Desde 2007, portanto muito antes do nomadismo digital virar tendência, Karina Rehavia é uma adepta assídua desse estilo de vida.
Formada em comunicação pela Rowan University (no estado de Nova Jersey, nos Estados Unidos), Karina trabalhou por duas décadas no mercado publicitário, passando pela BBC, de rádio e televisão, e as agências de publicidade Live e Chaco.CC (nesta, como consultora).
Ela também empreendeu: em 2009, fundou a Ninui, um e-commerce voltado para artesãos e produtos de brechó.
Ao longo dos anos, Karina viveu em Xangai, São Paulo, Rio de Janeiro e Nova York — para citar algumas cidades.
“Venho experimentando o trabalho remoto há muitos anos e sempre me questionei como se dão as relações de trabalho. Em todas experiências que tive, fiz a contratação de profissionais independentes, o que me provocou a tentar entender como a gente poderia operar de uma forma diferente, mais remota”
Essa bagagem de vida – e a reflexão que ela motivou – se mostraria crucial para a criação da Ollo, uma startup dedicada a conectar empresas a talentos independentes que atuam em publicidade, design, marketing, comunicação, audiovisual e tecnologia.
Coerentemente com a proposta, a Ollo não tem sede física. Desde 2020, foram mais de 2 mil projetos para 120 clientes espalhados por Américas, Ásia e Europa, incluindo marcas como Ambev, iFood, Kimberly-Clark, Tok&Stok e United Nations Foundation.
Entre 2018 e 2020, antes da fundação da Ollo, Karina estava em Nova York liderando a expansão internacional da Live, quando começou a observar uma tendência crescente entre as empresas estadunidenses: a adoção do Open Talent Economy.
O conceito, que na tradução livre para o português significa “economia aberta de talentos”, dá lugar a uma nova relação entre corporações e profissionais.
Nela, empregadores passam a ter acesso a um leque de profissionais, para projetos pontuais ou recorrentes; as pessoas, por sua vez, têm a liberdade de trabalhar em mais de um local sem um contrato de exclusividade. Karina explica:
“Ao invés de contratar um freelancer apenas para apagar um incêndio ou atender uma demanda específica, as empresas estavam incorporando profissionais independentes para dentro de um time”
Após meses de pesquisa e conversas com corporações que já operavam desta forma, Karina e Lucas Mello — fundador da Live que acabou se tornando sócio-fundador da Ollo — decidiram implementar a ideia no Brasil.
O que eles não esperavam é que, no meio deste processo, uma pandemia se instalaria.
“A maior barreira que a gente encontrava era justamente o trabalho remoto – e dois meses antes do lançamento muitos já estavam atuando dessa forma. Foi a inversão de Análise Swot mais rápida da história…!”, brinca a CEO da Ollo.
Para contratar o serviço da Ollo, primeiro a empresa preenche um formulário curto, com 13 perguntas.
Nesse questionário, o cliente informa sobre sua necessidade, incluindo o modelo de trabalho e a carga horária desejados; se o profissional precisa ter alguma especialidade ou dominar um idioma específico; a verba disponível e a duração do projeto.
A partir das respostas, a Ollo faz o match filtrando talentos cadastrados na plataforma, que hoje chegam a 3 mil. Segundo Karina:
“Utilizamos algumas ferramentas para entender qual profissional da nossa comunidade atende o perfil para determinada vaga ou projeto”
Há dois tipos de plano. No plano básico, é cobrada uma taxa inicial de pré-curadoria e um comissionamento após o êxito. Neste caso, a Ollo tem 72 horas para encontrar o profissional.
Já no plano mais completo (Enterprise), além da comissão para cada match, o cliente paga uma taxa mensal de uso do serviço, e a curadoria é realizada em 48 horas.
Além de fazer a ponte entre empresas e um único profissional, Karina conta que a Ollo tem trabalhado muito com a formação de squads.
“Esse conceito já é bastante utilizado na área de tecnologia e estamos trazendo isso para os processos criativos”
A vantagem, segundo ela, é que a squad é elástica, ou seja, varia conforme o momento e a demanda do contratante.
Uma das empresas que têm apostado na incorporação de squads independentes é a Domino’s Pizza Brasil.
Um ano atrás, a rede entrou em contato com a Ollo a fim de aprimorar sua gestão de relacionamento com os clientes (CRM, na sigla em inglês) em escala nacional.
“A empresa possui um volume muito grande de newsletters, e-mail marketing, SMS, e estava sentindo necessidade de ter essas pessoas ‘dentro de casa’. Nós criamos uma squad criativa para eles, e eles têm sentido muito mais agilidade na entrega, porque o contato com os profissionais é direto”
Sandra Gerena, gerente de marketing e vendas da Domino’s Pizza Brasil, diz que a mudança na estrutura do time de criação e a chegada dos profissionais externos despertaram, no início, algum receio: vai que dá errado? Superado esse temor, a experiência vem sendo positiva:
“Hoje, podemos afirmar que é um modelo extremamente satisfatório, sem muita burocracia, agilizando o processo em geral, e com profissionais qualificados e de alta performance”, diz Sandra.
Segundo a Ollo, além de maior velocidade para o processo, as squads contribuem para o aumento da diversidade da Domino’s, visto que os profissionais contratados são de regiões diferentes e perfis diversos.
Após um ano atuando com o recrutamento de vagas freelancers nas empresas, a startup criou um novo braço: a Tech Recruiting.
“Notamos que havia uma demanda para posições fixas nas verticais que já trabalhávamos e que podíamos agregar valor para esses processos. Deu super certo”, diz Karina.
Outra novidade foi a inclusão de uma nova vertical: a C-level-as-a-Service. Assim como no caso anterior, a empreendedora explica que a ideia surgiu a partir de uma análise de tendências do mercado.
“Tivemos esse insight quando observamos que já alocávamos outros tipos de profissionais de forma fracionada… Por que não um CEO as a Service que vai na empresa 3, 4 horas por dia? Será que todas as empresas precisam de um CEO 8 horas por dia, cinco dias por semana?”
Na visão dela, essa pode ser uma ótima alternativa para muitas startups, principalmente aquelas que estão em um estágio pós-seed, pré-série A, que já capitalizaram, mas não têm recurso para investir em um corpo de C-levels completo, por estarem muito focadas no seu produto ou no crescimento da empresa.
Além do interesse das startups, Karina explica que, cada vez mais, os profissionais estão buscando oportunidades que proporcionem maior flexibilidade, tendo mais tempo para arejar e fazer outras atividades; não querem se envolver somente com uma empresa ou um projeto.
A vertical C-level-as-a-Service foi lançada em maio de 2022 e, até o momento, já foram realizados oito matches. Pode parecer pouco, mas para Karina, o resultado é expressivo.
“Ela cresce um pouco mais devagar do que as outras, mas acho isso natural. É diferente uma empresa falar que quer contratar uma squad para demandas de CRM ou um CEO”
No mesmo mês, a Ollo também anunciou que teve seu controle societário adquirido pela BPool, empresa que conecta corporações a pequenas e médias agências de publicidade e marketing.
A estratégia é manter as marcas e as operações separadas, considerando que os públicos são diferentes.
“Esse movimento fortalece o nosso produto, aprimorando a experiência dos clientes e gerando mais oportunidades para a nossa comunidade de talentos”, diz Karina.
Nessa nova fase, a startup vem fortalecendo a sua expansão internacional.
“A partir da nossa integração, aumentamos a presença nos Estados Unidos, México, Argentina, Chile e Colômbia, consolidando a Ollo como uma das principais plataformas de talentos independentes da América Latina”
A expectativa para 2023 é continuar ampliar as verticais de serviços e levar a marca para outros países, não só do ponto de vista de clientes, mas de profissionais.
“Na sexta-feira antes do Carnaval, fechamos nosso primeiro projeto na Irlanda”, diz Karina. “Já temos representações em Dubai, nos Estados Unidos, na Espanha e em Portugal, e a ideia é expandir cada vez mais.”
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