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Como trocar o caderno por Post-It® ajudou um estudante a passar em 1º lugar em Medicina na USP

Giovanna Riato - 15 mar 2019
Gabriel Mattucci fala de sua estratégia - muito intuitiva e pouco ortodoxa - para fazer a maior pontuação em uma das provas mais concorridas do país.
Giovanna Riato - 15 mar 2019
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Esqueça os cadernos e as boas e velhas anotações nas margens dos livros. Há outras formas de estudar e aprender a serem exploradas. A prova disso é o estudante Gabriel Mattucci, 17, que realizou a proeza de passar em primeiro lugar em um dos vestibulares mais concorridos do Brasil: o curso de Medicina da Universidade de São Paulo no campus de Bauru, no interior do estado. O feito foi conquistado sem nenhuma tentativa frustrada ou necessidade de fazer cursinho. Foi de primeira, da escola para o ensino superior. Ele entrega um dos segredos do sucesso:

“Eu percebi que escrevia as coisas no caderno e que não lia depois. Decidi anotar menos, em Post-Its. Sintetizar os conceitos em papeis tão pequenos me fazia compreender a matéria”

O método nada ortodoxo foi criado pelo próprio Gabriel, que diz nunca ter participado das tão comuns sessões de design thinking e braistorm que usam os Post-It ou estudado formatos de construção de conteúdo e ideias com os blocos de recado. Tudo aconteceu de forma intuitiva mesmo. Assim, ele garantiu a melhor nota entre os estudantes que fizeram a prova pelo Sisu, Sistema de Seleção Unificada (Sisu), do Ministério da Educação (MEC). O estudante também foi aprovado na Faculdade de Medicina da USP em São Paulo – onde ele escolheu estudar no fim das contas. Era uma relação de 135,7 candidatos por vaga.

Gabriel confessa que quando começou o ensino médio, em 2016, ainda não sabia muito bem para qual curso iria se candidatar no vestibular. “Pensava em Medicina, mas também gostava de Economia e Psicologia. Estava com muita dificuldade para decidir”, disse, mostrando uma ansiedade comum aos adolescentes que precisam tomar uma decisão tão importante.

Apesar de não saber ao certo qual seria a sua escolha de carreira, Gabriel entendeu na época que precisaria intensificar os estudos para escolher com alguma tranquilidade a faculdade que bem entendesse.

“Sempre fui bem na escola, mas só isso não iria me garantir o vestibular. Eu não tinha mais margem para erro – principalmente se quisesse passar em medicina”

O MÉTODO: MUITOS POST-ITS E HORAS DE ESTUDO

Um tanto caótica, mas muito funcional, a parede do quarto de Gabriel acumulou as anotações dele durante o ensino médio.

Quando entendeu que o caderno não era lá muito útil para ele e passou a escrever tudo em Post-Its, Gabriel começou a anotar nos blocos coloridos durante as aulas. Colocava apenas uma ideia-chave, um tópico e o que ele significava. “Eu percebi que o ensino médio tem muita revisão de conteúdo que já aprendemos, coisas que eu lembrava. Decidi focar no que era novo, nas coisas que eu precisava aprender.”

Todos os dias ele chegava em casa com uns 10 novos Post-Its preenchidos e grudava cada um dos papéis na parede do quarto. A regra era colocar de forma aleatória, nada de aglutinar por data, matéria ou assunto. Gabriel se entendia nesse caos. “Eu fazia a revisão do conteúdo de uma coluna de Post-Its por dia, além de alguns exercícios”, conta. Um assunto puxava o outro e, no fim, dessa forma ele revisitava muitos temas.

Nessa brincadeira iam três a quatro horas de estudo sempre depois da escola particular em que estava matriculado, em Sorocaba, durante os três anos do ensino médio. No começo os amigos e professores estranharam a estratégia, diz. A desconfiança acabou à medida que as notas iam melhorando e ele provava seu ponto.

Assim, além do método um tanto quanto inovador, ele recorreu a um recurso bem comum entre quem precisa acumular conhecimento: consistência. Gabriel reconhece que não bastaria só anotar as matérias de um jeito mais eficiente e grudar tudo no quarto se ele não dedicasse horas (e anos) a entender tudo o que aquilo significava. Conforme a prova se aproximava, ele intensificou ainda mais o processo. Em dezembro, antes da primeira fase da Fuvest, chegava a estudar 12 a 13 horas por dia.

E SE A ANSIEDADE ATRAPALHAR TUDO?

Só no terceiro ano do ensino médio, Gabriel diz ter realmente decidido que faria Medicina. O tempo todo, o plano dele era ficar seguro para conseguir sentar diante da prova no dia do vestibular e fazê-la com tranquilidade, consciente de que tinha o conhecimento necessário. As coisas, no entanto, não aconteceram exatamente como o planejado.

“Eu sempre sofri um pouco com ansiedade. Perto do vestibular cheguei no ápice. Na noite anterior eu não dormi nada”

Ele achou que foi bem no primeiro dia de prova, mas sentiu que falhou no segundo. “Estava sem foco, muito cansado. Errei algumas perguntas de matérias que eu costumava gabaritar nos simulados, como Química”, conta. Foi para casa meio frustrado, certo de que tinha dado errado. No dia do resultado oficial foi acordado pela mãe avisando que tinha passado. “Não acreditava. Acho que não acredito até hoje”, brinca.

Depois da vitória, Gabriel tomou fôlego, descansou um pouco no começo deste ano e começou as aulas na USP em março. A mudança é grande: saiu da casa dos pais e foi morar em São Paulo. Parece que o esforço todo valeu a pena: “Me senti acolhido na universidade. Os veteranos foram muito legais e a estrutura da faculdade é ótima”, diz. O futuro médico ainda não sabe se os Post-Its vão dar conta de tudo o que ele precisa aprender pelos próximos anos mas certamente o ajudarão a organizar o seu dia a dia. “Agora não tem revisão, né? É tudo conhecimento novo”, diz. Se não funcionar não tem problema. Gabriel inventa outro jeito e vai em frente.

 

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