Trabalhar com 100% de matéria-prima sustentável até 2025. Zerar as emissões de gases do efeito estufa da sua operação — e reduzir pela metade o impacto dos gases durante todo o ciclo de vida do produto — até 2030.
Essas são algumas das metas de sustentabilidade lançadas em 2021 pela Unilever.
Dona de marcas como OMO, Dove, Rexona, Hellmann’s e Kibon, a multinacional anglo-holandesa de bens de consumo está presente há 92 anos no Brasil, onde mantém 15 fábricas.
Eduardo Campanella, Vice-Presidente de Marketing, explica que a versão atual do Unilever Compass (o documento interno que norteia o crescimento sustentável da companhia) integra as metas de negócios e sustentabilidade numa mesma estratégia.
“A mudança mais importante é que isso entra no compromisso do board da companhia, onde cada membro lidera alguns dos squads de trabalho, para que a transformação possa acontecer”
O próprio Eduardo, há 20 anos na empresa, lidera o squad de Sustentabilidade. Na última década, segundo a Unilever, a companhia conseguiu reduzir o descarte para aterros sanitários em 96%; diminuir seu consumo de água em 49%; passou a reutilizar 100% da água dentro das fábricas; e reduziu em 65% a emissão de CO2 dentro das fábricas.
Esses resultados são globais (e dentro das metas que a companhia se impôs em 2010). Segundo Eduardo os números da operação no Brasil estão nessa média, até porque a Unilever Brasil é a segunda maior operação da companhia no mundo em volume de vendas, com grande impacto na entrega das metas do Plano Global.
E embora cada subsidiária desenvolva seus próprios projetos, a estratégia de sustentabilidade prevê que tecnologias e processos sejam compartilhados.
O SABÃO MAIS CONCENTRADO PERMITE USAR MENOS PLÁSTICO DAS EMBALAGENS
Hoje, os produtos das marcas que fazem parte da Unilever são vendidos em mais de 190 países para 2,5 bilhões de consumidores por dia.
Essa abrangência é uma vantagem na hora de trabalhar a sustentabilidade, diz Eduardo:
“Nossa escala global nos permite trabalhar diferentes tecnologias em diferentes partes do mundo e depois replicar essa tecnologia em alta escala. E é isso que vai fazendo com que a transformação aconteça e se torne uma realidade”
Foi o que aconteceu, por exemplo, com os produtos OMO e Brilhante para Diluir, desenvolvidos no Brasil como parte da estratégia para reduzir o uso de plástico nas embalagens.
Com uma fórmula mais concentrada (que o consumidor pode diluir em casa e fazer render 3 litros), foi possível embalar o produto em recipientes menores, reduzindo a utilização do plástico em 75%.
Atualmente, essa tecnologia já está implementada na Argentina, Chile, Uruguai, França, Austrália e Nova Zelândia. No Brasil, representa 20% do negócio de 3 litros da Unilever. A meta é alavancar esse percentual até 50% nos próximos dois anos.
A PARCERIA COM UMA STARTUP ALAVANCA A LOGÍSTICA REVERSA
Desenvolver fórmulas mais concentradas é uma das estratégias para reduzir o uso de plástico dentro da Unilever.
Em paralelo, para atingir a meta de reduzir em 50% o consumo de plástico virgem até 2025, a empresa pesquisa e testa maneiras de aumentar a porcentagem de material reciclado na produção de embalagens;
Até 2017, segundo Eduardo, a Unilever não utilizava nenhum plástico reciclado em suas embalagens.
Em 2020, o ano terminou com 25% do total de plástico consumido pela companhia vindos de fontes de pós-consumo.
“Para chegar nesse número foi preciso trabalhar com toda a cadeia, desenvolver e investir em parceiros, nos comprometendo a ser um consumidor de longo prazo”
Entre esses parceiros está a Green Mining, que atua na logística reversa para coletar as embalagens, encaminhá-las para o processamento e devolvê-las para a linha de produção.
Acelerar esse processo e atingir a meta de redução vão exigir, de acordo com o Eduardo, mais engajamento do governo e do consumidor.
“A economia da sustentabilidade tem que rever uma série de coisas — inclusive a cadeia tributária — para estimular o uso de produtos reciclados e resinas de fontes recicláveis.”
AS MATÉRIAS-PRIMAS SUSTENTÁVEIS SALTARAM DE 14% PARA 67%
Dentro das metas da Unilever para melhorar a saúde do planeta está ter 100% de matéria-prima de origem sustentável em 2025.
No caso de óleo de palma, açúcar, soja e chá (que representam dois terços de tudo que a empresa consome em termos de insumos agrícolas), a meta é alcançar uma cadeia produtiva sem desmatamento já em 2023.
Para guiar este trabalho, a Unilever lançou, em abril, seus princípios da Agricultura Regenerativa. Segundo a companhia, o documento é uma evolução do Código de Agricultura Sustentável de 2011, que ajudou a empresa a alavancar (até 2020) de 14% para 67% seu percentual de matérias-primas de origem comprovadamente sustentável.
A Unilever trabalha com um índice de risco de abastecimento de fontes de desmatamento; através de um mapa global e geográfico, consegue rastrear de onde vêm cada produto.
“Quando há o risco de o produto estar numa área de desmatamento, fazemos um processo de avaliação. Se o fornecedor não conseguir provar que essa matéria prima não vem de fonte de desmatamento, ele será, ao longo do tempo, eliminado do nosso portfólio”
Em paralelo, a empresa ajuda a capacitar os agricultores para transformar as suas plantações em uma cultura agrícola regenerativa. “Quando estabeleço a meta de ter 100% de matéria-prima sustentável, também preciso trabalhar na transformação da cadeia para chegar nessa meta”, diz Eduardo.
O recurso para esse trabalho está incluído no Fundo Clima e Natureza, que prevê 1 bilhão de euros para serem usados nos próximos 10 anos em iniciativas para proteger e melhorar a saúde do planeta.
COMPRAR CRÉDITO DE CARBONO É APENAS PARTE DA ESTRATÉGIA
A meta global da Unilever é zerar, até 2039, as emissões líquidas geradas pelos produtos — da fabricação às gôndolas.
Isso significa que a empresa quer equilibrar as emissões com a remoção de gases da atmosfera.
A compra de créditos de carbono ajudou, nos últimos dez anos, naquela redução de 65% das emissões de todas as fábricas. Essa, porém, é apenas uma parte da estratégia.
“Não acreditamos que a única forma de fazer isso é comprar [créditos de carbono]. O compromisso requer uma transformação de toda a cadeia”
Outro foco é o investimento em novos processos de produção e no desenvolvimento de tecnologia para fórmulas de produtos mais sustentáveis — e menos dependentes do petróleo.
Na operação brasileira, duas fábricas do complexo de Valinhos, no interior de São Paulo, já usam caldeiras movidas a biomassa no lugar de combustíveis fósseis.
Buscando reduzir o impacto ambiental do descarte, a fábrica de alimentos de Pouso Alegre (MG) criou uma usina de compostagem que usa os resíduos do processo de fabricação na produção de adubo, usado em uma horta com frutas e hortaliças implantada dentro da fábrica para consumo do refeitório.
Hoje, o excedente dessa produção é doado para comunidades no entorno.
“Isso cria um novo ciclo. Esses resíduos tiveram um impacto extremamente positivo dentro da fábrica e na comunidade do entorno — assim como um impacto positivo dentro do negócio, porque gerou economia”
Em outra frente, como parte do programa Futuro Limpo, a Unilever criou o projeto Carbon Rainbow. O nome remete ao código de cores criado pela empresa para classificar diferentes fontes renováveis de carbono.
A ideia é substituir os componentes químicos feitos a partir de combustíveis fósseis por outros criados a partir de fontes renováveis — e assim mudar a forma como produtos de limpeza são criados, fabricados e embalados.
Pesquisadores da empresa tentam entender como retirar carbono na atmosfera (“carbono roxo”), de plantas e fontes biológicas (“carbono verde”), de fontes marinhas, com algas (“carbono azul”) e recuperado de resíduos (“carbono cinza”).
Segundo Eduardo, essas tecnologias estão em teste na China e no Chile, e chegarão ao Brasil quando atingirem capacidade de escala.
“Não fazemos isso só porque somos uma empresa legal”, diz Eduardo. “Entendemos que isso é parte fundamental da forma como essa empresa vai prosperar e continuar crescendo.”
O bagaço de malte e a borra do café são mais valiosos do que você imagina. A cientista de alimentos Natasha Pádua fundou com o marido a Upcycling Solutions, consultoria dedicada a descobrir como transformar resíduos em novos produtos.
O descarte incorreto de redes de pesca ameaça a vida marinha. Cofundada pela oceanógrafa Beatriz Mattiuzzo, a Marulho mobiliza redeiras e costureiras caiçaras para converter esse resíduo de nylon em sacolas, fruteiras e outros produtos.
Aos 16, Fernanda Stefani ficou impactada por uma reportagem sobre biopirataria. Hoje, ela lidera a 100% Amazonia, que transforma ativos produzidos por comunidades tradicionais em matéria-prima para as indústrias alimentícia e de cosméticos.