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Como o Observatório do Terceiro Setor amadureceu junto com o nicho de mercado que escolheu cobrir

Marina Audi - 29 mar 2018 De olho nas mudanças do mercado, Joel Scala trabalha pra tornar o Observatório do Terceiro Setor um negócio sustentável.
Em busca de expandir a atuação, Joel Scala abre o leque do Observatório do Terceiro Setor para os negócios sociais.
Marina Audi - 29 mar 2018
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E quando lhe dão a tarefa de entrevistar um igual? Um profissional que, assim como você, atua em um veículo de comunicação que ocupa um nicho importante no mercado jornalístico. Desafio posto, desafio aceito. A conversa com Joel Scala foi isso. Ele é diretor executivo do Observatório do Terceiro Setor, única plataforma de mídia no Brasil que se dedica exclusivamente a mostrar o trabalho das organizações de interesse social, ou como o próprio nome diz, do Terceiro Setor – que reúne ONGs, fundações e outras instituições da iniciativa privada sem fins lucrativos.

Os conteúdos produzidos ali abordam direitos das minorias políticas, educação, meio ambiente, defesa de animais etc. Temas desconfortáveis para muita gente e ausentes da mídia tradicional, como ele fala:

“Somos o espelho que diz ‘esse é o seu país’ para quem prefere não encarar a realidade e viver no maniqueísmo achando que ou está tudo ótimo ou tudo está errado”

Agrupados na plataforma estão um portal na web (que recebe 100 mil visitantes por mês), três canais de mídias sociais (com mais de 213 mil fãs no Facebook, 32 mil seguidores no Instagram e 1 500 assinantes no Youtube), dois programas de rádio (o Observatório do Terceiro Setor, ao vivo, duas vezes na semana, na Trianon AM 740 e O Olhar da Cidadania, com entrevistas e enfoque nos direitos humanos, uma vez na semana, na Rádio USP) e um programa semanal na TV aberta, com reestreia marcada para início de abril, nos canais 9 da NET, 8 na Vivo Fibra e 186 na Vivo.

Joel não vê concorrentes à sua plataforma, e considera isso ruim. “Ter um contraponto para mensurar onde estamos, talvez nos tornasse melhores e nos fizesse crescer mais rápido”, diz.

Por outro lado, o ineditismo da proposta faz o Observatório estar bem posicionado na busca orgânica do Google e ser conhecido fora do país. Segundo o diretor executivo, gente de 173 países (em sua maioria, pessoas de origem brasileira) acessa os conteúdos produzidos aqui, se engaja nas mídias sociais e fez a audiência online crescer 350% em 2017. Esses números refletem um movimento ascendente do Terceiro Setor, desde 2005. Atualmente, há no país 33 milhões de voluntários e 391 mil organizações sem fins lucrativos, que geram 1,7 milhão de empregos e têm participação oficial de 1,4% no PIB, de acordo com o IBGE. O nicho já não é assim tão pequeno, como dá para perceber.

ELE QUERIA UMA MÍDIA LIVRE. CRIOU A SUA

O Observatório do Terceiro Setor nasceu em 2012, como extensão de um antigo desejo de Joel: conseguir independência editorial para falar sobre temas socialmente relevantes, sem ser censurado ou repreendido pela baixa audiência. Ele cita um exemplo (aos risos): “Uma das reportagens mais interessantes que fiz foi a de um cão-terapeuta, utilizado no Instituto de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da USP. Ele ficou o tempo inteiro do meu lado e me desconcentrou”.

Joel e as convidadas Ana Paula Rogers e Débora Prado em um dos programas de rádio do Observatório do Terceiro Setor.

Depois de se formar em Jornalismo pela Cásper Líbero, Joel atuou 15 anos em meios de comunicação tradicionais, área da qual “se cansou” por ter de falar sempre sobre os mesmos assuntos e com as mesmas pessoas .

Então, em 2001, assumiu a gerência de comunicação da FIA (Fundação Instituto de Administração) e se tornou consultor de outras fundações ligadas à USP. Ali, encantou-se com o ambiente do Terceiro Setor. À certa altura de 2011, em uma dessas fundações, a FUNASP (Associação Científica e Cultural das Fundações Colaboradoras da USP), um grupo multidisciplinar identificou sérias dificuldades de comunicação no setor e pediu a ajuda a Joel. Assim, começou a iniciativa de criar o programa de web TV Falando em Fundações. Em seguida, o programa migrou para o rádio, na Trianon AM.

Motivado pela riqueza de histórias e personagens anônimos que movimentavam as ações sociais e começavam a ganhar voz, Joel decidiu montar um “projeto fechado” de um instituto que fosse independente e financeiramente sustentável:

“Não pensei em ganhar dinheiro. Pensei em fazer uma coisa legal e da qual gostasse”

A ideia era dedicar sua expertise para divulgar boas práticas das organizações e também capacitar as milhares de pessoas atuantes no Terceiro Setor. Cinco fundações – FDTE, FIA, FIPE, FUNASP e FUNDECTO – se interessaram em financiar o projeto e se tornaram parceiras. Por questões contratuais, Joel não divulga o montante investido na estrutura inicial e nem o custo mensal da operação. Diz apenas que, por um bom tempo, ele fez tudo sozinho e, apesar da crise financeira, todos os parceiros renovaram os contratos para 2018, por um valor reajustado… para baixo.

Uma das campanhas da série Eu me Importo, do Observatório, sobre crianças vítimas de abusos.

Joel se diz avesso a personalismo e afirma que o Observatório é um trabalho coletivo: além dos nove colunistas voluntários, há oito colaboradores, sendo quatro deles estagiários que também apuram e escrevem matérias.

Como os assuntos fluem soltos, cabe mais uma provocação: qual das muitas funções que executa é a mais difícil, aquela em que ele cometeu mais erros? Joel toca várias frentes no instituto, afinal, tem função executiva, é apresentador dos programas, cria campanhas como a Eu me importo (em favor de grupos vulneráveis, como refugiados, crianças vítimas de abusos e pessoas com deficiências), promove cursos de formação de agentes sociais e faz o marketing da plataforma.

Depois de uma autorreflexão, ele diz que ser gestor é o mais complicado e confessa o que considera um grande erro estratégico: ter ido para internet somente no segundo semestre de 2014, com o barco navegando já há dois anos. “Eu sou da geração pré-internet… Se tivesse ido para web desde o início, teria o dobro do tamanho!”

NÃO SE PERDE O TIMMING DO MERCADO DUAS VEZES

Sem intenção de perder outra tendência importante do mercado, ele diz que o Observatório está prestes a alterar seu modelo de negócio. Sem deixar de ser um instituto, passará a dialogar também com o Setor 2.5 – formado por empresas que, em sua constituição jurídica, têm, ao mesmo tempo, fins lucrativos e objetivos sociais inclusivos (no Draft, são perfilados na seção Negócios Sociais). Em termos práticos, diz, ele e sua equipe poderão firmar mais parcerias em eventos, criar projetos customizados e também trazer reportagens sobre essas empresas. Ele conta sobre o que espera desse novo caminho:

“O grande desafio do Terceiro Setor é transformar o Estado brasileiro em um Estado de Bem-estar”

E prossegue: “Mostrar mais histórias de negócios que têm missão de gerar um impacto social, nos ajudará nisso”. O primeiro passo já foi dado: uma parceria com o Civi-co (coworking voltado para organizações com projetos de impacto cívico-social) fornecerá toda a infraestrutura para gravação dos programas atuais. Com o acordo, a transmissão na TV aumentará seu tempo de duração, ganhará novos quadros e passará a ter participantes fixos.

Segundo as projeções de Joel, essa mudança de modelo fará com que o Observatório do Terceiro Setor fature, pela primeira vez em cinco anos, entre 1,5 a 2 milhões de reais, em 2018. “Essa é a fase de consolidação. Iremos, gradativamente, para o mercado”, diz. E que o mercado cresça e amadureça junto.

DRAFT CARD

Draft Card Logo
  • Projeto: Observatório do Terceiro Setor
  • O que faz: Plataforma de mídia focada no terceiro setor
  • Sócio(s): Não há sócios, por ser um instituto. Joel Scala é o presidente
  • Funcionários: 8
  • Sede: São Paulo
  • Início das atividades: 2012
  • Investimento inicial: NI
  • Faturamento: R$ 1,5 a 2 milhões (previsão para 2018)
  • Contato: [email protected] e (11) 2476-9531/ 9532
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