Há oito anos, a paulista Mariana Fischer, então uma jovem de 20 e poucos, embarcou para a África fazer trabalho voluntário. Mas essa viagem a levou muito mais longe.
Mariana voltou de lá com a responsabilidade de ter criado uma ONG que oferece nutrição e educação humanizada por meio da pedagogia Waldorf para crianças do Kabiria, comunidade no subúrbio de Nairóbi, a capital queniana. Essa organização é a Hai África, nome que, na língua local (o suaíli), significa “Viva a África”.
A viagem de voluntariado estava planejada para durar dois meses, tempo em que Mariana, formada em publicidade (mais tarde, ela cursaria também pedagogia), pretendia conhecer projetos sociais para apoiar no Quênia e em Uganda. Porém, depois de conhecer o Kabiria, os planos mudaram. Mariana decidiu montar ali, a princípio, um espaço de brincar, que em pouco tempo se transformou em um jardim de infância Waldorf. Ela conta:
“Se fosse para realizar algo planejado nos dias de hoje, eu jamais faria. Brinco que fui simplesmente guiada. É uma responsabilidade muito grande manter mais de 100 crianças na escola, com alimentação, uniforme e material, levando um modelo educacional incrível, mas elitista para uma comunidade periférica de Nairóbi”
Foram sete meses para implantar o Hai África. Hoje, a organização atende mais de 40 crianças, fora as 66 para as quais financia a educação em escolas primárias particulares, já que no Quênia não há educação gratuita.
Ao longo desses anos, 205 crianças já passaram pelo Hai. As professoras da escola — três, atualmente — também tiveram a formação na pedagogia Waldorf financiada pela ONG, que tem um braço para apoiar as mães de seus alunos com um projeto de geração de renda.
Mariana atualmente tem 34 anos e também está envolvida com a ONG Cruzando Histórias, além de trabalhar na Por1Sorriso e gerenciar o Hai à distância.
“Tenho um orgulho enorme do que realizamos e do impacto que causamos a todas essas famílias”, afirma. “Hoje somos a escola modelo que tanto queríamos, uma empresa social com as mães das crianças em parceria com o Project Três e realizamos um trabalho dentro da comunidade levando atendimento médico e odontológico junto com a Por1Sorriso.”
A seguir, ela conta ao Draft sua jornada no terceiro setor, os dilemas que viveu no Quênia, por que optou pela metodologia Waldorf para seu projeto, quais são seus sonhos para a ONG — e como concilia vida pessoal e responsabilidades sociais:
Como se deu o seu envolvimento no mundo do voluntariado? Isso é algo que te acompanha desde sempre ou começou com o Hai?
Sempre fui envolvida com trabalho social desde pequena, lembro que desde 6 ou 7 anos, eu e meus irmãos íamos com a minha mãe distribuir sopão nas comunidades, porque ela não tinha com quem deixar os filhos.
Fui crescendo e continuei a fazer trabalho voluntário na escola. Quando chegou na época da faculdade, quis sair um pouco da ‘aba’ das ações da minha mãe e de Cotia, minha cidade [na região metropolitana da capital paulista]. Queria descobrir como era atuar em ONGs maiores, de São Paulo, que têm até processo seletivo para os voluntários
Comecei a entrar em contato com organizações como História Viva e Make a Wish. Aí vi que não existia só trabalho social de bairro e entendi melhor o que era o terceiro setor. Passei a fazer trabalho voluntário nessas organizações aos finais de semana, porque de segunda a sexta eu estudava e trabalhava.
Chegou um momento da minha vida que, apesar de ser feliz no meu trabalho, ficava muito mais animada aos finais de semana para ir fazer trabalho social.
Antes do Hai, você chegou a ter experiências de trabalho voluntário em outro país?
Sim. Peguei minhas férias em 2013 e resolvi entender como era fazer trabalho voluntário fora do Brasil. Na época, fui atrás de agências, mas era infinitamente caro…
Então, entrei num grupo de Facebook e um brasileiro que morava na Guatemala conhecia um projeto que precisava de voluntários para dar aula de inglês a crianças de uma comunidade de pastores em Antígua [no Caribe] e estava chamando gente para fazer isso.
Comprei a passagem aérea; minha mãe enlouqueceu, mas fui. Foi minha primeira viagem internacional sozinha. Chorei horrores nos três primeiros dias porque tomei um choque com aquela realidade
Fiquei lá 28 dias dando aula de inglês para crianças e depois fui viajar mais cinco dias e voltei para meu trabalho. Mas aí as coisas começaram a não fazer mais sentido, pois passei a não ver propósito no que eu fazia.
Resolvi sair da TV Gazeta, onde trabalhava na época, mas eu realmente não sabia o que se passava comigo. Estava vivendo uma crise existencial…
Como essa crise te levou à África?
Resolvi pegar o dinheiro que tinha guardado e viajar para a Ásia. Lá, fiquei três meses para descansar, me entender; não fiz trabalho voluntário nesse período. Quando retornei, quis voltar ao mercado de trabalho e comecei a mandar currículo. Isso era 2014 e por dois meses não fui chamada.
Um dia, vi no Instagram um fotógrafo que fazia fotos do Sudão. Fiquei encantada com o trabalho dele: as fotos eram fortes, mas maravilhosas. Comecei a me questionar como ele entrou no país. Mandei um e-mail só de curiosa — e passou a vir na minha cabeça como seria fazer trabalho voluntário na África
Só que eu não tinha mais dinheiro para uma viagem dessas. Mas pensei que poderia ir para o Quênia e Uganda, ficar dois meses lá com o dinheiro que ainda tinha reservado para me sustentar, fazendo uma viagem bem “roots”.
Se fosse fazer trabalho voluntário, teria que levar dinheiro para ajudar os projetos que fosse apoiar, por isso, comecei uma campanha de financiamento coletivo e consegui arrecadar 15 mil reais. Foi um choque ver como as pessoas ajudaram, mas claro que eu montei um projeto, fiz um vídeo explicativo e tudo mais.
Até então eu ia sozinha, mas dez dias antes de embarcar uma amiga brasileira, a Bianca, que conheci na Guatemala, resolveu trancar a faculdade e ir junto comigo. Ela ficou lá por dois meses comigo.
Nesta viagem à África, a ideia era conhecer o Quênia e Uganda. Porém, depois de conhecer a comunidade de Kabiria, você não saiu mais de Nairóbi, a capital queniana.. Por quê?
Chegamos lá no dia 1º de abril de 2015; no primeiro mês, alugamos um apartamento em Nairóbi, porque a gente não sabia onde estava, não tínhamos noção de perigo. E aí começou a aventura.
Logo no começo, vivenciamos um atentado terrorista no Quênia. Não foi na capital, mas em uma cidade a seis horas de lá. Não pesquisei muita coisa antes de ir porque sabia que se pesquisasse, teria medo. Fui “na loucura” mesmo
Na primeira semana, fomos dar uma volta no centro da cidade depois que a situação deu uma acalmada. Eu queria entrar numa mesquita, mas não estava com a roupa adequada. Uma mulher que estava na frente do local se ofereceu para me emprestar os trajes. O nome dela é Zara. Ela virou uma grande amiga e nos ajudou a entrar no Kabiria, já que nós duas não falávamos o suaíli.
Decidi visitar o Kabiria porque, antes de eu viajar para a África, uma amiga falou que eu precisava conhecer essa comunidade, onde ela tinha criado um projeto social, que já não existe mais. Eles não consideram o Kabiria uma favela — mas na nossa concepção [brasileira], é. Para eles, é como se fosse uma zona periférica.
Cheguei lá e pensei, nossa, que lugar! Não tem saneamento, mas tem terreno, um pouco de verde. Não tem tráfico, não tem arma, são outros tipos de perigo — como casos de estupro. Mas é um lugar que eu via que dava para mudar a realidade.
Eu já sabia que no Quênia não existia escola pública gratuita, mas quando cheguei lá comecei a vivenciar essa situação. É estranho [para brasileiros] esse termo, “escola pública gratuita”, mas no país existem as escolas governamentais, só que elas são pagas.
Como estudei minha vida toda em escola pública e sou muito grata por isso, aquela realidade mexeu muito comigo. E vi no Kabiria aquele ambiente desesperador, com muitas crianças na rua. Sem aprender a escrever e a ler, como elas iriam romper o ciclo da pobreza?
Fiquei em choque. Lembro que a Bianca falou: “Mari, para de ficar em choque e vamos fazer alguma coisa”.
E essa “coisa” foi um espaço de brincar, que mais tarde se tornou uma escola. Como você tomou essa decisão?
Eu pensava: quem sou eu para fazer algo lá? Não queria morar no Quênia. Queria voltar para a minha vida, não era nem pedagoga. Tinha 15 mil reais, mas não eram meus, e sim para ajudar os projetos. Mas pensei que o mínimo que eu fizesse ali [já] seria bom.
Ao mesmo tempo, tinha um medo muito grande — tenho até hoje — de criar um trauma nas pessoas, principalmente nas crianças, porque elas já são traumatizadas. Então, se fosse para criar algo, precisaria ser um projeto que não iria acabar
Porque criar uma escola e daqui a um mês, quando minha passagem vencer, fingir que nada aconteceu seria muito traumático. Uma alternativa seria abrir um espaço de brincar, que aí sim poderia ser algo temporário. As crianças iriam para brincar e comer, porque ali também há uma questão de alimentação complicada.
A Zara nos ajudou a negociar um espaço com um preço um pouco melhor por ser queniana e alugamos duas salinhas. Coloquei um papel na frente em inglês assim: “Somos um projeto social e estamos procurando crianças que precisem de espaço de brincar e comida”.
Isso foi numa quinta-feira. Avisamos que era para segunda-feira as pessoas interessadas estarem ali às 9 horas. Quando chegamos, tinha tanta gente lá que eu não sabia o que fazer. Para piorar, eu não falava a língua.
Eu queria escrever num caderno o nome completo das crianças e as idades. Consegui escrever o nome de 50, pedindo ajuda. Fui para casa desesperada sem saber o que fazer, porque tínhamos espaço só para dez crianças.
Decidimos colocar os nomes em papeizinhos, dobramos, jogamos numa bacia e sorteamos. Era o que dava para fazer, porque eu não falava a língua. Hoje, eu iria visitar as famílias, mas na época eu tinha 25 anos, uma cabeça totalmente diferente
E, no final, quando fomos divulgar as crianças aprovadas, como algumas tinham o mesmo nome, acabaram entrando 13, e não dez!
Logo, você decidiu que o Hai deveria ser uma escola, um jardim de infância Waldorf. Por quê?
No dia 5 de maio, abrimos o Hai. A Zara, inclusive, trabalhou com a gente por anos. A Bianca cozinhava, eu cozinhava e ficávamos com as crianças. Era uma loucura. Em junho, eu já estava desesperada, num cansaço extremo.
Comecei a ficar doente e falei com a Bianca sobre a possibilidade de contratarmos uma professora para nos ajudar. Ela me alertou que se fizéssemos isso iria virar uma escola, porque até então era um centro de brincar temporário. Decidimos que iríamos contratar, mas vimos que isso era impossível, porque nenhuma professora ia até a comunidade.
Resolvemos contratar meninas do Kabiria que conseguiram terminar o ensino médio e oferecer formação para elas. No meio de tudo isso, descobri que a educação no Quênia é muito rígida. Os alunos, principalmente na zona rural, ainda apanham na sala de aula. É muito traumatizante.
A gente acredita na educação pelo amor, então se fosse para ser uma escola, íamos ser diferentes. Eu já conhecia a pedagogia Waldorf, sabia que era maravilhosa, mas elitista. Só que ali era e continua sendo a pedagogia perfeita. Decidi pesquisar se havia uma escola Waldorf na cidade, já que lá tem muita gente expatriada e rica.
Uma amiga pedagoga foi atrás e encontrou uma faculdade para formar as professoras. Achei que aquilo era o destino. Mas um módulo da formação, ao todo são dez, eram 500 dólares; ainda tinha o salário delas. Mesmo assim, decidimos tentar
E conseguimos. Primeiro contratamos a Jane, depois a Leah e, no final a Annite, que está em formação, no módulo seis. As outras duas já estão formadas e também fizeram a pedagogia tradicional, porque é exigido pelo governo.
Eu poderia ter trazido uma voluntária de fora para ensinar, mas não acredito nisso. Para mim, as crianças têm que aprender pelas pessoas da cultura delas. E, hoje, temos 40 babies, como chamo as crianças, no nosso jardim de infância. Além de serem ensinada por essas professoras na pedagogia Waldorf, eles recebem alimentação vegetariana todos os dias da semana.
O que acontece com as crianças quando elas ultrapassam a idade do jardim de infância?
Vimos que para criar essa continuidade para o ensino primário existe uma grande burocracia relacionada a registros no ministério da educação; há ainda a questão pedagógica, o dinheiro envolvido, a formação das professoras etc.
Eu não tenho esse objetivo. Quero ser modelo e especialista em educação infantil, principalmente com a pedagogia Waldorf em uma favela. Esse é nosso grande sonho.
Quando as primeiras crianças começaram a se formar, pensei: “o que vou fazer?!” Decidimos começar a pagar por escolas particulares na região, que têm o mesmo valor das escolas do governo
Fizemos uma análise muito grande, porque tem toda essa questão da pedagogia rígida. E hoje estamos com 66 crianças em duas escolas. Numa delas há 100 alunos ao todo, sendo que 44 são do Hai — a gente quase sustenta a escola. Todo final de ano fazemos uma campanha suada para pagar, porque lá o sistema é anual: são 200 dólares por criança em período integral, com comida incluída.
Você também criou um projeto com foco na mãe das crianças. Qual é o objetivo?
Em 2017, entendemos que as crianças comiam na escola, mas não em suas casas no final de semana, porque a família não tinha renda.
Então, fiz uma parceria com o Project Três, de empoderamento e protagonismo feminino na Índia, da Carla [Maria de Souza], que se tornou uma grande amiga
Ela me ajudou a abrir a empresa das “mammas” para que elas possam produzir peças de pedra-sabão, pulseiras e bolsas, artesanato de forma geral, que é vendido no Brasil. Estamos tentando vender em Nairóbi, porque a logística é mais fácil.
As “mammas” ainda não têm um salário fixo — mas queremos chegar lá. Hoje, elas são pagas por produção, e assim conseguimos fortalecê-las financeiramente.
Hoje o Hai opera como uma ONG, sendo financiado por doações de pessoas físicas, bazares e vendas de produtos. Como você lida com essa pressão por fechar as contas no final do mês para que as crianças continuem estudando?
Este é o grande desafio do terceiro setor: como sustentar os projetos. Hoje, o Hai não vive muito bem; ele vive.
Contamos com doação mensal dos padrinhos e madrinhas e temos um bazar semanal organizado pela minha mãe que fica no quilômetro 25 da Rodovia Raposa Tavares. Lá, recebemos de tudo, de talheres a roupa, e vendemos para arrecadar fundos. Realizamos algumas vezes eventos, mas isso tem uma demanda energética muito grande e nem sempre vale a pena.
Também organizamos as campanhas de final de ano para as escolas primárias… Para nós, não existe a chance de essa ação não dar certo, porque se não funcionar, são 66 crianças sem escola.
Nossa meta é aumentar o número de madrinhas e padrinhos, que doam a partir de 30 reais por mês. Hoje, não temos nenhuma doação de empresa, porque vivemos um conflito de o Hai ser brasileiro — no sentido de eu ser daqui; o uniforme das crianças, inclusive, é verde e amarelo porque elas escolheram assim — só que a ONG fica no Quênia
Se pedirmos uma doação para uma empresa daqui, elas dizem que preferem ajudar ONGs brasileiras. E eu concordo completamente que o dinheiro do Brasil deve ficar no Brasil. Só que nisso a gente acaba tendo só doações de pessoas físicas. O que é maravilhoso, mas é pouco.
Precisamos entrar na rota das empresas. Estamos tentando fazer isso via internacional ou com empresas brasileiras que atum no Quênia.
Sobre essa questão de doações, ao fazer pedido para campanhas você já ouviu alguma crítica por estar ajudando na África e não aqui?
Sempre. Nos primeiros três anos, ouvia muito esse tipo de comentário, principalmente quando ia fazer palestra em escolas para falar do Hai. No começo, me incomodava.
Mas somos um só [povo]. Por que tenho que dividir [em categorias] quem ajudo? Estou ajudando uma criança. Se ela está no Quênia, fala outra língua, não importa. Vamos ajudar o ser humano
Ainda faço e já fiz muito trabalho voluntário no Brasil. Sou apaixonada pelo meu país, tanto que moro aqui. As coisas aconteceram comigo dessa maneira e ainda bem que algumas pessoas conseguem fazer para além do seu país, porque lá no Quênia existem pouco projetos.
Quando as pessoas vinham com esse tipo de questionamento, eu já passava uma listinha de projetos daqui para ver se assim elas realmente iam fazer algo e começar a ajudar, ou ficar só falando.
E como você maneja a questão da distância? Desde gerenciar o projeto de longe até manter o relacionamento com os pequenos?
Eu vou de uma a duas vezes por ano para lá. O ideal seria diminuir essas viagens pela minha vida pessoal. Em julho, estou indo para ficar um mês, mas acho que poderia ser apenas dez dias.
Hoje a gente roda o projeto de uma forma muito tranquila e independente, porque nossa equipe [são três professoras e mais outros três funcionários] é muito protagonista. Eles sabem muito mais do que eu
Se eu não tivesse demandas de projetos futuros, simplesmente iria lá fazer fotos para alimentar nossas redes e matar as saudades. Se há alguma questão, conseguimos resolver por ligação ou WhatsApp, mas normalmente não tem nada, porque se acontece alguma ocorrência, tipo uma criança ficar doente e precisar ir ao médico, a gente já tem o fluxo de como isso deve funcionar.
Sobre as crianças, tenho um contato muito grande. Toda vez que estou lá, vira uma festa: eles amam fazer pipoca, ler para mim… É incrível. E muitas delas já estão adolescentes. Fico olhando e lembrando desde o primeiro dia até hoje, e pensando: como cresceram!
Quais foram os principais desafios para manter esse projeto em pé por oito anos? E quais são seus sonhos daqui em diante?
O desafio sempre foi e é a questão da captação de dinheiro, de não ter uma doação um pouco maior, que nos deixe tranquilos.
Por todo esse desafio que é captar — são cerca de 400 mil reais por ano –, cheguei num momento em que pensei: não vamos crescer, o Hai é isso e está maravilhoso. Dei uma estagnada, uma desmotivada, só pensando em como chegar neste valor.
Não enxergava outras possibilidades. Mas vários amigos meus que foram ao Hai conhecer o projeto falavam que eu tinha que expandir.
Agora, um brasileiro que mora no Quênia quer nos ajudar a comprar um terreno. Isso é uma loucura! A minha ficha ainda não caiu. Mas nosso grande sonho é ter esse terreno e fazer uma construção bem pensada, com natureza, para oferecermos alfabetização ecológica e contato das crianças com animais
Com isso, a ideia também é ter um jardim de infância maior, que atenda 100 crianças.
Hoje, além de estar envolvida com o Hai, você é vice-presidente da ONG Cruzando Histórias, que promove o acolhimento, valorização profissional e empregabilidade de mulheres aqui no Brasil. Como se envolveu com essa causa?
Quando voltei do Quênia, estava extremamente doente e pesando dez quilos a mais. Sempre fui apaixonada por corrida e quis reestabelecer esse hábito. Entrei para um grupo de treino em Cotia e, no primeiro dia, conheci a Bia Diniz. Foi a única aula em que ela compareceu e depois desistiu. Então, a gente brinca que era mesmo para nos encontrarmos.
Começamos a conversar e contei que tinha acabado de voltar da África, ela contou que tinha assistido ao filme O aluno, que fala da questão da educação queniana. Logo de cara ela se apaixonou pelo Hai e começou a me ajudar a vender brigadeiro, algo que a gente costuma fazer até hoje quando não tem dinheiro para pagar as contas. Acho que já vendemos mais de 50 mil brigadeiros.
Ela trabalhava numa empresa tradicional na área de RH, mas estava infeliz. Aí, um dia, viu no Jornal Nacional uma reportagem dizendo que a taxa de desemprego estava em 13% e a pauta trazia a história da Sueli, que estava nesta situação.
A Bia decidiu achar essa mulher, mas não conseguiu. Só que, como ela, existiam milhares de pessoas desempregadas. Então ela foi para o Centro de São Paulo com uma lousinha escrito assim: “Está precisando de emprego? Fale comigo”
Ela começou a ajudar pessoas a arranjar emprego. Depois, entendeu que dava para ir além e hoje a Cruzando Histórias trabalha com mulheres em situação de desemprego.
Eu acompanhei tudo isso de perto, viramos grandes amigas. Desde o começo dou apoio ao projeto, sou vice-presidente, muito mais neste lugar de conselheira. Ela está na documentação do Hai e eu na da Cruzando.
Você também trabalha de forma remunerada com relacionamento de doadores para a ONG Por1Sorriso, que por sinal, é parceria do Hai. Como esses caminhos se conectaram?
Conheci o fundador da Por1Sorriso, o Felipe [Rossi], por trocas de mensagem no Facebook. Ele entrou em contato comigo no final de 2016 falando em levar os atendimentos da ONG para o Hai. Só que na época eu achava que ele estava tirando onda com a minha cara…
Aí ele comprou uma passagem para conhecer o projeto, entender a situação e planejar uma ação. A primeira aconteceu em 2017 e, tirando a pandemia, a gente faz ações anuais de odontologia especializada para a comunidade, em que atendemos de 300 a 350 pessoas, incluindo as crianças
Agora faz seis meses que estou trabalhando aqui. Estava procurando um outro trabalho e vim para cá atuar com algo que já fazia no Hai, que é relacionamento com doador pessoa física. Hoje estamos estruturando tudo novo neste setor e temos conseguido aumentar o número de doações.
Ao todo, são três instituições com as quais você está envolvida. Como você faz para dar conta de todo esse trabalho social e ainda cuidar da sua vida pessoal?
A pergunta de milhões! Acho que todo mundo que está no terceiro setor tem essa questão de ter a vida pessoal afetada. É um desafio muito grande.
Tem essa parte dos privilégios que nos abalam. Quantas vezes eu me culpei, quando estava no Quênia, por ir à cidade tomar um café… Porque era um dinheiro que eu poderia gastar na comunidade
Tem questões emocionais pesadas envolvidas. Mas, com terapia, eu tenho tentado entender que a minha vida pessoal [também] é importante.
Filha de missionários, a colombiana Lina Maria Useche Kempf veio viver em Curitiba aos 12 anos. Ela conta como cofundou a Aliança Empreendedora para impulsionar a prosperidade por meio do estímulo a microempreendedores de baixa renda.
Movida pelo lema “siga sua paixão”, Letícia Schwartz foi viver nos EUA e fez sucesso com livros sobre gastronomia. Até que se apaixonou pela educação e fundou uma consultoria que ajuda alunos a ingressar em faculdades americanas.
Criado no interior gaúcho, Alsones Balestrin fez do seu doutorado na França um trampolim para voos mais altos. Foi secretário de Inovação, Ciência e Tecnologia do RS e hoje capacita empreendedores por meio da edtech Startup Academy.