Todos nós conhecemos alguém que quando entra em uma sala a energia dela muda, aquele tipo de pessoa cativante que prende a atenção de todos com suas histórias. Pois bem, o diretor de arte Billy Castilho, 54, é uma dessas pessoas. Alegre, inteligente, simpático e cheio de vida, esse paulistano não para nunca. Sua mente está sempre criando, ligando pontos e conectando pessoas.
Billy nasceu na Vila Gustavo, zona norte da cidade de São Paulo, menino de família simples e rodeado por quatro irmãos. Sempre curioso, ganhou da mãe o apelido “Especula” e lembra que desde os seis anos era fascinado pelo mundo da arte. Tinha grande curiosidade pelo então prédio do Liceu das Artes e Ofícios, hoje prédio da Pinacoteca do Estado, onde anos depois conseguiu cursar a faculdade de Arquitetura.
Billy preferiu seguir a intuição em vez do roteiro programado e trocou Arquitetura por Publicidade, influenciado pelo então professor Flávio Império, pintor e cenógrafo de espetáculos de artistas como Caetano Veloso e Maria Bethânia. Na faculdade, Billy entrou para o Asdrúbal Trouxe o Trambone, o antológico grupo teatral de Regina Casé e Cia. Ele não tinha a intenção de ser ator, mas queria entender e se conectar com atores. Ali, aprendeu coisas importantes, como rir de si mesmo, falar de si mesmo, rir de suas próprias bobagens.
Sobre o fato de sempre ter sido independente, Billy diz que sempre tudo aconteceu de uma maneira muito natural, as agências o chamavam para solucionar questões, não apenas executar tarefas, e sobre esse ponto o diretor de arte afirma: “Tem muito diretor de arte que cumpre, outra coisa é você provocar e propor”. Com essa atitude, ele consegue até hoje se manter firme em um mercado tão voraz como o da publicidade. Durante oito anos, Billy foi diretor de arte da marca alemã Puma e da Maison francesa Hermès, na qual era responsável pelas vitrines das lojas no país.
E o medo? Billy diz que sente todo dia, “Isso é natural”, ele aprendeu a lidar com esse sentimento e também já forma sua equipe para viver com essa pressão, nesse formato de trabalho mais independente você tem que saber que “se parar um mês tem que guardar dinheiro, mas também tem aquele mês que ganha muito mais”.
“Quando você vê a sua vida é assim, é um ciclo, é energético. Não é uma vida de artista, mas é uma vida de trabalhar com arte, é saber trabalhar com oportunidades, aí a grande dádiva é o seu nome ganhar credibilidade”
Em 1999, depois de dez anos trabalhando como freelancer, Billy concluiu que precisava criar uma estrutura física: foi quando nasceu o Estúdio Senhora Olga, um escritório que fica ao lado de sua casa. Com uma equipe preparada e muita energia o hard working, mudanças de briefing e noites passadas em claro ficam mais fáceis de encarar. Mas não é fácil. “É uma ralação psicológica muito forte. Você tem que ter equilíbrio, objetivo. Quando você tem objetivo você vai em frente e vai entendendo as pessoas. O mercado é muito cíclico, você trabalha dentro da maré das coisas que vão acontecendo”, diz ele.
O primeiro grande projeto que comandou foi com a Skol, há doze anos, no qual Billy foi chamado para preencher com arte as empenas de prédios. Nesse momento ele conheceu vários artistas e grafiteiros, e a relação foi se estreitando por conta da mini tour que a equipe formada fez pelo Nordeste para divulgar o projeto.
COMO TRANSFORMAR SINERGIA EM NEGÓCIO
O clique para transformar sinergia em um negócio veio depois, quando Billy começou ajudar essa turma de artistas a montarem suas próprias exposições. Assim nasceu a Tag Gallery, na época, ainda uma “galeria imaginária”: uma tentativa de separação mental entre a publicidade e a galeria.
“Nunca ganhei dinheiro com arte, sempre ponho dinheiro em arte, mas é hobby misturado com prazer, misturado com gostar mesmo”
Ele critica um modelo de galeria de arte que considera muito voltado ao comércio, ao ego, à escolha de clientes por critérios subjetivos. “Para algumas galerias, ter dinheiro não quer dizer que você pode ter aquela obra de arte”, diz. Diante desse cenário, ele formularia um outro business, mais informal e potencialmente mais verdadeiro. “Nunca imaginei ter uma galeria caixa branca, queria entender o que era o mercado e até onde eu podia chegar.”
Em 2009, o amigo Pablo Gallardo tinha acabado de voltar da Austrália, cheio de ideias e referências. Billy, que sempre foi ligado a movimentos urbanos, sentiu que podiam começar um novo projeto. Juntos, em 2010 eles abriram a Tag and Juice, um espaço multi cultural que funcionava como galeria, loja e oficina de bikes fixed gear (aquelas sem marcha). O investimento inicial foi de 50 mil reais e da ideia até abrirem as portas, levaram somente sete meses. “Foi minha a primeira experiência mais exposta, de estar em um lugar e comandar toda a minha vida dali, eu só saía para reunião”, conta Billy.
As parcerias também começaram aparecer de maneira natural, as marcas tinham curiosidade pelo novo espaço da cidade e mostravam o interesse de fazer parte desse universo. Marcas como a Levi’s, que tem uma linha pensada especificamente para ciclistas, e a Cotton Project eram algumas que eram vendidas na lifestyle shop.
A curadoria feita por Castilho e Pablo incluía revistas, livros da editora Freebook acessórios e peças para fixed gear. Eles se tornaram um laboratório de conceito, pelas palavras de Billy: “A gente não era uma loja do Jardins, a gente não era uma loja de shopping e a gente também não era uma loja de rua qualquer, porque a gente vendia cerveja e reunia as pessoas”.
Arte e mobilidade combinam com drinks, festas, diversão e claro, comida. Assim, os sócios começaram chamar os amigos chefs para participarem de seus pulsantes happy hours, que aconteciam nas tardes de sábado.
“Se a Tag and Juice abrisse hoje, a gente não conseguiria fazer o que fizemos. Fomos a primeira loja que fazia churrasquinho na rua, a gente foi o pré-food-truck, antes do boom das ciclofaixas. Era o momento certo, com um público que estava carente por isso”
Ainda pensando na expansão do projeto, e sempre com a intenção de juntar os amigos e fazer bons momentos, no ano passado surgiu a Praça Tag and Juice, no terreno que ficava em frente à loja e foi adotado por Billy e Pablo. Pic nics, festas à tarde com drinks e comidinhas, som bom sempre rolando… Era o paraíso para uma turma que queria se divertir em um ambiente agradável e familiar, sem os excessos da noite paulistana. Mas, mesmo os sócios tendo planos para criarem ações como oficinas de bike e marcas querendo patrocinar o local, por problemas envolvendo documentação e aluguel, o projeto da Praça acabou. Era o começo do fim.
QUANDO O SUCESSO APRISIONA
Os dois sócios viviam momentos pessoais diferentes. Pablo estava para ser pai e Billy, com seu espiríto livre, gostava de viajar e ter liberdade para tocar seus projetos, fazer suas pausas para descanso. Nada disso era possível com a rotina fixa da Tag and Juice. Eles se viram dependentes dos eventos e acabaram percebendo que não valia mais a pena manter esse ritmo. O fato de sempre terem que trabalhar de sábado, não poderem viajar, não poderem descansar com a família, tornou-se maior e mais forte que o projeto em si.
Com a junção de motivos pessoais, jurídicos e tributários o final da Tag chegou, em abril deste ano, e ficou claro para os sócios que era o momento certo de dar fim ao tão querido espaço. Após quatro anos, era hora de fechar as portas. Tão importante quanto saber decifrar e oferecer o que o mercado está desejando é saber a hora de diminuir o ritmo, respeitar motivos pessoais e sair do mercado de maneira digna, com a situação financeira e imagem dos envolvidos intacta. Pensar na credibilidade em decisões como essa é essencial, é muito difícil parar no ápice do sucesso, porém são essas atitudes que salvam um projeto de cair no esquecimento ou desgosto de seu público, como Billy diz:
“Energeticamente, aconteceu na época certa e do jeito certo. A gente se preservou e fechou na alta, ganhamos credibilidade com os amigos e com São Paulo”
Com o encerramento das atividades da Tag and Juice, Billy pode voltar a se focar em um projeto antigo, a sua Tag Gallery. Era hora da galeria imaginária ganhar a rua, tornar-se real. Dessa vez, com um investimento inicial de 40 mil reais, ele invadiu o centro de São Paulo, especificamente na Rua Libero Badaró, e ali começou mais uma empreitada em sua vida.
A Tag Gallery tem como conceito agrupar pessoas e chamar atenção para o movimento e espaços urbanos. Nas palavras de Billy, a escolha de se instalar no centro veio porque “a Vila Madalena é legal, mas ela está se esgotando aos poucos. Já perdeu a característica de ser um lugar de lançamento”. Ele coloca nessa conta a entrada feroz de grandes construtoras no bairro, bem como a massificação de eventos como a Copa do Mundo e o Carnaval de rua.
Nesse contexto, o realizador não hesitou em direcionar seu novo business no centro da cidade, onde há um movimento cada vez mais forte reunindo pessoas e iniciativas de novos empreendimentos culturais criativos. Entre eles, há desde eventos culturais no Anhangabaú, exposições em locais como o CCBB, Praça das Artes, opções de restaurantes e bares como o Ramona, Mandíbula, Paribar, Dona Onça etc. É todo um novo circuito e Billy, assim como muitos outros empreendedores, acredita e já está vivendo fortemente esta revitalização do Centro.
“É essa turma que está no centro que vai começar fazer a historia de um novo movimento da cidade”
A criação de um festival de arte é um plano futuro do empreendedor, que após um período de experiência com alguns artistas decidiu focar em curadoria, no sentido de que o artista da Tag Gallery também será curador de novos artistas e ideias, colocando esses criativos em um papel diferente.
Um plano futuro pessoal de Billy é estudar fotografia. Ele não virar fotógrafo profissional, mas quer ganhar intimidade com o equipamento e ter mais um meio para expressar suas ideias. Assim, dá para perceber que o Especula, aquele menino curioso cheio de vontade de fazer e criar nunca deixou de estar ali. Se você vir o nome de Billy envolvido em algum projeto, preste atenção, que o negócio vai ser quente.
Ele era um dos maiores capistas e infografistas do país, e estava prestes a se tornar pai quando, um dia, aos 42 anos, desmaiou subitamente. Hoje, com a Kosmic Design, Rodrigo Maroja quer inspirar os outros a viver uma vida mais feliz.