por Aziz Camali Constantino
Sou filho mais velho da terceira geração de uma família empreendedora libanesa, que decidiu vender implante dentário, na época “parafuso”, para colocar na boca das pessoas e impactar na saúde e autoestima. Claro que Administração de Empresas em uma faculdade de “marca” seria o caminho mais óbvio para sustentar um cargo de sucessor.
Não foi bem assim que a banda tocou. Decidi honrar e me nutrir da história dos Constantinos, mas seguir o meu próprio caminho. Ok, mas começando por onde? Minha primeira e única experiência profissional antes de empreender veio do estágio que pedi no aniversário de 18 anos para o meu tio engenheiro.
Ser o “criativo” em uma construtora de um CEO, cético e análitico… Isso daria certo? Comecei como sobrinho do dono mesmo, passei rápido para estagiário de comunicação e, depois, me tornei um “coringa” com foco em comunicar e posicionar o negócio no mercado.
O que ficou dessa primeira e única experiência? Criatividade se escreve no papel: problema de negócio + como resolver + quanto tempo para implementar + investimento + resultado tangível. Trabalhar e me envolver de forma sistêmica no processo de concepção de soluções me encantou de cara. Fiquei por lá por quase quatro anos e participei do reposicionamento dessa empresa e expansão para novos mercados.
Em 2008, no entanto, o teto bateu. Sempre fui visto e valorizado pelo meu lado criativo, flexível e intuitivo. Percebi, então, que tinha duas alternativas para trabalhar nessa área. Uma delas era atuar em agências. Ou seja, pedir briefing para quem precisa de ajuda, gerando solução com foco na própria receita e seguindo processos organizacionais baseados em linhas de produção e não em times de co-criação. Hummm. Não fazia sentido.
A outra seria dedicar-me a consultoria, entregando diagnóstico, seja ele um business plan ou uma apresentação bonita com foco inspiracional. Também não fazia sentido.
“O que eu faço agora?”, era a pergunta que martelava em minha cabeça. Decidi empreender um negócio que fizesse sentido para mim. Assim, em 28 de agosto de 2008 nasceu a consultoria de inovação DZN. Comecei pequeno e frágil, na minha própria casa. Vulnerável a todas as porradas da vida. Sem experiência nem lastro, mas com uma certeza: era preciso confiar no processo!
Isso me trouxe aprendizados, principalmente a partir da dor (que não é necessariamente bonita ou muita gente não teve coragem de experimentar para saber do que se trata). Foram essas as minhas lições:
1) Entendi que empreender de verdade e fazer faculdade junto não rola.
Fosse pelos horários ou pela desconexão de aprendizado (teoria vs prática). A solução, em 2008, foi largar o modelo tradicional e criar minha própria formação, com especializações, imersões, vivências e cursos emergentes. O que me trouxe de resultado? Aplicabilidade do conhecimento no meu negócio, networking estratégico e, consequentemente, novos clientes.
2) Quebrar não é dever para banco, é deixar de acreditar
Pagar o mercado com a ajuda da família, encarar oficial de justiça e cortar todos os custos da vida pessoal para o negócio não atrofiar foi só um pouco do que senti
Porém, foi na escassez que aprendi a valorizar o que tenho.
3) Estar com quem você ama é mais importante do que estar com quem é foda.
Minha metade, que viveu na pele isso tudo, foi a Dea, que largou a realização e status de uma carreira corporativa para viver o nosso sonho de negócio. Glamour? Uma sala sublocada da minha avó na Avenida Angélica, em São Paulo, com microondas emprestado do funcionário e mesa de porta pintada. Eu honro a coragem dela e, principalmente, o seu amor. Ter minha companheira do meu lado nos momentos de medo, dor e solidão foi vital.
Com todos os problemas, não atrofiei. Pelo contrário, desenvolvi a minha intuição, dominei a minha flexibilidade e conheci os meus limites aceitando o meu propósito de vida.
A virada só veio mesmo em 2011, quando abrimos mão de atender grandes marcas que garantiam receita alta e recorrente, buscando um trabalho com mais significado para empreendedores que precisavam de ajuda para crescer e se desenvolverem como negócio.
Foi assim que deixamos o ego de lado e focamos no que a gente realmente acredita: transformação e profundidade. Foram dezenas de histórias de pessoas e negócios transformados e criados pelo Brasil. Fundadores, empresários, sucessores, herdeiros e empreendedores que acreditavam na proposta de valor como alicerce de seus negócios.
Somos vistos como uma utopia por muita gente. Pelo propósito, relações profissionais, transformação humana, profundidade da entrega, impacto do que implementamos e autoconhecimento como base no nosso crescimento e empoderamento do ecossistema empreendedor.
Hoje a DZN é uma alfaiataria de negócios, que oxigena empresas através de seus empresários e participa da construção de startups com significado. Ao longo desses anos, desenvolvemos uma metodologia única que garante assertividade e profundidade nas nossas realizações. Mas qual o segredo? Buscamos a inovação que vem de dentro.
De dentro das pessoas.
E sabe o que eu conquistei com tudo isso?
Não virei um unicórnio: escolhi trabalhar reposicionando empresas familiares e atuando na concepção de negócios baseados em proposta de valor.
Não tenho um rooftop em um prédio corporativo bacana: hoje moro em uma casa na Vila Madalena, com o meu escritório em cima.
Não priorizo só trabalho: a vida me recompensou com a chegada do Bernardo. Se entregar para a paternidade é um privilégio. Viver visceralmente o processo de desenvolvimento do meu filho é emocionante
Parar por aí? Em 2016, chegou um novo chamado. Em paralelo à gestação, eu e Dea decidimos empreender em outra área, a educação. Mas será que cabe? Ter duas empresas sem realização financeira? Mais uma vez, confiamos no processo.
A SKEP nasceu como uma curadoria de aprendizado que desenvolve pessoas em transição de carreira. Uma startup com foco em resgatar o significado de aprender. Essa equação só foi possível com a chegada de mais uma alma fundamental na nossa vida, o David, o cliente que virou amigo e, depois, sócio.
Ele já empreendia na área, tinha o gás para causar impacto, conexão com o nosso propósito e, principalmente, capacidades técnicas complementares. Tínhamos alguém para estruturar a operação e fazer a engrenagem rodar.
Empreender a SKEP foi difícil demais. Ter dois negócios definitivamente é para poucos. Sim, quase desisti. Normalmente, nesses períodos mais frágeis, em que me encontro vulnerável, fico muito atento aos sinais da vida.
Em agosto de 2018, quando o telefone tocou, com um convite para abrir o TEDx RioED contando a minha história, senti que essa mistura de DZN e SKEP não era só o reflexo da minha história, mas o legado que precisava deixar para o mundo.
Com 33 anos, eu aprendi a acreditar:
Em um mundo onde o diferente tem valor,
Onde a resposta pouco importa,
Onde o ego é menor do que o amor pelo outro,
Onde empatia é fundamental para a construção coletiva.
Um mundo que tudo pode, porque todos têm consciência e quando esquecem pedem ajuda.
Um mundo onde o trabalho deixou de ser amortecimento e prioridade.
Onde a ansiedade e expectativa do que vai acontecer amanhã é substituída pelo prazer do agora.
Onde os aprendizados também vêm dos medos e das dores.
Onde o conflito é valorizado como base da evolução.
Sou “presentista” e não futurista. Cultivo, na casa onde vivo, meu empreendimento, minha família e as bases do que acredito para uma nova sociedade. Honro muito o papel de pessoas que canalizam o propósito para impacto e escala, mas eu escolhi ser e estar um alfaiate.
Aziz Camali Constantino, 33, criou em 2008 a DZN para contribuir com a oxigenação de empresas familiares e aceleração de startups com significado. Também é cofundador da SKEP, curadoria que proporciona o futuro da aprendizagem para pessoas em transição de carreira.
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