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“Deixamos a pousada para trás e estamos recomeçando a vida. Sem endereço fixo, mas com liberdade geográfica e de tempo”

Aline Fujikawa - 11 jun 2021
O casal de nômades digitais Aline Fujikawa e Paulo Steinmeyer.
Aline Fujikawa - 11 jun 2021
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Em 2018 estivemos por aqui para contar sobre a nossa transição: de uma rotina estressante em São Paulo para empreender uma pousada na paradisíaca praia de Taipu de Fora, na Bahia. 

Eis que, alguns anos depois, cá estamos nós novamente para contar que iniciamos uma nova jornada.

Em março de 2020, começo da pandemia, a Península de Maraú foi bloqueada para acesso aos turistas. Sem alternativa, fechamos a pousada.

Tínhamos pouco dinheiro em caixa, custo fixo alto e baixas perspectivas. Tudo isso nos fez repensar se realmente valia a pena insistir.

NA PANDEMIA, ABRAÇAMOS O NOMADISMO DIGITAL

Chegamos à conclusão de que não: se continuássemos lá com a pousada fechada, provavelmente quebraríamos. 

Assim, desistimos da renovação do contrato de arrendamento, que começaria em maio, resolvemos arrumar as malas e partir.

Abraçar o nomadismo foi a solução que encontramos para não sairmos frustrados da pousada. Ser nômade já estava no meu radar há algum tempo

Na verdade, essa vontade derivou de outro sonho: passar um ano fazendo um mochilão de volta ao mundo. Para isso, no entanto, era preciso guardar uma grana que nós nunca conseguimos.

Quando descobri que se trabalhasse online e fizesse uma viagem mais slow, seria possível não só passar um ano viajando — mas o resto da vida (!), pensei: é exatamente isso o que eu quero!

Como tínhamos pouco a perder, convenci o Paulo que essa era a hora de arriscar.

DECIDIMOS LEVAR SÓ O QUE CABIA NO CARRO (E AS CACHORRAS)

Demitimos os funcionários, encerramos o CNPJ, entregamos as chaves da pousada e vendemos as poucas coisas que nos restavam, para ficarmos somente com o que coubesse no carro.

Foi assim que nós e nossos três cachorros deixamos a pousada para trás, para recomeçarmos. Dessa vez sem residência fixa — mas com liberdade geográfica e de tempo

Apesar do foco nas viagens e em conhecer o maior número possível de lugares, prezamos por certa estabilidade e conforto. Por isso, decidimos viver de um a dois meses em cada lugar.

Funciona assim: escolhemos um destino, alugamos uma casa mobiliada com todos os utensílios e internet — e nos mudamos.

NESTE MEIO TEMPO, JÁ MORAMOS EM 20 CIDADES DIFERENTES

Nesse “lar temporário”, temos uma rotina normal, trabalhando, cozinhando, limpando, lavando e passeando. A diferença é que “passear” é sinônimo de turistar e desbravar os novos destinos.

Quando estamos começando a enjoar, já é hora de mudar. Assim, encontramos um equilíbrio entre a novidade e a rotina. 

Até agora, já moramos um tempinho em 20 destinos no Brasil, em 8 estados diferentes: Sergipe, Alagoas, Piauí, Bahia, Espírito Santo, Minas Gerais, São Paulo e Pernambuco.

Conhecemos lugares incríveis, que nem imaginávamos que existissem… Como o pequeno vilarejo de Santo Inácio, na Bahia, com menos de 300 habitantes — e criminalidade zero há mais de 80 anos. Um lugar lindo, rodeado por lajedos de pedras, cristais e muitas pinturas rupestres

Outro lugar que entrou para lista dos mais impressionantes onde já estivemos foi a Serra da Capivara (PI). Lá está o maior acervo de pinturas rupestres do continente americano, com cerca de 40 mil registros. Ver aqueles desenhos tão nítidos, pintados há milhares de anos por homens pré-históricos, é de arrepiar…!

Além de patrimônio arqueológico, a Serra da Capivara tem paisagens maravilhosas, incluindo a “Capadócia Nordestina”. Sem dúvida, é um lugar que todo brasileiro deveria conhecer!

VIAJAR COM CACHORROS É UM GRANDE DESAFIO, MAS NÃO UM IMPEDITIVO

Estar sempre na estrada nos possibilita ir a lugares fora do convencional, que não conheceríamos se tivéssemos somente alguns dias de férias. 

Paulo, Aline e as cachorras Flocos (dálmata), Belinha (labrador) e Paçoca (vira-lata), em Itatiaia, distrito de Ouro Branco (MG).

Conforme viajamos, descobrimos mais e mais lugares interessantes. Ao invés de diminuir, a lista dos destinos que “temos que conhecer” só aumenta.

Viajar com os cachorros tem sido um desafio a mais. Temos uma labradora, um dálmata e um vira-lata salsichinha. Quando buscamos as casas, precisamos encontrar não só uma que caiba no bolso, mas que também aceite cachorros grandes, tenha quintal e seja cercada.

Missão difícil… Mas não impossível! Também por causa deles, não fazemos viagens longas e paramos a cada 2 horas. Eles se adaptam rápido às novas casas.

Na verdade, para eles parece que, se estamos juntos, está tudo bem, onde quer que seja. Eles nos acompanharam nas duas transições. Sempre estiveram, estão e estarão com a gente! 

MINIMALISMO? É COM A GENTE MESMO!

Além dos cachorros, tudo o que temos são as nossas malas com roupas, computadores e o carro. Nada mais!

Quer uma vida mais minimalista do que essa?

Se não bastasse, no meio da viagem ainda passamos um perrengue com o carro e tivemos que trocá-lo… Ficava mais barato comprar outro carro do que consertá-lo.

Compramos um carro menor — e aí, para caber tudo, tivemos que nos livrar de mais coisas. Se já falávamos em desapego quando mudamos para a pousada, imagine agora?

Passamos a valorizar ainda mais a ideia de ter acesso e usufruir das coisas sem ter que possuir essas coisas. A economia compartilhada faz parte da nossa vida

Para nós faz muito mais sentido, por exemplo, desfrutar de várias casas em diferentes lugares do que ter uma única, própria.

TIVEMOS DE NOS REINVENTAR PROFISSIONALMENTE PARA TRABALHAR ONLINE

O que nos possibilita viver como nômades é trabalhar online. Para viabilizar essa vida, foi preciso nos reinventarmos profissionalmente.

Antes, não enxergávamos formas de tornar as nossas habilidades e conhecimentos em fontes de renda para um trabalho remoto. O Paulo acumulava na bagagem uma experiência de mais de 10 anos em tratamento de água e três administrando a pousada. Eu, bióloga e com mestrado em ecologia, também tinha minha experiência em tratamento de água e na administração de pousada. 

Depois que nos tornamos nômades, o Paulo começou a estudar marketing digital, business intelligence e criação/administração de sites.

Cerca de um ano antes da transição (e já de olho no sonho da vida nômade), eu comecei a estudar animação para a criação de treinamentos institucionais. Quando nos tornamos nômades, já estava trabalhando com treinamentos institucionais — mas o dinheiro ainda não era suficiente para nos manter.

PARA PERMANECER NA ESTRADA, VAMOS TER DE REDUZIR OS GASTOS

Leva um tempo entre você começar a estudar um assunto e transformá-lo numa fonte de renda. Nesse período de aprendizagem e transição, fomos consumindo as nossas reservas financeiras.

Hoje, mais de um ano depois do início da nossa jornada nômade, o Paulo já tem alguns contratos; eu continuo trabalhando com treinamento institucional. Nossas entradas ainda não superaram as saídas. Resultado: a nossa reserva acabou.

E agora não tem jeito: temos que reduzir os gastos e aumentar os ganhos para viver só com os nossos salários.

Se vai dar certo?

Acho bom que dê! Afinal, o nosso plano é viajar mais um ano pelo Brasil, para depois percorrermos o restante da América do Sul, subirmos pela América Central… E, sim, realizar o sonho da volta ao mundo!!! Então, motivação para trabalharmos muito não nos falta!

Antes das duas transições (a da pousada e a de agora), achávamos muito complicado e assustador largar tudo para começar de novo. Ao longo desse tempo, descobrimos que mudanças drásticas não só são possíveis como têm potencial enorme para nos tornar pessoas melhores.

Percebemos que as novas experiências têm aumentado muito o nosso repertório. E quanto maior o nosso repertório, melhor a nossa habilidade de enxergar caminhos alternativos e maneiras de lidar com os novos e os velhos desafios.

Por isso, se o desafio for uma nova mudança… A gente encara!

 

Aline Fujikawa, 37, é bióloga, professora, ex-pousadeira e faz vídeos animados e locução. Ela e seu marido, Paulo Steinmeyer, atualmente vivem como nômades digitais pelo Brasil, na companhia dos três cachorros. Para acompanhá-los nessa jornada, siga @_almanomade_ no Instagram. 

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