“Como sobreviver quando seu marido é seu sócio e você é a CEO da empresa?”

Daniele Amaro - 9 mar 2018Como sobreviver quando seu marido seu sócio e você é a CEO da empresa? Daniele Amaro, da Paytrack, compartilha algumas dicas da experiência que tem vivido diariamente há cerca de um ano (foto: Danúbia Bertoldi).
Como sobreviver quando seu marido seu sócio e você é a CEO da empresa? Daniele Amaro, da Paytrack, compartilha algumas dicas da experiência que tem vivido diariamente há cerca de um ano (foto: Danúbia Bertoldi).
Daniele Amaro - 9 mar 2018
COMPARTILHE

 

por Daniele Amaro

Há pouco mais de um ano, a minha vida mudou completamente. Larguei a minha carreira na Kroton (que eu amava), para me dedicar full time a uma startup. Foi uma decisão dura, que envolveu dinheiro, risco, paixão, 14 horas de trabalho por dia, a vida social decepada e uma transição pessoal e profissional que, para muitos, é curiosa. Além de tudo isso, saiba que meu marido é meu sócio. Quando fomos confrontados pelo nosso advisor, Rafael Assunção, sobre quem dos dois seria o louco para comandar e multiplicar o negócio, definimos juntos que este papel seria meu. Mas, como sobreviver quando o seu sócio é seu marido?

No início deste ano, participei de uma missão ao Vale do Silício com a Paytrack (que faz gerenciamento de despesas de viagens corporativas) e outras oito startups catarinenses, pelo programa Startup SC, do Sebrae. Lá, uma das principais questões apresentadas pela professora de Stanford Lindy Greer, foi a importância da escolha correta dos sócios. Você sabia que dois terços das startups não sobrevivem por problemas na sociedade? Pois é.

Pense como seria se o seu sócio ou sócia fosse a pessoa com quem você dorme todos os dias. Difícil, certo? Para muitos empreendedores, assim como eu, essa é a realidade enfrentada diariamente. Tenho sobrevivido e aprendi um bocado. Para, quem sabe, evitar que a sua startup vá por água abaixo, resolvi fazer um check-list dos meus aprendizados e dos pontos que considero terem fundamentais para o bom funcionamento da (nossa) coisa toda:

1) Coloque o boi na frente da carroça, por favor!

Começando pelo início: o casamento precisa ser sólido e ter muito amor. Entendo isso como pré-requisito.

Se o seu casamento é um ruim ou meia-boca, por favor não seja sócio do seu cônjuge nunca

Você já tem problemas suficientes. Também pode ser que seu casamento seja incrível e tenha muito amor, mas que vocês sejam seres diferentes no lifestyle, e, da mesma forma, não aconselho que essa parceria se desenvolva no âmbito profissional. No meu relacionamento deu certo porque temos amor para dar a volta ao mundo agarrados e somos dois bichos bem parecidos.

2) Escolha o que for melhor para o negócio

Nós resolvemos desenvolver a empresa juntos porque somos profissionais alinhados, não porque estamos casados. A experiência, a expertise e os conhecimentos do seu marido ou mulher precisam ser complementares aos seus. Edson (Gonçalves, meu marido) é produto. Eu sou venda. Eu boto fogo, ele controla o incêndio.  Não vai dar certo se um dos dois está empreendendo porque “precisa se ocupar”, ou porque não consegue emprego em outra coisa. Não trabalhem juntos por falta de opção. Trabalhem juntos porque essa é a melhor opção para crescer o negócio, para desenvolver um projeto com performance profissional. Ele é o melhor sócio que eu poderia ter, e isso independe do fato dele ser meu marido.

3) Tem treta? Óbvio!

Claro que há discussão. Sempre. Mas o fato é que nós dois precisamos aprender, e aprendemos, a discutir com conteúdo, com calma e com base em dados. O objetivo deste aprendizado, que é permanente, é manter o ego fora da nossa relação.

Minha tática pessoal para evitar brigas é: se meu ego me diz para fazer assim, eu faço assado

E, sim, às vezes não dá certo, como em qualquer sociedade. Outro dia, conversei com um casal que trabalha junto (em startup também) e eles me disseram que tudo é lindo, que nunca rola treta e tudo é relax, que nunca levam trabalho para casa. Primeiro de tudo: não acredite nisso. Vocês passarão por tretas sim e precisam estar preparados para isso.

4) Não esqueça qual é o seu chapéu

Nunca esqueça qual chapéu você está vestindo, e qual chapéu está sendo vestido pelo outro. Dois exemplos: se você não tem maturidade de deixar uma discussão do roadmap fora da mesa de jantar, não vai dar certo. Seu sócio que está apresentando o planejamento da área para o Q1 é o mesmo que ontem chegou do pôquer às 2h da manhã e roncou à noite. Só para deixar claro, o primeiro exemplo sou eu, o segundo, ele. Ou seja, separe sempre que possível o pessoal do profissional.

5) Filhos. Lembre deles também

Atenção: se os pais empreendem juntos haverá um risco altíssimo dos seus filhos se tornarem empreendedores também. O exemplo arrasta. Aqui eles já são hominhos, um de 12 e outro de 14 anos, e estão sempre conosco nos eventos, sabem tudo que rola no funil de vendas, quem são os clientes, quais os desafios da vez. É quase impossível isentá-los disso e nem queremos.

Café da manhã de sábado sempre tem papo de #startuplifestyle. Já no domingo, é proibido falar de trabalho

Entenda que, de uma forma ou outra, o seu trabalho acabará sendo vivenciado diariamente pelos seus filhos e entes queridos. Mas, procure ao máximo ter os momentos de vocês fora do expediente.

6) Tudo tem seu tempo, esteja preparado para novas fases

Você ficará melhor com a prática. A cada semana, sinto que evoluímos mais. Aprendemos com os nossos erros e avaliamos nosso desenvolvimento juntos. Estar aberto para aprender é crucial. Além do coração aberto para assumir as falhas também. O ponto positivo é: se você tem uma parceria forte, os valores e o objetivos convergem e isso é fundamental em qualquer tipo de sociedade. Mas ainda assim, é necessário que vocês tenham conhecimento e habilidades complementares, porque o tempo vai passar e as deficiências de cada um virão à tona, de um jeito ou de outro.

Basicamente, o mais importante para qualquer dinâmica entre sócios é a complementariedade e o respeito. E, lembrando, esses tópicos acima não são “dicas”, nem conselhos. Apenas alguns critérios que, baseados na minha experiência de empreender com o “ser amado”, foram determinantes para que a nossa startup e parceria continuassem crescendo. E tem dado tão certo que neste último ano, dobramos o faturamento seis vezes, conquistamos clientes importantes, temos 20 mil usuários no país e aumentamos a equipe — de três para 13 pessoas. E é com essa cumplicidade e aprendizado permanente que continuamos inovando e avançando. Ele como CTO, marido e sócio, eu como CEO, mulher e sócia.

 

 

Daniele Amaro, 37, é formada em Administração e Marketing. Foi gerente de Marketing e Negócios na Kroton. Em 2016, começou a empreender na Viajor/Paytrack.

COMPARTILHE

Confira Também: