É notório: o brasileiro em geral mantém distância da Bolsa de Valores. Segundo a B3 (antiga BM&FBovespa), no fim de janeiro havia 620 mil investidores cadastrados como Pessoa Física – sendo que quase 75% são do sexo masculino. Um número proporcionalmente inexpressivo em uma população que ultrapassa 200 milhões.
Esse quadro ainda se mantém mesmo com os resultados ínfimos da poupança e de outros produtos de renda fixa, que amargam rendimentos magrinhos num cenário de seguidos cortes na taxa de juros – no dia 7 de fevereiro, o Comitê de Política Monetária (Copom) cortou a Selic pela 11ª vez consecutiva, para 6,75% ao ano.
Para perder de vez o receio e começar a investir na Bolsa, o caminho é se informar e definir objetivos, diz Fábio Macedo, gerente comercial da Easynvest. “Muita gente acha que o mercado é ruim porque não se preparou para investir em ações. Com alguns cuidados simples, você pode ter bons resultados no médio e longo prazo.”
Investir em ações é mesmo “muito arriscado”?
Depende muito da forma como você investe. Se entrar almejando resultados de curtíssimo prazo, o risco será alto porque não há como imaginar como será o comportamento do mercado em vinte, dez ou mesmo cinco dias. Mas se você entra com objetivos de médio-longo prazo, e fazendo um trabalho inicial de estudar e entender as melhores oportunidades, então não é tão arriscado, não.
E não precisa ser nenhum expert para fazer esse estudo inicial. Por exemplo, há pessoas que entram no mercado de ações almejando o pagamento de dividendos, a distribuição do lucro que a empresa faz de acordo com o resultado que obteve. E na plataforma da Easynvest, temos relatórios de analistas que garimpam no mercado quais são as empresas que pagam melhores dividendos. E se pagam é porque têm lucros recorrentes, e se têm lucros recorrentes é porque o negócio é saudável…
Quais os erros mais comuns dos investidores iniciantes?
O primeiro erro: muitas vezes, a pessoa vai no “efeito manada”: ela ouviu que algum conhecido ganhou dinheiro e entra no mercado sem o menor conhecimento sobre o assunto. Frequentemente, essa pessoa acaba se dando mal porque não pesquisou, não definiu seus objetivos.
Outro erro comum: não avaliar sua disponibilidade financeira e alocar parte dos recursos que você vai precisar para pagar uma conta ou para alguma emergência. O recurso aplicado na renda variável tem que ser aquele de longo prazo. A falta de planejamento faz as pessoas resgatarem o investimento antes de um período de maturação – e aí, se dão mal.
Terceiro erro: não avaliar os riscos do mercado (e, de novo, isso não é complexo!). Um exemplo: comprar ações de uma empresa de transportes, impactada de forma ainda mais intensa pela alta da gasolina, num momento em que a Petrobras está fazendo constantes aumentos de combustíveis. Se você não estudar antes para saber o que está comprando, pode ser pego de surpresa por outros fatores, com prejuízos no médio prazo.
Quais as alternativas mais simples para quem quer entrar no mercado, mas ainda não tem conhecimento?
Hoje existem os ETFs [Exchange Traded Funds], fundos que têm cotas negociadas em bolsa. Há ETFs que replicam a alta do índice da Bolsa. Então se a pessoa não quiser comprar uma ação específica, mas quiser estar exposta à alta da Bolsa, pode comprar um único ativo que replica exatamente a alta dos índices. É uma maneira barata e super simples de estar exposto à variação do mercado sem ter que conhecer “tudo” a respeito dele ou sobre cada empresa que compõe o índice. Basta fazer uma análise macro e, avaliando que a Bolsa vai subir, comprar um único ativo.
E que outras dicas você pode dar para quem quer começar a investir?
A primeira dica é: abra uma conta numa corretora. Isso é muito mais simples e rápido do que imaginam.
A segunda dica é: não pense que ações são um investimento só para quem tem muito dinheiro. Hoje, o acesso a esses produtos é muito democrático, as pessoas conseguem diversificar suas carteiras de investimentos com poucos recursos.
Terceira dica: leia. É muito importante que as pessoas pesquisem antes de fazer qualquer movimento. No Blog da Easynvest há uma série de conteúdos explicando como fazer para investir, quais são os riscos, além de relatórios sobre a situação econômica do país e a situação financeira de empresas específicas.
Quarta dica: estabeleça muito bem as suas metas. Tenha um prazo para deixar o dinheiro rendendo. E tenha objetivos na entrada e na saída. Vamos supor que você comprou uma ação e estava disposto a ficar nesse ativo por dois anos, mas tinha um objetivo de rentabilidade de 20%. Se você atingiu essa rentabilidade num período muito rápido, pode ser o momento de sair dessa posição.
Aqui vale também o que a gente chama de “stop loss” [interromper perda, em tradução livre]. A ação hoje está em 15 reais e você acha que chegará a 20. Mas pode ser que você tenha feito uma análise errada, e a ação caiu para 10. Então é preciso ter esse objetivo de saída para entender se eventualmente chegou num ponto de perda em que é melhor vender do que ficar amargando esse prejuízo.
E uma quinta dica: reveja as suas metas periodicamente. Porque as mudanças do cenário ocorrem e você precisa readequar a sua carteira.
No longo prazo dá pra dizer que investir na Bolsa pode ser mais seguro do que em renda fixa (uma vez que a segurança relativa da poupança, por exemplo, não compensa em termos de rendimento)?
É uma boa pergunta. O que está acontecendo? Até pouco tempo atrás, como nós tínhamos uma taxa de juros muito alta, muitas vezes não valia a pena correr o risco de investir na Bolsa porque você tinha uma rentabilidade bastante elevada na renda fixa, de 12%, 13%, 14% ao ano. Agora, o cenário mudou. Para manter níveis de remuneração de até pouco tempo atrás, é preciso correr um pouquinho mais de risco. Então a diversificação de investimentos como um todo ela veio para ficar.
Nos Estados Unidos, um mercado mais maduro que o nosso, os investimentos em renda variável são muito maiores do que os em renda fixa. E com essa queda da taxa de juros, o cenário todo melhora. Porque o custo da dívida das empresas vai diminuir, e com taxa de juros menor as pessoas conseguem tomar mais crédito, conseguem consumir mais, e assim a indústria gira de uma maneira mais simples e consequentemente as empresas registram lucros melhores. É um círculo virtuoso.
Então, sim, acredito que no médio, longo prazo, os investimentos em renda variável vão apresentar rentabilidades superiores aos investimentos em renda fixa – e do que a poupança, com certeza!
Existe parâmetro para médio e longo prazo, quando se fala em renda variável?
Entre um e dois anos eu diria que seria médio prazo. Acima de dois já começa a falar de longo. Mas não existe uma regra. Até porque depende muito do ativo, do contexto, do perfil do investidor…
Para quem é leigo, é muito importante dizer que não dá para colocar todo o dinheiro numa única estratégia: “ah, vou aplicar tudo em renda variável agora”. Não é assim!
E, de novo, estabeleça objetivos. Se daqui a seis meses você quer trocar de carro, não coloque o dinheiro em ações, porque é um mercado mais volátil. Se daqui a um ano você vai precisar do dinheiro para uma viagem… Já é um prazo melhor, mas ainda curto. Agora se a ideia é investir para a aposentadoria, daqui a dez, vinte, trinta anos… Aí sim, vale a pena você pensar na renda variável.