De coworking a rede de inovação, o Impact Hub abriga e fortalece empreendedores sociais no país

Luisa Migueres - 7 nov 2016
O Impact Hub SP ficou conhecido como coworking antes e aos poucos fortaleceu o empreendedorismo social na capital. (Foto Impact Hub)
Luisa Migueres - 7 nov 2016
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Quando a tendência de escritórios compartilhados ainda era novíssima no Brasil, em 2008, o Impact Hub foi um dos primeiros exemplares. Com um espaço de dois andares região central de São Paulo, inaugurou o registro de “coworking” na cidade. Até então, ninguém sabia direito o que estava por trás da proposta da empresa. O hub global, que surgiu e ainda se posiciona como uma rede de empreendedores sociais, tinha apenas dois anos de vida – o primeiro foi aberto em Londres – e ainda era incerto se o modelo conseguiria ser replicado pelo mundo.

Os fundadores da primeira sede brasileira, na capital paulista, foram Henrique Bussacos e Pablo Handl, que acreditaram na ideia e entraram em contato com os gringos – mais especificamente Maria Glauser, a primeira host do escritório londrino. Para abrir as portas, eles desenvolveram o “pacote básico” que um Impact Hub deveria ter: um coworking, salas de eventos disponíveis e… uma comunidade online.

Apesar da estrutura física ter sido definida logo, Henrique e Pablo tiveram que fazer mais de 200 entrevistas para criar uma rede diversa de inovadores sociais que envolvesse ativistas, bancos, fundações e empreendedores de negócios sociais. Afinal, essa era verdadeira alma do negócio. Finalmente, uma equipe de 17 pessoas se formou e fez um investimento colaborativo (por isso o investimento inicial é virtualmente impossível de definir) para fincar a bandeira do Impact Hub em terras paulistanas. De lá para cá, ele percorreu muito chão.

O novo espaço do Impact Hub em São Paulo terá 2 500 m² e 300 estações de trabalho compartilhadas

Projeção em 3D do novo espaço Impact Hub em São Paulo, que terá 2 500 m² e 300 estações de trabalho compartilhadas.

Esta breve introdução serve para dar uma ideia do que Ruy Lopes de Barros, CEO do Impact Hub São Paulo, tem em mãos hoje. O empreendedor, de 34 anos, abandonou o mundo corporativo para se dedicar a essa rede de pessoas com motivações sociais e fala do negócio como se fosse seu “bebê”.

O QUE É PRECISO PARA UM NEGÓCIO SOCIAL EVOLUIR

“Venho me envolvendo com empreendedorismo desde o começo da faculdade, em 2005”, conta. Antes disso, Ruy, que é de Andradas (MG), já havia montado uma loja com o irmão mais velho. Mas quando foi fazer dois cursos simultâneos na Unicamp, Física e Matemática, ele se envolveu com a AIESEC, organização global de jovens lideranças, de Campinas (SP). A partir daí, seu interesse pelo empreendedorismo de impacto social ganhou força:

“Notei que o meio social sempre teve muito coração e pouca estrutura e pensamento crítico”

Apesar de ter ganhado espaço na agenda de Ruy, a carreira em inovação social teve de esperar. Ele se tornou analista de risco do private banking do Itaú, em seguida foi para uma consultoria, onde atendia grandes clientes corporativos, até que se envolveu com algumas aceleradoras, como a Start You Up, e sentiu de novo a fisgada do empreendedorismo. Ele era COO da Estarte.me, em Porto Alegre, quando o Impact Hub São Paulo abriu uma vaga para gerente de negócios. Com dois projetos grandes nas costas como consultor, mas ainda inspirado por causas sociais, depois de uma pós-graduação no Quênia, ele resolveu se candidatar.

Depois de algumas semanas em São Paulo, ofereceram a ele vaga de CEO do Hub São Paulo. “Aposentei meus ternos não tem muito tempo, ainda estou aprendendo. Tem sido uma experiência e tanto”, diz. É por isso que Ruy ainda precisa parar e raciocinar, corrigir, algumas expressões: “O meu time cobre as iniciativas da Grande São Paulo. Quer dizer, o time que eu integro”.

O Impact Hub São Paulo se mantém, em grande parte, graças à renda gerada pelo escritório compartilhado, que conta com 400 membros. No ano passado, faturou 1,7 milhão de reais, e boa parte desse dinheiro foi reinvestido pelos sócios. Os planos de uso variam do mais simples, que custa 140 reais por mês, ao mais robusto, que sai por 1 850 reais mensais.

Ruy Barros Lopes, CEO do Impact Hub São Paulo, trouxe do mundo corporativo as ferramentas que ele via faltar no Negócio Social

Ruy Barros Lopes, CEO do Impact Hub São Paulo, trouxe do mundo corporativo as ferramentas que ele via faltar no Negócio Social.

Hoje, oito pessoas trabalham fixas nos escritórios, que logo serão 12. O escritório inaugural, da Bela Cintra, deixará de ser o maior do Impact Hub São Paulo. O segundo, da Vila Madalena, abriu em 2011. O terceiro, em Pinheiros, está prestes a estrear. Existem, no Brasil, cinco cidades com escritórios Impact Hub até agora: Belo Horizonte, Recife, Florianópolis, Curitiba e São Paulo. Até o fim deste virão mais: Manaus, Rio de Janeiro e Brasília. Ruy fala da expansão da rede como um todo: “Até 2010, nós éramos 18 escritórios no mundo, hoje somos 96. Foi uma explosão”.

Para ele, o grande responsável por essa “viralização” é o modelo de franquias às avessas. Para fazer parte do Impact Hub e abrir o seu próprio centro de inovação, os interessados mandam as suas inscrições e a rede global vota, como um grande coletivo, para saber se a iniciativa faz sentido, levando em conta a localização, equipe e modelo de negócio. “Essa associação global que dá o suporte para o nosso crescimento”, diz.

UMA REDE DE EMPREENDEDORES SÓ É RICA QUANDO TEM DIVERSIDADE

A heterogeneidade do público do Hub é peça-chave no funcionamento da rede. Há de ativistas a representantes de grandes empresas. Em São Paulo, os negócios vão de Transparência Brasil (ONG que disponibiliza um banco de dados com a análise da gestão de governantes) a Mobicity, startup de mobilidade urbana. Tem de tudo. Essa confluência de interesses e referências é o que faz os projetos nascerem, crescerem e se reproduzirem no Impact Hub. Ruy fala sobre isso:

“Parte da missão do Hub São Paulo é prototipar o futuro dos negócios, a maneira como a sociedade pratica negócios”

Ele sabe que essa definição é aberta a muitas interpretações, por isso destaca o que todo projeto envolvido com eles precisa ter: impacto, inovação e empreendedorismo. Esses três pilares estão guiando a seleção dos interessados em trabalhar no novo espaço do Hub paulista, onde serão abertas mais de 300 vagas em um coworking de 2 500 m².

O próprio Ruy tem feito esse trabalho na unha, analisando os currículos, além de comandar a reforma do espaço. “Estamos nesse nível de operação. Precisamos separar as coisas em fases e apertar o cinto. Além das complicações da obra, vivemos um momento de ressignificação da marca e de construir comunidade”, conta.

As estratégias dos Hubs dos próximos anos foram baseadas nos ODSs (Objetivos de Desenvolvimento Sustentável) da ONU para 2030. São 17 metas globais que incluem o empoderamento de meninas e mulheres, por exemplo. Para esta, em especial, foi criada a ImpactWomen, uma comunidade focada em ações, eventos e programas para promover a equidade de gênero. Mas cada causa tem suas peculiaridades e não adianta usar os mesmos processos para criar diferentes ações. “As potencialidades de cada escritório e como eles atacam isso são algo muito local, único”, diz Ruy.

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O hub de São Paulo tem escritórios compartilhados e uma sala onde os membros de reúnem para o almoço. (Foto: Impact Hub SP)

EMPREENDER SOCIALMENTE PODE MUDAR SUA VIDA

Para quem veio do universo corporativo, a padronização é tentadora e a falta de controle sobre o resultado de um projeto gera insegurança. Mas ele tem resistido. “Num ambiente desses, que é tão orgânico, parte dos seus processos é deixar acontecer, respirar, aprender. A potência do nosso negócio também é deixar as coisas emergirem”, diz. As mudanças também surgiram no âmbito pessoal – Ruy largou os três maços de cigarro diários e virou vegano:

“Abandonei aquele jeitão Faria Lima (a nossa Wall Street brasileira), de trabalhar 18 horas por dia, e fui reaprender a me doar”

Parte dessa nova atitude foi traduzir no seu trabalho a vontade de explorar e transformar realidades. “Eu, de fato, tenho uma ferocidade na hora de tratar as coisas do Hub”, conta. Ainda mais quando são temas que o tocam pessoalmente, como o de moradores de rua. “Passei três meses da minha vida na rua, tive esse infortúnio, então essa é uma causa que quero muito pegar. No final do dia, parte do meu indicador de performance são quantas pessoas eu conseguir tirar da rua naquele semestre”, diz. E prossegue: “Um agente de inovação social empatiza com todas as causas. Mas um agente eficiente sabe com quais ele vai trabalhar”.

Para um futuro próximo, Ruy quer ver a tecnologia promovendo soluções sociais. “Quero ver gente aqui fazendo corrida de drones, para descobrir como podemos levar medicamentos para feridos de guerra, sabe? Quando o ‘real shit’ (um problema real) encontra o ‘forfun’ (a diversão), a gente tem soluções sensacionais.”

DRAFT CARD

Draft Card Logo
  • Projeto: Impact Hub
  • O que faz: Escritórios de coworking para abrigar negócios sociais
  • Sócio(s): Henrique Bussacos, Pablo Handl, Barbara Stutz, João Vitor Caires, Ruy Lopes de Barros + participantes de equity crowdfunding
  • Funcionários: 8
  • Sede: São Paulo
  • Início das atividades: 2007
  • Investimento inicial: NI
  • Faturamento: R$ 1.700.000
  • Contato: (11) 3539-8574 e 3255-7205
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