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Contra a frustração, o autoconhecimento. É assim que a Nexo está ajudando grandes empresas a contratar

Giovanna Riato - 2 maio 2016 Andreas, da Nexo, enfatiza que as empresas que souberem lidar com os nativos digitais serão recompensadas com alto potencial de disrupção desta geração.
Andreas, da Nexo, enfatiza que as empresas que souberem lidar com os nativos digitais serão recompensadas com alto potencial de disrupção desta geração.
Giovanna Riato - 2 maio 2016
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As grandes empresas sempre enfrentaram o desafio de atrair e reter seus talentos, certo? Mas, ultimamente, esse problema ficou ainda mais delicado por dizer respeito aos jovens nativos digitais, aqueles que nasceram já rodeados pelas facilidades e rapidez da internet. Gente que, a despeito do talento e da boa formação, acaba se frustrando muito rápido com a rotina de uma corporação e pula fora antes mesmo de perceber o quanto poderia crescer lá dentro.

Um levantamento da Society of Human Resource Management indica que 87% dos trabalhadores globais estão desmotivados. Hoje, uma pessoa passa, em média, 4,4 anos no mesmo trabalho, tempo que cai para menos de três anos no caso dos jovens. Se os atores são outros, também a forma de resolver o problema tem de ser diferente. É nisso que aposta a Nexo, uma empresa de recrutamento que existe há dois anos que criou — em parceria com grandes contratantes — o Master Internship Program (MIP), um programa de estágio compartilhado, no qual os jovens passam por três empresas, com culturas e lideranças diferentes. Há, também, um acompanhamento paralelo, especialmente para ajudar no lado emocional da experiência e não deixar as ilusões se transformarem em frustração.

A meta é oferecer aos universitários um aprendizado rápido, no qual tenham a chance de conhecer e se identificar com uma área ou companhia antes de entrar em um longo e custoso processo de seleção para, só lá na frente, perceber que não era o que queriam. Andreas Auerbach, 38, sócio e cofundador da empresa, fala a respeito: “No MIP, desenvolvemos uma colaboração muito grande entre empresas de alta performance. Vimos a necessidade de um projeto que olhasse para os jovens, mas também para as universidades e companhias, que seguem replicando modelos antigos de gestão”.

O faturamento da Nexo vem do valor (único) que as empresas participantes do MIP pagam, referente a todo o programa — incluindo o recrutamento, a Escola Nexo e o acompanhamento da turma ao longo de todo o projeto. A Nexo é um braço da BOX 1824, especializada em pesquisas de mercado, responsável pelo processo seletivo para o MIP. Em 2015, eles foram às universidades recrutar jovens para participar do MIP de olho em um critério específico, segundo Andreas: “Buscamos pessoas que tinham alto impacto, influência e demonstravam aproveitamento máximo das oportunidades”.

Treinamento comportamental dá apoio ao desenvolvimento dos jovens que entram no programa de estágio compartilhado

Treinamento comportamental, da Nexo, dá apoio ao desenvolvimento dos jovens que entram no programa de estágio compartilhado.

Paralelamente, a empresa entrou em contato com companhias que pudessem ter interesse em oferecer os tais estágios compartilhados. Entre clientes da Box, foi fácil encontrar nomes de peso dispostos a tentar um novo método em busca de talento, com resultados mais assertivos: Ambev, McKinsey e Credit Suisse abraçaram a ideia.

Um grupo de 150 jovens participou da seleção, e 10 foram escolhidos para o primeiro ciclo do MIP, que começou em janeiro deste ano. Nos próximos 18 meses, eles farão estágios de seis em cada companhia. A ideia é que no fim os jovens recebam propostas e escolham onde querem ficar.

A Nexo está no mercado há cinco anos como um negócio da BOX 1824, mas só há dois tornou-se uma companhia independente. Manteve, é verdade, o DNA de inovação que ajudou a convencer os três grandes parceiros do MIP, como Ambev. “Não tivemos dúvida e abraçamos o projeto na hora. A Ambev é conhecida por adotar práticas inovadoras internamente e essa foi mais uma delas. Esperamos ótimos resultados”, afirma Daniel Ribeiro, diretor de desenvolvimento de gente da Ambev.

COMO ESCAPAR DA ARMADILHA EMOCIONAL?

O amadurecimento profissional que os universitários vivem nas empresas conta com o apoio de um treinamento comportamental com foco em autodesenvolvimento oferecido pela chamada Escola Nexo, que é um núcleo de convivência para os participantes desses estágios. Os encontros acontecem aos fins de semana e proporcionam vivências voltadas à performance, comunicação e crenças. A ideia é compensar, ou ao menos amenizar, uma deficiência que a Nexo identifica na educação de forma geral. “As universidades oferecem conhecimento técnico e esquecem da importância do autoconhecimento. A dificuldade de muitas empresas em reter estes profissionais está ligada às questões comportamentais, não com a capacidade técnica”, diz Andreas.

Uma pesquisa da Hay Grup, feita em 2014 com diretores de recursos humanos de empresas na China, Índia e Estados Unidos, mostrou que 80% dos entrevistados têm dificuldade para encontrar recém-formados com as habilidades emocionais e sociais para preencher as vagas. Para a Nexo, aprofundar-se em questões comportamentais é uma forma de trabalhar com a necessidade de satisfação imediata que os jovens nativos digitais normalmente têm. Em cinco anos este grupo representará 50% da força de trabalho global, número que saltará para 75% em 2025.

Em geral estes jovens, segundo Andreas, tendem a mostrar baixa persistência e têm baixa capacidade de fazer concessões quando o assunto é trabalho. A situação é agravada pela grande expectativa em torno da carreira:

“Há um discurso muito idealizado de precisar ter um trabalho legal, com um dress code bacana e chefes inspiradores. Os jovens falam muito da necessidade de encontrar um propósito, mas isso não é imediato. Eu pergunto: que preço você está disposto a pagar para encontrar seu propósito e fazer o que ama?”

Com o questionamento, Andreas lembra os novos profissionais que, na maioria dos casos, antes de encontrar estas respostas é preciso camelar por algumas dificuldades, investindo tempo e ganhando experiência. “Nosso papel é ampliar esta consciência”, diz, ao explicar que a idealização dos trabalho gera nos jovens o que chama de crise dos 20 anos. Diante de tanta expectativa e cobrança, há uma paralisia logo no início da vida profissional.

A CORPORAÇÃO TAMBÉM TERÁ QUE EVOLUIR

A saída das empresas para driblar os desafios que os nativos digitais impõem, Andreas conta, é seguir o código emergente de trabalho, que inclui hiperconectividade, colaboração, mentalidade flexível e hierarquia com papéis e cargos validados constantemente. É o fim do chefe acomodado em uma posição há anos mesmo sem liderar como deveria. “As pessoas e organizações terão de evoluir juntas e os jovens esperam ambiente que os ajude neste caminho.”

Gabriel, que está estagiando no Credit Suisse, pelo MIP, diz que o programa traz um processo rápido de aprendizagem.

Gabriel, que está estagiando no Credit Suisse, pelo MIP, diz que o programa traz um processo mais rápido de aprendizagem.

Andreas conta que, em geral, as empresas têm mindset voltado ao consumidor e respondem lentamente ao colaborador interno. “Isso gera um hiato na percepção do funcionário, que não acompanha dentro da companhia a mudança que encontra fora dela”, diz, e enfatiza que a coerência é essencial para manter o jovem comprometido. As empresas que souberem se adaptar a este contexto serão bem recompensadas, ele garante. “Os nativos digitais têm capacidade impressionante de aprendizagem e realização. Quando dá certo em uma empresa ou projeto, o potencial de disrupção é evidente”, conta.

Ainda que o programa seja recente, os primeiros retornos sobre o MIP são bastante positivos. Gabriel Cordaro, de 23 anos, estuda na Escola Politécnica da Universidade de São Paulo e foi encontrado pela Nexo na empresa Júnior da instituição. Ele enfrentou o longo processo seletivo e entrou no estágio compartilhado da Nexo. Começou na Credit Suisse, onde está agora para a primeira etapa de seis meses. “Estou adorando. É o processo de aprendizado mais rápido que já tive na minha vida. Estou ansioso pelas próximas etapas”, diz Gabriel.

PRÓXIMOS PASSOS

O MIP é uma aposta estratégica da Nexo. A companhia atua em três frentes. A primeira é recrutamento de jovens para trainee. “Cuidamos também do pós-trainee, já que depois dessa fase muitas vezes não há acompanhamento dentro das empresas”, diz Andreas. A segunda frente de atuação é o vínculo de engajamento interno dos funcionários e o terceiro ponto está na coerência e evolução da cultura das empresas empregadoras com foco em ideais mais contemporâneos.

Passado o período de recrutamento da primeira turma do MIP, a consultoria pretende fazer adaptações para melhorar o programa. Na etapa inicial, a busca por estudantes para participar do estágio compartilhado aconteceu apenas em universidades reconhecidas como as melhores em suas áreas. Agora, o plano é ampliar recrutar sem restrições. “Precisamos chegar nas faculdades onde normalmente as oportunidades não chegam. Há muitos jovens ali que são grandes influenciadores em seu meio e podem exercer isso nas empresas.”

Para Andreas, este é o caminho para desenvolver o trabalho do futuro. Além de amplo aparato tecnológico, este universo terá o engajamento e a satisfação dos funcionários como grande diferencial:

“Hoje a visão ainda é muito de olhar para as pessoas como mão de obra. Isso vai evoluir e empresas perceberão o ser humano de forma integral”

Uma amostra, segundo ele, do aumento da preocupação com o bem estar é o crescimento no meio profissional de práticas como o mindfullness, técnica de meditação que busca aumentar o foco no momento presente e evitar a ansiedade desnecessária.

“Teremos as empresas como agentes de transformação e plataforma de desenvolvimento humano, conectadas com a jornada do indivíduo. O que eu viver dentro do trabalho vai estar muito mais adequado ao que eu vivo fora”, afirma Andreas. É, tem nexo.

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