Representantes da terceira geração de uma família de feirantes estão reinventando o negócio de uma maneira inovadora: na Feira Delivery Condomínios, em vez do cliente ir até as barracas montadas toda semana no mesmo pedaço de calçada, é a feira que vai até os clientes… de ônibus! O veículo começou a girar este ano em condomínios da Grande São Paulo, trazendo para perto desses clientes os produtos mais pedidos da versão tradicional de uma feira e — com exceção dos tradicionais gritos dos feirantes — oferece o mesmo atendimento personalizado e humano que faz das feiras quase um patrimônio afetivo das cidades. Tudo fresquinho, com ar condicionado.
“Gostamos de conhecer o consumidor, saber do que ele gosta, deixar separado o que ele quer” conta Rafael Augusto Rosa, 28, o empreendedor por trás de iniciativa. Seus clientes podem pedir os itens pela internet ou por WhatsApp. Segundo ele, a Feira Delivery se diferencia das feiras livres montadas em conjuntos residenciais por caber em espaços menores e por não ter a bagunça e poluição sonora da montagem e desmontagem do modelo tradicional de comércio de hortifruti. Tudo que ele precisa é de uma vaga para estacionar o ônibus e um ponto de energia para manter o ar-condicionado ligado.
Apesar de ser formado em Sistemas de Informação pela Fiap, Rafael diz que seu primeiro diploma foi em “feirologia”, já que veio de uma família de feirantes. Seus avós, Leônidas e Maria Natividade, começaram nessa área em 1975 e passaram o bastão ao filhos ao se aposentarem. Hoje a mãe, o padrasto, o irmão e a irmã dele estão envolvidos no negócio. Rafael, que cresceu neste ambiente, trabalha em uma empresa de tecnologia, mas desde o começo de 2015, quando criou o ônibus que leva a feira aos condomínios, se reaproximou do ramo da família.
Antes de inovar o negócio da família, Rafael fez pós-graduação em Marketing na Fundação Getúlio Vargas. “Também busquei muito conteúdo na internet. Inicialmente a ideia era abrir um negócio para a minha esposa, que é podóloga, tocar. Pensei num centro de podologia móvel”, conta.
Mas o projeto foi deixado de lado quando ele precisou concentrar esforços em buscar uma solução para a rotina de trabalho da mãe, feirante. “Quero tirá-la da feira. É algo que as pessoas gostam de fazer, mas exige demais. Com a idade, vão surgindo os problemas de saúde por causa dos horários e da necessidade de ficar em pé quase 14 horas por dia, do trabalho para montar e desbancar a banca.”
Foi nesse momento que surgiu o plano de comprar um ônibus e adaptá-lo para levar a feira para dentro de condomínios fechados, uma solução que eliminaria grande parte do desgaste da rotina de feirante. A ideia de oferecer um serviço sobre rodas estava mudando de figura e, nesse momento, o apoio de Jéssica, 24, foi fundamental, pois ela acreditou na ideia e passou a tocar o negócio, enquanto Rafael permaneceu em seu emprego, cuidando dos detalhes da Feira Delivery à distância.
A família, tradicional, recebeu a ideia de Rafael com desconfiança. Depois de décadas trabalhando em um mesmo formato todos os dias, foi difícil embarcar em algo novo. Por isso, ele resolveu tocar o empreendimento apenas com sua esposa, até que gerasse resultados que confirmassem seu potencial:
“É preciso vender muito a ideia para que as pessoas acreditem. Todos têm medo de sair da zona de conforto, de se arriscar. Ainda mais porque eles gostam da feira no modelo tradicional”
Cerca de dois meses se passaram entre o momento em que Rafael teve o estalo de construir a feira móvel e o dia em que o projeto se tornou realidade. “Em outubro do ano passado tive a ideia e encontrei o ônibus para vender. Em novembro troquei meu carro por ele”, recorda. Depois da compra do veículo pelo equivalente a cerca de 40 mil reais, era hora de adaptar a carroceria para a nova função.
Ele próprio, com a ajuda de alguns amigos e parentes, instalou as prateleiras para expor os produtos no ônibus e colocou adesivos. “Usei os fins de semana e feriados, já que de segunda a sexta tenho o meu trabalho fixo”, conta. Ao todo o investimento inicial chegou perto de 100 mil reais. Com tudo pronto, ele encontrou o primeiro condomínio interessado em receber a ideia, um conjunto de casas na Raposo Tavares (na Grande São Paulo).
UM COMEÇO PROMISSOR — E DIFÍCIL
Era dezembro e a proximidade do Natal serviu como força extra para as vendas. O veículo chegou ao espaço residencial recheado de alimentos com apelo para as festas de fim de ano. A primeira experiência mostrou que o empreendimento tinha potencial. Desde então, Rafael garante ter aprendido muito sobre o seu novo cliente (os condomínios) e investiu em adaptações constantes no formato e na oferta de produtos da Feira Delivery Condomínios.
Um dos aprendizados dos primeiros nove meses de operação é que o deslocamento para um condomínio só compensa financeiramente se o local tem mais de 500 casas. Não há nenhum custo para levar o ônibus a novos espaços e Rafael afirma que seus preços são competitivos e mais baixos do que os praticados em mercados e hortifrútis com loja estática. Para atrair clientes, ele distribui panfletos e, se possível, pede que a feira móvel seja divulgada nos canais do condomínio, como grupos de WhatsApp e no Facebook. “Ainda assim, a adesão é de 10% a 20% dos moradores, por isso não podemos ir em lugares com poucas casas”, diz ele.
Mesmo com a restrição, hoje a agenda do ônibus hortifrúti está cheia. Ele visita de cinco a seis locais por semana, entre conjuntos de casas e de apartamentos, com uma parada às segundas-feiras para manutenção do veículo e compras no Ceasa. O faturamento gira em torno de 28 mil mensais, com possibilidade de crescer caso Rafael decida contratar mais funcionários para oferecer o serviço em um novo horário. “Hoje, atendemos um condomínio por dia sempre das 16h às 22h. Eu poderia colocar uma equipe para trabalhar de manhã. Estou estudando”, conta o empreendedor, que continua em seu emprego fixo, apesar das demandas do novo negócio.
Um dos desafios da primeira fase foi lidar com as manutenções do veículo. “Como eu trabalho, nem sempre estou disponível para resolver um problema”, conta. Também levou algum tempo para encontrar profissionais qualificados para cuidar do veículo, mas ele acredita que agora, passada a etapa de aprendizado, as coisas devem entrar em equilíbrio.
PRÓXIMAS PARADAS E REENCONTRO COM A FAMÍLIA
Rafael pisa com cuidado no novo terreno. Antes de tomar qualquer decisão sobre expandir o negócio, quer que as atividades completem um ano para ter balanço mais claro e elementos que o ajudem a decidir quais serão as próximas etapas. Por enquanto, está satisfeito com os sinais positivos. O empreendedor toma como exemplo as vans da marca de carnes Swift, que faz um trabalho semelhante ao do ônibus de Rafael em condomínios. “Eles atendem 80 locais diferentes. Vejo esse número como um potencial para o nosso crescimento.”
Para atender a um público crescente, Rafael decidirá entre crescer com investimento próprio ou trabalhar com sistema de franquia, para as quais já tem alguns interessados. Ele pretende tomar a decisão até o começo de 2016 — para já ter novos veículos rodando em março.
É nessa etapa que o empreendedor espera poder trazer o resto da família para o negócio. Segundo ele, ter a sua mãe trabalhando no empreendimento seria uma maneira de manter o clima da feira, que agrada a tantos consumidores, no novo formato:
“Muita gente gosta de ir à feira e muitos gostam também de trabalhar lá. Apesar disso, nos últimos anos houve uma queda grande no movimento. Do tempo dos meus avós para cá diminuiu em 70% o número de frequentadores”
O empreendedor acredita que a queda foi puxada por fatores como a facilidade oferecida pelos mercados e hortifrútis, além de mudanças na alimentação e na própria dinâmica familiar, com o papel da mulher cada vez menos restrito às funções de dona da casa. Com isso, muitos feirantes começam a buscar alternativas para manter seus negócios.
A própria família de Rafael, antes do ônibus, apostou nas vendas on line com um site em que o consumidor seleciona suas compras e as recebe em casa. O projeto está em funcionamento, mas, com o preço do frete elevado, tem tido dificuldade para atrair mais clientes. “Como a entrega é feita por motoboy, acaba custando 20 reais”, conta ele. Atualizar o serviço também está nos planos de Rafael para 2016. Ele quer atender os consumidores com veículo próprio, o que baixaria o preço da entrega para 7 reais.
Com tantos projetos, Rafael considera que em algum ponto nos próximos meses vá abrir mão do seu emprego fixo para dedicar-se completamente aos empreendimentos nos quais vem trabalhando com a família. Outra ideia que ele alimenta é a de desenvolver uma barraca de feira mais leve, que dispense a montagem e a desmontagem e que seja capaz de facilitar o trabalho dos feirantes. O projeto está nas mãos de um especialista, que vai fazer o desenho já pensando em materiais mais tecnológicos, como o alumínio. “Quero patentear a ideia. Com certeza vai ajudar muito o pessoal que trabalha na feira”, conta ele. Vai uma banana madura aí, senhora?
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