Quem vive nos grandes centros urbanos tem facilidade em comprar livros ou pegar emprestado em bibliotecas.
Para habitantes de cidades menores, no entanto, o acesso à leitura, em especial aos best-sellers, é algo mais complicado.
Foi pensando em uma forma de democratizar esse hábito que Rafael Lunes e Rodrigo Meinberg decidiram fundar o Skeelo em 2019.
Rodrigo já empreende no mercado editorial desde 1992, quando fundou a Gold Editora, que fazia publicações fasciculadas para jornais como Estadão e Folha de S.Paulo e coleções para a Avon. Desde essa época, ele já discordava da ideia de que brasileiro não gosta de ler:
“Desculpem-me os editores tradicionais que usam esse discurso. Na verdade, é ineficiência deles não chegar a esse público consumidor. Ele quer ler, mas simplesmente não acessa as livrarias, que são elitizadas e estão só nas grandes cidades”
Depois, Rodrigo descobriu outro nicho, o de produção de conteúdo para operadoras de telefonia móvel. Foi aí, em 2012, que conheceu Rafael (na época diretor na Claro), que virou seu cliente empresarial.
Rafael mudou de trabalho, mas os dois mantiveram contato e se tornaram sócios. Com o passar do tempo, perceberam que havia oportunidade de ampliar a base de clientes e, em vez de atender apenas quatro players do mercado (Claro, Oi, TIM e Vivo), ampliar a base de clientes.
Então, passaram a oferecer o serviço de leitura para os clientes das operadoras, que buscavam ser um hub digital de serviços e já eram bem atendidas com plataformas parceiras de vídeo e música — mas não de leitura.
O aplicativo fundado por eles a partir deste insight foi batizado de Skeelo. O nome, explicam, combina skill (habilidade, em inglês) e esquilo, animal que serviria como uma espécie de mascote para a marca.
A plataforma envia mensalmente a seus usuários um título que é (ou foi) sucesso de vendas, de autores referência em seus segmentos, com temas em alta ou grande repercussão entre os leitores.
Apesar de, na comparação com o livro físico, o digital ocupar uma parcela bem menor do mercado, 6%, ainda assim o Skeelo é uma oportunidade de acesso à leitura para muita gente. Hoje, o aplicativo tem cerca de 10 milhões de downloads, somando iOS e Android.
O aplicativo começou sua operação com investimento vindo da Gold Editora, cerca 20 milhões de reais. Ano passado, o negócio alcançou mais de 83 milhões de reais em faturamento e a previsão para 2022 é de 92 milhões de reais.
Amante da leitura, aproveitei para testar o app e contar o que percebi nestes dias de uso.
O Skeelo opera no modelo B2B2C, ou seja, atende o leitor diretamente, porém a aquisição do serviço é feita através de empresas parceiras. Segundo Rafael:
“O Skeelo compõe as ofertas e promoções destas empresas com o objetivo de agregar valor aos serviços já prestados, aumentando a satisfação, nível de consumo e fidelidade destes clientes”
Hoje, são 21 parceiros, entre eles, as operadoras de telefonia Claro, Oi e Vivo, além de empresas de TV, internet, meios de pagamento, bancos, algumas montadoras brasileiras e veículos de mídia. Entre os nomes dos clientes estão Sem Parar, Sky, Recarga Pay, Ligga, Empiricus, O Globo e Valor Econômico.
Descobri que minha operadora é parceira do serviço inserindo meu número de celular e CPF neste link e baixei o aplicativo, que funciona tanto no sistema Android como no IOS.
Os títulos enviados para os usuários, no entanto, variam de acordo com o plano que cada cliente tem com os parceiros. O que a Skeelo tenta fazer, segundo os fundadores, é parear a mensalidade com o preço do livro digital no mercado editorial.
No meu caso, por conta do contrato com minha operadora, meu plano dá acesso apenas a ebooks. Mas dependendo do acordo firmado, o usuário pode adquirir audiobooks e minibooks (leia a seguir o que é isso).
Embora os audiobooks representem um percentual bem menor de downloads, de acordo com Rafael, esse formato abre uma nova frente de negócios para as editoras, principalmente para clientes de parceiros como a Sem Parar — afinal, no caso o usuário é alguém que ouve o livro enquanto dirige:
“Antes do Skeelo, elas não enxergavam muito um modelo de negócio capaz de garantir o investimento em áudio livro, que é muito mais caro para ser produzido, pois exige uma sonoplastia pesada e narração em estúdio, muitas vezes com a voz de um famoso ou do próprio autor”, afirma o empreendedor.
Ele prossegue:
“Apesar de nossa oferta de ebooks ser maior, isso não quer dizer que o audiobook não seja uma aposta nossa. Pela primeira vez no mercado, existe um player que dá conforto e garantia financeira para as editoras investirem na produção desse acervo”
Já os minibooks são resumos de livros, com autorização dos autores e das editoras. A ideia é oferecer uma alternativa para quem não tem paciência de ler uma publicação de 500 páginas, por exemplo.
“Nossa tese era de que com esse produto fomentaríamos o hábito de leitura na base da pirâmide, deixando o conteúdo mais leve”, diz Rodrigo.
O formato, no entanto, não teve o apelo que os fundadores esperavam. “Talvez seja um problema de timing, de entendimento do consumidor, então a partir de agosto vamos fazer uma pequena mudança de rota para termos conteúdos mais seriados, baseado em contos”, conta Rodrigo
Se você não tiver contrato com nenhuma das empresas parceiras, também é possível assinar o aplicativo por conta própria pagando R$ 23,90 para receber um ebook por mês ou R$ 39, 90 pelo audiobook. Se o orçamento estiver curto, há ainda como acessar o catálogo de livros gratuitos disponíveis no app, com títulos como O pequeno príncipe, de Antoine de Saint-Exupéry, A moreninha, de Manuel de Macedo, e Dom Quixote de La Mancha, de Miguel de Cervantes.
Ao todo, desde o início de sua operação, o app já distribuiu milhões de livros e áudio livros de editoras como Planeta, Companhia das Letras, Record, Buzz, Valentina, Citadel, Gente, IBEP, Alto Astral, entre outras.
Da minha parte, foi preciso quebrar uma “barreira” comportamental para consumir um livro na tela do celular. Mas talvez isso não seja um problema para as novas gerações, como diz Rodrigo:
“Focamos no público jovem para quem uma estante de livro física não tem mais tanto sentido”
Hoje um serviço similar e concorrente indireto do Skeelo é o e-reader da Amazon, o Kindle. Mas a grande diferença, além do tamanho da tela do equipamento, é o custo, afirma Rodrigo:
“O Kindle, que poderia ser uma alternativa, é caro e os livros são vendidos a preço de capa, além disso o comprador principal continua sendo leitor das obras físicas”
Devo dizer que perdi meu receio de ler na telinha (meu celular tem 6,1 polegadas) por conta das ferramentas oferecidas pelo Skeelo, que tornam a leitura mais confortável.
O aplicativo oferece três opções de cor de tela (dia, noite e sépia), além de variações de brilho, oito opções de tipos de fonte e possibilidade de ajustar o tamanho, o que facilita para quem, como eu, é míope e começa a embaralhar letrinhas que não estejam, em termos de comparação, no mínimo em fonte de tamanho 12 do Word.
O leitor também pode escolher “virar” as páginas na horizontal, deslizando a tela para o lado ou ir scrollando a leitura (paginação vertical).
Dá ainda para ajustar as margens, a altura e o espaçamento entre linhas e letras, favoritar páginas e selecionar trechos.
Um recurso interessante do aplicativo é que, além de calcular quantas páginas faltam para acabar o livro, ele mostra os minutos restantes.
Fora isso, o peso dos arquivos não representa um consumo de espaço significativo no celular. No formato ePub, os ebooks têm no máximo 2 MB.
O Skeelo envia uma obra por mês, mas a data varia de acordo com o parceiro do qual o usuário é cliente. Rafael explica o porquê de apenas um título a cada 30 dias:
“Hoje, a maioria das plataformas opera no modelo ‘all you can eat’, ou seja, tudo o que você consegue consumir está disponível ali, tipo o Netflix. Mas entendemos que para o mercado de livros isso não funciona tão bem. O leitor médio não se seduz pela quantidade, porque o livro é um conteúdo em que se precisa investir tempo. Então, optamos por um modelo de clube do livro, entregando uma obra por mês”
Assim que baixei o aplicativo, em 30 de junho, o livro daquele mês disponível para download, conforme a curadoria da empresa para minha operadora, era O escândalo do petróleo e Georgismo e comunismo, de Monteiro Lobato.
O aplicativo permite que o usuário troque o livro dentro de um mês. Como o título não me interessou e o prazo para fazer a substituição já havia expirado, resolvi fazer o download de uma obra disponibilizada gratuitamente. O escolhido foi Par perfeito, de Eleanor Prescott.
Dentre outros títulos que o aplicativo me ofereceu havia também Grande outra vez: como recuperar a América debilitada, de Donald Trump, e Como destruir um país: uma aventura socialista na Venezuela, de Marcelo Suano. São livros que fogem totalmente do meu perfil e que provavelmente eu nunca leria. De acordo com Rodrigo:
“Isso acontece porque você ainda não tinha interagido com o aplicativo, mas quando começar a trocar as opções sugeridas do mês e baixando outros ebooks, nosso algoritmo entende seu perfil para fazer recomendações mais assertivas”
A sugestão de julho foi Uma mente curiosa: O segredo para uma vida brilhante, de Brian Grazer. É… Ainda não tinha dado tempo de o app entender minhas expectativas, então, troquei o título.
Vasculhando no catálogo disponível para a troca (que leva em conta obras de valores semelhantes), baixei Eu sei por que o pássaro canta na gaiola, de Maya Angelou. Vamos ver o que recebo a partir do próximo mês!
Em três anos de estrada, a startup já conquistou reconhecimento no mercado editorial, sendo prestigiada por sua inovação pela CBL (Câmara Brasileira do Livro) e pelo Brazilian Publishers.
Por conta desta consagração, o Skeelo participou da Feira do Livro de Frankfurt em 2021. Este ano, a empresa marcou presença na Bienal Internacional do Livro com um estande bem grande.
Dentro de lojas como Google Play Store e na Apple Store, o app aparece com frequência entre os cinco mais baixados na categoria de livros
Também é o terceiro com biblioteca virtual mais usada no país para leitura de livros digitais, segundo pesquisa de dezembro do Panorama Mobile Time/Opinion Box.
E mesmo bem posicionada, a startup não para de inovar. Este mês, lançou uma loja virtual de ebooks com mais de 60 mil títulos.
A obra adquirida lá, com preços muitas vezes mais competitivos que os da Amazon, fica disponível automaticamente no aplicativo do leitor. Rodrigo comenta:
“Pensamos em focar no B2C porque entendemos que estamos formando leitores dentro do Skeelo. E se depois essas pessoas se interessarem em comprar outros livros que não estão na plataforma, precisamos ter uma alternativa e não perdê-las para a concorrência”
Para o futuro, os empreendedores pensam em estudar o streaming de audiobooks e o setor de livros físicos, que ainda abocanha a maior fatia do mercado. Mas, em termos de resultados, o que importa para eles é a população brasileira ter acesso a livros e mostrar que gosta de ler sim. Só precisa de mais oportunidades.
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