Ambição é uma das palavras que guia os passos da InEvent, startup que nasceu em 2013 para atender a demanda do mercado de eventos por novas soluções digitais. A ambição dos três sócios, Pedro Góes, 23, Maurício Cucolo, 22, e Vinicius Neris, 24, é no melhor sentido do termo, aquele que descreve a vontade de fazer melhor, ou, nas palavras de Pedro, de “criar uma startup brasileira de alto valor”.
O produto da InEvent é um aplicativo para eventos corporativos que reúne conteúdo e programação, além da possibilidade de networking entre os participantes e de servir como mais um canal de marketing para as marcas. “Os usuários podem receber notificações por push no celular. É direto, uma boa oportunidade para as empresas”, diz Pedro, que cursava Engenharia de Computação na USP São Carlos.
O embrião da startup nasceu na universidade sob encomenda para a semana acadêmica do curso de Engenharia Aeronáutica, serviço que rendeu a Pedro 100 reais como pagamento. “Na época, achei o valor ótimo e fui correndo programar”, conta ele. Depois desse primeiro impulso, Pedro percebeu que faltavam bons aplicativos para a área de eventos e decidiu investir nisso. Encontrou na faculdade mesmo os outros dois parceiros para o negócio. Vinicius fazia Engenharia Mecânica e Maurício, que chegou cerca de quatro meses depois, estudava Ciência da Computação. Todos tinham em comum o desejo de empreender.
No fim de 2013 o negócio começava a tomar forma. Eles investiram cerca de 3 mil reais para cobrir os custos com servidores, melhoraram o aplicativo inicial desenvolvido por Pedro e fizeram outras duas semanas acadêmicas, ainda sem ter em vista um cliente para rentabilizar a solução. O aplicativo da InEvent é todo pensado para gerar leads de negócios e facilitar a interação entre participantes de um evento: possui uma área de chat nativo (e fechado), é integrado com o LinkedIn, permite consulta online e offline, taggeia pessoas por interesses e facilita o follow-up. Outro atrativo é para o organizador do evento: além da exposição da marca dentro do app, ele permite que os participantes avaliem os serviços do evento, desde a qualidade do café até o nível dos conteúdos apresentados. Mas tudo isso carecia de clientes.
A sorte melhorou quando a InEvent recebeu uma indicação. “Um amigo falou de nós para o tio que tem uma empresa de eventos. Ele me ligou e perguntou quanto cobrávamos. Eu, sem ter ideia do que dizer, chutei 10 mil reais. Ele aceitou na hora. Para quem tinha recebido 100 reais da primeira vez foi uma bela evolução”, conta Pedro.
O dinheiro veio na hora certa. Em seguida os três receberam retorno positivo de um edital para startups no qual tinham se aplicado: fariam o Lisbon Challenge, programa de aceleração de três meses em Portugal. Lá, poderiam aproveitar todo o programa, mas tinham de bancar as passagens aéreas e a estadia. “Fizemos as contas e dava certinho com os 10 mil reais. Fechamos um quarto para os três em uma república, trancamos a faculdade e fomos”, diz Pedro. A experiência, além de trazer mais ferramentas para que eles levassem a startup adiante, uniu o time:
“Essa é a parte legal de ter sócios. Quando você acha que não vai dar certo, tem alguém lá para pilhar e te dar força”
Foi assim que eles voltaram ao Brasil, em julho de 2014 e, mesmo cheios de ânimo, tiveram de encarar uma dura realidade: não tinham nenhum cliente em vista. Vinicius, o sócio responsável por cuidar das vendas, estava em contato com mais de 50 empresas de eventos sem que nenhuma delas demonstrasse interesse consistente em contratar a InEvent.
SÓCIOS CHEIOS DE GÁS, EMPRESA SEM NENHUM CLIENTE
Ainda levou algum tempo, mas a ralação dos sócios da InEvent enfim rendeu um fruto. Em 2014, o Epicentro Festival de Empreendedorismo, decidiu colocar em prática a sua filosofia de incentivo aos novos negócios e dar uma colher de chá à startup. “Eles foram os únicos que acreditaram na gente, quando ninguém nos dava espaço”, diz Pedro. Bolaram uma parceria, na qual forneceriam o aplicativo sem custo para o Epicentro em troca de uma recomendação. Deu certo: o organizador do evento Ricardo Jordão, recomendou a InEvent para outra empresa, a Rakuten, que os contratou para o Rakuten Expo por 8 mil reais.
O resultado foi bom, e eles terminaram com 8 mil reais nas mãos, montante que foi embora rapidamente para cobrir os débitos que eles tinham acumulado até então. O ano de 2014 terminou com algumas vitórias para os três sócios, mas ainda sem qualquer garantia de novos contratos.
Já no começo deste ano, no entanto, as coisas começaram a dar mais certo, depois de tanta cara na porta. “Saímos do faturamento de 8 mil reais em um ano para 100 mil reais até agora em 2015. Os clientes simplesmente começaram a aparecer”, conta Pedro. Devagar a lista foi crescendo e hoje já são 52 clientes no portfólio, alguns deles bem parrudos, como Stefanini e Endeavor, com quem fecharam recentemente com a responsabilidade de oferecer o aplicativo do CEO Summit. A evolução aparentemente repentina não aconteceu de graça:
“Mesmo sem perceber, nós agregamos valor à empresa ao longo do tempo. Entendemos que precisávamos de um bom marketing, não só de um vendedor heroico”
Com isso em mente, eles foram atrás de encontrar o posicionamento certo no mercado. Nessa linha, a primeira contratação da startup aconteceu março de 2015. A InEvent passou a contar com uma redatora para abastecer os canais de comunicação e expandir o viés marketeiro. “Quando começamos a contratar, nos demos conta de que não precisávamos nos restringir a São Paulo, que poderíamos continuar a trabalhar remotamente com pessoas em vários lugares do Brasil”, conta Pedro.
Hoje, além dos três sócios, há oito funcionários, cada um em um estado diferente do País. Pedro está convencido de que o formato é o mais produtivo possível. “Eu não preciso controlar ninguém. O importante é dar o incentivo certo”, diz. Segundo ele, cada um trabalha da forma que julgar mais adequada: em casa, em um coworking, no horário comercial ou tarde da noite. O importante é estar conectado. “A comunicação até melhora. Em um escritório, se a pessoa com quem você precisa falar levantou para tomar um café, você pode perder o raciocínio e não compartilhar. Entre nós é só mandar uma mensagem. Sei que uma hora o outro vai ver, pensar a respeito e me retornar, mesmo que não seja imediatamente.”
Segundo Pedro, ao menos até agora, o trabalho da InEvent caminha bem assim. O faturamento mensal gira em torno de 30 mil reais, com produtos que se adequam aos mais variados eventos. Os planos que começam com a assinatura simples, de 1,5 mil reais e chegam a 150 mil reais de acordo com o tamanho e as necessidades do cliente.
O PRECONCEITO E A OPÇÃO DE SEGUIR INDEPENDENTE
Pedro diz que a vida de empreendedor não é fácil, mas que “certamente é recompensadora”. Ele e os sócios têm se empenhado para construir uma empresa que gere mais do que apenas dinheiro. Um dos aprendizados mais importantes até agora, diz, é que o melhor caminho é o da colaboração: “É um erro não ouvir a opinião dos outros. Precisamos trabalhar pela melhor ideia. Para nós não existe a história de que é a ideia do líder que tem de prevalecer, de focar no diploma ou deixar que só quem é de determinada área opine”.
Ter uma gestão flexível, com espaço para que todos contribuam, nem sempre é algo bem aceito. Pedro e os sócios chegaram a ouvir de um investidor do mercado que “no Brasil é preciso colocar as pessoas em uma caixinha e dar chibatadas”, algo que os fez repensar a necessidade de atrair investimento. “Já conversamos a respeito com algumas pessoas, mas não é o nosso foco agora.” Por enquanto, preferem ganhar o apoio de nomes importantes do mercado, que possam oferecer as dicas valiosas e ainda colaborar para que os negócios da empresa deslanchem.
O empreendedor conta, também, que nem sempre o mundo dos negócios é tão receptivo a novas ideias. “Há uma série de preconceitos”, diz. E enumera o receio de muitas empresas em comprar produtos e soluções de fornecedores brasileiros, além do medo de contratar uma empresa com donos tão jovens. No começo, os sócios desenvolveram algumas artimanhas para contornar estes obstáculos, como deixar a barba crescer para que parecessem mais velhos e se revezarem nas reuniões tentando passar a impressão de que a empresa tinha muitos funcionários. Aos poucos, conforme conquistam novos clientes, Pedro sente menos necessidade de adotar essa postura e espera que a InEvent não seja mais taxada pela idade de seus fundadores.
Não combina com Pedro fingir que é alguém taciturno. Ele e Vinicius contam as aventuras de empreendimento em um descontraído vlog. Lá, é possível conferir um dos sócios acordando antes das 4h para sair de São Carlos e chegar a São Paulo a tempo para acompanhar um evento e ouvir dicas para outros empreendedores. Pedro e Vinicius são os principais personagens do vlog, que além de mostrar a rotina dos dois (estilo câmera na mão, no carro, filmar momentos engraçados ou cansativos da rotina) também traz entrevistas com outros empreendedores e personagens que os inspiram. Eles acreditam que o canal é mais uma ferramenta para estimular outras pessoas a acreditarem no potencial brasileiro para os negócios.
“Em Stanford todo mundo vai achar normal se você disser que quer construir uma startup que será bilionária no futuro. No Brasil isso é uma piada, ninguém acredita”, diz Pedro, e prossegue com a sua visão de futuro para a InEvent: “Quero mostrar que dá para fazer um país melhor, que podemos criar empresas de alto valor”.
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