A paixão pelo futebol está presente na vida do pernambucano Manoel Silva, 30, desde a infância até hoje. Vai do lazer ao trabalho: o gosto pela bola extrapolou as partidas na escola, os jogos na liga universitária nos Estados Unidos, onde viveu por oito anos, e resultou na sua atuação como COO da love.fútbol Brasil, uma organização que tem como foco usar o futebol como instrumento para desenvolver comunidades.
Formado em administração e com MBA em desenvolvimento internacional, Manoel visitou países como Honduras, Haiti e Níger e percebeu a falta de locais seguros para a prática do esporte nessas localidades. “No Haiti, o treino começava às seis da manhã, algumas crianças saíam de casa e caminhavam quilômetros até chegar a um campo numa montanha rochosa. Era o único espaço de lazer” conta ele. “Em Níger, jogavam debaixo de um sol de 50 graus, descalços, às vezes com os pés cobertos apenas com um pedaço de pano. O que mais me impressionava era a dedicação. As crianças estavam lá todos os dias.”
Manoel conheceu a love.fútbol, que à época atuava na Guatemala, enquanto estava estudando nos EUA, graças a um projeto de apoio a Organizações Não-Governamentais. Nesta época, decidiu que iria se juntar à causa. “O futebol teve um papel muito importante na minha vida. Era uma fonte de alegria, de socialização. Depois de experiências tão marcantes relacionadas com a missão da love.fútbol, vi o poder que o esporte tem de ser uma fonte de esperança”, diz.
Foi graças ao Football for Hope, prêmio concedido pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID) em parceria com a FIFA, que a organização teve condições de se instalar efetivamente no Brasil, em 2012. Já de volta ao País, Manoel seria o fundador local e braço brasileiro da love.fútbol no país. Era hora de colocar de pé o primeiro projeto da organização. Localizado na comunidade de Várzea Fria, em São Lourenço da Mata, na Região Metropolitana do Recife, o primeiro campo de futebol construído pela love.fútbol no país foi possível graças a uma parceria com a Coca-Cola (a ONG depende permanentemente de doações e patrocinadores). Vencida a primeira etapa, estava aberto o caminho para novos projetos no país. “Tivemos um retorno ótimo e com isso, conquistamos novos parceiros”, conta Manoel.
CAMPOS DE FUTEBOL QUE SÃO MAIS QUE CAMPOS
Erguer quadras e campos seguros para a prática do futebol, no entanto, não é o único objetivo da organização. Desde o pré-projeto, o foco é fortalecer o espírito comunitário das localidades que receberão os projetos, que segundo Manoel podem ser usados como base para que outras organizações também implementem ações no mesmo local:
“Somos a única organização que trabalha com metodologia de fortalecimento da comunidade na criação de espaços de lazer. Nossa grande especialidade não é construir campos, é mobilizar a comunidade”
O primeiro passo de um projeto é mapear as lideranças locais, que podem ser indivíduos ou grupos que já atuam na área. Reuniões com as lideranças as tornam multiplicadores, capazes de mobilizar seus grupos e recrutar voluntários para dar início aos mutirões de construção do espaço. “O verdadeiro protagonista é a comunidade. Quem se mobiliza é a comunidade, quem planeja e constrói, com nosso apoio”, diz Manoel.
O trabalho dos multiplicadores ajuda a difundir o projeto do campo e a atrair mão de obra para os mutirões. O método resulta em uma média de 2 500 horas de trabalho voluntário doadas por projeto, que é executado com cerca de 90% de mão-de-obra de moradores. “O resultado disso é que todos os projetos no Brasil levaram a outras mudanças, como a pavimentação de uma rua ou a criação de um parque e a instalação de equipamentos de ginástica. A quadra foi o primeiro passo.” Uma curiosidade interessante é que a primeira partida é sempre jogada por times femininos. É uma forma de indicar que o lugar é da comunidade como um todo, e não apenas dos marmanjos.
Depois do projeto inaugural em São Lourenço da Mata, vieram mais três: Maragogi (AL), Complexo do Alemão (RJ) e Foz do Iguaçu. Este início, porém, Manoel considera ter sido uma aposta: “Nos sacrificamos bastante nos primeiros projetos, mas nossa estratégia inicial era investir na metodologia, aprender, aperfeiçoar, fazer um manual. E então começamos a profissionalizar, diversificar as fontes de renda e a entender como dar retorno às empresas que nos patrocinam”.
COPA DO MUNDO, HORA DE FAZER BARULHO
Em 2014, já mais seguros quanto à forma de trabalho, outras quatro comunidades receberam espaços da love.fútbol: Penedo de Cima, também em Pernambuco, Itaquera (em São Paulo), Pinhais (no Paraná) e Cururuquara (também em São Paulo). O ano da Copa do Mundo no Brasil também foi importante porque a organização recebeu um reforço importante do futebol profissional: passou a ter o jogador Hernanes, atleta da Internazionale de Milão e Seleção Brasileira, como embaixador.
O patrocínio de empresas é, atualmente, a principal fonte de recursos da organização, que também capta através de editais e doações. “Nossa visão é de longo prazo, por isso, queremos criar produtos com entrada contínua, diversificar fontes de renda e criar estrutura para suportar os planos”, diz Manoel.
O primeiro projeto deste ano é a Arena Massangana, no Cabo de Santo Agostinho (PE), que está em andamento. Uma placa próxima ao campo convoca a comunidade para os mutirões aos sábados, quando em média 20 pessoas trabalham em conjunto. O espaço já costumava ser utilizado para treinos de futebol, campeonatos locais e festas da comunidade. “Sempre sonhei com a reforma desse campo. Me envolvi por isso. É um sonho de infância de muita gente da comunidade e o que motiva as pessoas a se juntarem é ver que que está acontecendo. Cada dia que passa aumenta mais o envolvimento”, conta o vigilante Ivaldo José dos Anjos, 35, nascido e criado na comunidade de Engenho Massangana.
RESULTADOS DE HOJE E DE AMANHÃ
Por iniciativa própria, os participantes criaram um grupo no Whatsapp para articular os trabalhos. “A gente vê que a união faz a força e quando todo mundo participa, tem mais responsabilidade com o lugar. As pessoas se sentem donas”, diz Joelma Maria dos Anjos, 33, cabeleireira e zagueira do time feminino local.
Um estudo de impacto realizado no projeto de Penedo de Cima trouxe dados valiosos para Manoel: 90% dos entrevistados afirmaram ter uma comunidade mais fortalecida e unida, e 98% alegaram que a construção do campo foi responsável por outras melhorias. “Mais do que uma organização social, na sua base, a love.fútbol é um movimento. Me juntei a ele porque acredito no poder do futebol, no esporte para transformação social. Cada pessoa dessas comunidades, cada um dos 150 voluntários, em média, por projeto, está ali por isso. Como o nome diz, pela paixão pelo futebol. Todos se conectam da mesma forma”, diz.
Para o futuro da organização, Manoel quer crescer aos poucos. Prevê algo entre quatro e oito projetos concluídos este ano. “Para 2016, queremos 10. Até 2018, pensamos em 30 projetos globalmente”, diz ele, com fome de bola.
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