Muito tem se falado dos cuidados com a higiene e a saúde mental durante a pandemia, mas nossa postura também vem sendo abalada por conta do sedentarismo, do tempo excessivo em frente às telas e da tensão.
De acordo com uma pesquisa online, feita em todo Brasil com mais de 45 mil pessoas, 41% dos entrevistados disseram sentir dor nas costas. Em 2013, segundo o último levantamento do IBGE sobre o tema, essa taxa era de 18,5%. O estudo foi realizado pela Fiocruz, UFMG e Unicamp.
O risco de quedas, que já é de cerca de 30% entre os 65+ segundo a Organização Mundial da Saúde, também aumentou com mais idosos isolados em casa. Antecipar e prevenir esse risco e as lesões decorrentes é o foco da TechBalance, startup fundada em 2019.
ELA QUERIA FAZER UM MESTRADO, MAS ACABOU EMPREENDENDO
A história da TechBalance começou em 2017, com um estudo acadêmico.
A fisioterapeuta Fabiana Almeida, 35, fundadora da startup, fez carreira na área de assistência e gestão de clínicas. Paralelamente, tocava um negócio próprio, um serviço de atendimento home care. Por sete anos, ela atendeu idosos em suas residências:
“Essa história do cuidado com a prevenção ficou muito forte em mim. Percebi que não importa se o paciente é da classe A ou é atendido pelo SUS: se não construir uma vida saudável, não importa muito como chega financeiramente à velhice”
Fabiana pensou em fazer um mestrado na área, para gerar conhecimento sobre o tema. Chegou a desenvolver um projeto cientifico dentro do laboratório da USP por oito meses, mas acabou deixando a ideia de lado.
“Minha vida não estava alinhada para iniciar uma história acadêmica, pois tinha um filho pequeno, horários muito justos… E também não me identifiquei com o perfil da academia. Queria algo mais dinâmico, um caminho em que pudesse errar e testar mais.”
O tempo na universidade, entretanto, não foi perdido. Com a ajuda de um grupo científico da USP e da Universidade Tecnológica do Paraná, ela começou a desenvolver a ideia de uma tecnologia preditiva de riscos de lesão e queda com base no equilíbrio postural.
NA HORA DE VALIDAR O MVP, FABIANA PERCEBEU QUE A IDEIA NÃO ERA PRÁTICA
Foi só depois de se desvincular da academia que sua ideia de negócio deslanchou de fato.
Enquanto se dedicava a cursos de empreendedorismo e em aprofundar o networking, Fabiana projetou um hardware que funcionava por meio de um adesivo com um chip colado no corpo do paciente, para monitorar suas ações motoras.
Esse era o conceito original do TechBalance. Ou seja, um wearable (tecnologia vestível). Ela registrou a patente e tirou um CNPJ. Em outubro de 2018, recebeu o primeiro investimento-anjo, de 380 mil reais, para desenvolver um MVP.
Na hora validar a ideia, em um hospital da Amil, em 2019, ela percebeu que o modelo não seria prático.
“Dependeria de muitas aprovações, alto investimento… E o mercado não estava pronto para absorver um super wearable”
Decidiu investir em um software que operasse em qualquer hardware, no caso um celular.
COMO FUNCIONA A FERRAMENTA DA TECHBALANCE
A TechBalance deixou ser um wearable para se tornar um aplicativo que examina o paciente e aponta o risco de quedas no futuro.
Funciona assim: por meio de um kit fornecido pela startup (com cinta, celular, degraus e passadeira), o paciente faz determinados movimentos, captados por sensores do smartphone (acelerômetros, magnetômetros e bússolas digitais) e analisados pelo algoritmo do aplicativo.
No exame, que dura cerca de 15 minutos, o celular deve ser mantido próximo ao corpo do paciente, dentro de uma pochete. O app então realiza medidas de equilíbrio em cada postura e gera um relatório com um score de risco de queda e uma sugestão de plano de tratamento.
Há também a possibilidade de fazer o exame à distância, online — sem as medições e com o paciente respondendo perguntas sobre seu histórico clínico (quais remédios toma, se já sofreu queda, tem alguma lesão ortopédica etc.). O algoritmo gera um score em 3 minutos.
“Por causa da pandemia, investimos nesse modelo online”, diz Fabiana. “Se o exame aponta que há risco, aí sim chamamos o paciente até uma unidade para fazer uma avaliação mais aprofundada com o celular no corpo.”
ALÉM DE HOSPITAIS, SEGURADORAS E ACADEMIAS, A STARTUP ATENDE NO B2C
A fisioterapeuta percebeu que o exame da startup não serviria apenas para idosos, mas como uma ferramenta de prevenção e controle para quem está numa faixa de risco (segundo ela, a partir dos 40 anos).
Hoje, a startup tem seis clientes, entre eles a Prevent Senior e a Alta Diagnósticos (da Dasa) e a rede de academias Tecfit Brasil. Na linha esportiva, o exame serve para avaliar o aluno e indicar o treinamento adequado para melhorar o desempenho e fortalecer a musculatura.
O modelo de negócio, nos dois casos, é a venda de software e do serviço.
“Se é uma seguradora que tem rede própria e quer só a tecnologia, vendemos o software. É cobrada uma taxa de implantação e uma mensalidade [a partir de 5 mil reais], e treinamos os profissionais para usar nosso sistema”
Caso o seguro de saúde não tenha uma rede própria de profissionais, pode contratar a TechBalance para realizar as avaliações e reavaliações dos pacientes; o corpo clínico fica com acesso aos resultados por uma plataforma web.
Recentemente, a TechBalance passou a atender também diretamente pessoas físicas, com um pilar de cuidado integral por teleatendimento (neste caso, o cliente paga uma assinatura mensal de R$ 59,90) e no presencial, em home care, com cobrança por avaliação e visita (cerca de 150 reais).
“Estamos ainda numa fase de testes neste modelo B2C e começamos a atender pessoas que desejavam ter acesso ao serviço para os pais idosos ou atletas que se interessaram pela proposta”, diz.
O SONHO DE INSERIR O TECHBALANCE NO SUS POR ENQUANTO PERMANECE ADIADO
A TechBalance passou por várias acelerações. A mais recente foi da Quintessa; antes, a startup foi acelerada pelo hub/sp, da USP, pelo moblab+, da Prefeitura de São Paulo, e pela Artemisia.
Na aceleração da Artemisia, o foco era saúde pública — e a proposta, entender como o modelo de negócio da TechBalance poderia funcionar no SUS.
Essa ideia, porém, não foi em frente:
“É um propósito muito grande nosso atuar na saúde pública, mas o sistema tem dificuldades de absorver nossa proposta por conta do teto de contratação e também porque entra num modelo licitação e eles não sabem enquadrar um negócio inovador nesse processo”
A própria inovação do negócio é um obstáculo, já que a licitação traz por premissa identificar três fornecedores semelhantes. “Além disso, tem toda uma questão política [no setor público], de troca de gestão a cada quatro anos”, diz. Por enquanto, esse sonho segue adiado.
ELA QUASE FALIU QUANDO UM PROGRAMADOR A DEIXOU NA MÃO
Fabiana conta que vem de uma família com negócios na pecuária; desde pequena, diz, estava acostumada a “negociar vaquinhas” junto com o pai.
O “instinto empreendedor” adquirido nessa convivência familiar não evitou alguns percalços no caminho. Por exemplo, a dificuldade de encontrar pessoas qualificadas e engajadas para compor o time.
Hoje, ela tem um sócio que é da área de TI e atua como CTO da startup. Até encontrá-lo, porém, ela diz que penou várias vezes na mão de outros profissionais de tecnologia. Um deles largou o trabalho meio e deixou Fabiana sozinha com “uma planilha de senhas e um código-fonte”.
“As pessoas têm expectativa de ficar milionárias ‘depois de amanhã’, se mostram [aparentemente] motivadas pelo propósito… Mas no terceiro mês já desanimam. Esse tipo de motivação não traz resultados. Startup é uma é uma jornada longa”
A empreendedora diz que quase quebrou na ocasião, mas conseguiu trazer o negócio de volta aos trilhos.
Hoje, a TechBalance tem nove pessoas no time, incluindo quatro profissionais de fisioterapia e medicina, além de um board de cinco investidores, que aportaram três investimentos-anjo. Entre eles, Abdalla Skaf, chefe do Departamento de Diagnóstico por Imagem do Hospital do Coração de São Paulo e diretor de residência médica da instituição; e Guilherme Rabello, Gerente Comercial e de Inteligência de Mercado do InovaIncor.
O MACHISMO AINDA É UM EMPECILHO PARA EMPREENDER COM TECNOLOGIA
Outro desafio, diz Fabiana, foi lidar com o machismo na hora de negociar contratos ou investimentos.
Embora seja cada vez mais comum encontrar mulheres empreendendo com tecnologia, ela diz que ainda paira um “machismo enrustido” nas negociações:
“Quando a mulher tem uma opinião firme, ela está sendo ‘estressada’, ‘histérica’. Quando não quer mudar sua posição porque tem todo um background sobre o assunto, ela é ‘teimosa’. Sempre vejo usarem o aspecto emocional para depreciar, desabilitar a mulher na sua decisão, especialmente quando o assunto é tirar dinheiro do bolso”
Uma das perguntas que mais ouve é: como você vai gastar esse dinheiro? “E eu respondo: consulte a planilha que te mandei há quinze dias…”
O desabafo é justo. Mesmo engasgada com esse tipo de situação, ela tenta não se abater.
“Parece que nós mulheres temos que performar não 80%, mas 130%…! Enquanto isso, um homem perfomando 50% já está lá ganhando o mercado… Não vou dizer que eu tiro isso de letra. Mas a minha indignação me move — e me faz seguir em frente.”
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