Ainda menina, de cima da árvore à frente da casa dos pais em Sorocaba, interior de São Paulo, ela sonhava escrever um livro e… ser médica. Mariana Rocha, 33, já começou a escrever o livro, mas a Medicina foi substituída pela graduação em Publicidade na FAAP e a vida de empreendedora. Nem por isso ela deixou de atuar na área da saúde, dando um toque de comunicação social a tudo que faz, com a Quero Harmonia, que desenvolve negócios no segmento de bem-estar. A empresa é a concretização do desejo de causar impacto positivo no mundo:
“Tudo o que faço é para aumentar a vibração da humanidade. Quero impactar a vida das pessoas com o maior cuidado e atenção possíveis”
O negócio, que começou a operar em 2014, funciona em rede: não há uma equipe permanente e cada projeto é tocado como uma mini sociedade, com 30% do retorno financeiro direcionado ao administrativo da empresa e os 70% restantes, divididos entre aqueles que atuaram nos projetos. Importante ressaltar que, nem sempre, o retorno para esses colaboradores é financeiro. Pode haver ganho de conhecimento, expertise, exposição do nome etc. Mariana conta que a parte mais pesada do relacionamento comercial é ela quem faz: “Acredito em trabalho colaborativo e inclusivo. Não imponho nada, pergunto quem tem o perfil e quer fazer”.
O core business da empresa é a geração de conteúdo informativo sobre qualidade de vida, com credibilidade – Mariana diz que tem aversão a achismos e superstições. Ela quer transformar a maneira como se pensa temas como saúde, bem-estar, fitness e espiritualidade. A forma como esse conteúdo é distribuído pode variar e inclui posts no site, e-mail marketing para mailing nichado de consumidores, publicações nas redes sociais, newsletter personalizada ou palestras.
O site, por exemplo, tem material produzido por colaboradores daqui e também autorização para reproduzir conteúdo de instituições de peso como The Center for Compassion and Altruism Research and Education – Stanford Medicine, Arizona Center for Integrative Medicine, blog do médico-guru americano Andrew Weil e do Hospital Israelita Albert Einstein.
A DOCE ARTE DE TRANSFORMAR BOAS INTENÇÕES EM UM NEGÓCIO VIÁVEL
Mas há outras frentes de negócios na Quero Harmonia: serviços de consultoria empresarial em saúde integrativa; criação de workshops, experiências e viagens; e realização de eventos e palestras. A ideia é formar uma comunidade entre profissionais, marcas parceiras com propósitos semelhantes (entre elas, Açaí AWI, A Tal da Castanha, Dharma Academy, Hospital Israelita Albert Einstein, My Yoga, Organic Alimentos, PÃO Padaria Artesanal Orgânica, Seal Brasil, Una Yoga, Urban Remedy, Weleda e Yogini) e os consumidores dos projetos cocriados.
O objetivo final, como fala, é crescerem juntos. Possivelmente, o exemplo mais emblemático seja o Triathlon Consciente Quero Harmonia, que pode ser envelopado e customizado para uma empresa interessada e já teve duas edições abertas ao público, em 2017.
Na versão aberta, é um evento inclusivo e não competitivo, que reverte parte do lucro para ONGs. Os participantes são convidados a realizar um trio de atividades de bem-estar: corrida ou caminhada, aula de yoga e encerramento com prática de meditação Mindfulness. As marcas presentes levam produtos para degustação ou para fazer parte do Kit Quero Harmonia, entregue sempre ao final.
O último Triathlon Consciente Quero Harmonia aconteceu no Parque do Povo, em São Paulo, na entrada da primavera. Teve a participação de 150 pessoas, nove marcas parceiras e a realização do 1º Mindful Kids. Reverberou bem a ponto de surgirem interessados em replicar o formato em Belo Horizonte, Goiânia, Ribeirão Preto, Rio de Janeiro e Campinas. “Como eu não tenho braço para fazer tudo, decidi me associar com pessoas de cada cidade para montar os eventos fora de São Paulo. É mais difícil de fazer porque preciso encontrar pessoas com credibilidade”, conta.
UMA GUINADA QUE COMEÇOU COM A MEDITAÇÃO
A trilha que Mariana fez para chegar onde está hoje foi singular. Ela se define como nerd, diz que sempre adorou praticar esportes e estudar. Por isso, na época do vestibular, o curso de Medicina era seu alvo. Por uma dessas curvas inesperadas da vida, porém, poucos meses antes da prova, Mariana conheceu um grupo de estudantes de comunicação, encantou-se e mudou seu foco.
Ela ainda era universitária quando começou um estágio na área comercial da Viacom (dona dos canais de TV Comedy Central, Nickelodeon, MTV e VH1). Ao se formar, foi contratada, mas a índole nerd não deu tréguas. Para se aproximar da área de criação publicitária e realizar o sonho de escrever, ela se inscreveu em um curso de dois anos na Miami Ad School São Paulo. Em meados de 2008, conseguiu uma transferência e alçou um voo mais alto para fazer um trimestre do curso na unidade de Madrid, na Espanha.
Este primeiro salto abriu portas para ela passar por escolas e estágios em agências em Hamburgo, na Alemanha, e Paris, na França. Depois, cruzou o oceano e foi conhecer o mercado dos Estados Unidos. Passou pela escola de Chicago e terminou o curso em Boulder, no Colorado, onde também esticou o estágio na agência Crispin Porter+Bogusky. Como era de se esperar, a experiência foi rica em termos profissionais e culturais. “A Crispin era uma agência com lifestyle completamente diferente. Lá, qualquer profissional podia ter uma expertise paralela à publicidade. Tive a visão de trabalhar muito, mas sair no horário e ter qualidade de vida, coisa que sempre prezei.” Pode-se dizer que foi nesse momento que a virada em sua vida começou a se desenhar.
Ainda nos Estados Unidos, aguardando visto para poder trabalhar em agências, Mariana começou a meditar. Ela conta que o início da prática foi um divisor de águas: expandiu sua compreensão, trouxe equilíbrio e novas ideias. “Minha visão de vida mudou completamente. Ganhei mais paciência, tolerância e centramento. Eu me lanço para o universo através da meditação”, diz.
DE VOLTA AO BRASIL, ERA HORA DE PESQUISAR O MERCADO EM QUE QUERIA ATUAR
Como a questão do visto deu errado, em 2011 ela voltou ao Brasil. Com o currículo que tinha, logo foi trabalhar na agência Loducca (atual Salve Tribal), onde só pegava “job-filé – acho que ainda se fala assim”, brinca. Mariana não gosta de desdenhar do que viveu, mas afirma que não estava feliz: “Só me empolgava com as campanhas pro bono para as ONGs. Não tinha tempo de praticar meditação e começou, dentro de mim, o conflito de querer voltar para área de saúde. Acabou decidindo sair da empresa.
O final de 2012 foi um momento de dúvidas: decidir se faria outra faculdade – Medicina ou Naturologia? – e achar uma maneira de incluir no meio disso tudo a ideia de disseminar conhecimentos sobre saúde e bem-estar. Ela fala mais a respeito:
“Eu via todo mundo muito ansioso, estressado. Tive um insight: queria trabalhar com algo que fizesse as pessoas se sentirem bem”
Ela precisou de praticamente um ano para amadurecer essa transição. Enquanto isso, levava em paralelo a vida de freelancer para pagar as contas. No final de 2013, Mariana decidiu investir – 60 mil reais do próprio bolso – para desenvolver o site da Quero Harmonia (que entrou no ar em março de 2014). Escrevia matérias e comercializava banners de anúncios. Embrenhou-se cada vez mais na área de bem-estar, fez o curso de Health Coach no Institute for Integrative Nutrition e de Mindfulness na Unifesp, começou a atender no consultório da nutricionista Fernanda Scheer e essa atividade passou a sustentá-la. “Me encontrei! Mas não posso dizer que consigo ficar só no consultório porque tenho o lado de comunicação muito forte e ele dá voz a esse tipo de trabalho.”
À época, o mercado nacional de produtos naturais, orgânicos e serviços em medicina integrativa e bem-estar era pequeno. Então, Mariana percebeu que precisava voltar aos Estados Unidos para rastrear o que acontecia por lá. O ano de 2016 foi inteiro passado na Califórnia, pesquisando e fazendo uma varredura do mercado de saúde.
Mariana apresentou produtos brasileiros por lá, fez cursos de alimentação saudável, esteve no Retiro do SRF fundado por Yogananda, participou de evento de meditação da Amma (líder espiritual indiana), visitou feiras de produtos naturais como Natural Products Expo West, foi a conferências como Wisdom 2.o. Mais do que gerar conteúdo para seu site, acima de tudo, buscou conhecimento para trazer às marcas brasileiras e inspiração para montar um modelo de negócio que lhe agradasse.
Nesta fase, atuou com atendimentos presenciais e a distância, fez contato com marcas de produtos naturais, orgânicos e negócios de impacto, que ajudaram a formatar a proposta da sua empresa.
MODELOS DE NEGÓCIO VARIADOS, MAS UM ÚNICO FOCO: BEM-ESTAR
No início de 2017, quando aterrissou de volta em São Paulo impregnada de novos conceitos, Mariana fincou raízes e formatou várias iniciativas, sendo a principal, a forma de realizar eventos em rede.
O modelo da Quero Harmonia prevê que as marcas parceiras, com quem Mariana tem relacionamentos mais firmes e prolongados, paguem uma taxa para participar dos eventos que lhes interessam, ao longo do ano. É equivalente a um espaço de mídia para exposição de marca, como um patrocínio. As cotas são de 10 mil, 5 mil e 3 mil reais. “Como trabalho com marcas que, geralmente, estão começando, não coloco um preço abusivo porque quero que estejam comigo aquelas com propósitos de impacto positivo e sustentabilidade.”
O próximo desafio de Mariana é operacionalizar o e-commerce para a venda tanto de produtos das marcas parceiras (com retenção de 20% do valor para a Quero Harmonia), quanto de produtos próprios como as Garrafas Vibração Positiva, produzidas em vidro jateado com mensagens positivas – as de 700 ml custam 75 reais. Elas são criação de Mariana, foram inspiradas na pesquisa do japonês Masaru Emoto e já despertaram o interesse de restaurantes e de empresas que pedem a customização da mensagem ou símbolo para brindes. Está em progresso também a produção de uma linha de colares de pedras e cristais, em parceria com a designer Satya Spindel. A princípio, as peças lançadas na primeira coleção custarão 175 reais.
O cronograma de eventos em que a Quero Harmonia participará no segundo semestre está movimentado. Além do 3º Triathlon Consciente Quero Harmonia, Mariana e as marcas parceiras estarão em dois eventos realizados pelo Hospital Albert Einstein. Outros dois mini eventos acontecerão mensalmente: o Chá Filosófico Una Yoga, customizado para a escola, e a Experiência Quero Harmonia, atividade presencial com cerca de três horas de duração, em que Mariana oferece experiências de bem estar e saúde integrativa na prática, como meditação e yoga, e entrevista uma pessoa de renome e permite a interação da plateia. As conversas serão gravadas de forma intercalada na Urban Remedy e PÃO e postadas no canal do YouTube para abrir o leque de compartilhamento da informação. O valor de participação gira em torno de 200 reais e existe a captação de mailing dos envolvidos.
A gravação de produtos digitais, por sua vez, é outra nova frente de negócios da Quero Harmonia. O objetivo é que as empresas-clientes tenham a possibilidade de comprar e receber não apenas as experiências presenciais. O argumento é que, como a vida está mais corrida, é importante possibilitar que as pessoas acessem os conteúdos no tempo delas.
Fora tudo isso, Mariana ainda precisa de tempo para se recarregar. Por trabalhar muito, ela tenta organizar bem a agenda: “Faço minha prática de meditação, o curso de formação de Yoga, o 360 da Singularity University, terapia quinzenal… Não sou flexível nesse ponto. Percebo que, quando abro mão da minha rotina, perco a qualidade no trabalho”. Foco, como deu para perceber, é o ponto forte da CEO, ou em sua própria definição da sigla, Constantemente Empoderando Outros.
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