Um leigo que entre no site da DUX Coworkers pode ter dificuldade de entender qual é exatamente o trabalho que a empresa faz. O mesmo para a repórter que vos fala. Mas um bate-papo de final de tarde, com Melina Alves, 34, fundadora da empresa é o suficiente para sair de lá PhD em Design User Experience. Ou pelo menos entendendo o suficiente para contar aqui.
A DUX é uma rede especializada em design de experiência e interação. O primeiro está ligado ao comportamento das pessoas, à estratégia, a um entendimento de jornada. Já o segundo é voltado para a aplicação dessa experiência em ambientes interativos. E essa interação pode se desenvolver de forma analógica ou não. Por exemplo, a vitrine de uma loja é um ambiente de interação da pessoa com o produto de maneira analógica. O que a DUX faz é ajudar a tornar esta vitrine mais atrativa, buscando o melhor resultado sensorial para esta experiência. Às vezes, é preciso que um device seja usado para melhorar algumas experiências, seja um smartphone ou um desktop.
“A DUX é especializada em comportamento e tecnologia. Mas não gosto de falar em tecnologia, porque dá a entender que a gente é uma produtora. O que fazemos é criar soluções tecnológicas. A gente participa muito da concepção. Desde uma concepção de marca nesse contexto de interação, até a concepção de um produto. Pode ser um aplicativo, um ambiente, pode ser um video mapping, pode ser uma relação de um celular atrelada a um objeto, ou a uma vitrine”, conta Melina.
Mas para algo ser considerado uma experiência de uso, ou UX (user experience), é preciso que passe por uma série de estágios. Segundo ela, não basta uma pesquisa ou só testar a usabilidade de algum produto, é preciso que toda a cadeia do processo de criação seja estabelecida. São elas: co-discover, co-creation, co-engage, co-performing, co-returning. No site essas etapas são explicadas bem didaticamente. Em resumo, nada mais é do que investigar, criar, realizar e testar a experiência de uso do que será desenvolvido. Se você se interessa pelo tema, a DUX acaba de publicar a segunda edição da DUXmag (vale a leitura, aqui), uma pensata sobre o poder da inteligência coletiva que dá voz a alguns dos principais colaboradores do projeto.
A precificação desse serviço varia muito. Melina conta que a DUX trabalha com uma escala: os preços para as startups são os mais baixos; depois vêm os valores para as agência de comunicação e os valores para empresas grandes e indústrias. Estes últimos são os mais altos, pois envolvem um comprometimento maior da equipe em relação a prazos, deixando os freelancers da rede focados apenas naquele projeto e cliente.
A principal fonte de receita da empresa são as consultorias estratégicas de UX. Ela desenvolveu projetos assim para clientes como a Renault (para quem fez investigação de comportamento e personas, análise de usabilidade e arquitetura da informação); a Visa (usabilidade, investigação e pesquisa, arquitetura da informação); o Bradesco (treinamento em UX, design de serviços, arquitetura da informação), entre outros.
Melina detalha também o que ela considera um diferencial de sua maneira de montar equipes para os projetos. “A gente não cobra por know-how. Por exemplo, não vou colocar alguém júnior para te atender para o preço ficar mais baixo. O que podemos fazer é conversar com os coworkers e ver quem está interessado no seu projeto. Se ele quiser fazer, ele mesmo pode baixar o valor. Os nossos freelas optaram por ter uma vida de empreendedor ou freelancer e querem ter flexibilidade e autonomia da vida pessoal”, diz.
A ARTE DE CRIAR RESPONSABILIDADE NUMA EQUIPE LÍQUIDA
E daí, vem a parte de coworkers. A empresa tem hoje 60 pessoas, sendo que seis cuidam apenas da operação do negócio, 12 são freelancers que estão em projetos de médio e longo prazo e vão ao escritório diariamente, mas não há horário fixo e elas recebem por job feito, sendo assim, nada de CLT. A pessoa recebe a demanda e trabalha em cima do prazo de entrega. Há outros 48 freelancers, que estão disponíveis para outros trabalhos. Todos escolhidos a dedo por Melina. São especialistas em sua área de atuação, sejam arquitetos urbanistas, design thinkers, pesquisadores, mídias sociais, redatores, psicólogos, designers de projetos e produtos, entre outros. A DUX também conta com profissionais em outros lugares do mundo, como Coreia, Austin (EUA), Austrália, Finlândia e Nova Iorque (EUA). Além disso, a empresa trabalha com treinamentos para fazer a reciclagem desses profissionais.
Este jeito de trabalhar, que ainda é muito novo para várias empresas e impossível para outras, é mais uma disrupção da DUX. Quando um projeto chega até eles, ele é pensando em horas e se define as tarefas de cada um.
“A gente tem total controle do tempo. Então, eu sei como a pessoa está gerenciando o tempo. E quando a gente fecha um projeto, a prioridade é o projeto. Existe uma questão que é cultura de trabalho. Se você está se propondo a fazer um projeto naquele prazo não importa se você tem um cabeleireiro. E outra, ninguém vai marcar um cabeleireiro tendo um projeto para entregar amanhã, entendeu? Aí, é postura, é responsabilidade, isso não está ligado ao CLT ou o home-office. Isso está ligado a pessoa. Tem gente que é CLT, mas desce toda hora para fumar, desce toda hora para tomar um cafezinho, fica conversando no Facebook e não entrega do mesmo jeito”, fala Melina.
Por isso ela é tão criteriosa na hora de escolher quem participa da rede de coworkers da empresa. Um dos problemas que enfrentou veio justamente de profissionais que não se mostraram comprometidos com o projeto proposto mas que estavam no começo de carreira, daí a falta de maturidade atrapalhou. Melina explica que quem precisa de um diretor de criação ou de uma hierarquia para trabalhar, não consegue pegar o ritmo da DUX. Por isso, ela cortou os aprendizes da empresa para otimizar o tempo. Ela não descarta por completo, mas pelo menos por agora, não há espaço para quem está começando.
COMO TUDO COMEÇOU
A DUX Coworkers nasceu de uma soma de fatores: o incômodo com o mercado publicitário, a curiosidade da Melina e uma série de conhecimentos adquiridos por ela durante sua vida. O empurrão que faltava para ela se livrar de um trabalho já consolidado como publicitária na cidade de São Paulo veio de um chefe:
“Ele era meu chefe, estava saindo da empresa, e disse: ‘Melina, ninguém tem esse seu conhecimento! Vai ganhar dinheiro!’. Fiquei com a pulga atrás da orelha”
O tal “conhecimento” era uma mistura de publicitária, redatora, digital e com experiência em comportamento. Isso lá em 2009 (um infinito de tempo, já que estamos falando de conhecimento digital). Ela já tinha se formado em publicidade e passado por grandes empresas. Numa delas, teve a oportunidade de ver o Orkut nascer e até de participar do desenvolvimento do primeiro aplicativo iOS do Brasil, o Seu Auto, para o banco Bradesco, projeto da agência Insula Comunicação, o núcleo digital da NeogamaBBH.
O desafio naquela época era mostrar para o pessoal da publicidade e propaganda que a internet e as mídias sociais vinham com tudo. Para tanto, ela acabou se especializando em Google, ajudou a criar os links patrocinados, quando ainda poucas pessoas trabalhavam ou pensavam em trabalhar com isso.
Depois do empurrãozinho do chefe, Melina ainda passou por uma empresa onde acabou não sendo feliz como imaginava e aproveitou que estava fazendo um processo seletivo para São Francisco (EUA), onde havia sido chamada para uma vaga e foi investigar se realmente o mercado precisava de uma profissional com suas habilidades.
“Tirei um mês ‘sabático’ e fui fazer uma pesquisa. Conversei com várias pessoas em Nova Iorque, São Francisco, em Austin e vi que na verdade o problema das pessoas dessa área era o mesmo que eu tinha. Então, não era uma coisa só do Brasil. É cultura. Foi aí que eu decidi fazer a DUX e passando por esse benchmark que eu estava buscando, eu trabalhei em espaços de coworking. E eu pensei: ‘A filosofia de coworking é a filosofia de UX’. Porque são profissionais multidisciplinares, que precisam trabalhar juntos, que um precisa colaborar com o outro em um projeto. Portanto, a filosofia de coworking foi o que inspirou o meu modelo de negócio”.
A empresa começou a dar os primeiros passos em 2010, poucos meses depois, Melina já tinha colaboradores, que trabalhavam em home office e quando necessário, em espaços de coworking para então chegar em 2012 na sede atual, que fica numa casa em Perdizes. O investimento inicial não foi tão grande, mas uma quantia considerável, 25 mil reais que ela veio guardando com o passar dos anos nos trabalhos como publicitária e cabeleireira.
“Eu sempre fui uma pessoa que pensava em reservar, de juntar dinheiro, economizar. Isso tenho desde que eu nasci. A minha mãe era cabeleireira e eu sempre ia ao salão e ela me dava tarefas para fazer. Acabei aprendendo a fazer maquiagem e cortar cabelo. Com 14 eu já tinha clientes e era assim: ‘Só vai sair de noite se trabalhar’. Ela nunca me deu dinheiro, sempre trabalhei para ter. Aos 18 eu já tinha ganhado o prêmio da L’Oreal de maquiadora. Enquanto estava na faculdade tinha um pequeno salão em casa e atendia lá”, conta Melina, que continua:
“O salão foi o meu principal laboratório de UX. Lá, você é um psicólogo sem diploma. Um cabeleireiro lida com uma quantidade enorme de gente diferente que precisa ser acolhida, se sentir segura e é ele que molda essa experiência”
Mãe de um menino de 1 ano, a mineira de Passos, Melina Alves, é casada com Renato Prado, que deixou o empreendedorismo de lado para voltar a trabalhar em uma empresa com carteira assinada. O marido preferiu deixar apenas um empreendedor em casa para diminuir os riscos. Ele e a irmã Poliana Alves, que é advogada tributária, são um dos braços para conversas e decisões.
O outro braço vem da Faculdade Getúlio Vargas, que a escolheu como uma das mulheres empreendedoras que têm o perfil de evoluir socialmente o seu país. Melina recebeu o prêmio, chamado FGV Goldman Sachs 10 000 Mulheres Empreendedoras, em 2013, o que lhe abriu a possiblidade de conversar com outras pessoas sobre as agruras de ser uma empreendedora no país. Além disso, a FGV também dá apoio a essas mulheres, aconselhando e tirando dúvidas. Melina conta que o apoio emocional é o mais importante. “Não é uma coisa: ‘Nossa! Como ela é incrível foi lá e fez tudo sozinha’. Na verdade, eu me conectei a pessoas que me ajudaram a tomar as atitudes certas”. Tudo é uma questão de moldar, pensar e viver a experiência.
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