigo mesmos, com as pessoas ao redor e com um contexto maior. Desde sua fundação, em 2015, a HED organizou, além das 16 festas Wake, dois eventos pagos (uma oficina de arte e outra de mandalas) e dois concertos gratuitos (oferendados pelo próprio Lourenço). Cada oficina custou 65 reais por participante e, no total, 25 pessoas se inscreveram. Já os eventos gratuitos foram duas apresentações do guitarrista ucraniano Estas Tonne. Um deles aconteceu no auditório do MASP, apenas para convidados de Bustani, e outro, no Parque do Ibirapuera, foi aberto ao público.
Além disso, a HED também desenhou a festa de 10 anos da Mandalah — uma sequência de eventos que durou 24 horas. Começou (é claro) com uma Wake às 7h30 da manhã. Às 14h teve início um bate-papo com executivos e lideranças inspiradoras, sendo Marina Silva uma das participantes. Em seguida, das 18h às 20h, um coquetel expunha em uma timeline interativa a história da consultoria. Por fim, às 23h30 começava uma festa inspirada no icônico festival Burning Man, com acrobacias e todo mundo fantasiado.
A HED, vale destacar, nasceu quando Lourenço começou a refletir sobre como poderia levar para as pessoas físicas o que a Mandalah já levava para o mundo corporativo. Ele precisaria, como diz, usar “ferramentas diferentes para um fim semelhante, que é ampliar a perspectiva das pessoas”. Chegou, então, à dança, à música, à arte e à gastronomia. Esses elementos funcionam como pilares, ou condutores, das experiências desenhadas pela HED. São as ferramentas usadas para ampliação da consciência dos participantes. Lourenço fala:
“Nosso propósito é criar experiências que tirem as pessoas da zona de conforto para conectá-las à sua essência e ao que está ao redor”
As experiências proporcionadas pela HED, segundo ele, são uma grande provocação, mas nunca agressiva, sempre sutil. “Servem para chacoalhar as estruturas que compõem o ser humano, sem que as pessoas necessariamente percebam a mudança acontecendo, mas que, depois, sintam que estão se relacionando de forma diferente”, diz.
Ele conta que quer mostrar isso no dia em que a HED organizar um casamento: “Os casamentos são muito protocolares, tudo é um grande teatro. Fico imaginando um roteiro com três minutos entre o noivo e os pais da noiva, só eles. Outro da noiva com os padrinhos do noivo, só eles. Um espaço pensado de forma diferente, para realmente trazer alguma intimidade na relação do casal com os convidados. Tudo dentro de um pensamento coerente com os participantes, mas algo que não seja apenas uma festa”.
UM NEGÓCIO QUE NASCEU DA VONTADE DE RETRIBUIR
Com investimento inicial de 5 mil reais e só uma colaboradora, a produtora executiva Renata Cabrera de Morais (antes dela, Danny Dubner e Luisa Flora apoiaram a operação), a HED, na visão de seu fundador, existe para atender uma necessidade das pessoas de alimentar a alma, de expressar sua essência e nutrir o que é verdadeiro para cada um. “Hoje, as pessoas estão míopes, anestesiadas, sozinhas, carentes de um propósito maior, desnorteadas. Então, as experiências da HED são uma forma de facilitar o resgate da criança interna de cada um. E eu faço isso por entender que é o melhor uso dos recursos intelectuais, artísticos, sociais, econômicos e emocionais que eu tenho”, diz Lourenço. E prossegue:
“Não vejo sentido maior do que dedicar minha energia e meu tempo para esse tipo de processo de transformação. Para mim faz sentido, não tem uma agenda além disso”
Se fôssemos pensar na lógica convencional, o investimento inicial da HED se pagou com as oficinas que organizou e com a primeira Wake in company. “Mas a mentalidade aqui não é de capital inicial e retorno de investimento”, diz o fundador. “A HED evolui de forma orgânica, e como responde a uma carência cada vez mais visível na sociedade, ela se impulsiona a partir disso. A gente opera sob outro contexto, outro entendimento do que é o negócio. O foco é nutrir a HED com carinho e zelo, observando o tempo natural dela crescer.” E mantendo-se desperto.
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