O ano de 2000 foi um marco para o ingresso de jovens brasileiros ao mercado de trabalho. A partir daquele ano, a entrada em vigor da lei que regulamenta a atividade de Jovem Aprendiz permitiu que qualquer empresa de médio e grande porte pudesse contratar pessoas de 14 a 24 anos como aprendizes.
Hoje, a legislação trabalhista determina que empresas com sete ou mais funcionários devem empregar entre 5% a 15% de aprendizes. Essa, porém, não é uma regra fácil de ser cumprida, especialmente pela indústria.
“Muitas companhias não encontram mão de obra qualificada nas áreas que realmente precisam. Por falta de opção, acabam preenchendo as vagas em atividades administrativas”, explica o engenheiro de produção Carlos Alberto Pereira Coelho, diretor da escola SENAI Mario Amato, em São Bernardo do Campo.
Com 7 mil alunos distribuídos em 38 mil m², entre salas de aulas, laboratório e espaços de convivência, o complexo da cidade do ABC paulista é um centro de referência nas áreas de Química e Plásticos — uma das unidades do SENAI que mais fazem brilhar os olhos de aspirantes a aprendizes em todo o país.
No SENAI Mario Amato, esses jovens encontram desde cursos técnicos até pós-graduação em seus respectivos segmentos. “O programa Aprendiz Industrial começou há dois anos e tem sido bastante valorizado pelas empresas, o que estimula a criação de empregos da região”, diz o diretor.
Mão de obra super qualificada
A infraestrutura da unidade é um bônus em relação a outros cursos técnicos, permitindo ao aluno vivenciar na prática tudo o que aprende na teoria. “Os jovens são atraídos pela qualidade da formação, o que garante postos de trabalho em diversos setores das indústrias química e de polímeros.”
Segundo o diretor, o sistema educacional oferecido no SENAI Mario Amato tem beneficiado tanto os alunos quanto a indústria, amenizando de forma acentuada a dificuldade de cumprimento das cotas de aprendizes. “As empresas nos visitam diretamente. Conhecem nossas instalações, os estudantes e explicam o tipo de vaga que necessitam.”
Após os dois anos de contrato, completa, os aprendizes costumam ser contratados na função de técnico ou analista pela mesma companhia onde atuaram como aprendizes. “A maioria segue carreira, prosseguindo os estudos de graduação nas áreas de estreia com a aprendizagem”, diz o diretor, que aponta a tecnologia e os laboratórios do SENAI como diferenciais de mercado: “Graças a isso, as indústrias sabem que têm à disposição aprendizes super qualificados.”
Os alunos, por sua vez, têm a oportunidade de inclusão social com o primeiro emprego, desenvolvendo competências para o mundo do trabalho. “Os jovens vivenciam a realidade de uma fábrica. E levam no currículo o nome e a reputação do SENAI”, diz.
Um futuro conectado à química
Todos esses atrativos despertaram a atenção de Rayssa Ferreira da Silva, de 18 anos, aluna do curso Técnico de Química, para a unidade Mario Amato. “O maior orgulho de um aprendiz é poder estudar e trabalhar na área”, comemora. Rayssa conta que apenas uma semana depois de ter ingressado no programa de aprendizagem, foi contratada por uma empresa química da região. “Meu pai, que também fez SENAI, ficou muito orgulhoso.”
Entretanto, quem observa a alegria da jovem não imagina o caminho árduo para realizar seu sonho.
“Em 2017, primeira vez em que fiz o teste para ingressar, eu não passei. Chorei muito, fiquei extremamente decepcionada”, conta. Rayssa acabou entrando em outra escola técnica — mas não havia desistido do SENAI. “Redobrei os estudos em química, física, biologia, matemática e português. Respondi com mais tranquilidade as 60 questões da prova e fui admitida!”
Hoje, a rotina da jovem que mora na cidade de Mauá começa bem cedo. De segunda a sexta, das 7h30 às 11h30, ela frequenta as aulas em São Bernardo. Depois, segue direto para a empresa, que fica em Santo André, onde cumpre uma carga horária de quatro horas diárias como aprendiz. No SENAI, ela tem acompanhamento de todas as atividades, tanto as acadêmicas, quanto as do programa na indústria. “Sinto-me acolhida e bem orientada”, afirma.
De acordo com Rayssa, a experiência tem respondido a todas as suas expectativas e ela se diz satisfeita com a dinâmica das aulas, que valorizam bastante a prática nos laboratórios de química.
“A turma de 35 alunos é dividida pela metade. Uma parte em sala e a outra com a ‘mão na massa’”, diz Rayssa. No começo do semestre, a jovem estava super ansiosa para usar todos os recursos de equipamentos e produtos que via pelo vidro dos laboratórios. “Depois, entendi a importância da teoria na hora de aplicar nos experimentos.”
A adolescente é contratada em regime CLT, tem vínculo empregatício, alguns benefícios e um contrato de dois anos, coincidindo com o início e término do curso, como é de praxe na aprendizagem industrial. Assim que essa etapa for cumprida, Rayssa já faz planos para o futuro — e todos envolvem a paixão pela ciência.
“Desejo fazer faculdade de química ambiental e depois me especializar em química biológica”, diz. “Uma pós no exterior também está em meus projetos.” Em química, é claro.