Com a proposta de ajudar a resolver o problema de still gap (a diferença entre as habilidades mais importantes para o mercado de trabalho e aquelas que as pessoas de fato possuem) e formar uma nova geração de líderes em design, tecnologia e negócios na era digital, Leandro Herrera, 33, fundou a Tera — uma escola para a economia digital. E tem dado certo. No ano passado, foram 1 000 alunos formados e a expectativa para 2019 é que 2 500 concluam os cursos oferecidos. Nessa empreitada, ele conta com os sócios Claudio Yamaguchi, 38, Felipe Fabris, 31, e Wilson Tayar, 28, que chegaram em momentos diferentes ao negócio.
A Tera trabalha com o modelo que chama de blended learning, um híbrido entre educação online e presencial, e oferece quatro cursos no modelo intensivo e semi-intensivo: User Experience Design (custa 5.800 reais), Data Science & Machine Learning for business (6.720 reais), Digital Marketing & Growth (6.720 reais) e Digital Product Leadership (6.720 reais). São cursos no modelo bootcamp, totalmente imersivos, com foco em habilidades relevantes para o mercado do século 21. Leandro conta:
“A gente quer que os alunos façam uma imersão dentro de uma competência específica e se relacionem com pessoas em novas profissões dentro de empresas em transformação”
No modelo intensivo, os alunos têm uma semana de aulas o dia todo e no semi-intensivo, de oito a dez semanas de curso e aulas não diárias. O fundador da Tera fala mais sobre este produto, o blended learning, que desenvolveu e em que seu negócio se firmou: “Existem conteúdos e ferramentas que ficam online, para que as pessoas possam aproveitá-los e reforçá-los em situações reais de trabalho. Já os momentos presenciais são bem práticos, para o desenvolvimento de projetos”, diz.
ALÉM DE PAGAR (CARO), É PRECISO PASSAR NA SELEÇÃO
Quem quer estudar na Tera passa por um processo seletivo de avaliação, antes de ser admitido nos cursos. Leandro afirma que esta é uma forma de garantir a boa experiência do aluno: “Sem uma boa seleção, teríamos uma turma totalmente desalinhada, precisaríamos focar muito no básico e sobraria pouco tempo para aprofundar os conteúdos”.
Uma vez dentro do curso, o aluno pode integrar uma rede dentro do Slack (um aplicativo para unir equipes em projetos). A ideia é promover o encontro e a troca, mas também permitir que os alunos conquistem autonomia no próprio processo de aprendizagem. “Acreditamos que a educação deve ser para a vida toda e queremos que ela seja a mais dirigida possível pelas próprias pessoas”, fala Leandro.
Ele prossegue: “O modelo de bootcamp funciona muito bem em um determinado estágio da vida profissional, mas tem uma série de continuidades que o adulto autodirigido vai desenvolver melhor se estiver em comunidade do que seguindo um plano”. Na rede, os próprios membros divulgam vagas, organizam mentorias e grupos de estudos.
A Tera se vê como uma alternativa aos modelos tradicionais — e engessados — de ensino, principalmente na área de pós-graduação e MBA. “Os modelos atuais são muito fixados no tempo. Têm os quatro anos da graduação, depois dois anos de MBA ou pós-graduação. Esse é um paradigma que está em transformação”, diz o fundador. E continua:
“As profissões estão mudando e a forma como a gente age com a educação precisa mudar também”
Ele aposta que o formato de bootcamp é um caminho para que o aperfeiçoamento profissional acompanhe os novos desafios que se apresentam no mercado de trabalho: “O Fórum Econômico Mundial diz que, até o fim de 2022, quase 60% da força de trabalho vai precisar passar por um processo de reciclagem de conhecimento. Precisamos de um modelo que acompanhe as pessoas pela vida toda”.
Na escola, os cursos se complementam e podem ser feitos de acordo com a fase e a necessidade profissional. “Temos um formato modular em que é possível combinar competências. Muitas gente faz um curso, volta para o mercado de trabalho, se desenvolve mais e, depois, retorna para aqui para fazer outro curso. É muito diferente de se comprometer com um contrato de dois anos em uma universidade, um modelo que não faz mais parte do nosso tempo”, conta.
PARA ESCALAR, ELE APOSTA EM UM MODELO HÍBRIDO — E NOS SÓCIOS
O modelo de negócios da Tera é o mesmo desde a fundação: a venda de cursos. Leandro calcula que investiu 50 mil reais de forma indireta para começar a empresa. “Foi um custo de oportunidade por causa do período em que fiquei sem receber, mas a escola é autofinanciada desde o começo. Com o dinheiro que sobrou da primeira turma, abri a segunda e até hoje tem sido dessa forma”, afirma. Provado o valor do negócio, o desafio, agora, é escalar esse modelo sem perder a qualidade. E o empreendedor já tem uma fórmula para isso:
“Acreditamos que o híbrido entre o ensino remoto e o presencial é nova tese de como escalar com qualidade”
Por enquanto a Tera opera apenas na capital paulista, mas este ano vai entrar em outros mercados, como Rio de Janeiro, Belo Horizonte e Campinas (SP). Ele fala sobre os desafios pela frente: “O ensino à distância dá muita capilaridade, mas o impacto real é baixo, pois as pessoas não completam o curso. No modelo presencial há mais controle sobre uma série de fatores, mas enfrentamos o desafio da escala”.
A previsão é começar a operar no Rio de Janeiro já no mês que vem, com a jornada do bootcamp de Digital Product Leadership, em uma edição especial nos fins de semana.
Já em Belo Horizonte, as atividades devem ter início em maio e, em Campinas, em junho, sempre de forma itinerante. “No segundo semestre, devemos voltar a algumas praças, fixar a base para, em 2020, expandir a operação total para essas áreas.”
Formado em Relações Internacionais, a primeira experiência de Leandro como empreendedor foi aos 22 anos na Soul Sampa, uma empresa que promovia walking tours temáticos e guiados por São Paulo. “Fui movido pelo meu impulso, mas sem ter nenhuma preocupação se o negócio era escalável ou ia dar dinheiro.” A empresa durou um ano e meio e não emplacou. “Vivi muito precocemente as dores do empreendedor de trabalhar por um ano e ver o negócio não dar certo”, fala.
O passo seguinte foi trabalhar na Endeavor, onde ele ficou por quatro anos e liderou a frente de expansão da empresa em canais digitais. Depois, foi para a área de marketing e produtos da Geekie, onde se aproximou do impacto da tecnologia no contexto educacional. Nesse mesmo período, foi professor em cursos de extensão em universidades tradicionais. Foi dessas experiências que nasceu a semente da Tera: “Em diferentes contextos, notei que o perfil exigido dos profissionais era muito novo. Vi também que havia uma série de inovações que poderiam tornar a experiência dos estudantes melhor. Quando mergulhei nas profissões do futuro, descobri que o gap de competências no mercado é um fenômeno global e que a tecnologia está começando a transformar perfis de trabalho”.
Leandro tocou a Tera por oito meses sozinho e, assim que a primeira turma se formou, percebeu que precisaria de sócios com perfis complementares ao seu para seguir em frente. O primeiro a se juntar foi Cláudio Yamaguchi, especialista em Design Thinking e responsável pela parte de design de experiências e conteúdo. Depois, veio o Felipe Fabris, que toca a parte de operações. No começo de 2018, Wilson Tayar passou a integrar a equipe como Head de Tecnologia, para acelerar a criação do produto de blended learning.
“Ficou evidente os pontos em que eu era mais fraco. Precisava de parceiros que me complementassem ou não teria conseguido avançar”.
Sem os sócios, ele acredita que teria feito apenas cinco turmas no ano e não 35, como foi o caso de 2018. A perspectiva para 2019 é ter entre 70 e 90 turmas.
Os sócios Daniel De Tomazo e Felipe Senise falam do desejo de difundir a cultura do pensamento estratégico e da abertura dos cursos para que os alunos errem e recebam feedbacks abertamente.