A pecuária costuma ser uma das atividades consideradas “vilãs” da sustentabilidade. Polêmico, o setor é considerado o principal vetor de desmatamento da Amazônia, uma vez que há impactos irreversíveis causados pela expansão da criação bovina em áreas florestais. Entretanto, alguns pecuaristas decidiram começar a se mobilizar para construir um cenário de produção de carne com mais respeito aos recursos naturais e ao ambiente.
O GTPS (Grupo de Trabalho da Pecuária Sustentável (também conhecido como Mesa Brasileira de Pecuária Sustentável) é uma entidade que junta seis elos da cadeia de produção de carne bovina: produtores rurais, empresas de insumos e serviços, indústrias, varejos e restaurantes. Em 2023, eles tem uma missão: implantar com uma visão unificada metodologias e melhores práticas em projetos de baixa emissão de carbono por toda a cadeia produtiva e de insumos do setor. Em março deste ano, o GTPS inaugurou um novo subgrupo, o GT do Clima.
Para Gracie Verde Selva, coordenadora do GT de Clima do GTPS, e gerente executiva da Minerva Foods, estes primeiros meses serviram para “nivelamento de conhecimento”, uma vez que muitos dos participantes não tinham contato com a área de sustentabilidade. Definidos os conceitos e o conteúdo, o grupo apresentou os resultados em um relatório. Mas agora o objetivo é colocar em práticas as metodologias e ferramentas de apoio para o cumprimento de metas.
“Partimos para um trabalho pensado no futuro, com o que queremos dos associados do GTPS para estarmos mais alinhados com a pauta de redução das emissões. Criamos diretrizes e práticas tanto para o setor de insumos quanto para o produtivo”.
Essas “ambições” diferem de acordo com os setores envolvidos, com diferentes níveis de planos de descarbonização, trazendo metas, prazos, auditoria e a sugestão da utilização da Iniciativa de Metas Baseadas em Ciência (SBTI, na sigla em inglês), que exige um nível de compromisso mais alto.
Segundo Selva, o setor produtivo pecuarista ainda tem empecilhos para implantar o uso de SBTI, por ser mais rígido. “É custoso, demanda tempo”, explica. Desta forma, o próprio GTPS servirá de plataforma para apoiar os pecuaristas na implantação de plano de trabalho ou inventário. Assim, o produtor consegue saber o que e quanto está sendo emitido de carbono, permitindo o planejamento de melhores práticas.
IMPLANTAÇÃO POR SETORES
A executiva explica que a indústria já tem implantada essa mentalidade de utilização de indicadores. “Para o produtor rural é mais desafiador, temos associados que estão ligados ao tema, e outros não. A ideia é apoiar os participantes do setor na implantação das melhores práticas. Mas precisamos medir e monitorar para comunicar ao mundo o progresso”, diz. Isso foi feito com a entrega de um termo de compromisso assinado pelos representantes dos setores do GTPS. Ela ressalta que não há um viés punitivo, mas de estímulo.
Segundo Gracie Verde Selva, em geral, os associados do grupo “já estão no nível muito alto”, mas precisam de dados para comunicar melhor o que está sendo feito.
“Todo mundo já entende, só não sabe como fazer. O grande problema é conhecimento técnico para a metodologia do inventário e remoções. Tem que entender o que está sendo sequestrado [de emissões] a partir das boas práticas”, coloca. Na Minerva, diz a executiva, as práticas com pecuaristas parceiros já são adotadas.
“De forma geral, é um tema muito quente e todo mundo quer entender mais, principalmente porque a gente está vendo o surgimento desse mercado de créditos de carbono, que tem tido grande destaque nos diálogos”.
No setor agropecuário, argumenta ela, agora há a metodologia e projetos com essa iniciativa, que a executiva julga ter “grandes chances e oportunidades” para resultados. Selva lembra que o GT do Clima no GTPS ainda está em estágio inicial, mas coloca: “Todo mundo entende a necessidade, e esse tipo de conversa só terá mais cobrança no dia a dia. Há um interesse muito grande de compreender e aplicar isso”.
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