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Como realizar um TEDx? Edição de Campinas é feita por voluntários para gerar inspiração

Giovanna Riato - 22 maio 2019
Mario Gioto conta como realiza o evento sem cair nas armadilhas do empreendedorismo de palco ao priorizar a inspiração que vem acompanhada de ação.
Giovanna Riato - 22 maio 2019
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Colocar no palco as ideias que merecem ser espalhadas. É neste conceito simples, quase intuitivo, que se baseia o TED, a organização sem fins lucrativos realizadora das palestras que condensam alto impacto em poucos minutos. Tudo começou nos Estados Unidos e, de tão certo que deu, ganhou vozes nos mais diversos idiomas e países ao longo dos anos, incluindo o TEDxCampinas, uma das edições de destaque do evento no Brasil. “Em abril, reunimos 800 pessoas e esgotamos a venda de ingressos em três horas”, conta Mario Gioto, 32, que realiza o encontro do interior paulista.

Esta foi a segunda vez que ele colocou o TEDxCampinas de pé, patrocinado pela 3M. Como as coisas foram bem, as ambições cresceram: no próximo evento, em 2020, o plano é reunir 2,5 mil pessoas. Ele fala do propósito que tem no projeto:

“A minha busca é por colocar as grandes ideias em um pedestal, por convidar para o palco as pessoas que têm histórias capazes de inspirar quem assiste a agir na sociedade”

Este interesse por fomentar a ação é algo que Mario vem desenvolvendo há algum tempo. Nascido no Mato Grosso do Sul e criado na Bolívia, decidiu voltar para o Brasil aos 17 anos para fazer faculdade. Estudou Engenharia, concluiu MBA em Gestão Estratégica e desenvolveu carreira no mundo corporativo. Era a trajetória perfeita de sucesso, exceto por uma pulga atrás da orelha que começou a ficar cada vez mais incômoda: “Aos 28 anos vi que tinha deixado tudo para trás na Bolívia e passado anos realizando coisas importantes apenas para mim, mas que não tinha feito nada pela sociedade.”

Naquela época resolveu começar um projeto para romper a própria bolha e se conectar a outros grupos. Ele passou a estudar temas completamente distantes da própria realidade e a contar on-line o que tinha descoberto. Aprendeu sobre câncer de mama, islamismo, trabalho doméstico, entre outros. “Estudava um assunto por mês e, assim, me aprofundei em 12 temas ao longo de um ano”, conta.

QUE TAL INSPIRAR MAIS GENTE?

O projeto despretensioso de Mario acabou gerando convite para que ele fizesse uma apresentação no TEDxUFSCar, em São Carlos. “Tinham gostado da minha ideia e queriam espalhar”, diz. Para criar a palestra, ele precisou estudar mais sobre o TED, entender o formato e o propósito do projeto. “Me apaixonei por esta busca por inspirar as pessoas a agirem”, conta. Nesse processo, descobriu sobre o TED global que aconteceria em Vancouver, no Canadá. “Aquele era o ápice, as melhores ideias do mundo estariam ali, mas algo completamente distante da realidade. O ingresso custava milhares de dólares, fora o preço de da viagem”, diz.

Já que não dava para acompanhar tudo ao vivo, em 2017 descobriu outra possibilidade: se juntou ao time de tradutores voluntários das palestras do evento, os TED Translators. É um grupo global que assiste às apresentações e cria as legendas em diversos idiomas – mais um componente importante para garantir expansão global às ideias. “Dedicava em torno de 5 horas para traduzir uma palestra, mas era recompensador saber que agora milhões de brasileiros teriam acesso àquelas ideias”, lembra.

Pelo trabalho voluntário como tradutor do TED, Mario foi convidado a participar do evento global da organização, no Canadá.

Depois de meses de trabalho, tomou um susto ao receber um e-mail da organização do TED para participar do tal evento global. Iria com tudo pago fazer parte da plateia, mas também tinha a missão de traduzir com antecedência o conteúdo de uma das principais apresentações: a do papa Francisco. Topou o desafio e embarcou para o Canadá.

“Meditar no topo de uma montanha com pessoas do mundo inteiro, fazer um workshop com o criador dos modelos de Star Wars, Adam Savage, e assistir às palestras de Serena Williams, Elon Musk, Jorge Drexler e Ingrid Bettancourt ao lado de pessoas como Simon Sinek e Al Gore. Foi uma semana incrível”, conta, destacando o caráter um tanto quanto surreal de ter algo em comum com o ex vice-presidente dos Estados Unidos. Ele conta que, ao ser convidado para estar ali, teve a clara sensação de que fazer algo pela sociedade, agir pelos outros, se paga de alguma forma no longo prazo.

Na volta para o Brasil, teve o desejo de que as pessoas pudessem sentir o que ele sentiu naquela semana. Mario decidiu arregaçar as mangas e construir um palco para espalhar as boas ideias: o TEDxCampinas.

TRABALHAR DE GRAÇA PARA INSPIRAR PESSOAS

Olhando só para os resultados parece simples, mas Mario diz que realizar um evento licenciado pelo TED é um processo um tanto quanto desafiador. A começar pela remuneração: todo o trabalho é voluntário – é uma organização sem fins lucrativos, lembra? “Tenho um time de 15 pessoas e todas estão ali porque acreditam no projeto. Muitos têm um emprego das 8h às 18h, então nos dedicamos e construímos tudo à noite, nas madrugadas e fins de semana”, conta.

Segundo Mario, não é tão complicado conseguir a licença do TED para realizar eventos menores, para até 100 pessoas da comunidade. Mas para fazer encontros grandes, com mais escala, o processo fica complexo. “Tive que passar por entrevista para ser aprovado e, na realização, há uma série de complicadores”, diz. Ele enumera um dos exemplos: é essencial ter patrocínio para tornar o evento viável, mas ao mesmo tempo há uma regra que proíbe a divulgação dos apoiadores nas redes sociais, o que torna muito mais difícil atrair marcas. “Por sorte, encontramos a 3M, que decidiu investir por acreditar no poder de compartilhar ideias e construir de forma colaborativa.“

A edição de 2019 do TEDxCampinas contou com público de 800 pessoas e teve Marcio Ballas como mestre de cerimônia.

COMO ESCOLHER QUAIS IDEIAS MERECEM SER ESPALHADAS?

Entre um desafio e outro, Mario e o time de voluntários conseguiram realizar a primeira edição em 2018 e a segunda em abril deste ano. Um objetivo pessoal dele no TEDxCampinas é passar longe de uma epidemia que se espalha pelos eventos no Brasil: o empreendedorismo de palco. “Tenho uma questão muito pessoal com isso. Acho desonesto palestrantes que apostam em gatilhos mentais para gerar aquela motivação momentânea, vender algo que não existe”, diz. Para evitar ceder espaço para palavras vazias, Mario conta que só coloca no palco gente que, de fato, realizou alguma coisa:

“Inspiração sem ação não funciona para nós. Não procuramos grandes palestrantes, queremos colocar no palco as pessoas que fizeram acontecer em uma comunidade, em um laboratório ou em uma empresa e, por isso, têm o que contar”

Mario diz que o esforço é por desconstruir o conceito de que as novas ideias surgem de forma mágica, em um lampejo, para mostrar que a criação faz parte de um processo: “A inspiração acontece quando uma ideia se une a nossa única e extensa bagagem de vida e novas conexões surgem”, diz. Segundo ele, na maioria das vezes não é quem tem a melhor oratória ou a apresentação mais bonita que faz sucesso no evento, mas as pessoas que contam sobre os projetos que mais transformam a forma de pensar.

De tanto esforço para inspirar pessoas e espalhar novas ideias, Mario acabou decidido por promover uma mudança na própria vida. “Em 2019 deixarei meu cargo atual para me abrir a novas opções de atuação na sociedade”, conta. Ele diz que um motor importante para a mudança é o fato de que está prestes a se tornar pai. “Será um ano de muita descoberta”, diz.

Mario ainda não decidiu o que fará nesta nova fase além do trabalho voluntário para realizar o TEDxCampinas. “Tenho alguns meses para decidir e, neste período, quero me conectar com as pessoas e corporações, me manter em um período de expansão de ideias para depois executar algo que faça sentido para mim”, diz, colocando em prática o que tanto defende: buscar inspiração, mas sem deixar a ação de lado.

 

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