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Conheça a Flag, a “plataforma de disrupção criativa” inventada por Roberto Martini

Mariana Castro - 29 jan 2015 Roberto Martini, CEO da Flag, criatividade e estratégias assertivas nos negócios.
Roberto Martini, CEO da Flag, criatividade e estratégias assertivas nos negócios.
Mariana Castro - 29 jan 2015
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Mariana Castro, que assina esse texto, lançou Empreendedorismo Criativo (Portfolio/Penguin, 199 pgs), onde conta em detalhes o case da Flag e mais oito histórias completas sobre novos empreendedores brasileiros e seus empreendimentos criativos. Compre. Leia. Recomende.

 

Se tudo der certo, nos próximos anos a sede da Flag, que atualmente acomoda uma parte de seus 400 funcionários, vai deixar de existir. O imponente escritório que toma hoje o 16º andar do número 12.495 da Av. das Nações Unidas, em São Paulo, tem decoração exótica, que conta com um bar, uma mesa de pebolim, neons, lustres pomposos, candelabros, escultura de águia, um porco como mesinha de canto e uma sala com paredes pretas. É lá que o CEO Roberto Martini, olhos verdes, cabeça raspada, pele bem clara, braços tatuados e vestido sempre de preto, recebe parceiros e clientes.

Mas a ideia é que, em breve, a Flag, “uma plataforma de disrupção criativa” esteja usando a estrutura de suas mais de vinte empresas espalhadas por São Paulo, Rio Grande do Sul, Rio de Janeiro, Estados Unidos e, logo mais, Europa, como pontos de trabalho. E que tenha apenas uma espécie de loja conceito, ou um show case, onde possa apresentar novos projetos e reunir sua equipe de tempos em tempos. Será uma mudança e tanto.

Mas, se isso acontecer, é sinal de que o negócio inventado por Martini e lançado oficialmente no mercado em janeiro de 2013 está saindo como previsto. Quando começou a desenhar a Flag, junto com a mulher, Luisa Martini, e o sócio, Matheus Barros, Martini estava interessado em criar uma holding do futuro, que pudesse acelerar a mudança e contribuir para um mundo “menos comoditizado e mais colaborativo”.

Ali a lógica é de mais distribuição e menos acúmulo. De dividir para multiplicar. Por isso, a proposta não é fazer com que as empresas cresçam demais ou tenham uma grande estrutura fixa, mas sim que, a partir de determinado momento, comecem a dar origem a outras, como ele explica:

“É um sistema mais celular. A célula vai até onde se mantém saudável, depois, começa a se fragmentar. O que é ineficiência para uma empresa vira oportunidade para outra”

Para isso, ele desenvolveu um ecossistema que pudesse dar musculatura e todo o suporte necessário para que empreendedores focassem sua atenção no seu próprio negócio, sem precisar se preocupar com questões burocráticas e administrativas. Além disso, que pudessem se beneficiar da estrutura de uma empresa já estabelecida, com uma bela carteira de clientes e boa reputação, e de seus maiores talentos, para concretizar e tornar viáveis as suas ideias.

A carteira de clientes, os talentos e a boa reputação foram herdados da CuboCC, agência criada por Martini em 2004, fundamental para o surgimento da Flag. A Cubo nasceu digital mas ao longo dos anos expandiu sua área de atuação. Alguns dos departamentos da agência foram transformados em novas empresas, que passaram a fazer parte da Flag. Foi assim com a primeira delas, a Iceland 2ND Nation, produtora com foco em tecnologia, e a Kumite, produtora na área do audiovisual. A Pong Dynasty é uma agência parecida com a Cubo, mas se diferencia por seu modelo de negócio, em que só começa a ganhar dinheiro depois de bater uma meta estabelecida com o cliente.

Luisa Martini, mulher e sócia de Roberto, é a responsável pelo Clan e por manter a "cultura Flag" nas empresas do grupo.

Luisa Martini, mulher e sócia de Roberto, é a responsável pelo Clan e por manter a “cultura Flag” nas empresas do grupo.

Já a S-Kull foi criada para ser uma incubadora, aceleradora e venture capital. Acompanha tanto novos negócios de dentro da Flag, como o movimento de empresas no mercado para, eventualmente, trazê-las para dentro do grupo. Liderada por Luisa Martini, o Clan, mais uma empresa do grupo, cuida de manter a “cultura Flag” e existe para inspirar, educar e capacitar as pessoas para serem agentes da mudança. O Clan é responsável por organizar festas, viagens e fazer curadoria de eventos, aberta também ao público. Cabe ainda à empresa toda a comunicação interna e externa da Flag.

Outras empresas como Mesa & Cadeira e Mandalah tiveram uma parte comprada pela Flag e foram incorporadas ao grupo sem perder sua autonomia. Principalmente no caso da Mesa, há vários projetos sendo tocados em conjunto. A metodologia da Mesa pode ser usada ainda para encontrar soluções para questões bem práticas dentro da Flag como, por exemplo, todo o planejamento dos negócios do grupo para 2015.

Dentro da filosofia de mais distribuição, a estrutura da Cubo, que deu origem a vários outros negócios, está menor. A equipe, que já foi de 200 pessoas, hoje conta com 100. Diferentemente de épocas em que tinha vários clientes, agora trabalha com alguns, como Unilever, Google, Coca-Cola, Samsung e Heineken.

Dois anos depois de ser lançada, cinco novos negócios surgiram de dentro do ecossistema da Flag, nas áreas de tecnologia e entretenimento, por exemplo. “As pessoas começam a entender a lógica do ecossistema e começam a criar, a desenvolver coisas novas”, diz Martini. Privilégio pouco comum para um empreendedor, uma nova ideia de negócio já pode ser testada ali mesmo, ainda dentro da empresa, com aqueles que já são clientes da Flag. “Se ali não emplaca, é por que tem alguma coisa errada.”

Além do desejo de pulverizar a sede do grupo pelas empresas que fazem parte dele e criar uma loja conceito e um ponto de encontro em seu lugar, Martini pretende consolidar o plano de expansão internacional da empresa. Matheus Barros, que junto com Luisa ajuda a transformar as ideias de Martini em realidade, mora nos Estados Unidos desde o segundo semestre do ano passado. Mais recente na equipe, Andre Matarazzo está levando a Flag também para a Europa.

A JORNADA DE MARTINI

Apontado como um dos profissionais mais criativos de sua área, Roberto Martini nasceu em Pelotas, no Rio Grande do Sul. Dentro de casa teve contato tanto com o gosto pela tecnologia como pelo empreendedorismo. Sua mãe teve filhos cedo e por conta disso não seguiu uma carreira. Mas Martini conta ela era apaixonada por tecnologia, games, eletrônica e programação. Já o pai é empreendedor e comerciante de bateria de carros, além de ter sido sempre um bom esportista.

O CEO da Flag entrou na faculdade para cursar análise de sistemas e fazia estágio dando suporte de informática na Universidade Federal de Pelotas. Trabalhou ainda no Conesul, um dos primeiros provedores de internet do país, dando suporte técnico e cuidando da configuração dos servidores. Nas horas vagas, programava.

Começou a trabalhar como programador, na época em que a internet comercial começava a existir. Além entender de tecnologia, Martini pesquisava sobre design por se interessar sobre o assunto. Graças a isso, era um profissional mais completo do que a média. Fazia freelas para clientes, até resolver se juntar a dois amigos para montar seu primeiro negócio, a AG2. Ele tinha 18 anos.

Realidade virtual, gamificação, mind hacking... Na Flag as experiências se tornam projetos.

Realidade virtual, inteligência artificial, gamificação, mind hacking… Na Flag as experiências se tornam projetos.

Depois da AG2, junto com outros três sócios fundou a Rage, braço digital da holding de Washington Olivetto, a Prax. Lá, montou uma equipe composta por gente de diferentes áreas, como quadrinistas, designers, poetas… Em um mercado novo como o da internet, ainda não tinha gente especializada. O perfil multidisciplinar do grupo funcionou.

Quando saiu da Rage, estava cansado da burocracia de grandes companhias. Queria criar uma agência digital, que fosse mais independente, da qual tivesse o controle. Sabia que para isso precisava ganhar mais experiência e estudar. Ele havia desistido de duas faculdades: a de análise de sistemas, no último ano, e a de publicidade, no primeiro. Foi quando resolveu fazer o curso de gestão estratégica com ênfase em finanças, no qual se formou.

Junto com dois amigos de Pelotas, um programador e um diretor e arte, Martini lançava a Cubo em 2004, com a ideia inicial de dar suporte para que agências de publicidade pudessem desenvolver projetos mais inovadores. Em pouco tempo, foi ganhando espaço e aumentando sua área de atuação, até se relacionar diretamente com clientes, como a Unilever. Em 2010, 70% da Cubo foi vendida para um dos maiores grupos de publicidade do mundo, o Interpublic, composto por gigantes como McCann Worldgroup, Lowe and Partners, Draftfcb e RGA.

Só quando a Cubo estava encaminhada e bem estabelecida no mercado é que Martini começou a desenhar a Flag, em busca, mais uma vez, de um negócio inovador.

Martini é conhecido no mercado como um profissional talentoso, com estratégias agressivas de negócios. Admite que é romântico quando o assunto é empreendedorismo e nada romântico quando o assunto é o mercado publicitário. Como líder, é seguido por um time que muitas vezes tem uma relação de reverência com ele. Está sempre de olho em grandes nomes do mercado e não poupa esforços para contratar gente que admira. Muitas vezes, não tem cargos para esses profissionais. Mas acredita que não falta espaço para pessoas brilhantes, das quais quer se cercar.

O CEO da Flag adora tecnologia e investe parte de seu tempo pesquisando sobre assuntos como realidade virtual, inteligência artificial, mind hacking, arte, evolução exponencial e games. A tese do mestrado que ainda não concluiu na Berlim School Of Creative Leadership é sobre uma fórmula matemática influenciada por um algoritmo que mostra que o melhor resultado em termos de conversão de cliques na internet tem a ver com felicidade, emoção e simplicidade. Também estudou em Stanford e na Singularity University, da qual faz parte do board.

Desde 2006 trabalha junto com a mulher. Ele e Luisa se conheceram há 20 anos, quando Martini tinha 15 e ela, 13. Embora estudassem na mesma escola, ele tomou a iniciativa e “falou” pela primeira vez com a garota bonita de quem gostava pela internet. Combinaram que um dia iriam se casar. A vida levou cada um para um lado. Aos 21 anos, logo depois que deixou a AG2, Martini teve uma filha, Julia. Luisa foi morar com o namorado nos EUA. Só depois os dois voltaram a se cruzar, em uma festa. Estão juntos há 12 anos. E cumpriram a promessa de se casar.

DE VOLTA AO DIA A DIA

Ao lado de Luisa e Matheus, Martini começa a formatar um novo negócio, ainda em processo de desenvolvimento. “Ele vem da vontade de dar vazão a outras formas de se expressar e de usar nosso aprendizado para resolver problemas complexos, de encontrar soluções para problemas novos. E não apenas atender a demandas”, conta.

Enquanto constrói o novo empreendimento, ao longo deste ano Martini pretende ficar mais perto da operação da Flag e de gente nova que compõe sua equipe. Quando estava tirando a ideia da Flag do papel, o CEO acabou se afastando para dar cara ao negócio. Depois, ficou mais na gestão da empresa. Além disso, no ano passado, Julia, que está com 14 anos, veio morar com o pai. “Dediquei boa parte do meu tempo a ela”, ele diz.

Agora Martini quer participar mais ativamente do dia a dia da empresa que criou. Está ajudando no planejamento dos negócios, acompanhando reuniões com a equipe, trabalhando junto. “Tem muitas coisas que criamos que precisamos implementar. Essa é a parte que eu mais curto: a hora de fazer acontecer.”

draft card FLAG

 

Mariana Castro é jornalista e autora do livro Empreendedorismo Criativo. Trabalhou no Grupo Estado e na Editora Abril, antes de ir para o jornalismo digital. No portal iG, atuou como editora-chefe do Último Segundo e editora-executiva de Política, Internacional, Cidades e Educação. Atualmente é diretora da F451, que publica o Gizmodo Brasil.

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