Uma gota d’água caindo no meio do oceano. Pode não parecer, mas a partir de uma primeira partícula, tão pequena, inúmeros círculos — progressivamente maiores — vão se formando na infinita superfície de água.
Foi esse o meu pensamento sobre o impacto das atitudes dos líderes no mercado de trabalho e que me incentivou a escrever o livro Liderança exponencial – A transformação humana é o motor dos líderes do futuro, lançado em outubro.
Há alguns anos, as mudanças do mundo não aconteciam de forma tão rápida como hoje em dia, as informações levavam mais tempo para chegar de um lado para o outro. No entanto, nos últimos 100 anos, isso mudou consideravelmente, alterando por consequência a realidade profissional
Nos dias de hoje, as mudanças têm um impacto global e tendem a acontecer de maneira exponencial, afetando a evolução de maneira desenfreada.
Apesar de todo o progresso tecnológico e a velocidade das mudanças, nós continuamos sendo seres humanos, com dificuldade de acompanhar esse ritmo.
Nos acontecimentos recentes, presenciamos o que pode ter sido uma das maiores mudanças nas relações de trabalho dos últimos tempos.
A pandemia de Covid-19, decretada no Brasil no início de março de 2020, obrigou muitas lideranças a mudarem seu mindset. Tanto no modelo de trabalho — que passou a ser híbrido ou 100% “home office” — quanto na maneira de gerenciar os colaboradores. E essa mudança não só alterou a forma de trabalhar como também a forma que as pessoas enxergam o trabalho.
A seguir, compartilho um trecho do livro, selecionado para os leitores do Draft:
“Você já deve ter escutado que vivemos em um mundo VUCA. Se não escutou ainda, acho que vale a pena conhecer e entender o que isso significa. Esse acrônimo é a abreviação do inglês para as palavras volatilidade (volatility), incerteza (uncertainty), complexidade (complexity) e ambiguidade (ambiguity), e é utilizado para explicar as mudanças rápidas e complexas que acontecem no mercado.
Ou, como eu prefiro dizer, VUCA é a abreviação para dizer que o mundo está um caos. Os desafios e as oportunidades que antes levavam dias ou semanas para emergir totalmente agora aparecem de uma hora para outra sem nenhum aviso prévio.
Esse estado de instabilidade dinâmica provocado por mudanças tão rápidas é característica desse ambiente volátil, no qual os problemas e desafios surgem e requerem atenção imediata. A volatilidade faz líderes se sentirem oprimidos, sozinhos e totalmente despreparados para liderar com eficácia. Se não bastasse existir o VUCA, outro acrônimo vem se popularizando: o BANI, de frágil (brittle), ansioso (anxious), não-linear (nonlinear) e incompreensível (incomprehensible).
O conceito foi criado por Jamais Cascio, do Institute for the Future, em Palo Alto, nos Estados Unidos, para substituir o VUCA. Na visão de Cascio, o BANI surge quando o VUCA se quebra. Para ele, quando sistemas complexos não coevoluem, eles reagem entre si de maneiras potencialmente explosivas, sendo incapazes de funcionar sob estresse. Daí obtém-se o mundo BANI.*
Seja VUCA ou BANI, o fato é que o ritmo frenético de nosso ambiente nos impede de ter clareza das ameaças e dos desafios, e isso dificulta a priorização das decisões. É difícil enxergar o que está por vir quando a natureza humana está programada para ver cada desafio como algo semelhante ao que já vivenciamos antes.
São as experiências passadas que criam nossos modelos mentais. O nosso mindset – a forma de enxergarmos o mundo – pode nos ajudar a tomar decisões rápidas quando temos pouco tempo.
Porém, confiar demais no seu modelo mental pode levar à suposição errônea de que é apropriado utilizar a solução de ontem para um desafio, aparentemente semelhante, que surgiu hoje. E, embora tenhamos consciência de que precisamos mudar de perspectiva para enxergar além das ameaças e das oportunidades, poucas lideranças estão preparadas para agir
Um estudo realizado pela IBM com mais de 1.500 profissionais de todo o mundo apontou que os CEOs são cientes de que operam em um mundo volátil, incerto e complexo, e 79% deles esperam encontrar algum tipo de complexidade no mercado que operam, mas menos da metade se sente preparada para lidar com esse fator.**
A maneira como ensinamos e falamos sobre liderança é extremamente antiquada e, em grande parte, é o que os líderes ainda praticam, pois é com isso que estão familiarizados. Precisamos questionar esse paradigma para criarmos a liderança do futuro. E isso exige mudar o mindset e transformar comportamentos.
Não existe mais uma maneira linear de resolver os problemas no mundo corporativo. A complexidade das questões exige decisões que devem fugir do convencional
As disrupções que estamos vivendo são tão intensas e provocam tantas mudanças que entramos em uma nova era, chamada pelos especialistas de 4ª Revolução Industrial – uma convergência entre os mundos físico, digital e biológico. Um dos defensores dessa tese é ninguém menos que Klaus Schwab, fundador do Fórum Econômico Mundial, que escreveu o livro A quarta revolução industrial.***
Para ele, essas mudanças impactam como somos e como nos relacionamos e, consequentemente, afetam o mercado e o futuro do trabalho.****
Porém, não é de hoje que se fala sobre isso. O importante economista Joseph Schumpeter já havia visualizado, ainda em 1942, essa movimentação quando criou o conceito de agitação e destruição criativa, como o “processo de mutação industrial que revoluciona incessantemente a estrutura econômica de dentro, destruindo incessantemente a antiga, criando incessantemente uma nova”.
E ainda acrescentou: “O impulso fundamental que define e mantém o motor capitalista em movimento vem dos novos bens de consumo, os novos métodos de produção ou transporte, os novos mercados, as novas formas de organização industrial que a empresa cria”. Schumpeter acreditava que as entradas inovadoras no mercado sustentam o crescimento econômico ao romper monopólios.
Esse movimento nos impulsiona a criar produtos e soluções que parecem saídos de filmes e livros de ficção científica, como os carros da Tesla.
Ao mesmo tempo, esses impulsionadores de transformação nos obrigam a encarar novos problemas, como os advindos das tecnologias exponenciais, os dilemas éticos que as envolvem e também as novas relações de trabalho e com o trabalho
A melhor maneira de as lideranças entenderem tudo isso e se prepararem para esse futuro é se cercando de informações e entendendo esses “fenômenos” que mexem tanto com a nossa vida.
Por isso, quero compartilhar com você mais informações sobre cada um desses fatores que fazem o mundo mudar rapidamente e nos deixam perdidos”.
Tonia Casarin é mestre em Liderança com foco no desenvolvimento de Competências Socioemocionais pela Universidade de Columbia (NY), pesquisadora, palestrante e autora de best-sellers. Atualmente, mora no Vale do Silício e trabalha com consultoria e desenvolvimento de lideranças.
* TOZZI, E. Criador do termo BANI explica como sobreviver na era do caos. Você RH, 26 jul. 2021. Disponível em: https://vocerh.abril.com.br/futurodotrabalho/criadordo-termo-bani-explica-como-sobreviver-na-era-do-caos/. Acesso em: 17 fev. 2022.
** CAPITALIZING on Complexity: Insights from the Global Chief Executive Officer Study. IBM, 2010. Disponível em: https://www.ibm.com/downloads/cas/DLBV97RW. Acesso em: 17 fev. 2022.
*** SCHWAB, K. A Quarta Revolução Industrial. São Paulo: Edipro, 2018.
**** PERASSO, V. O que é a 4a revolução industrial – e como ela deve afetar nossas vidas. BBC News Brasil, 22 out. 2016. Disponível em: https://www.bbc.com/portuguese/ geral-37658309. Acesso em: 12 dez. 2021. 31 HENTON, D.; HELD, K. The dynamics of Silicon Valley: Creative destruction and the evolution of the innovation habitat. Social Science Information, 2 dez. 2013. Disponível em: https://journals.sagepub.com/doi/abs/10.1177/0539018413497542. Acesso em: 23 dez. 2021.
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